GEOPOLÍTICA
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- Marino
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GEOPOLÍTICA
Resolvi criar este tópico para postar os artigos que possuam relação direta com Geopolítica.
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EMBATES SUL-AMERICANOS
Integração regional em xeque
Conflitos territoriais, diplomáticos e domésticos põem em risco aproximação na América do Sul
Eliane Oliveira e Janaína Figueiredo
Em meio a esse cenário, nações como Venezuela, Bolívia e Equador adotam projetos nacionalistas e passam por momentos de crise política que, de alguma forma, afetam suas relações com os vizinhos. A nacionalização das reservas de gás e petróleo na Bolívia é um exemplo que teve como conseqüência o risco de queda no fornecimento de gás para Brasil e Argentina.
- Existem inúmeras Américas do Sul, e não uma só - resumiu Amado Cervo, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, explicando que cada país tem soluções nacionais, o que aumenta os conflitos bilaterais. - A diversidade leva a uma dispersão das políticas exteriores.
Chávez, um ponto nevrálgico
Para Rubens Ricupero, professor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), três países radicalizaram ao dizerem ao continente o que pretendiam em termos de política interna: Venezuela, Bolívia e Equador. Seus presidentes optaram por aquilo que hoje está sendo chamado de refundação constitucional, uma espécie de processo pelo qual a Constituição está sendo revista, sendo o caso mais dramático o boliviano.
- São processos políticos diferentes daqueles em que a alternância do poder está se dando de maneira normal, como Brasil, Argentina, Chile e Colômbia - disse Ricupero, que também foi ministro da Fazenda e secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Em sua opinião, Chávez é "o mais belicoso". Ordenou uma ação militar na Guiana, sem dar qualquer satisfação às autoridades do país, e desperta preocupação entre os vizinhos, por conta do armamento pesado que vem comprando ao longo dos últimos meses.
- Ele está se armando até os dentes - destacou Ricupero.
Segundo fontes do governo brasileiro, Chávez criou problemas para Peru, México e - quase - o Brasil, ao fazer campanha para candidatos em eleições nesses países. Em recente encontro com a presidente do Chile, Chávez levou um puxão de orelhas de Michelle Bachelet, por interferir na disputa entre chilenos e bolivianos.
Conflitos de novo tipo surgiram na região
Com isso, há uma espécie de polarização na América do Sul que leva uma banda da região em direção aos EUA (Chile, Peru e Colômbia), em busca de acordos bilaterais de livre comércio. O Brasil não entra, porque não negocia sem os demais sócios do Mercosul. Venezuela e Bolívia ficam de fora, em razão do discurso antiamericano.
Na visão do professor Juan Tokatlián, do mestrado de relações internacionais da Universidade San Andrés, de Buenos Aires, nos últimos anos surgiram novos tipos de conflito na região, que se somaram aos clássicos territoriais. A chamada guerra do papel, protagonizada pelos governos de Argentina e Uruguai, é um claro exemplo, já que a disputa foi desencadeada por uma questão ambiental. Os argentinos se colocam fortemente contra a instalação de duas fábricas de celulose no Rio Uruguai.
- Com o surgimento de novos conflitos, temos uma superposição de tensões na região que não favorece a integração - disse Tokatlián. - As negociações no Mercosul ficaram muito mais complicadas desde que a Argentina e Uruguai estão em crise.
Para o cientista político Leonardo Barreto, embora seja tida como prioritária para os países da América do Sul, a integração está congelada. Até a adesão da Venezuela ao Mercosul, que parecia simples, pode não se concretizar, diante da forte oposição de setores políticos brasileiros.
- Além dos problemas numerosos, que vão desde o narcotráfico até contenciosos econômicos, os sul-americanos ainda enfrentam a ameaça de um colapso energético na região. A situação é delicada em todos os aspectos.
EMBATES SUL-AMERICANOS: Chile compra caças F-16, Venezuela investe nos Sukhoi e Brasil quer submarino nuclear
Gastos militares aumentam em toda a região
Especialistas, no entanto, descartam corrida armamentista e dizem que fenômeno é para inverter sucateamento
Leonardo Valente
O recente aumento dos gastos militares, principalmente de Chile e Venezuela, despertou temores de que a América do Sul estivesse passando por uma corrida armamentista. Especialistas, no entanto, afirmam que, apesar das rivalidades existentes na região, o que acontece atualmente é uma modernização das Forças Armadas, que por décadas passaram por um forte processo de sucateamento.
O Chile lidera em percentual de gastos em modernização militar, com cerca de US$3 bilhões anuais. A chamada lei do cobre, principal matéria-prima do país, estipula que 10% da receita bruta, proveniente das exportações do metal, seja destinada às Forças Armadas. O país comprou recentemente 16 caças F-16 dos Estados Unidos, considerados de primeira linha, tanques alemães Leopardo 2, que estão entre os melhores do mundo, e investe na profissionalização de seu efetivo. Já a Venezuela, mesmo sofrendo um boicote na venda de armamentos pelos EUA, gastou no último ano US$2,2 bilhões em armamentos. Foram comprados da Rússia no ano passado, entre outros armamentos, 24 caças Sukhoi-30 e Sukhoi-35, cem mil fuzis AK-103 e dez helicópteros de última geração. O presidente Hugo Chávez anunciou recentemente que pretende desenvolver com tecnologia estrangeira mísseis de curto alcance.
No entanto, os temores de que Caracas possa intervir militarmente no continente, especialmente na Bolívia, como já sugeriu Chávez por causa da crise interna no país, são descartados por analistas.
- A Venezuela não tem condições de intervir militarmente na Bolívia. Além dos problemas logísticos para isso as condições internas do país e internacionais não permitem - disse o professor de relações internacionais Luiz Alberto Moniz Bandeira.
Brasil também planeja modernização das tropas
Para o professor Michael Radseck, pesquisador do Instituto de Estudos Ibero-Americanos de Hamburgo, na Alemanha, a compra de equipamentos por Chávez visa muito mais a armar a população civil, por meio das milícias, do que ameaçar seus vizinhos.
- Ele (Chávez) diz que pretende evitar uma invasão americana usando a tática de guerrilha. Mas a verdade é que os aviões comprados da Rússia ainda precisam de pistas de pouso adequadas para poderem operar e o fuzis comprados não servem para guerras convencionais. Podem sim, aumentar a violência no país e favorecer o tráfico de armas na América do Sul, aumentando a criminalidade em outros países - afirmou.
Peru e Equador também fizeram compras recentes de aviões e tanques e aumentaram seus orçamentos. Já a Argentina enviou especialistas em defesa recentemente à Europa para estudar as melhores alternativas de compras de armamentos, sinalizando que também poderá aumentar seus gastos. O Brasil, que tem o maior orçamento militar da região (cerca de US$6 bilhões) mas que vinha perdendo para os vizinhos em modernização, anunciou que também vai aumentar os gastos militares. Entre as planos estão a construção de um submarino com propulsão nuclear, projeto antigo mas que estava arquivado, e a compra de equipamentos para o monitoramento da Amazônia.
- Após décadas de sucateamento e redução de gastos, o que observamos agora é uma onda de novas aquisições, o que é normal - afirmou Radseck.
Apesar de ser considerada uma região estável quando o assunto é conflito armado, a América do Sul possui em seu histórico guerras sangrentas e episódios dramáticos onde ameaças retóricas e diplomacia foram substituídas pelo uso da força.
O maior e mais longo conflito da região foi a Guerra do Paraguai, que ocorreu entre 1864 e 1870. Brasil, Argentina e Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após quase seis anos de lutas durante os quais o Brasil enviou mais de 160 mil homens à guerra. Segundo as versões mais correntes, a governo paraguaio, liderado pelo ditador Francisco Solano Lopes, tinha como objetivo aumentar o território paraguaio e obter uma saída para o Oceano Atlântico, através dos rios da Bacia do Prata. A reação dos aliados foi devastadora. Pelo menos 300 mil paraguaios morreram no conflito e o país, arrasado, perdeu grande parte de sua elite cultural e econômica e mergulhou em uma profunda crise. Cerca de 50 mil brasileiros morreram na guerra e estima-se que Argentina e Uruguai perderam cerca de 50% de suas tropas.
