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Mensagem
por Marino » Qua Jun 11, 2008 7:05 pm
COMANDANTE DA MARINHA
Brasília, DF.
Em 11 de junho de 2008.
ORDEM DO DIA Nº 1/2008
Assunto: 143 o Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo – Data Magna da Marinha
Hoje, 11 de junho, comemoramos um dos fatos mais significativos da nossa História, ocorrido em 1865: a vitória na Batalha Naval do Riachuelo.
Em meados do século XIX, os Estados sul-americanos, recém saídos dos processos de consolidação de suas independências, passaram a priorizar as questões de suas divisas, sendo freqüente o recurso às armas para a resolução de divergências. Nesse contexto, após a invasão do nosso território, que encontrou-nos despreparados e com as Forças Armadas desmobilizadas, o País se viu envolvido na Guerra da Tríplice Aliança, cabendo à Esquadra brasileira a tarefa de bloquear os Rios Paraná e Paraguai, artérias de comunicação essenciais ao oponente.
Após a bem sucedida participação na retomada da cidade argentina de Corrientes, lindeira ao Rio Paraná, as duas divisões comandadas pelo Chefe-de-Divisão Francisco Manoel Barroso da Silva fundearam, na noite de 10 de junho, um pouco abaixo daquela localidade.
O inimigo, sabedor da necessidade de destruir a nossa força naval, já que a sua presença naquela área o deixava extremamente vulnerável, planejou surpreendê-la e abordá-la no nascer do sol do dia 11 de junho.
Às oito e meia da manhã, foram avistadas as embarcações paraguaias. Com o sinal "INIMIGO À VISTA" içado, os brasileiros prepararam-se para o combate. Como o fator surpresa não foi alcançado, os adversários decidiram alterar os seus planos e, depois de ultrapassar a nossa posição trocando fogos de artilharia, abrigaram-se junto à foz do Riachuelo.
Após o suspender, já com o sinal "BATER O INIMIGO O MAIS PRÓXIMO QUE CADA UM PUDER" envergado, os navios brasileiros rumaram em direção aos contendores que, com o apoio de canhões e soldados posicionados de forma camuflada na margem esquerda, conquistaram uma vantagem inicial. Ao meio-dia, tínhamos dois navios encalhados e o Monitor "Parnaíba" havia sido dominado, a despeito da heróica resistência oferecida pelos Guarda-Marinha Greenhalgh e Imperial Marinheiro Marcílio Dias, dentre outros, que ofertaram suas vidas à Pátria.
O Almirante Barroso, hasteando os sinais "O BRASIL ESPERA QUE CADA UM CUMPRA O SEU DEVER" e "SUSTENTAR O FOGO QUE A VITÓRIA É NOSSA", investiu a proa da Fragata "Amazonas", seu Capitânia, abalroando e tirando de ação quatro embarcações hostis. Tendo em vista a derrota iminente, os inimigos que restaram abandonaram o confronto. Nessa vitória, a força naval adversária foi praticamente aniquilada, sendo garantido o bloqueio que impediria o apoio logístico ao agressor durante o decorrer da guerra.
Muitos anos se passaram até que, no decorrer do século XX, foram encerrados os últimos litígios envolvendo as nossas fronteiras. Entretanto, presentemente, ainda temos alguns limites a definir.
Graças ao magnífico trabalho resultante do Plano de Levantamento da Plataforma Continental (LEPLAC), estamos por estabelecer, junto à Organização das Nações Unidas, as últimas fronteiras do País, que dizem respeito à Plataforma Continental na gigantesca área de 950.000 km 2 que se estende além da Zona Econômica Exclusiva, ou seja, além das 200 milhas da costa. Ao se constatar que os recém descobertos campos petrolíferos na camada pré-sal estão a cerca de 160 milhas do litoral, pode-se ter uma idéia concreta da relevância do LEPLAC.
Na parte terrestre do nosso território, as divisas são fisicamente demarcáveis e passíveis de ocupação com pelotões e obras de infra-estrutura. Todavia, os limites das águas jurisdicionais são linhas imaginárias sobre o mar, que não existem fisicamente. O que as definem e as fazem respeitadas são as unidades da Marinha patrulhando-as ou realizando ações de presença. Temos, na imensidão da "Amazônia Azul", um enorme patrimônio a proteger. A História demonstra claramente a obrigação da Nação dispor de um Poder Naval que inspire credibilidade.
Desde a Segunda Guerra Mundial, o Brasil não se vê envolvido em crises externas; isso não significa que, no futuro, delas estaremos livres. Ao contrário, continuam em evidência conflitos de baixa intensidade, de caráter regional, bem como as chamadas "novas ameaças" que incluem o crime organizado, o tráfico internacional, o terrorismo, a pirataria e os crimes ambientais, interferindo com a autonomia dos Estados e trazendo tensões no cenário internacional.
Daí, a importância e a necessidade de implementar o nosso Programa de Reaparelhamento, que nos permitirá possuir meios adequados, modernos e na quantidade necessária para a salvaguarda dos interesses nacionais; bem como o Programa Nuclear da Marinha que, ao ser concluído, criará as condições para a construção, no Brasil, de um submarino de propulsão nuclear, garantia de invejável capacidade de dissuasão. Convém ter sempre em mente as palavras de Rui Barbosa que, em 1906, já alertava a Nação que "Esquadras não se improvisam!"
Mas nem mesmo o melhor equipamento funcionará a contento sem recursos humanos qualificados e motivados. Por isso, não podemos esquecer o que temos de mais importante, que são os homens e as mulheres que integram a nossa Instituição. Assim, a capacitação profissional, o bem estar social e a valorização de suas carreiras são objetivos permanentes da Alta Administração Naval.
Meus comandados!
Na Data Magna da Marinha, a melhor homenagem que podemos prestar àqueles que, há cento e quarenta e três anos atrás, nos legaram os mais glorificantes exemplos de desprendimento, heroísmo e amor à Pátria, é continuarmos a trabalhar, com disciplina e dedicação, corroborando que os dois mais contundentes sinais de Barroso, "O BRASIL ESPERA QUE CADA UM CUMPRA O SEU DEVER" e "SUSTENTAR O FOGO QUE A VITÓRIA É NOSSA", estarão eternamente gravados nos corações e mentes de cada Marinheiro, Fuzileiro Naval e Servidor Civil da nossa querida Marinha.
JULIO SOARES DE MOURA NETO
Almirante-de-Esquadra
Comandante da Marinha
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco