Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
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- Marino
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Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
Uma disputa em águas internacionais
Países exploram riquezas a partir de regulamentação feita pela ONU
BRASÍLIA. Circula entre especialistas do setor mineral um levantamento feito pelo governo russo sobre as áreas com potencial de exploração de crostas cobaltíferas no planeta. Ricas em manganês e cobalto, minério usado para ligas metálicas e usinas nucleares, essas formações são abundantes no Oceano Pacífico e existem no Atlântico. Uma das que mais se destaca, aliás, fica em frente à Região Sudeste, milhares de quilômetros distante da costa, em águas internacionais.
Informações como esta, produzidas por governos estrangeiros, justificam, para além do aspecto econômico, o interesse do governo brasileiro na exploração mineral de alto-mar. Atualmente, o Brasil não explora o solo marinho. Para o Comando da Marinha e o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), da Presidência da República, existem questões políticas e estratégicas relacionadas à ocupação econômica da plataforma continental.
- Este momento histórico requer uma especial atenção por parte das autoridades brasileiras no sentido de assegurar que os recursos minerais da parte internacional dos oceanos, especialmente aqueles localizados no Atlântico Sul e Equatorial, possam vir a constituir uma reserva econômica, estratégica e política para futuras gerações brasileiras - diz Kaiser Gonçalves de Souza, chefe da Divisão de Geologia Marinha do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
A preocupação das autoridades reside no potencial futuro da mineração em águas internacionais. A Autoridade Internacional do Fundo Marinho (ISBA, da sigla em inglês), ligada à Organização das Nações Unidas, terminou recentemente a regulamentação para exploração de nódulos polimetálicos - pequenas rochas de até 20 centímetros de diâmetro, ricas em sete minerais diferentes, como níquel, cobre, ferro, cobalto e alumínio. Seis países (China, Índia, França, Japão, Coréia e Rússia), mais um consórcio formado por Cuba, Bulgária, República Tcheca, Eslováquia, Rússia e Polônia, conseguiram concessões para exploração desse mineral em uma grande faixa no Oceano Pacífico.
Em breve, serão regulamentadas, justamente, as explorações das crostas cobaltíferas, além das de sulfetos polimetálicos, ricos em alumínio, prata, zinco e chumbo. As reservas localizadas em frente ao Brasil podem ser alvo desses pedidos de concessão internacional. Ganha a concessão da ISBA quem comprovar capacidade de exploração e tecnologia adequada. (Gustavo Paul)
TESOURO SUBMERSO
Amazônia azul
Governo e empresas estudam exploração de jazidas minerais no subsolo marítimo
Gustavo Paul
O fundo do mar brasileiro guarda um tesouro ainda incalculável, que não se resume a petróleo, gás ou algum galeão colonial afundado. Em uma área gigantesca do mar territorial e da plataforma continental, correspondente a cerca de 40% do território brasileiro, está enterrada uma extensa gama de minerais. Há pelo menos 17 variedades, entre ferro, níquel, carvão, estanho, ouro, diamante, calcário, areia, fósforo e cobre. Governo e empresários estão abrindo os olhos para este potencial econômico, cujo conhecimento é apenas razoável. Além disso, para o Comando da Marinha, a exploração mineral em alto mar também responde a objetivos políticos e estratégicos.
Por isso, nos últimos anos, vários órgãos federais começaram a desenhar o mapa desse tesouro, para tentar mensurá-lo e estabelecer estratégias de exploração. Para designar essa área, a Marinha cunhou a expressão "Amazônia azul". Em 1997, foi lançado o Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (Remplac), mas só em 2005 ele começou efetivamente a se desenvolver. O objetivo é retomar as pesquisas geológicas na plataforma continental, interrompidas nos anos 70. Seis navios da Marinha estão disponíveis para a exploração e devem ficar cerca de 245 dias no mar vasculhando solo e subsolo.
Um dos programas já implementados prevê a sondagem da existência de ouro na região da foz do Rio Gurupi, na divisa entre o Maranhão e o Pará, numa parceria entre o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a Universidade Federal do Pará. O CPRM também está estudando a existência de diamantes no Sul da Bahia, próximo à foz do Rio Jequitinhonha. Este ano estão previstas ainda sondagens no litoral da Região Sul, para identificação de fósforo e metais pesados, e no Espírito Santo.
- Nosso conhecimento atual sobre o mar é semelhante ao que tínhamos nos anos 70 em relação à Amazônia. Sabia-se do potencial da região, mas não havia conhecimento profundo. É isso que precisamos mudar - explica Kaiser Gonçalves de Souza, chefe da divisão de Geologia Marinha do CPRM.
Na construção civil, cascalho do mar
Mas não é preciso ir muito além das praias para começar a exploração. Já existem pesquisas apontando a viabilidade econômica de exploração de areia e cascalho em praticamente todo o litoral brasileiro, em distâncias que vão de algumas centenas de metros a dezenas de quilômetros.
Segundo os geólogos, esses materiais são úteis na reposição e contenção da costa brasileira, anulando os efeitos da erosão do mar. A areia e o cascalho também ajudariam na recuperação de praias e podem suprir a demanda da construção civil em cidades costeiras, reduzindo a retirada do fundo dos rios. Com o aquecimento da economia, a procura por areia para construção civil cresceu 10% em 2008.
O Brasil tem a maior plataforma de calcário marinho do planeta, entre o Rio Pará e Cabo Frio (RJ). Formado por algas mortas há milhares de anos e conchas, esse calcário é considerado superior ao que é explorado em terra firme. O país ainda importa esse mineral, usado em fertilizantes agrícolas, implantes ósseos, indústrias de cosméticos e dietética, nutrição animal e tratamento da água de lagos. Nas últimas décadas foram feitos 150 pedidos para lavra subaquática de areia e calcário, mas até agora só um direito de lavra foi autorizado - no Espírito Santo.
Tanta demora para concessão deve-se às questões ambientais. Segundo fontes do setor, o fato de se tratar de algas, ainda que mortas, gerou uma interminável discussão ambiental entre os órgãos minerais e o Ibama, só resolvida no ano passado - concluiu-se que algas mortas e petrificadas não podem ser consideradas seres vivos e por isso podem ser exploradas. Para os empresários, questões como essa evidenciam que a falta de um marco regulatório para exploração no leito marinho não dá garantias para o negócio, cuja tecnologia ainda é cara e precisa ser importada.
Para Marcelo Tunes, diretor de Recursos Minerais do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a nova fronteira é atraente, mas a lei não é clara:
- O indivíduo entra com um pedido de licença e depois não sabe como proceder. A indústria tem interesse em explorar, mas quer garantias.
Um estudo encomendado pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), da Presidência da República, levantou a importância dos minerais marítimos. Na Região Sul, por exemplo, existem reservas de fosforita, rocha rica em fósforo. A exploração delas é tida como uma atividade urgente e de grande importância. O Brasil importa cerca de US$1 bilhão de fosfato por ano para correção de solo agrícola e ração animal. O fósforo marinho é muito mais concentrado do que o explorado em terra firme.
Petrobras já tem parte da tecnologia
Atualmente, a tecnologia para exploração mineral em alto mar é toda estrangeira, mas o Brasil tem um trunfo: a técnica de exploração de petróleo e gás em águas profundas, desenvolvida pela Petrobras. Para Kaiser Souza, isso ajudará no futuro:
- É um passo à frente, mas será preciso adaptá-la ao setor (de mineração marinha).
Das profundezas do mar pode-se extrair até carvão mineral, usado como energia para a indústria. Segundo a CPRM, as jazidas carboníferas de Santa Catarina podem se estender 70 quilômetros mar adentro, a 700 metros de profundidade. É uma boa notícia para o setor energético. No Reino Unido já se explora carvão no mar, por meio de galerias abertas em terra que avançam até 30 quilômetros abaixo do leito marinho. No Japão, o carvão é queimado no subsolo, gaseificado e transformado em energia.
TESOURO SUBMERSO: Brasil é uma das nações a questionar fronteiras marítimas
Militar carioca está na arbitragem da disputada corrida ao fundo do mar
Alexandre Tagore comanda a comissão que analisa reivindicações de países
Liana Melo
As ambições econômicas de países como Brasil, Austrália, Nova Zelândia, Noruega, México, França-Irlanda e Espanha-Reino Unido estão nas mãos do capitão-de-fragata reformado da Marinha do Brasil Alexandre Albuquerque Tagore. Caberá a esse carioca de 67 anos, hidrógrafo por formação, analisar a demanda dos países interessados em ampliar a soberania sobre a plataforma continental, além das 200 milhas náuticas. Tagore é o primeiro brasileiro a assumir a presidência da Comissão de Limites da Plataforma Continental, grupo das Nações Unidas (ONU) responsável por analisar os limites exteriores dos países costeiros.
A corrida ao fundo do mar só não está num ritmo mais acelerado porque Tagore e os 21 membros da comissão ainda não deram sinal verde a nenhum dos pedidos encaminhados à comissão. O primeiro país a solicitar expansão da fronteira submarina foi a Rússia. O pedido voltou porque os russos têm divergências de fronteiras marítimas com alguns estados no Ártico e no Pacífico e a comissão recomendou que as pendências fossem resolvidas.
O pedido seguinte foi o do Brasil, aceito parcialmente. A comissão pediu esclarecimentos quanto a uma área de 20% a 25% do total da região reivindicada, de 960 mil quilômetros quadrados, ao longo da costa e ao redor das ilhas brasileiras no Atlântico. Cabe agora ao governo brasileiro apresentar sua réplica. Só que tudo indica que o Brasil continuará insistindo no pleito inicial, avalia Tagore:
- Não temos poder de negar, nem de aprovar as propostas. Fazemos recomendações.