Nove anos depois, a América do Sul voltou a ser palco de um conflito bélico, a Guerra do Pacífico, entre 1879 e 1884. O Chile enfrentou Bolívia e Peru por questões territoriais e saiu vencedor. Ao final da guerra os chilenos anexaram ricas áreas em recursos naturais de ambos os países derrotados. O Peru perdeu a província de Tarapacá e a Bolívia teve de ceder a província de Antofagasta, ficando sem saída soberana para o mar. A crise resultou em uma rivalidade entre os países que dura até hoje. O governo boliviano do presidente Evo Morales ainda tenta negociar com os chilenos uma saída para o mar.
No século XX a América do Sul também foi palco de vários conflitos. Entre 1932 e 1935 ocorreu a Guerra do Chaco, entre Bolívia e Paraguai, que disputavam a região do Chaco Boreal, tendo como uma das causas a descoberta de petróleo. A guerra deixou um saldo de 60 mil bolivianos e 30 mil paraguaios mortos, tendo resultado na derrota dos bolivianos com a perda e anexação de parte de seu território pelos paraguaios.
Peru e Equador também se enfrentaram em três conflitos no século XX: 1941, 1981 e 1995. Na década de 80, um conflito de apenas três meses assustou toda a região: a Guerra das Malvinas, disputa entre Argentina e Grã-Bretanha pelas Ilhas Malvinas no sul do Oceano Atlântico.
A Argentina, apesar de ter pleiteado a posse das ilhas junto a organismos internacionais, não esperou o resultado e resolveu invadir o território, despertando uma violenta reação britânica. O resultado final foi a recuperação das ilhas pelo Reino Unido e a morte de 649 soldados argentinos e 255 britânicos. (L.V)
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EMBATES SUL-AMERICANOS
Integração regional em xeque
Conflitos territoriais, diplomáticos e domésticos põem em risco aproximação na América do Sul
Eliane Oliveira e Janaína Figueiredo
Em meio a esse cenário, nações como Venezuela, Bolívia e Equador adotam projetos nacionalistas e passam por momentos de crise política que, de alguma forma, afetam suas relações com os vizinhos. A nacionalização das reservas de gás e petróleo na Bolívia é um exemplo que teve como conseqüência o risco de queda no fornecimento de gás para Brasil e Argentina.
- Existem inúmeras Américas do Sul, e não uma só - resumiu Amado Cervo, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, explicando que cada país tem soluções nacionais, o que aumenta os conflitos bilaterais. - A diversidade leva a uma dispersão das políticas exteriores.
Chávez, um ponto nevrálgico
Para Rubens Ricupero, professor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), três países radicalizaram ao dizerem ao continente o que pretendiam em termos de política interna: Venezuela, Bolívia e Equador. Seus presidentes optaram por aquilo que hoje está sendo chamado de refundação constitucional, uma espécie de processo pelo qual a Constituição está sendo revista, sendo o caso mais dramático o boliviano.
- São processos políticos diferentes daqueles em que a alternância do poder está se dando de maneira normal, como Brasil, Argentina, Chile e Colômbia - disse Ricupero, que também foi ministro da Fazenda e secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Em sua opinião, Chávez é "o mais belicoso". Ordenou uma ação militar na Guiana, sem dar qualquer satisfação às autoridades do país, e desperta preocupação entre os vizinhos, por conta do armamento pesado que vem comprando ao longo dos últimos meses.
- Ele está se armando até os dentes - destacou Ricupero.
Segundo fontes do governo brasileiro, Chávez criou problemas para Peru, México e - quase - o Brasil, ao fazer campanha para candidatos em eleições nesses países. Em recente encontro com a presidente do Chile, Chávez levou um puxão de orelhas de Michelle Bachelet, por interferir na disputa entre chilenos e bolivianos.
Conflitos de novo tipo surgiram na região
Com isso, há uma espécie de polarização na América do Sul que leva uma banda da região em direção aos EUA (Chile, Peru e Colômbia), em busca de acordos bilaterais de livre comércio. O Brasil não entra, porque não negocia sem os demais sócios do Mercosul. Venezuela e Bolívia ficam de fora, em razão do discurso antiamericano.
Na visão do professor Juan Tokatlián, do mestrado de relações internacionais da Universidade San Andrés, de Buenos Aires, nos últimos anos surgiram novos tipos de conflito na região, que se somaram aos clássicos territoriais. A chamada guerra do papel, protagonizada pelos governos de Argentina e Uruguai, é um claro exemplo, já que a disputa foi desencadeada por uma questão ambiental. Os argentinos se colocam fortemente contra a instalação de duas fábricas de celulose no Rio Uruguai.
- Com o surgimento de novos conflitos, temos uma superposição de tensões na região que não favorece a integração - disse Tokatlián. - As negociações no Mercosul ficaram muito mais complicadas desde que a Argentina e Uruguai estão em crise.
Para o cientista político Leonardo Barreto, embora seja tida como prioritária para os países da América do Sul, a integração está congelada. Até a adesão da Venezuela ao Mercosul, que parecia simples, pode não se concretizar, diante da forte oposição de setores políticos brasileiros.
- Além dos problemas numerosos, que vão desde o narcotráfico até contenciosos econômicos, os sul-americanos ainda enfrentam a ameaça de um colapso energético na região. A situação é delicada em todos os aspectos.
EMBATES SUL-AMERICANOS: Chile compra caças F-16, Venezuela investe nos Sukhoi e Brasil quer submarino nuclear
Gastos militares aumentam em toda a região
Especialistas, no entanto, descartam corrida armamentista e dizem que fenômeno é para inverter sucateamento
Leonardo Valente
O recente aumento dos gastos militares, principalmente de Chile e Venezuela, despertou temores de que a América do Sul estivesse passando por uma corrida armamentista. Especialistas, no entanto, afirmam que, apesar das rivalidades existentes na região, o que acontece atualmente é uma modernização das Forças Armadas, que por décadas passaram por um forte processo de sucateamento.
O Chile lidera em percentual de gastos em modernização militar, com cerca de US$3 bilhões anuais. A chamada lei do cobre, principal matéria-prima do país, estipula que 10% da receita bruta, proveniente das exportações do metal, seja destinada às Forças Armadas. O país comprou recentemente 16 caças F-16 dos Estados Unidos, considerados de primeira linha, tanques alemães Leopardo 2, que estão entre os melhores do mundo, e investe na profissionalização de seu efetivo. Já a Venezuela, mesmo sofrendo um boicote na venda de armamentos pelos EUA, gastou no último ano US$2,2 bilhões em armamentos. Foram comprados da Rússia no ano passado, entre outros armamentos, 24 caças Sukhoi-30 e Sukhoi-35, cem mil fuzis AK-103 e dez helicópteros de última geração. O presidente Hugo Chávez anunciou recentemente que pretende desenvolver com tecnologia estrangeira mísseis de curto alcance.
No entanto, os temores de que Caracas possa intervir militarmente no continente, especialmente na Bolívia, como já sugeriu Chávez por causa da crise interna no país, são descartados por analistas.
- A Venezuela não tem condições de intervir militarmente na Bolívia. Além dos problemas logísticos para isso as condições internas do país e internacionais não permitem - disse o professor de relações internacionais Luiz Alberto Moniz Bandeira.
Brasil também planeja modernização das tropas
Para o professor Michael Radseck, pesquisador do Instituto de Estudos Ibero-Americanos de Hamburgo, na Alemanha, a compra de equipamentos por Chávez visa muito mais a armar a população civil, por meio das milícias, do que ameaçar seus vizinhos.
- Ele (Chávez) diz que pretende evitar uma invasão americana usando a tática de guerrilha. Mas a verdade é que os aviões comprados da Rússia ainda precisam de pistas de pouso adequadas para poderem operar e o fuzis comprados não servem para guerras convencionais. Podem sim, aumentar a violência no país e favorecer o tráfico de armas na América do Sul, aumentando a criminalidade em outros países - afirmou.
Peru e Equador também fizeram compras recentes de aviões e tanques e aumentaram seus orçamentos. Já a Argentina enviou especialistas em defesa recentemente à Europa para estudar as melhores alternativas de compras de armamentos, sinalizando que também poderá aumentar seus gastos. O Brasil, que tem o maior orçamento militar da região (cerca de US$6 bilhões) mas que vinha perdendo para os vizinhos em modernização, anunciou que também vai aumentar os gastos militares. Entre as planos estão a construção de um submarino com propulsão nuclear, projeto antigo mas que estava arquivado, e a compra de equipamentos para o monitoramento da Amazônia.
