Cara Elizabeth
Excelente texto, como sempre, mas permita-me fazer alguns comentários.
Vou tentar explicar o que eu quis dizer com patriota, e acho que o que escrevi será melhor entendido. No início do governo Lula, um Almirante procurou em nome da Marinha a então Ministra de Minas e Energia, atual Casa Civil, e apresentou o programa nuclear da MB e um projeto de construção de usinas atômicas no país, com tecnologia e recursos financeiros nacionais, que poderiam evitar uma nova crise de energia, como a que tinha passado a pouco. A Ministra ouviu a exposição, achou espetacular o que a MB tinha conseguido, mas disse que dispunha de 4 anos para desenvolver um projeto, e perguntou se aquilo que o Almirante propunha podia ser desenvolvido em 4 anos? Com a resposta de que era um projeto de longo prazo, despediu seu visitante.
Isto é o que quero dizer com patriota, pensar nas próximas gerações e não nas próximas eleições.
Outro exemplo me foi falado na EGN por um Diplomata, que vou omitir o nome. Acho que estou me excedendo nesta conversa, mas vamos adiante. Lembra-se de quando o Brasil assinou o TNP? Pois bem, o Brasil tinha quebrado 2 vezes, ido a falência, se lembra? Se lembra que o Clinton emprestou 40 bilhões de verdes para evitar a quebra? O Diplomata, em letra maiúscula mesmo, me falou que o Chanceler da época foi chamado pelo FHC e recebeu a órdem de assinar o TNP. Não entendendo, voltou no dia seguinte com um estudo mostrando o pq do Brasil ter se recusado a assinar tal tratado durante tantos anos. A resposta foi: não pedi um estudo, mandei assinar o tratado, o que foi feito, junto com o tratado de mísseis e o de minas.
O termo apátrida não foi o melhor, pois significa alguem que perdeu a cidadania em seu país. Não patriota seria o termo, título que não acredito em absoluto que caiba em você.
Não tenha dúvida que concordo que o projeto de construção do submarino nuclear tenha que ser um projeto de país, e não da Marinha. A MB sozinha, sem apoio da sociedade, jamais conseguirá aprovar algo deste porte. Os próprios Comandantes da Marinha já falaram isso.
Quais os ganhos do projeto do SNA até agora, além de conhecimento puro? Acho que já foi mostrado por aqui: desde o mais básico, como a formação de pessoal na área nuclear, na USP, os laboratórios montados não somente em Aramar, mas também na USP, todo o processo de enriquecimento de urânio, partindo do zero, com o desenvolvimento de uma centrífuga única no mundo, já em geração posterior a da primeira, a fábrica de urânio enriquecido de Resende, que como fato consumado permitiu ao Brasil livrar-se das amarras internacionais que hoje são colocadas para todos os países na área nuclear, desenvolver projeto de reator nuclear nacional, com o primeiro já fabricado e aguardando verba para montar um prédio para fazê-lo funcionar, uma geração de doutores em sistemas, matemática, softwares, etc, capacitação de indústrias nacionais em alta metalurgia, química, etc, e aí por adiante.
De tudo o descrito acima, o que resultou para a Marinha? Conhecimento.
O projeto de dotar o país de capacidade de construir um submarino é outro, e continua a caminho, agora com o U-214. Mais um passo adiante.
Quando dissermos: temos o projeto de um submarino e temos o projeto de um reator para colocar dentro deste submarino, os políticos terão que decidir se levam adiante ou não. Simples assim.
O mesmo se aplica aos armamentos. Temos capacidade de desenvolver mísseis, p.ex? Sim, a pouco mandei uma MP para o Túlio tratando disso e autorizo o mesmo a repassar para você, se já não deletou. Basta decisão política.
Não acredite que os militares dizem que não temos ameaças pela frente. Outra posição é colocada diariamente para nossos governantes. Não posso falar mais, mas acredite.
Existem outros projetos que a MB nada ganha, só faina e custos, ex:
Projeto Antártico - a MB nada ganha, ganha o Brasil com voz no Tratado da Antártica. A MB fica mendigando verbas para continuar a apoiar o trabalho dos cientistas brasileiros;
LEPLAC - Levantamento de Plataforma Continental - o que ganhou a MB? Nada. Ganhou o Brasil, com a extensão de sua plataforma até as 350 milhas. Um trabalho da MB que todos os brasileiros deveriam se orgulhar, definindo as novas fronteiras do Brasil, no século 21;
REVIZEE - Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva - o que a MB ganhou? Nada. Ganhou o país que cumpriu com o preconizado na Conferência da Jamaica, em que os países litorâneos deveriam pesquisar a quantidade de recursos vivos que poderiam ser pescados e controlar esta pesca. Se não conhecesse essa potencialidade, outras nações poderiam ter esse conhecimento e pescar o excedente. Navios da Marinha foram usados para pescar em comissões de longa duração. Não ganhamos nada, e sim o Brasil.
Arquipélago de São Pedro e São Paulo - o que a MB ganha mantendo a estação de pesquisas? Nada. O Brasil ganha a ZEE em torno do Arquipélago.
Navios-Hospital na Amazônia - o que ganha a MB? Nada. Ganha o Brasil e principalmente as populações esquecidas pelo Poder Estatal. A Marinha ainda teve que ouvir do serra, quando Ministro da Saúde, que mantinha a ajuda à MB por ser um serviço barato, que não custava nada ao Ministério.
Isto é patriotismo. Por isso falei de patriotismo do esforço da MB em manter o conhecimento adquirido, a qualquer custo, mesmo significando corte em outras áreas. Creio firmemente que a escolha da MB é acertada. Somente o tempo dirá se estou certo ou não.
É uma satisfação debater com você, de forma tão educada e em alto nível.
Receba um abraço de um patriota para outro.
Marino