O trabalho de Tagore é recomendar, com base em dados fornecidos pelos próprios países, quem tem direito sobre que pedaço do solo marítimo. Só que ele tem consciência de que o que está em jogo é dinheiro, muito dinheiro. Algumas das áreas disputadas do Ártico, por exemplo, podem conter até 25% das reservas mundiais de petróleo e gás do mundo.
- Somos um país agrícola, mas, como não temos reservas de fosfato, o país importa US$1 bilhão ao ano desse mineral - calcula Kaiser Gonçalves, do serviço de geologia da Divisão de Geologia Marinha da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), explicando a importância econômica dessa corrida ao fundo do mar.
Países exploram riquezas a partir de regulamentação feita pela ONU
BRASÍLIA. Circula entre especialistas do setor mineral um levantamento feito pelo governo russo sobre as áreas com potencial de exploração de crostas cobaltíferas no planeta. Ricas em manganês e cobalto, minério usado para ligas metálicas e usinas nucleares, essas formações são abundantes no Oceano Pacífico e existem no Atlântico. Uma das que mais se destaca, aliás, fica em frente à Região Sudeste, milhares de quilômetros distante da costa, em águas internacionais.
Informações como esta, produzidas por governos estrangeiros, justificam, para além do aspecto econômico, o interesse do governo brasileiro na exploração mineral de alto-mar. Atualmente, o Brasil não explora o solo marinho. Para o Comando da Marinha e o Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), da Presidência da República, existem questões políticas e estratégicas relacionadas à ocupação econômica da plataforma continental.
- Este momento histórico requer uma especial atenção por parte das autoridades brasileiras no sentido de assegurar que os recursos minerais da parte internacional dos oceanos, especialmente aqueles localizados no Atlântico Sul e Equatorial, possam vir a constituir uma reserva econômica, estratégica e política para futuras gerações brasileiras - diz Kaiser Gonçalves de Souza, chefe da Divisão de Geologia Marinha do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
A preocupação das autoridades reside no potencial futuro da mineração em águas internacionais. A Autoridade Internacional do Fundo Marinho (ISBA, da sigla em inglês), ligada à Organização das Nações Unidas, terminou recentemente a regulamentação para exploração de nódulos polimetálicos - pequenas rochas de até 20 centímetros de diâmetro, ricas em sete minerais diferentes, como níquel, cobre, ferro, cobalto e alumínio. Seis países (China, Índia, França, Japão, Coréia e Rússia), mais um consórcio formado por Cuba, Bulgária, República Tcheca, Eslováquia, Rússia e Polônia, conseguiram concessões para exploração desse mineral em uma grande faixa no Oceano Pacífico.
Em breve, serão regulamentadas, justamente, as explorações das crostas cobaltíferas, além das de sulfetos polimetálicos, ricos em alumínio, prata, zinco e chumbo. As reservas localizadas em frente ao Brasil podem ser alvo desses pedidos de concessão internacional. Ganha a concessão da ISBA quem comprovar capacidade de exploração e tecnologia adequada. (Gustavo Paul)
TESOURO SUBMERSO
Amazônia azul
Governo e empresas estudam exploração de jazidas minerais no subsolo marítimo
Gustavo Paul
O fundo do mar brasileiro guarda um tesouro ainda incalculável, que não se resume a petróleo, gás ou algum galeão colonial afundado. Em uma área gigantesca do mar territorial e da plataforma continental, correspondente a cerca de 40% do território brasileiro, está enterrada uma extensa gama de minerais. Há pelo menos 17 variedades, entre ferro, níquel, carvão, estanho, ouro, diamante, calcário, areia, fósforo e cobre. Governo e empresários estão abrindo os olhos para este potencial econômico, cujo conhecimento é apenas razoável. Além disso, para o Comando da Marinha, a exploração mineral em alto mar também responde a objetivos políticos e estratégicos.
Por isso, nos últimos anos, vários órgãos federais começaram a desenhar o mapa desse tesouro, para tentar mensurá-lo e estabelecer estratégias de exploração. Para designar essa área, a Marinha cunhou a expressão "Amazônia azul". Em 1997, foi lançado o Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (Remplac), mas só em 2005 ele começou efetivamente a se desenvolver. O objetivo é retomar as pesquisas geológicas na plataforma continental, interrompidas nos anos 70. Seis navios da Marinha estão disponíveis para a exploração e devem ficar cerca de 245 dias no mar vasculhando solo e subsolo.