- Após décadas de sucateamento e redução de gastos, o que observamos agora é uma onda de novas aquisições, o que é normal - afirmou Radseck.
Apesar de ser considerada uma região estável quando o assunto é conflito armado, a América do Sul possui em seu histórico guerras sangrentas e episódios dramáticos onde ameaças retóricas e diplomacia foram substituídas pelo uso da força.
O maior e mais longo conflito da região foi a Guerra do Paraguai, que ocorreu entre 1864 e 1870. Brasil, Argentina e Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após quase seis anos de lutas durante os quais o Brasil enviou mais de 160 mil homens à guerra. Segundo as versões mais correntes, a governo paraguaio, liderado pelo ditador Francisco Solano Lopes, tinha como objetivo aumentar o território paraguaio e obter uma saída para o Oceano Atlântico, através dos rios da Bacia do Prata. A reação dos aliados foi devastadora. Pelo menos 300 mil paraguaios morreram no conflito e o país, arrasado, perdeu grande parte de sua elite cultural e econômica e mergulhou em uma profunda crise. Cerca de 50 mil brasileiros morreram na guerra e estima-se que Argentina e Uruguai perderam cerca de 50% de suas tropas.
Nove anos depois, a América do Sul voltou a ser palco de um conflito bélico, a Guerra do Pacífico, entre 1879 e 1884. O Chile enfrentou Bolívia e Peru por questões territoriais e saiu vencedor. Ao final da guerra os chilenos anexaram ricas áreas em recursos naturais de ambos os países derrotados. O Peru perdeu a província de Tarapacá e a Bolívia teve de ceder a província de Antofagasta, ficando sem saída soberana para o mar. A crise resultou em uma rivalidade entre os países que dura até hoje. O governo boliviano do presidente Evo Morales ainda tenta negociar com os chilenos uma saída para o mar.
No século XX a América do Sul também foi palco de vários conflitos. Entre 1932 e 1935 ocorreu a Guerra do Chaco, entre Bolívia e Paraguai, que disputavam a região do Chaco Boreal, tendo como uma das causas a descoberta de petróleo. A guerra deixou um saldo de 60 mil bolivianos e 30 mil paraguaios mortos, tendo resultado na derrota dos bolivianos com a perda e anexação de parte de seu território pelos paraguaios.
Peru e Equador também se enfrentaram em três conflitos no século XX: 1941, 1981 e 1995. Na década de 80, um conflito de apenas três meses assustou toda a região: a Guerra das Malvinas, disputa entre Argentina e Grã-Bretanha pelas Ilhas Malvinas no sul do Oceano Atlântico.
A Argentina, apesar de ter pleiteado a posse das ilhas junto a organismos internacionais, não esperou o resultado e resolveu invadir o território, despertando uma violenta reação britânica. O resultado final foi a recuperação das ilhas pelo Reino Unido e a morte de 649 soldados argentinos e 255 britânicos. (L.V)
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Projeto da Guiana sobre Amazônia preocupa o Brasil
BRASÍLIA. A notícia de que o presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, estaria oferecendo a administração da parte da floresta amazônica que cabe ao país aos britânicos deixou o Brasil em alerta. O Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente evitaram fazer críticas diretas, mas se apressaram em defender a proposta do Brasil de se fazer acordos de cooperação trilaterais que, argumentam autoridades brasileiras, não ferem a soberania do país-sede.
Em meio à polêmica, há uma realidade, na opinião de Carlos Francisco Rossetti, professor de engenharia florestal da UnB, da qual não se pode fugir. Os países amazônicos não têm condições de desenvolver pesquisas e estudos sobre fauna e flora, por exemplo, com a mesma competência de nações desenvolvidas, como Inglaterra.
- Não podemos nos dar ao luxo de perder ajuda internacional alegando soberania.
Rossetti concorda com a proposta brasileira, mas afirma que, ao contrário do que diz o governo, o Brasil não detém tecnologia nem recursos para empreendimento de tal envergadura. Mas pode compartilhar o conhecimento que dispõe com vizinhos e países ricos interessados em fazer o monitoramento, em acordos trilaterais.
- Precisamos conhecer os termos do acordo a ser negociado. O fato é que não se pode, claro, deixar que países ricos, que destruíram suas florestas, desrespeitem as nações amazônicas - disse Rossetti.
Ele lembrou que, no início da década de 90, os britânicos realizaram um trabalho razoável em Cuba. Brasil e França, completou Rossetti, também desenvolveram atividades na Guiana Francesa. (E.O.)
BRASÍLIA. A notícia de que o presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, estaria oferecendo a administração da parte da floresta amazônica que cabe ao país aos britânicos deixou o Brasil em alerta. O Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente evitaram fazer críticas diretas, mas se apressaram em defender a proposta do Brasil de se fazer acordos de cooperação trilaterais que, argumentam autoridades brasileiras, não ferem a soberania do país-sede.
Em meio à polêmica, há uma realidade, na opinião de Carlos Francisco Rossetti, professor de engenharia florestal da UnB, da qual não se pode fugir. Os países amazônicos não têm condições de desenvolver pesquisas e estudos sobre fauna e flora, por exemplo, com a mesma competência de nações desenvolvidas, como Inglaterra.
- Não podemos nos dar ao luxo de perder ajuda internacional alegando soberania.
Rossetti concorda com a proposta brasileira, mas afirma que, ao contrário do que diz o governo, o Brasil não detém tecnologia nem recursos para empreendimento de tal envergadura. Mas pode compartilhar o conhecimento que dispõe com vizinhos e países ricos interessados em fazer o monitoramento, em acordos trilaterais.
- Precisamos conhecer os termos do acordo a ser negociado. O fato é que não se pode, claro, deixar que países ricos, que destruíram suas florestas, desrespeitem as nações amazônicas - disse Rossetti.
Ele lembrou que, no início da década de 90, os britânicos realizaram um trabalho razoável em Cuba. Brasil e França, completou Rossetti, também desenvolveram atividades na Guiana Francesa. (E.O.)
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WILLIAMS GONÇALVES
'Não vamos ignorar as lições dos europeus'
Para Williams Gonçalves, professor de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, os países da América do Sul não devem esquecer as lições da Europa sobre integração. O Brasil, como a maior potência regional, deve ceder a seus vizinhos e evitar o acirramento das disputas. Segundo ele, a parceria entre Brasília e Buenos Aires é fundamental para o êxito do processo.
Leonardo Valente
O governo brasileiro fala muito na necessidade de integração sul-americana. O que o Brasil ganha ou perde nesse processo e qual a importância dele para o continente?
WILLIAMS GONÇALVES: Integração regional é uma tendência do capitalismo do século XXI. Em todos os continentes verificam-se processos que avançam nesta direção. Na América do Sul, o processo teve início nos anos de 1960 com a criação da Alalc, e ganhou novo ímpeto com a inauguração do Mercosul, em 1991. A exemplo do que ocorre nas outras partes, a integração da América do Sul deve proporcionar mais mercados às empresas; encadeamento do processo produtivo das empresas mediante aproveitamento das condições específicas de cada país; mais trocas de experiências culturais; mais cooperação científico-tecnológica e cooperação para manutenção das instituições democráticas. A grande vantagem de tudo isso é a contribuição mútua para o desenvolvimento e para a manutenção da paz no continente.
O presidente Lula disse que o Brasil deve ceder a seus vizinhos e que isso é fundamental para a integração. O senhor concorda?
GONÇALVES: Concordo. Há, no Mercosul, por exemplo uma forte assimetria em favor do Brasil. Nossos vizinhos não têm economias tão industrializadas e estruturadas. Portanto, não podemos cultivar uma visão exclusivamente comercialista e ultracompetitiva do processo. Faz-se necessário que reconheçamos as insuficiências dos demais e admitamos a hipótese de negociar reduções de nossos benefícios. Os europeus praticaram essa negociação ponderada para ganhar coesão e harmonia. Convém que façamos o mesmo, guardadas as devidas proporções.
É possível integrar um continente com tantos contenciosos entre seus países?
