12 Ago 07
O sacrifício por um ideal
Alunos do Curso de Formação passam meses longe da família atrás do sonho de ser militar
Djalma Oliveira
Rio - Muita gente jamais aceitaria passar praticamente um ano e meio longe da família, acordando bem cedo e vivendo dias de intensa atividade física e mental. Mas assim pode ser resumida a rotina dos alunos do Curso de Formação de Sargentos do Exército. E quem entra não costuma querer sair. “O índice de desistência é pequeno”, diz o tenente-coronel Ivan Ferreira Neiva Filho, comandante da Escola de Material Bélico, uma das cinco opções disponíveis para quem quer ser sargento do Exército.
As outras alternativas são as escolas de Sargentos das Armas (ESA), Saúde, Instrução Especializada e Comunicações. Todas ficam no Rio, à exceção da ESA, localizada em Três Corações (MG). O curso dura 77 semanas e tem duas etapas. Na primeira, os futuros sargentos passam 34 semanas aprendendo as regras militares. As outras 43 são dedicadas à aplicação das áreas de cada escola ao cotidiano dos quartéis.
Para a aluna da Escola de Saúde Fernanda Machado, 21 anos, a disciplina militar faz com que o conforto de casa seja valorizado. “Nosso limite é bem maior do que a gente imagina”, atesta Fernanda, que se diz pronta para servir em qualquer lugar do País. “Só passei na segunda vez, e valeu a pena”, reforça Sarah Antunes, 21, também da Escola de Saúde.
O objetivo principal das escolas é a formação militar, não a técnica. Durante uma semana, todos os alunos vão para o Cipesp (Centro de Instrução de Operações Especiais), em Ricardo de Albuquerque, para o Estágio de Instrução Especial. Durante esse período, são colocados em prática todos os conceitos aprendidos na sala de aula, simulando uma missão real de conflito militar.
Rapel, armadilhas e madrugada ao relento
Durante o Estágio de Instrução Especial, as situações que podem acontecer nas guerras são reproduzidas com o máximo de fidelidade. Os alunos dormem em barracas. E, em uma das noites, o alojamento é abandonado e eles descansam ao relento, usando apenas mantas e ponchos, procedimento conhecido como Bivaque.
Os dias de estágio têm início às 5h, com treinamento físico-militar. As aulas começam logo após o café, com treino de tiro de ação rápida. Também são praticadas a montagem de armadilhas e explosivos, nós e amarrações em cordas. A noite chega, mas os exercícios prosseguem com o tiro noturno. O treinamento só termina depois das 23h, após a manutenção do armamento. E tudo recomeça antes de aparecer o sol no dia seguinte.
Entre as atividades desenvolvidas no estágio especial, os alunos do Curso de Formação de Sargentos do Exército fazem rapel em uma torre de 10 metros de altura e praticam técnicas de invasão em áreas urbanas.
Mudança radical de vida
Ao escolherem a vida militar, os jovens formandos do Curso de Sargentos do Exército acabam optando também por uma mudança radical em suas vidas. Alguns deles vêm direto da escola. “No nosso caso, a ansiedade deles vem em saber de que forma vão exercer a enfermagem no meio militar”, explicou a capitã Kátia Barcellos, coordenadora de ensino da EsSex (Escola de Saúde).
No entanto, isso não assusta quem escolheu a carreira. “Sempre tive interesse. Tentei diversos concursos militares, a idade estava passando e achava que não conseguiria. A última chance foi o Curso de Sargento”, disse o aluno da EsSex Bruno Pereira, 26 anos.
"A disciplina militar prestante não se aprende senhor, sonhando e na fantasia, mas labutando e pelejando." (CAMÕES)
Jauro.