Um dos programas já implementados prevê a sondagem da existência de ouro na região da foz do Rio Gurupi, na divisa entre o Maranhão e o Pará, numa parceria entre o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e a Universidade Federal do Pará. O CPRM também está estudando a existência de diamantes no Sul da Bahia, próximo à foz do Rio Jequitinhonha. Este ano estão previstas ainda sondagens no litoral da Região Sul, para identificação de fósforo e metais pesados, e no Espírito Santo.
- Nosso conhecimento atual sobre o mar é semelhante ao que tínhamos nos anos 70 em relação à Amazônia. Sabia-se do potencial da região, mas não havia conhecimento profundo. É isso que precisamos mudar - explica Kaiser Gonçalves de Souza, chefe da divisão de Geologia Marinha do CPRM.
Na construção civil, cascalho do mar
Mas não é preciso ir muito além das praias para começar a exploração. Já existem pesquisas apontando a viabilidade econômica de exploração de areia e cascalho em praticamente todo o litoral brasileiro, em distâncias que vão de algumas centenas de metros a dezenas de quilômetros.
Segundo os geólogos, esses materiais são úteis na reposição e contenção da costa brasileira, anulando os efeitos da erosão do mar. A areia e o cascalho também ajudariam na recuperação de praias e podem suprir a demanda da construção civil em cidades costeiras, reduzindo a retirada do fundo dos rios. Com o aquecimento da economia, a procura por areia para construção civil cresceu 10% em 2008.
O Brasil tem a maior plataforma de calcário marinho do planeta, entre o Rio Pará e Cabo Frio (RJ). Formado por algas mortas há milhares de anos e conchas, esse calcário é considerado superior ao que é explorado em terra firme. O país ainda importa esse mineral, usado em fertilizantes agrícolas, implantes ósseos, indústrias de cosméticos e dietética, nutrição animal e tratamento da água de lagos. Nas últimas décadas foram feitos 150 pedidos para lavra subaquática de areia e calcário, mas até agora só um direito de lavra foi autorizado - no Espírito Santo.
Tanta demora para concessão deve-se às questões ambientais. Segundo fontes do setor, o fato de se tratar de algas, ainda que mortas, gerou uma interminável discussão ambiental entre os órgãos minerais e o Ibama, só resolvida no ano passado - concluiu-se que algas mortas e petrificadas não podem ser consideradas seres vivos e por isso podem ser exploradas. Para os empresários, questões como essa evidenciam que a falta de um marco regulatório para exploração no leito marinho não dá garantias para o negócio, cuja tecnologia ainda é cara e precisa ser importada.
Para Marcelo Tunes, diretor de Recursos Minerais do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), a nova fronteira é atraente, mas a lei não é clara:
- O indivíduo entra com um pedido de licença e depois não sabe como proceder. A indústria tem interesse em explorar, mas quer garantias.
Um estudo encomendado pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), da Presidência da República, levantou a importância dos minerais marítimos. Na Região Sul, por exemplo, existem reservas de fosforita, rocha rica em fósforo. A exploração delas é tida como uma atividade urgente e de grande importância. O Brasil importa cerca de US$1 bilhão de fosfato por ano para correção de solo agrícola e ração animal. O fósforo marinho é muito mais concentrado do que o explorado em terra firme.
Petrobras já tem parte da tecnologia
Atualmente, a tecnologia para exploração mineral em alto mar é toda estrangeira, mas o Brasil tem um trunfo: a técnica de exploração de petróleo e gás em águas profundas, desenvolvida pela Petrobras. Para Kaiser Souza, isso ajudará no futuro:
- É um passo à frente, mas será preciso adaptá-la ao setor (de mineração marinha).
Das profundezas do mar pode-se extrair até carvão mineral, usado como energia para a indústria. Segundo a CPRM, as jazidas carboníferas de Santa Catarina podem se estender 70 quilômetros mar adentro, a 700 metros de profundidade. É uma boa notícia para o setor energético. No Reino Unido já se explora carvão no mar, por meio de galerias abertas em terra que avançam até 30 quilômetros abaixo do leito marinho. No Japão, o carvão é queimado no subsolo, gaseificado e transformado em energia.
TESOURO SUBMERSO: Brasil é uma das nações a questionar fronteiras marítimas
Militar carioca está na arbitragem da disputada corrida ao fundo do mar
Alexandre Tagore comanda a comissão que analisa reivindicações de países
Liana Melo
As ambições econômicas de países como Brasil, Austrália, Nova Zelândia, Noruega, México, França-Irlanda e Espanha-Reino Unido estão nas mãos do capitão-de-fragata reformado da Marinha do Brasil Alexandre Albuquerque Tagore. Caberá a esse carioca de 67 anos, hidrógrafo por formação, analisar a demanda dos países interessados em ampliar a soberania sobre a plataforma continental, além das 200 milhas náuticas. Tagore é o primeiro brasileiro a assumir a presidência da Comissão de Limites da Plataforma Continental, grupo das Nações Unidas (ONU) responsável por analisar os limites exteriores dos países costeiros.