GONÇALVES: O Mercosul é, por exemplo, o processo de integração envolvendo países exclusivamente periféricos mais bem-sucedido. Deve-se ter claro que a integração exitosa é aquela em que há distribuição equilibrada de benefícios. Os conflitos e os desencontros são parte do processo. Não vamos ignorar as lições dadas pelos europeus, que passaram por períodos de grandes dificuldades e as venceram pela negociação persistente.
Na Europa, França e Alemanha tiveram um papel crucial no processo de integração que resultou na União Européia. No caso sul-americano, que países o senhor considera que seriam cruciais para a integração?
GONÇALVES: O eixo da integração é formado por Brasil e Argentina. A integração não se resume aos dois, evidentemente. Mas, depende, em grande medida, do comportamento dos dois. É necessário que estejam juntos, pois assim formam um centro de gravitação. Caso haja separação, os demais se dividem acompanhando cada um deles, como já ocorreu no passado. Seria importante contar também com a Venezuela. Pois, assim, poder-se-ia compactar o subcontinente, e proporcionar maiores oportunidades econômicas à região norte do Brasil, muito afastada fisicamente do núcleo da integração.
'Não vamos ignorar as lições dos europeus'
Para Williams Gonçalves, professor de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, os países da América do Sul não devem esquecer as lições da Europa sobre integração. O Brasil, como a maior potência regional, deve ceder a seus vizinhos e evitar o acirramento das disputas. Segundo ele, a parceria entre Brasília e Buenos Aires é fundamental para o êxito do processo.
Leonardo Valente
O governo brasileiro fala muito na necessidade de integração sul-americana. O que o Brasil ganha ou perde nesse processo e qual a importância dele para o continente?
WILLIAMS GONÇALVES: Integração regional é uma tendência do capitalismo do século XXI. Em todos os continentes verificam-se processos que avançam nesta direção. Na América do Sul, o processo teve início nos anos de 1960 com a criação da Alalc, e ganhou novo ímpeto com a inauguração do Mercosul, em 1991. A exemplo do que ocorre nas outras partes, a integração da América do Sul deve proporcionar mais mercados às empresas; encadeamento do processo produtivo das empresas mediante aproveitamento das condições específicas de cada país; mais trocas de experiências culturais; mais cooperação científico-tecnológica e cooperação para manutenção das instituições democráticas. A grande vantagem de tudo isso é a contribuição mútua para o desenvolvimento e para a manutenção da paz no continente.
O presidente Lula disse que o Brasil deve ceder a seus vizinhos e que isso é fundamental para a integração. O senhor concorda?
GONÇALVES: Concordo. Há, no Mercosul, por exemplo uma forte assimetria em favor do Brasil. Nossos vizinhos não têm economias tão industrializadas e estruturadas. Portanto, não podemos cultivar uma visão exclusivamente comercialista e ultracompetitiva do processo. Faz-se necessário que reconheçamos as insuficiências dos demais e admitamos a hipótese de negociar reduções de nossos benefícios. Os europeus praticaram essa negociação ponderada para ganhar coesão e harmonia. Convém que façamos o mesmo, guardadas as devidas proporções.
É possível integrar um continente com tantos contenciosos entre seus países?
GONÇALVES: O Mercosul é, por exemplo, o processo de integração envolvendo países exclusivamente periféricos mais bem-sucedido. Deve-se ter claro que a integração exitosa é aquela em que há distribuição equilibrada de benefícios. Os conflitos e os desencontros são parte do processo. Não vamos ignorar as lições dadas pelos europeus, que passaram por períodos de grandes dificuldades e as venceram pela negociação persistente.
Na Europa, França e Alemanha tiveram um papel crucial no processo de integração que resultou na União Européia. No caso sul-americano, que países o senhor considera que seriam cruciais para a integração?
GONÇALVES: O eixo da integração é formado por Brasil e Argentina. A integração não se resume aos dois, evidentemente. Mas, depende, em grande medida, do comportamento dos dois. É necessário que estejam juntos, pois assim formam um centro de gravitação. Caso haja separação, os demais se dividem acompanhando cada um deles, como já ocorreu no passado. Seria importante contar também com a Venezuela. Pois, assim, poder-se-ia compactar o subcontinente, e proporcionar maiores oportunidades econômicas à região norte do Brasil, muito afastada fisicamente do núcleo da integração.
- Vinicius Pimenta
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Do Correio Brasiliense.
Muita bobagem, mas vale a pena ler:
Nicholas Spykman e a América Latina
José Luís Fiori
Economista e doutor em ciências políticas, é professor titular da UFRJ
O principal geoestrategista norte-americano do século 20 nasceu em Amsterdam em 1893 e morreu nos Estados Unidos em 1943. Era de origem holandesa, mas fez os estudos superiores na Universidade da Califórnia e foi professor da Universidade de Yale, onde dirigiu o Instituto de Estudos Internacionais entre 1935 e 1940. Morreu ainda jovem, com 49 anos, e deixou apenas dois livros sobre a política externa norte-americana: o primeiro, America’s strategy in world politics, publicado em 1942, e o segundo, The geography of the peace, publicado um ano depois da sua morte, em 1944. Dois livros que se transformaram na pedra angular do pensamento estratégico norte-americano de toda a segunda metade do século 20 e do início do século 21
Nicholas Spykman não foi um cientista, foi um geopolítico, e a geopolítica não é uma ciência, é apenas uma disciplina que estuda a relação entre o espaço e a expansão do poder, antecipando e racionalizando as decisões estratégicas dos países que exercem poder fora das fronteiras nacionais. É por isso, aliás, que só existe produção geopolítica relevante nas chamadas grandes potências, e cada uma delas tem a própria escola geopolítica, com suas preocupações, objetivos e racionalizações específicas. Como no caso clássico da escola geopolítica alemã, de Friederich Ratzel e Karl Haushofer, com a sua teoria do espaço vital e do pan-germanismo, que serviu de ponto de partida para explicar a necessidade geográfica de expansão alemã na direção da Europa Central e da Rússia/União Soviética. Ou, também, como no caso da escola geopolítica inglesa, de Halford Mackinder, com a famosa tese de que “quem controla o coração do mundo” (situado mais ou menos entre Berlim e Moscou) controla também a ilha mundial (a Eurásia), e quem controla a “ilha mundial controla o mundo”. Teoria que serviu de base para justificar a política externa britânica durante todo o século 20 e seu permanente veto e bloqueio de qualquer aliança entre a Alemanha e a Rússia/União Soviética.
Dentro dessa tradição, não há dúvida de que Nicholas Spykman foi o pai da escola geopolítica norte-americana. Ele partiu das idéias de Halford Mackinder, mas modificou sua tese central: para Spykman, quem tem o poder mundial não é quem controla diretamente o coração do mundo, é quem é capaz de cercá-lo, como os Estados Unidos fizeram durante toda a guerra fria, e seguem fazendo até os nossos dias. Spykman escreveu seus dois livros antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e, por isso, chama a atenção a sua capacidade genial de prever o que aconteceria depois da guerra, tanto quanto a semelhança entre suas propostas estratégicas e a política externa que os Estados Unidos adotaram efetivamente durante a segunda metade do século 20 na Europa, Ásia e América.
Em 1942, Nicholas Spykman defendeu a necessidade de uma aliança estratégica e de uma hegemonia conjunta, anglo-americana, para “gerir o mundo” depois do fim da guerra, como de fato ocorreu, em São Francisco, em Bretton Woods, e na formulação da doutrina Churchill-Truman da cortina de ferro. Além disso, Spykman defendeu a necessidade de que os Estados Unidos reconstruíssem e protegessem a Alemanha depois da guerra para facilitar a contenção da União Soviética, como ocorreu durante toda a guerra fria. E defendeu também a necessidade de reconstruir e proteger o Japão para enfrentar a ameaça futura da China, que era na época o principal aliado asiático dos Estados Unidos. Por fim, Spykman se opôs ao projeto da unificação européia e defendeu a manutenção do equilíbrio de poder europeu, tutelado pelos Estados Unidos como vem acontecendo cada vez mais depois da queda do Muro de Berlim.
E, com relação à América, o que foi que previu e propôs Nicholas Spykman? Sobre esse ponto, chama a atenção o grande espaço que ele dedica na sua obra à discussão da América Latina e, em particular, à “luta pela América do Sul”. Ele parte de uma separação radical entre a América dos anglo-saxões e a América dos latinos. Nas suas palavras, “as terras situadas ao sul do Rio Grande constituem um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando uma similitude entre as duas que de fato não existe”.
