Será que ninguem liga ao que mais importante se passou no FX nos ultimos tempos?
Entrevista com Bengt Janér, diretor da Gripen Brasil
Tecnologia & Defesa - O senhor poderia falar um pouco sobre o Gripen Demonstrator, que foi apresentado na Suécia, em abril deste ano, e também sobre as perspectivas do caça em relação ao mercado mundial atual?
Bengt Janér - O Gripen Demo é uma plataforma para testes de soluções e sistemas do Gripen NG – de Next Generation; O Gripen NG é um caça que foi apresentado pela Saab com sucesso no último dia 23 de abril, na Suécia, para quase mil pessoas, entre jornalistas, técnicos e convidados da empresa. O programa iniciado conta também com um laboratório para testar novos sistemas de aviônicos e sensores. Além disso, o Gripen Demo incorpora novas capacidades, a exemplo do motor GE F414G que tem maior empuxo, um novo radar de varredura eletrônica ativa (AESA) e um tanque de combustível com capacidade 40% maior e que proporciona um incremento de cerca de 50% de alcance. O caça conta também com trem de pouso reposicionado, maior capacidade bélica, modernos sistemas de aviônicos, comunicações e de guerra eletrônica, bem como um data-link muito avançado. Ainda sobre o programa do Gripen Demo, é o precursor de toda uma nova geração de tecnologias e recursos, garantindo que o Gripen NG permaneça na vanguarda, muito além de 2040, em termos de capacidade e desempenho.
T&D - O governo brasileiro recentemente firmou acordos na área de Defesa com a França e a Rússia, o que tenderia a fortalecer os fabricantes de caças desses países em relação a eventuais aquisições ou parcerias junto à Força Aérea Brasileira (FAB). Qual é a posição da Gripen em relação a isso?
Bengt - A Saab está pronta para atender todos os requisitos e expectativas da FAB e discutir projetos no prazo estipulado. O caça Gripen, por ter uma plataforma comprovada nas versões C e D, está num processo de atualização de novos radares, terá maior alcance e ainda poderá transportar mais armamento. Também estamos abertos para colaborar com o Brasil no desenvolvimento de um caça de nova geração na forma que o governo quiser.
T&D - No projeto F-X, o consórcio do Gripen era entendido como um forte candidato, uma vez que oferecia um amplo pacote de offsets na área industrial, envolvendo, inclusive, parcerias com indústrias nacionais. Desde então, algo mudou quanto ao que o grupo está disposto a oferecer ao País?
Bengt - Estamos abertos para colaborar com o governo brasileiro em qualquer decisão que vier a ser tomada e no prazo que for estipulado.
T&D - O governo brasileiro, através das declarações dos ministros da Defesa e de Assuntos Estratégicos, tem insistido no ponto transferência de tecnologia em novas aquisições na área de Defesa. O Gripen é uma aeronave que conta com vários sistemas e componentes oriundos dos Estados Unidos, país que tem uma política mais restritiva em relação à transferência de tecnologias. Isso de algum modo prejudica os esforços de venda do caça sueco ao Brasil?
Bengt - A Saab detém a tecnologia para desenvolver aeronaves de acordo com os requisitos de seus clientes. Assim sendo, ela está pronta para estabelecer parcerias tecnológicas de longo prazo com o governo brasileiro. A indústria aerospacial brasileira está num patamar tecnológico avançado e a Saab tem todo interesse em colaborar com essas empresas. No que tange à compensação industrial, citamos o exemplo da África do Sul, onde a Saab investiu em empresas locais, que se tornaram parceiras também em outros mercados em conjunto com a Saab.
T&D - Finalizando, qual é o real significado da indicação de um conhecido executivo da área, como o senhor, para o cargo de diretor-geral para a Gripen no Brasil, em meio a tantas idas e vindas do chamado Projeto F-X 2?
Bengt - Após décadas atuando como consultor para indústrias suecas da área de defesa, a minha nomeação para a função de Diretor Geral da Gripen no Brasil representa um desafio e ratifica o grande interesse da Saab pelo Brasil. A razão é que a empresa, que atua em todos os continentes, quer apresentar a melhor proposta de parceria tecnológica de longo prazo com o país e em diversas áreas para o governo brasileiro.