A corrida ao fundo do mar só não está num ritmo mais acelerado porque Tagore e os 21 membros da comissão ainda não deram sinal verde a nenhum dos pedidos encaminhados à comissão. O primeiro país a solicitar expansão da fronteira submarina foi a Rússia. O pedido voltou porque os russos têm divergências de fronteiras marítimas com alguns estados no Ártico e no Pacífico e a comissão recomendou que as pendências fossem resolvidas.
O pedido seguinte foi o do Brasil, aceito parcialmente. A comissão pediu esclarecimentos quanto a uma área de 20% a 25% do total da região reivindicada, de 960 mil quilômetros quadrados, ao longo da costa e ao redor das ilhas brasileiras no Atlântico. Cabe agora ao governo brasileiro apresentar sua réplica. Só que tudo indica que o Brasil continuará insistindo no pleito inicial, avalia Tagore:
- Não temos poder de negar, nem de aprovar as propostas. Fazemos recomendações.
O trabalho de Tagore é recomendar, com base em dados fornecidos pelos próprios países, quem tem direito sobre que pedaço do solo marítimo. Só que ele tem consciência de que o que está em jogo é dinheiro, muito dinheiro. Algumas das áreas disputadas do Ártico, por exemplo, podem conter até 25% das reservas mundiais de petróleo e gás do mundo.
- Somos um país agrícola, mas, como não temos reservas de fosfato, o país importa US$1 bilhão ao ano desse mineral - calcula Kaiser Gonçalves, do serviço de geologia da Divisão de Geologia Marinha da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), explicando a importância econômica dessa corrida ao fundo do mar.
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
Barão do Rio Branco
- Al Zarqawi
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Re: Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
Muito promissoras essas descobertas.
Abraços,
Abraços,
Al Zarqawi - O Dragão!
"A inveja é doce,o olho grande é que é uma merda"Autor desconhecido.
"A inveja é doce,o olho grande é que é uma merda"Autor desconhecido.
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Re: Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
E a VALE não possuí nenhum projeto nem estudo nesta área .
Se na batalha de Passo do Rosário houve controvérsias. As Vitórias em Lara-Quilmes e Monte Santiago, não deixam duvidas de quem às venceu!
- joao fernando
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Re: Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
Tupi, vc acha que lá tem manés???
O que acontece, é que deve ser AINDA mais facil tirar da terra que do mar. E outra, com o desaquecimento da China, aquilo lá logo explode em recessão, e 3 bilhoes de pessoas podem ficar meio que zangadas com o governo comuna. Vai que uma revolta nasce (Tibet?) e uma grande guerra por aquelas pragas se inicia?
Assim, acho que o pico economico que andamos vendo por esses tempos, vai dar uma bela esfirada, e a demanda vai cair por minerios, sejam eles estrategicos ou não.
O que acontece, é que deve ser AINDA mais facil tirar da terra que do mar. E outra, com o desaquecimento da China, aquilo lá logo explode em recessão, e 3 bilhoes de pessoas podem ficar meio que zangadas com o governo comuna. Vai que uma revolta nasce (Tibet?) e uma grande guerra por aquelas pragas se inicia?
Assim, acho que o pico economico que andamos vendo por esses tempos, vai dar uma bela esfirada, e a demanda vai cair por minerios, sejam eles estrategicos ou não.
Obrigado Lulinha por melar o Gripen-NG
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Re: Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
João Fernando,joao fernando escreveu:Tupi, vc acha que lá tem manés???
O que acontece, é que deve ser AINDA mais facil tirar da terra que do mar. E outra, com o desaquecimento da China, aquilo lá logo explode em recessão, e 3 bilhoes de pessoas podem ficar meio que zangadas com o governo comuna. Vai que uma revolta nasce (Tibet?) e uma grande guerra por aquelas pragas se inicia?
Assim, acho que o pico economico que andamos vendo por esses tempos, vai dar uma bela esfirada, e a demanda vai cair por minerios, sejam eles estrategicos ou não.
Também acho muito provável que o ritmo de crescimento da China não se mantenha por muito mais tempo. E que num dado momento eles vão ter uma nova crise por liberdade, etc...
Mas o desenvolvimento de projetos e pesquisas da VALE, não se resumem ao fornecimento para a China nem pode ser para planejamentos de curto prazo(5 10anos). Daí minha pergunta sobre uma eventual participação dela neste manancial futuro de fontes de minerios.
Pois como uma empresa lider mundial, na minha mera percepção; ela poderia largar na frente ou se unir a outras grandes para exploração de jazidas submarinas. Ainda que estas não sejam muito atraentes economicamente no momento.
Cordias saudações,
Se na batalha de Passo do Rosário houve controvérsias. As Vitórias em Lara-Quilmes e Monte Santiago, não deixam duvidas de quem às venceu!