Em seguida, ele propõe dividir o “mundo latino” em duas regiões, do ponto de vista da estratégia americana no subcontinente: uma primeira, “mediterrânea”, que incluiria o México, a América Central e o Caribe, alem da Colômbia e da Venezuela; e uma que incluiria toda a América do Sul, abaixo da Colômbia e da Venezuela. Feita essa separação geopolítica, Spykman define a “América Mediterrânea como uma zona em que a supremacia dos Estados Unidos não pode ser questionada. Para todos os efeitos, trata-se de um mar fechado cujas chaves pertencem aos Estados Unidos, o que significa que o México, Colômbia e Venezuela (por serem incapazes de se transformar em grandes potências) ficarão sempre numa posição de absoluta dependência dos Estados Unidos”. Donde qualquer ameaça à hegemonia americana na América Latina deverá vir do sul, em particular da Argentina, Brasil e Chile, a “região do ABC”.
Nas palavras do próprio Spykman: “Para nossos vizinhos ao sul do Rio Grande, os norte-americanos seremos sempre o “colosso do Norte”, o que significa um perigo no mundo do poder político. Por isso, os países situados fora da nossa zona imediata de supremacia, ou seja, os grandes estados da América do Sul (Argentina, Brasil e Chile) podem tentar contrabalançar nosso poder através de uma ação comum ou através do uso de influências de fora do hemisfério”. E, nesse caso, conclui: “Uma ameaça à hegemonia americana nessa região do hemisfério (a região do ABC) terá que ser respondida através da guerra”. O mais interessante é que, se essas análises, previsões e advertências não tivessem sido feitas por Nicholas Spykman, pareceriam bravata de algum desses populistas latino-americanos que inventam inimigos externos e se multiplicam como cogumelos, segundo a idiotia conservadora.
Muita bobagem, mas vale a pena ler:
Nicholas Spykman e a América Latina
José Luís Fiori
Economista e doutor em ciências políticas, é professor titular da UFRJ
O principal geoestrategista norte-americano do século 20 nasceu em Amsterdam em 1893 e morreu nos Estados Unidos em 1943. Era de origem holandesa, mas fez os estudos superiores na Universidade da Califórnia e foi professor da Universidade de Yale, onde dirigiu o Instituto de Estudos Internacionais entre 1935 e 1940. Morreu ainda jovem, com 49 anos, e deixou apenas dois livros sobre a política externa norte-americana: o primeiro, America’s strategy in world politics, publicado em 1942, e o segundo, The geography of the peace, publicado um ano depois da sua morte, em 1944. Dois livros que se transformaram na pedra angular do pensamento estratégico norte-americano de toda a segunda metade do século 20 e do início do século 21
Nicholas Spykman não foi um cientista, foi um geopolítico, e a geopolítica não é uma ciência, é apenas uma disciplina que estuda a relação entre o espaço e a expansão do poder, antecipando e racionalizando as decisões estratégicas dos países que exercem poder fora das fronteiras nacionais. É por isso, aliás, que só existe produção geopolítica relevante nas chamadas grandes potências, e cada uma delas tem a própria escola geopolítica, com suas preocupações, objetivos e racionalizações específicas. Como no caso clássico da escola geopolítica alemã, de Friederich Ratzel e Karl Haushofer, com a sua teoria do espaço vital e do pan-germanismo, que serviu de ponto de partida para explicar a necessidade geográfica de expansão alemã na direção da Europa Central e da Rússia/União Soviética. Ou, também, como no caso da escola geopolítica inglesa, de Halford Mackinder, com a famosa tese de que “quem controla o coração do mundo” (situado mais ou menos entre Berlim e Moscou) controla também a ilha mundial (a Eurásia), e quem controla a “ilha mundial controla o mundo”. Teoria que serviu de base para justificar a política externa britânica durante todo o século 20 e seu permanente veto e bloqueio de qualquer aliança entre a Alemanha e a Rússia/União Soviética.
Dentro dessa tradição, não há dúvida de que Nicholas Spykman foi o pai da escola geopolítica norte-americana. Ele partiu das idéias de Halford Mackinder, mas modificou sua tese central: para Spykman, quem tem o poder mundial não é quem controla diretamente o coração do mundo, é quem é capaz de cercá-lo, como os Estados Unidos fizeram durante toda a guerra fria, e seguem fazendo até os nossos dias. Spykman escreveu seus dois livros antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e, por isso, chama a atenção a sua capacidade genial de prever o que aconteceria depois da guerra, tanto quanto a semelhança entre suas propostas estratégicas e a política externa que os Estados Unidos adotaram efetivamente durante a segunda metade do século 20 na Europa, Ásia e América.
Em 1942, Nicholas Spykman defendeu a necessidade de uma aliança estratégica e de uma hegemonia conjunta, anglo-americana, para “gerir o mundo” depois do fim da guerra, como de fato ocorreu, em São Francisco, em Bretton Woods, e na formulação da doutrina Churchill-Truman da cortina de ferro. Além disso, Spykman defendeu a necessidade de que os Estados Unidos reconstruíssem e protegessem a Alemanha depois da guerra para facilitar a contenção da União Soviética, como ocorreu durante toda a guerra fria. E defendeu também a necessidade de reconstruir e proteger o Japão para enfrentar a ameaça futura da China, que era na época o principal aliado asiático dos Estados Unidos. Por fim, Spykman se opôs ao projeto da unificação européia e defendeu a manutenção do equilíbrio de poder europeu, tutelado pelos Estados Unidos como vem acontecendo cada vez mais depois da queda do Muro de Berlim.
E, com relação à América, o que foi que previu e propôs Nicholas Spykman? Sobre esse ponto, chama a atenção o grande espaço que ele dedica na sua obra à discussão da América Latina e, em particular, à “luta pela América do Sul”. Ele parte de uma separação radical entre a América dos anglo-saxões e a América dos latinos. Nas suas palavras, “as terras situadas ao sul do Rio Grande constituem um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando uma similitude entre as duas que de fato não existe”.
Em seguida, ele propõe dividir o “mundo latino” em duas regiões, do ponto de vista da estratégia americana no subcontinente: uma primeira, “mediterrânea”, que incluiria o México, a América Central e o Caribe, alem da Colômbia e da Venezuela; e uma que incluiria toda a América do Sul, abaixo da Colômbia e da Venezuela. Feita essa separação geopolítica, Spykman define a “América Mediterrânea como uma zona em que a supremacia dos Estados Unidos não pode ser questionada. Para todos os efeitos, trata-se de um mar fechado cujas chaves pertencem aos Estados Unidos, o que significa que o México, Colômbia e Venezuela (por serem incapazes de se transformar em grandes potências) ficarão sempre numa posição de absoluta dependência dos Estados Unidos”. Donde qualquer ameaça à hegemonia americana na América Latina deverá vir do sul, em particular da Argentina, Brasil e Chile, a “região do ABC”.
Nas palavras do próprio Spykman: “Para nossos vizinhos ao sul do Rio Grande, os norte-americanos seremos sempre o “colosso do Norte”, o que significa um perigo no mundo do poder político. Por isso, os países situados fora da nossa zona imediata de supremacia, ou seja, os grandes estados da América do Sul (Argentina, Brasil e Chile) podem tentar contrabalançar nosso poder através de uma ação comum ou através do uso de influências de fora do hemisfério”. E, nesse caso, conclui: “Uma ameaça à hegemonia americana nessa região do hemisfério (a região do ABC) terá que ser respondida através da guerra”. O mais interessante é que, se essas análises, previsões e advertências não tivessem sido feitas por Nicholas Spykman, pareceriam bravata de algum desses populistas latino-americanos que inventam inimigos externos e se multiplicam como cogumelos, segundo a idiotia conservadora.
- Marino
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Paisano escreveu:Marino escreveu:Nicholas Spykman e a América Latina
Aff...
Antes ler esse tipo de coisa do que ser cego.
Esse tal de Spykman não passava de um racista FDP.
Calma, o autor pegou uma parte que não é lida, nem estudada em nenhum curso sério de geopolítica.