- joao fernando
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Re: Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
Como projeto de longo prazo, claro que eles devem ter alguma carta na manga.
Mas como acionista da Vale que sou, prefiro coisas com lucro imediato, ao invez de operações antieconomicas (mas com excelente potencial).
Mas como acionista da Vale que sou, prefiro coisas com lucro imediato, ao invez de operações antieconomicas (mas com excelente potencial).
Obrigado Lulinha por melar o Gripen-NG
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Re: Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
Parabens pela opção de investimentojoao fernando escreveu:Como projeto de longo prazo, claro que eles devem ter alguma carta na manga.
Mas como acionista da Vale que sou, prefiro coisas com lucro imediato, ao invez de operações antieconomicas (mas com excelente potencial).
No mais acredito que a Vale sabe mais do que as demais sobre os tais nodulos, porém no momento não tem motivo para divulgar.
Se na batalha de Passo do Rosário houve controvérsias. As Vitórias em Lara-Quilmes e Monte Santiago, não deixam duvidas de quem às venceu!
- Marino
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Re: Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
Fonte: Globo
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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Re: Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
A MB tem a faca e o queijo na mão para descolar todos os Royalties a q ue tem direito e ainda pleitear agora os Royalties da VALEMarino escreveu:Fonte: Globo
Só há 2 tipos de navios: os submarinos e os alvos...
Armam-se homens com as melhores armas.
Armam-se Submarinos com os melhores homens.
Os sábios PENSAM
Os Inteligentes COPIAM
Os Idiotas PLANTAM e os
Os Imbecis FINANCIAM...
Armam-se homens com as melhores armas.
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- Marino
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Re: Nódulos Polimetálicos em frente ao Brasil
Da Isto É Dinheiro:
A conquista do oceano
O governo luta para ampliar as milhas náuticas brasileiras, num esforço que pode render bilhões de barris adicionais de petróleo e muitas outras riquezas
ADRIANA NICACIO E GUSTAVO GANTOIS
Dentro de seis meses, um gigantebrasileiro de 1,8 mil toneladas deixará a costa do Rio de Janeiro rumo a alto-mar, para uma região além dos limites nacionais. Tratase do navio hidrográfico Sirius, equipado com um sonar multifeixe, capaz de medir e reconstituir a topografia até sete mil metros abaixo do nível do mar. Esse é o próximo passo da Marinha, que está empenhada em levantar dados para a nova proposta brasileira que será apresentada à Organização das Nações Unidas. O Brasil quer ampliar seu espaço marítimo em 963 mil quilômetros quadrados, o que equivale a cinco vezes o Estado de São Paulo. Isso ocorrerá se, além das 200 milhas náuticas a que tem direito atualmente, o Brasil puder explorar 350 milhas. No momento, a Comissão de Limites da Plataforma Continental, órgão ligado à ONU, responsável pela demarcação da fronteira, vetou 190 mil quilômetros quadrados, divididos no Cone do Amazonas, na projeção do Norte do País, uma parte perto da ilha de Trindade e outra na Margem Continental Sul. No próximo dia 24, o Brasil dará resposta ao veto. Dirá que não aceita 773 mil quilômetros quadrados e apresentará estudos para provar à ONU que o Brasil tem direito ao que lhe foi negado. “Será a nossa Amazônia Azul”, explica o comandante Alexandre Tagore, presidente da Comissão de Limites da Plataforma Continental. “Não vamos abrir mão de nenhum centímetro”, disse à DINHEIRO o capitão Carlos Frederico Serafim, subsecretário para o Plano Setorial para os Recursos do Mar.
O comandante Serafim não diz, mas fontes do Itamaraty contaram à DINHEIRO que há pressão da Petrobras para que se aprove a contra-proposta. Se fosse aprovada, a empresa poderia ampliar pesquisas na mesma região em que encontrou o gigante Campo de Tupi e o poço de Júpiter, com reservas de 5 a 8 bilhões de barris de petróleo de qualidade e gás natural, o que equivale a pelo menos US$ 500 bilhões. Ocorre que essa descoberta, que tende a colocar o Brasil em um novo patamar na indústria do petróleo e contribuir para a auto-suficiência na produção de gás natural, está colada no final da zona econômica exclusiva brasileira de 200 milhas náuticas. Com a ampliação da plataforma continental, nos termos que a Comissão já aprovou, o Brasil passará a ter exclusividade do subsolo de uma área importantíssima para a Petrobras. Cálculos iniciais mostram que as reservas brasileiras de petróleo e gás devem duplicar. “Não podemos deixar de manifestar nosso direito em nome de um ganho imediato”, diz um diplomata que prefere não se identificar. “Não são questões econômicas que vão se sobrepor a um trabalho de duas décadas.”
Entre 1987 e 2004, o governo brasileiro, em conjunto com a Petrobras, gastou cerca de R$ 100 milhões para montar o Plano de Levantamento da Plataforma Continental, com um mapeamento científico sobre a área que seria pleiteada. Nesse período, os navios da Marinha percorrem 230 mil quilômetros pela Costa do Brasil e o que descobriram encheu os olhos de muita gente. A região é riquíssima em hidrato de gás – gás metano aprisionado em células de gelo – uma importante fonte de energia limpa; nódulos polimetálicos (usados na indústria) e cerca de 20 tipos de recursos minerais. Entre eles, podem ser encontrados ferro, níquel, cobre e a fosforita que possui alto teor de fósforo in natura, usado para fabricar fertilizantes. No caso do fósforo, o déficit da balança comercial brasileira é de US$ 4 bilhões ao ano. Há ainda novas bacias sedimentares, crostas cobaltíferas (ricas em cobalto) e negócios no ramo da pesca de profundidade, como caranguejovermelho, peixe-sapo e abrótea, e uma biodiversidade com potencial econômico e genético incalculável. “O mar é riquíssimo, mas vivemos de costas para ele”, analisa o geólogo Kaiser Ianosan, chefe da Divisão de Geologia Marinha da Companhia de Recursos Minerais (CPRM). “O Brasil tem uma riqueza imensa, inexplorável já na sua jurisdição, e essa reserva é estratégica para a economia.”
Mas não é só o Brasil que está nesse processo. Também querem ampliar suas plataformas continentais nove países. Os Estados Unidos e a Noruega já formalizaram o pedido. França, Irlanda, Espanha e Reino Unido querem montar território no golfo da Biscaia, no norte do território da Espanha. Austrália e Nova Zelândia já oficializaram o interesse na Antártida. E a Inglaterra estuda ampliar seus domínios nas ilhas britânicas próximas à Antártida. O problema é que os três países são signatários do Tratado da Antártida, que estabelece que qualquer mudança na região só poderá ocorrer a partir de 2048. Até agora, apenas três países tiveram resposta. A Rússia e a Irlanda, que aceitaram a contra- proposta da Comissão. E o Brasil. “Não temos problemas de fronteiras laterais, como a Rússia tem. Já resolvemos isso com a Guiana Francesa e o Uruguai”, explica o comandante Serafim. “Por isso não devemos aceitar nenhuma contra-proposta.”
Apesar do esforço para se ampliar os limites marítimos, o governo sabe que é preciso investir em um marco regulatório firme para atrair investimentos, inclusive na área de 200 milhas, que é exclusiva do Brasil. “Nós não molhamos os nossos pés, porque não há segurança jurídica”, afirmou um dos diretores da Vale, em reunião com o governo. “É necessário buscar um aperfeiçoamento dos instrumentos que existem hoje”, afirma Ricardo Mancin, diretor de Assuntos Ambientais do Instituto Brasileiro de Mineração. “Porque eles contemplam de forma limitada os desafios que cercam a mineração no mar, especialmente aqueles de ordem ambiental.” Sobre a nova proposta brasileira, como tudo no mundo diplomático, não há previsão para ela ser avaliada. Pode levar de quatro a cinco anos. O que deve ser um motivo para o Brasil investir no que já tem – e que não é pouco – com mais pesquisas, regras claras e incentivos.Colaborou Fernanda Mendes
A conquista do oceano
O governo luta para ampliar as milhas náuticas brasileiras, num esforço que pode render bilhões de barris adicionais de petróleo e muitas outras riquezas
ADRIANA NICACIO E GUSTAVO GANTOIS
Dentro de seis meses, um gigantebrasileiro de 1,8 mil toneladas deixará a costa do Rio de Janeiro rumo a alto-mar, para uma região além dos limites nacionais. Tratase do navio hidrográfico Sirius, equipado com um sonar multifeixe, capaz de medir e reconstituir a topografia até sete mil metros abaixo do nível do mar. Esse é o próximo passo da Marinha, que está empenhada em levantar dados para a nova proposta brasileira que será apresentada à Organização das Nações Unidas. O Brasil quer ampliar seu espaço marítimo em 963 mil quilômetros quadrados, o que equivale a cinco vezes o Estado de São Paulo. Isso ocorrerá se, além das 200 milhas náuticas a que tem direito atualmente, o Brasil puder explorar 350 milhas. No momento, a Comissão de Limites da Plataforma Continental, órgão ligado à ONU, responsável pela demarcação da fronteira, vetou 190 mil quilômetros quadrados, divididos no Cone do Amazonas, na projeção do Norte do País, uma parte perto da ilha de Trindade e outra na Margem Continental Sul. No próximo dia 24, o Brasil dará resposta ao veto. Dirá que não aceita 773 mil quilômetros quadrados e apresentará estudos para provar à ONU que o Brasil tem direito ao que lhe foi negado. “Será a nossa Amazônia Azul”, explica o comandante Alexandre Tagore, presidente da Comissão de Limites da Plataforma Continental. “Não vamos abrir mão de nenhum centímetro”, disse à DINHEIRO o capitão Carlos Frederico Serafim, subsecretário para o Plano Setorial para os Recursos do Mar.