O Spykman teve uma contribuição imensa na geopolítica mundial, e na contenção dos soviéticos, com sua teroria dos RIMLANDS, ou "Terras da Margem", em uma tradução muito pobre.
Na época existia a teoria de Makinder, do "coração do mundo" e de que quem controlasse esse "coração" controlaria o mundo.
Era uma teoria para o Poder Terrestre, para as nações continentais.
O que fazer então para as nações marítimas? Estariam fora do jogo geopolítico?
Então ele criou sua teoria, que dizia não ser preciso controlar o coração do mundo, mas os litorais das nações continentais, onde a nação marítima projetaria força vinda do mar.
Veja que na guerra fria os EUA nunca permitiram que uma nação marítima européia caísse. Era por onde o Poder Naval americano seria projetado contra os soviéticos. Por isso os Grupos de PA, os Marines, o Exército expedicionário, etc.
Por isso eu disse que tinha muita bobagem, mas a importância de Spykman é inegável.
Forte abraço
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Paisano escreveu:Marino escreveu:Nicholas Spykman e a América Latina
Aff...
Antes ler esse tipo de coisa do que ser cego.
Esse tal de Spykman não passava de um racista FDP.
Muito inteligente, ao ponto de os EUA seguirem a risca tudo o que ele "previu" na metade do século XX. E olha que prever alguma coisa EM PLENA IIWW, sem os EUA ainda terem entrado no conflito, não é pra qualquer um.
Gostem alguns ou não, é exatamente assim que as coisas funcionaram e continuam funcionando no grande irmão do norte.
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Marino escreveu:Do Correio Brasiliense.
Muita bobagem, mas vale a pena ler:
Nicholas Spykman e a América Latina
José Luís Fiori
Economista e doutor em ciências políticas, é professor titular da UFRJ
O principal geoestrategista norte-americano do século 20 nasceu em Amsterdam em 1893 e morreu nos Estados Unidos em 1943. Era de origem holandesa, mas fez os estudos superiores na Universidade da Califórnia e foi professor da Universidade de Yale, onde dirigiu o Instituto de Estudos Internacionais entre 1935 e 1940. Morreu ainda jovem, com 49 anos, e deixou apenas dois livros sobre a política externa norte-americana: o primeiro, America’s strategy in world politics, publicado em 1942, e o segundo, The geography of the peace, publicado um ano depois da sua morte, em 1944. Dois livros que se transformaram na pedra angular do pensamento estratégico norte-americano de toda a segunda metade do século 20 e do início do século 21
Nicholas Spykman não foi um cientista, foi um geopolítico, e a geopolítica não é uma ciência, é apenas uma disciplina que estuda a relação entre o espaço e a expansão do poder, antecipando e racionalizando as decisões estratégicas dos países que exercem poder fora das fronteiras nacionais. É por isso, aliás, que só existe produção geopolítica relevante nas chamadas grandes potências, e cada uma delas tem a própria escola geopolítica, com suas preocupações, objetivos e racionalizações específicas. Como no caso clássico da escola geopolítica alemã, de Friederich Ratzel e Karl Haushofer, com a sua teoria do espaço vital e do pan-germanismo, que serviu de ponto de partida para explicar a necessidade geográfica de expansão alemã na direção da Europa Central e da Rússia/União Soviética. Ou, também, como no caso da escola geopolítica inglesa, de Halford Mackinder, com a famosa tese de que “quem controla o coração do mundo” (situado mais ou menos entre Berlim e Moscou) controla também a ilha mundial (a Eurásia), e quem controla a “ilha mundial controla o mundo”. Teoria que serviu de base para justificar a política externa britânica durante todo o século 20 e seu permanente veto e bloqueio de qualquer aliança entre a Alemanha e a Rússia/União Soviética.
Dentro dessa tradição, não há dúvida de que Nicholas Spykman foi o pai da escola geopolítica norte-americana. Ele partiu das idéias de Halford Mackinder, mas modificou sua tese central: para Spykman, quem tem o poder mundial não é quem controla diretamente o coração do mundo, é quem é capaz de cercá-lo, como os Estados Unidos fizeram durante toda a guerra fria, e seguem fazendo até os nossos dias. Spykman escreveu seus dois livros antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e, por isso, chama a atenção a sua capacidade genial de prever o que aconteceria depois da guerra, tanto quanto a semelhança entre suas propostas estratégicas e a política externa que os Estados Unidos adotaram efetivamente durante a segunda metade do século 20 na Europa, Ásia e América.
Em 1942, Nicholas Spykman defendeu a necessidade de uma aliança estratégica e de uma hegemonia conjunta, anglo-americana, para “gerir o mundo” depois do fim da guerra, como de fato ocorreu, em São Francisco, em Bretton Woods, e na formulação da doutrina Churchill-Truman da cortina de ferro. Além disso, Spykman defendeu a necessidade de que os Estados Unidos reconstruíssem e protegessem a Alemanha depois da guerra para facilitar a contenção da União Soviética, como ocorreu durante toda a guerra fria. E defendeu também a necessidade de reconstruir e proteger o Japão para enfrentar a ameaça futura da China, que era na época o principal aliado asiático dos Estados Unidos. Por fim, Spykman se opôs ao projeto da unificação européia e defendeu a manutenção do equilíbrio de poder europeu, tutelado pelos Estados Unidos como vem acontecendo cada vez mais depois da queda do Muro de Berlim.
E, com relação à América, o que foi que previu e propôs Nicholas Spykman? Sobre esse ponto, chama a atenção o grande espaço que ele dedica na sua obra à discussão da América Latina e, em particular, à “luta pela América do Sul”. Ele parte de uma separação radical entre a América dos anglo-saxões e a América dos latinos. Nas suas palavras, “as terras situadas ao sul do Rio Grande constituem um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando uma similitude entre as duas que de fato não existe”.
Em seguida, ele propõe dividir o “mundo latino” em duas regiões, do ponto de vista da estratégia americana no subcontinente: uma primeira, “mediterrânea”, que incluiria o México, a América Central e o Caribe, alem da Colômbia e da Venezuela; e uma que incluiria toda a América do Sul, abaixo da Colômbia e da Venezuela. Feita essa separação geopolítica, Spykman define a “América Mediterrânea como uma zona em que a supremacia dos Estados Unidos não pode ser questionada. Para todos os efeitos, trata-se de um mar fechado cujas chaves pertencem aos Estados Unidos, o que significa que o México, Colômbia e Venezuela (por serem incapazes de se transformar em grandes potências) ficarão sempre numa posição de absoluta dependência dos Estados Unidos”. Donde qualquer ameaça à hegemonia americana na América Latina deverá vir do sul, em particular da Argentina, Brasil e Chile, a “região do ABC”.
Nas palavras do próprio Spykman: “Para nossos vizinhos ao sul do Rio Grande, os norte-americanos seremos sempre o “colosso do Norte”, o que significa um perigo no mundo do poder político. Por isso, os países situados fora da nossa zona imediata de supremacia, ou seja, os grandes estados da América do Sul (Argentina, Brasil e Chile) podem tentar contrabalançar nosso poder através de uma ação comum ou através do uso de influências de fora do hemisfério”. E, nesse caso, conclui: “Uma ameaça à hegemonia americana nessa região do hemisfério (a região do ABC) terá que ser respondida através da guerra”. O mais interessante é que, se essas análises, previsões e advertências não tivessem sido feitas por Nicholas Spykman, pareceriam bravata de algum desses populistas latino-americanos que inventam inimigos externos e se multiplicam como cogumelos, segundo a idiotia conservadora.
Yale?
Certamente era um "Bonesman". Um membro da sociedade secreta Skull and Bones.
Eles amam a guerra e estas teorias caem como uma luva na política externa americana que é típica de "bonesmen"!
Todos o Bush pertencem à esta sociedade!
Não se queixe, não se explique, não se desculpe. Aja ou saia. Faça ou vá embora.
B. Disraeli
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Bom topico, Marino!
E bons textos, também. Gostemos ou não, é como uma parcela influente do povo do norte, vê. Sugiro que reposte aquele artigo, ou livro em que descreve o plano Laranja, da IIGm e que seria utilizado para a invasão do Brasil.
O que o povo torcedor daqui precisa entender é que não se trata de ser anti-americano: é ser desconfiado e ter em mente todas as opções. Como eles tem. É como voce ter uma esposa muito bonita(nossas riquezas) e seu melhor amigo, seu vizinho, ser rico e bonitão... Tudo bem que ele é seu amigo, mas voce vai dar mole,hehe???