O comandante Serafim não diz, mas fontes do Itamaraty contaram à DINHEIRO que há pressão da Petrobras para que se aprove a contra-proposta. Se fosse aprovada, a empresa poderia ampliar pesquisas na mesma região em que encontrou o gigante Campo de Tupi e o poço de Júpiter, com reservas de 5 a 8 bilhões de barris de petróleo de qualidade e gás natural, o que equivale a pelo menos US$ 500 bilhões. Ocorre que essa descoberta, que tende a colocar o Brasil em um novo patamar na indústria do petróleo e contribuir para a auto-suficiência na produção de gás natural, está colada no final da zona econômica exclusiva brasileira de 200 milhas náuticas. Com a ampliação da plataforma continental, nos termos que a Comissão já aprovou, o Brasil passará a ter exclusividade do subsolo de uma área importantíssima para a Petrobras. Cálculos iniciais mostram que as reservas brasileiras de petróleo e gás devem duplicar. “Não podemos deixar de manifestar nosso direito em nome de um ganho imediato”, diz um diplomata que prefere não se identificar. “Não são questões econômicas que vão se sobrepor a um trabalho de duas décadas.”
Entre 1987 e 2004, o governo brasileiro, em conjunto com a Petrobras, gastou cerca de R$ 100 milhões para montar o Plano de Levantamento da Plataforma Continental, com um mapeamento científico sobre a área que seria pleiteada. Nesse período, os navios da Marinha percorrem 230 mil quilômetros pela Costa do Brasil e o que descobriram encheu os olhos de muita gente. A região é riquíssima em hidrato de gás – gás metano aprisionado em células de gelo – uma importante fonte de energia limpa; nódulos polimetálicos (usados na indústria) e cerca de 20 tipos de recursos minerais. Entre eles, podem ser encontrados ferro, níquel, cobre e a fosforita que possui alto teor de fósforo in natura, usado para fabricar fertilizantes. No caso do fósforo, o déficit da balança comercial brasileira é de US$ 4 bilhões ao ano. Há ainda novas bacias sedimentares, crostas cobaltíferas (ricas em cobalto) e negócios no ramo da pesca de profundidade, como caranguejovermelho, peixe-sapo e abrótea, e uma biodiversidade com potencial econômico e genético incalculável. “O mar é riquíssimo, mas vivemos de costas para ele”, analisa o geólogo Kaiser Ianosan, chefe da Divisão de Geologia Marinha da Companhia de Recursos Minerais (CPRM). “O Brasil tem uma riqueza imensa, inexplorável já na sua jurisdição, e essa reserva é estratégica para a economia.”
Mas não é só o Brasil que está nesse processo. Também querem ampliar suas plataformas continentais nove países. Os Estados Unidos e a Noruega já formalizaram o pedido. França, Irlanda, Espanha e Reino Unido querem montar território no golfo da Biscaia, no norte do território da Espanha. Austrália e Nova Zelândia já oficializaram o interesse na Antártida. E a Inglaterra estuda ampliar seus domínios nas ilhas britânicas próximas à Antártida. O problema é que os três países são signatários do Tratado da Antártida, que estabelece que qualquer mudança na região só poderá ocorrer a partir de 2048. Até agora, apenas três países tiveram resposta. A Rússia e a Irlanda, que aceitaram a contra- proposta da Comissão. E o Brasil. “Não temos problemas de fronteiras laterais, como a Rússia tem. Já resolvemos isso com a Guiana Francesa e o Uruguai”, explica o comandante Serafim. “Por isso não devemos aceitar nenhuma contra-proposta.”
Apesar do esforço para se ampliar os limites marítimos, o governo sabe que é preciso investir em um marco regulatório firme para atrair investimentos, inclusive na área de 200 milhas, que é exclusiva do Brasil. “Nós não molhamos os nossos pés, porque não há segurança jurídica”, afirmou um dos diretores da Vale, em reunião com o governo. “É necessário buscar um aperfeiçoamento dos instrumentos que existem hoje”, afirma Ricardo Mancin, diretor de Assuntos Ambientais do Instituto Brasileiro de Mineração. “Porque eles contemplam de forma limitada os desafios que cercam a mineração no mar, especialmente aqueles de ordem ambiental.” Sobre a nova proposta brasileira, como tudo no mundo diplomático, não há previsão para ela ser avaliada. Pode levar de quatro a cinco anos. O que deve ser um motivo para o Brasil investir no que já tem – e que não é pouco – com mais pesquisas, regras claras e incentivos.Colaborou Fernanda Mendes
"A reconquista da soberania perdida não restabelece o status quo."
Barão do Rio Branco
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