Então, nós temos que ter planejamento tanto p/encarar os yankees, quanto p/eles serem nossos aliados contra os bovinos e etc...
abs!
E bons textos, também. Gostemos ou não, é como uma parcela influente do povo do norte, vê. Sugiro que reposte aquele artigo, ou livro em que descreve o plano Laranja, da IIGm e que seria utilizado para a invasão do Brasil.
O que o povo torcedor daqui precisa entender é que não se trata de ser anti-americano: é ser desconfiado e ter em mente todas as opções. Como eles tem. É como voce ter uma esposa muito bonita(nossas riquezas) e seu melhor amigo, seu vizinho, ser rico e bonitão... Tudo bem que ele é seu amigo, mas voce vai dar mole,hehe???
Então, nós temos que ter planejamento tanto p/encarar os yankees, quanto p/eles serem nossos aliados contra os bovinos e etc...
abs!
- Marino
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ENERGIA
Bolivianos querem fim das usinas do Madeira
Da Redação
Bastou o governo comemorar o resultado do leilão da primeira usina hidrelétrica do Rio Madeira, em Rondônia, para voltarem os ataques da Bolívia contra o empreendimento. Comunidades indígenas e organizações não-governamentais pediram à Organização dos Estados Americanos (OEA) a suspensão das duas usinas — Santo Antônio, leiloada na segunda-feira e Jirau, que será oferecida em maio.
O pedido foi encaminhado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, com sede em Washington, e argumenta que as obras provocarão perda de vegetação, erosão do solo, deslizamento de terras, inundações, extinção de espécies aquáticas e aumento das doenças tropicais. “O governo brasileiro tem omitido intencionalmente critérios de direitos para dar continuidade aos projetos hidrelétricos do Rio Madeira. O Brasil pretende continuar com a implementação das represas violando a notificação e a consulta prévia a outro Estado, portanto atentando contra o devido processo”, diz comunicado do Foro Boliviano do Meio Ambiente.
A reclamação boliviana não é nova. O próprio governo da Bolívia já acusara risco de prejuízos com as duas usinas. O Ibama garante, no entanto, que não há impacto além da fronteira.
Na prática, desde o fim de 2006 a Bolívia já ensaiara lamentos contra as hidrelétricas. Na época, o governo boliviano chegou a considerar a possibilidade de pedir compensações econômicas ao Brasil. Em fevereiro deste ano, depois de o governo brasileiro prometer recursos para as usinas do lado de lá da fronteira, Evo Morales retirou as reclamações.
Ontem, a Odebrecht, construtora que liderou o consórcio vencedor do leilão de Santo Antônio, afirmou que o grupo vai participar da disputa pela segunda usina, Jirau.
Bolivianos querem fim das usinas do Madeira
Da Redação
Bastou o governo comemorar o resultado do leilão da primeira usina hidrelétrica do Rio Madeira, em Rondônia, para voltarem os ataques da Bolívia contra o empreendimento. Comunidades indígenas e organizações não-governamentais pediram à Organização dos Estados Americanos (OEA) a suspensão das duas usinas — Santo Antônio, leiloada na segunda-feira e Jirau, que será oferecida em maio.
O pedido foi encaminhado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, com sede em Washington, e argumenta que as obras provocarão perda de vegetação, erosão do solo, deslizamento de terras, inundações, extinção de espécies aquáticas e aumento das doenças tropicais. “O governo brasileiro tem omitido intencionalmente critérios de direitos para dar continuidade aos projetos hidrelétricos do Rio Madeira. O Brasil pretende continuar com a implementação das represas violando a notificação e a consulta prévia a outro Estado, portanto atentando contra o devido processo”, diz comunicado do Foro Boliviano do Meio Ambiente.
A reclamação boliviana não é nova. O próprio governo da Bolívia já acusara risco de prejuízos com as duas usinas. O Ibama garante, no entanto, que não há impacto além da fronteira.
Na prática, desde o fim de 2006 a Bolívia já ensaiara lamentos contra as hidrelétricas. Na época, o governo boliviano chegou a considerar a possibilidade de pedir compensações econômicas ao Brasil. Em fevereiro deste ano, depois de o governo brasileiro prometer recursos para as usinas do lado de lá da fronteira, Evo Morales retirou as reclamações.
Ontem, a Odebrecht, construtora que liderou o consórcio vencedor do leilão de Santo Antônio, afirmou que o grupo vai participar da disputa pela segunda usina, Jirau.
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Marino escreveu:ENERGIA
Bolivianos querem fim das usinas do Madeira
Da Redação
Bastou o governo comemorar o resultado do leilão da primeira usina hidrelétrica do Rio Madeira, em Rondônia, para voltarem os ataques da Bolívia contra o empreendimento. Comunidades indígenas e organizações não-governamentais pediram à Organização dos Estados Americanos (OEA) a suspensão das duas usinas — Santo Antônio, leiloada na segunda-feira e Jirau, que será oferecida em maio.
O pedido foi encaminhado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, com sede em Washington, e argumenta que as obras provocarão perda de vegetação, erosão do solo, deslizamento de terras, inundações, extinção de espécies aquáticas e aumento das doenças tropicais. “O governo brasileiro tem omitido intencionalmente critérios de direitos para dar continuidade aos projetos hidrelétricos do Rio Madeira. O Brasil pretende continuar com a implementação das represas violando a notificação e a consulta prévia a outro Estado, portanto atentando contra o devido processo”, diz comunicado do Foro Boliviano do Meio Ambiente.
A reclamação boliviana não é nova. O próprio governo da Bolívia já acusara risco de prejuízos com as duas usinas. O Ibama garante, no entanto, que não há impacto além da fronteira.
Na prática, desde o fim de 2006 a Bolívia já ensaiara lamentos contra as hidrelétricas. Na época, o governo boliviano chegou a considerar a possibilidade de pedir compensações econômicas ao Brasil. Em fevereiro deste ano, depois de o governo brasileiro prometer recursos para as usinas do lado de lá da fronteira, Evo Morales retirou as reclamações.
Ontem, a Odebrecht, construtora que liderou o consórcio vencedor do leilão de Santo Antônio, afirmou que o grupo vai participar da disputa pela segunda usina, Jirau.
Vamos fazer, temos que fazer.
E quanto a esses vizinhos preguiçosos, que se f....
Pena que nesta semana mesmo o nosso presidente ainda elogiou o babacão da Bolívia.
Esse pessoal precisa é de porrada.
Eles nos irritam e nós só assopramos.
Querem vender gás no preço que eles querem, não conseguem cumprir o acordado e ainda enchem, nosso saco com as nossas usinas.
Vamos fazer uma nuclear lá na divisa então.
Abraços
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Do defesanet:
Caracas flight stoned in Bolivia
Uranium and Lithium cargo aboard C-130By Martin Arostegui
CARACAS, Venezuela — A mysterious Venezuelan air force flight came under attack from vigilantes when it touched down last week at an airfield in northern Bolivia amid fears that the transport plane was delivering weapons.
Suspicions were only deepened when officials confirmed that a Venezuelan banking official on board the flight had been carrying a briefcase stuffed with $160,000 in cash.
The airfield, at Riberalta, is located near a Bolivian uranium-mining area, adding to long-standing suspicions that Venezuelan President Hugo Chavez is trying to purchase uranium from his Latin American neighbor for transshipment to Iran.
Riberalta is in Bolivia's northern and eastern lowlands, where local officials are resisting efforts by President Evo Morales to concentrate more power in his central government, which is dominated by highland Indians.
More than 400 changes to the constitution were approved by a special assembly dominated by Mr. Morales' ruling party during an all-night session ending Sunday morning.
Bolivian government officials said the Venezuelan airplane, a C-130 bearing the registration number 9508, was making an "emergency" stop to refuel on its way to Brazil after delivering helicopter pilots, spare parts and telecommunications equipment to Bolivia"s Andean capital, La Paz.
But Ernesto Suarez, the governor of Beni province where Riberalta is located, said he had received reports that the plane was going to deliver "heavy armaments" to the city when it landed Thursday, and that a posse of citizens had been organized to see what was on board the plane.
When the posse led by the local civic committee was denied access to the aircraft, its members began pelting it with rocks. Mr. Suarez said the group managed to make a short video which showed the plane's hold filled with cargo pallets and armed men.
The protesters also beat up and briefly detained a Venezuelan official coming off the aircraft with a briefcase full of cash. Police later identified him as Luis Ferrer, a manager for the Development Bank of Venezuela, and said he was carrying $160,000.
Venezuelan officials say the money carried by Mr. Ferrer was part of a $872,000 loan. But that does not explain why he was still carrying the cash after leaving La Paz.
Opposition leaders have also charged that Venezuelan aircraft are transporting Bolivian uranium to Venezuela to be forwarded to Iran.
Mario Cronenbold, a congressional deputy from Santa Cruz, told The Washington Times that uranium and lithium deposits around Lake Tumichucua in Beni are being mined through a network of companies linked to the Iranian government, which recently established diplomatic ties with Bolivia.
Mr. Morales publicly apologized for last week's incident to Mr. Chavez, who has repeatedly threatened to use armed force to protect his Bolivian ally from any effort to topple him.
Authorities in all four of Bolivia's lowland provinces have accused Mr. Chavez of "intervention" in Bolivia, charging that more than 200 Venezuelan flights have landed at local airfields with military supplies to help Mr. Morales repress a growing autonomy movement.
Venezuelan government spokesmen say the flights have brought construction material and humanitarian supplies to assist development projects.
"We don"t know what these planes are carrying" said Oscar Ortiz, an opposition senator from Santa Cruz. "The customs service is not authorized to inspect the flights."
Airport workers say the Venezuelan C-130s sometimes throw up smoke screens during unloading operations.
Customs officials in Brazil, where the C-130 attacked in Riberalta later landed, said they found nothing on board the aircraft.
Caracas flight stoned in Bolivia
Uranium and Lithium cargo aboard C-130By Martin Arostegui
CARACAS, Venezuela — A mysterious Venezuelan air force flight came under attack from vigilantes when it touched down last week at an airfield in northern Bolivia amid fears that the transport plane was delivering weapons.
Suspicions were only deepened when officials confirmed that a Venezuelan banking official on board the flight had been carrying a briefcase stuffed with $160,000 in cash.
The airfield, at Riberalta, is located near a Bolivian uranium-mining area, adding to long-standing suspicions that Venezuelan President Hugo Chavez is trying to purchase uranium from his Latin American neighbor for transshipment to Iran.
Riberalta is in Bolivia's northern and eastern lowlands, where local officials are resisting efforts by President Evo Morales to concentrate more power in his central government, which is dominated by highland Indians.
More than 400 changes to the constitution were approved by a special assembly dominated by Mr. Morales' ruling party during an all-night session ending Sunday morning.
Bolivian government officials said the Venezuelan airplane, a C-130 bearing the registration number 9508, was making an "emergency" stop to refuel on its way to Brazil after delivering helicopter pilots, spare parts and telecommunications equipment to Bolivia"s Andean capital, La Paz.
But Ernesto Suarez, the governor of Beni province where Riberalta is located, said he had received reports that the plane was going to deliver "heavy armaments" to the city when it landed Thursday, and that a posse of citizens had been organized to see what was on board the plane.
When the posse led by the local civic committee was denied access to the aircraft, its members began pelting it with rocks. Mr. Suarez said the group managed to make a short video which showed the plane's hold filled with cargo pallets and armed men.
The protesters also beat up and briefly detained a Venezuelan official coming off the aircraft with a briefcase full of cash. Police later identified him as Luis Ferrer, a manager for the Development Bank of Venezuela, and said he was carrying $160,000.
Venezuelan officials say the money carried by Mr. Ferrer was part of a $872,000 loan. But that does not explain why he was still carrying the cash after leaving La Paz.
Opposition leaders have also charged that Venezuelan aircraft are transporting Bolivian uranium to Venezuela to be forwarded to Iran.
Mario Cronenbold, a congressional deputy from Santa Cruz, told The Washington Times that uranium and lithium deposits around Lake Tumichucua in Beni are being mined through a network of companies linked to the Iranian government, which recently established diplomatic ties with Bolivia.
Mr. Morales publicly apologized for last week's incident to Mr. Chavez, who has repeatedly threatened to use armed force to protect his Bolivian ally from any effort to topple him.
Authorities in all four of Bolivia's lowland provinces have accused Mr. Chavez of "intervention" in Bolivia, charging that more than 200 Venezuelan flights have landed at local airfields with military supplies to help Mr. Morales repress a growing autonomy movement.
Venezuelan government spokesmen say the flights have brought construction material and humanitarian supplies to assist development projects.
"We don"t know what these planes are carrying" said Oscar Ortiz, an opposition senator from Santa Cruz. "The customs service is not authorized to inspect the flights."
Airport workers say the Venezuelan C-130s sometimes throw up smoke screens during unloading operations.
Customs officials in Brazil, where the C-130 attacked in Riberalta later landed, said they found nothing on board the aircraft.
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Marino escreveu:Do defesanet:
Caracas flight stoned in Bolivia
Uranium and Lithium cargo aboard C-130By Martin Arostegui
CARACAS, Venezuela — A mysterious Venezuelan air force flight came under attack from vigilantes when it touched down last week at an airfield in northern Bolivia amid fears that the transport plane was delivering weapons.
Suspicions were only deepened when officials confirmed that a Venezuelan banking official on board the flight had been carrying a briefcase stuffed with $160,000 in cash.
The airfield, at Riberalta, is located near a Bolivian uranium-mining area, adding to long-standing suspicions that Venezuelan President Hugo Chavez is trying to purchase uranium from his Latin American neighbor for transshipment to Iran.
Riberalta is in Bolivia's northern and eastern lowlands, where local officials are resisting efforts by President Evo Morales to concentrate more power in his central government, which is dominated by highland Indians.
More than 400 changes to the constitution were approved by a special assembly dominated by Mr. Morales' ruling party during an all-night session ending Sunday morning.
Bolivian government officials said the Venezuelan airplane, a C-130 bearing the registration number 9508, was making an "emergency" stop to refuel on its way to Brazil after delivering helicopter pilots, spare parts and telecommunications equipment to Bolivia"s Andean capital, La Paz.
But Ernesto Suarez, the governor of Beni province where Riberalta is located, said he had received reports that the plane was going to deliver "heavy armaments" to the city when it landed Thursday, and that a posse of citizens had been organized to see what was on board the plane.
When the posse led by the local civic committee was denied access to the aircraft, its members began pelting it with rocks. Mr. Suarez said the group managed to make a short video which showed the plane's hold filled with cargo pallets and armed men.
The protesters also beat up and briefly detained a Venezuelan official coming off the aircraft with a briefcase full of cash. Police later identified him as Luis Ferrer, a manager for the Development Bank of Venezuela, and said he was carrying $160,000.
Venezuelan officials say the money carried by Mr. Ferrer was part of a $872,000 loan. But that does not explain why he was still carrying the cash after leaving La Paz.
Opposition leaders have also charged that Venezuelan aircraft are transporting Bolivian uranium to Venezuela to be forwarded to Iran.
Mario Cronenbold, a congressional deputy from Santa Cruz, told The Washington Times that uranium and lithium deposits around Lake Tumichucua in Beni are being mined through a network of companies linked to the Iranian government, which recently established diplomatic ties with Bolivia.
Mr. Morales publicly apologized for last week's incident to Mr. Chavez, who has repeatedly threatened to use armed force to protect his Bolivian ally from any effort to topple him.
Authorities in all four of Bolivia's lowland provinces have accused Mr. Chavez of "intervention" in Bolivia, charging that more than 200 Venezuelan flights have landed at local airfields with military supplies to help Mr. Morales repress a growing autonomy movement.
Venezuelan government spokesmen say the flights have brought construction material and humanitarian supplies to assist development projects.
"We don"t know what these planes are carrying" said Oscar Ortiz, an opposition senator from Santa Cruz. "The customs service is not authorized to inspect the flights."
Airport workers say the Venezuelan C-130s sometimes throw up smoke screens during unloading operations.
Customs officials in Brazil, where the C-130 attacked in Riberalta later landed, said they found nothing on board the aircraft.
Realmente impressionante!Acho que estão se remontando os antigos eixos com novos atores...