OPERAÇÃO MIKADO

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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OPERAÇÃO MIKADO

#1 Mensagem por rodrigo » Qui Mai 26, 2005 8:43 pm

Operação MIKADO
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Introdução

Após o ataque da Segunda Escuadrilla Aeronaval de Caza y Ataque, em 4 de maio de 1982, que resultou no afundamento do destróier inglês H.M.S. Sheffield, o alto comando inglês elegeu a capacidade aeronaval argentina, principalmente a dupla Super Etendard e Exocet, como alvo prioritário das forças especiais inglesas. No planejamento inicial da missão, foi constatado que os alvos encontravam-se baseados na Base Aeronaval de Rio Grande, no extremo sul do território argentino, e que as fotos dos satélites norte-americanos não permitiam um planejamento mais adequado, devido ao tempo nublado característico da região.
Duas hipóteses de ataque foram levantadas: uma inserção de uma unidade SAS, lançada por um salto HALO(Higk Altitude Low Opening), que efetuaria a missão de forma discreta, com a instalação de explosivos nos aviões e mísseis, evitando o combate a todo custo, e realizando a exfiltração para o território chileno. A segunda hipótese previa um assalto no modelo da operação realizada pelos israelenses em Entebbe, Uganda. A operação consistiria no pouso de dois C-130 com os comandos SAS tomando uma posição agressiva, realizando o ataque a partir de jeeps especialmente armados e blindados para a ocasião. Nas duas hipóteses, graves problemas foram detectados: a distância do alvo, e mais grave ainda: a guarnição argentina.

A guarnição argentina

Um fator muito importante chamou a atenção dos ingleses: não só a guarnição argentina era composta de 2500 fuzileiros navais argentinos, reconhecidamente a melhor infantaria argentina, como eram comandados por Miguel Pita, oficial naval argentino extensamente treinado pelos ingleses em operações especiais e todos os assuntos correlatos.
Além desse grave problema, os argentinos recém haviam instalado um moderno radar AN/TPS-43, com alcance de 300Km, que praticamente impediria uma tentativa de assalto através do vôo em grande altitude, sendo que a autonomia impedia que o vôo fosse realizado em baixa altitude, fora da capacidade de detecção do radar.

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#2 Mensagem por rodrigo » Sex Mai 27, 2005 12:28 pm

Naquele momento da guerra, existiam uma convicção muito grande no alto comando argentino de que, se fosse detectado o Carrier Group inglês, e a meteorologia ajudasse, havia uma grande possibilidade de se acertar um EXOCET em um porta-aviões inglês. Essa convicção não só alimentava os argentinos, como enchia os ingleses de precaução.

Rio Grande

A pequena base aeronaval de Rio Grande recebeu a Segunda Escuadrilla Aeronaval de Caza y Ataque, naquele momento com apenas 4 Etendard em condições de vôo. Originalmente, a Escuadrilla era baseada na Base Espora, mais ao norte. Junto aos 2500 fuzileiros navais, que não foram levados às ilhas por causa da retirada de toda a esquadra argentina do mar, após o afundamento do Belgrano, somavam-se os batalhões de veículos blindados, que executavam patrulhas rotineiras nas imediações. O comandante Pita, expert em ações de sabotagens, descartou a inserção aérea, onde inclusive começaram os planos ingleses, e logo se preparou para um inserção de forças especiais pelo mar, provavelmente pelo SBS(Special Boat Service). As precauções envolveram a instalação de um grande campo minado em volta do aeroporto, e constantes patrulhas, inclusive na cidade de Rio Grande, que tinha também muitos chilenos como habitantes. Outra grande preocupação era com a proteção das aeronaves, que eram a peça chave da capacidade naval argentina naquele momento, e por isso eram mantidos em hangares secretos, fora da base, e movimentados somente durante o período noturno, evitando olhares chilenos em terra e americanos no espaço.

EXOCET

Nunca se soube ao certo quanto mísseis os argentinos possuíam no início e durante a guerra. Haviam números desencontrados sobre a quantidade fornecida pela França, junto com os Etendard, com hipóteses de fornecimento através do Peru. Também nunca se soube ao certo quantos mísseis foram disparados em direção à Task Force, pois existiram disparos que não chegaram aos alvos, somados aos que foram desviados pelas manobras e contramedidas eletrônicas e físicas (CHAFF) ingleses. Mas uma ação os ingleses tinham certeza, a Argentina buscava desesperadamente mais mísseis no mercado negro de armas. Diversos emissários argentinos e espanhóis eram acompanhados pelo MI6 pela Europa, e pelo menos um negócio chegou a ser fechado, pagando U$ 1 milhão por unidade do EXOCET, oriundos de um país árabe, e intermediados, ironicamente, por um contrabandista inglês. A mercadoria não chegou a ser entregue, e o contrabandista foi encontrado enforcado em uma ponte em Londres.

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#3 Mensagem por nemesis » Sex Mai 27, 2005 8:01 pm

enforcado em uma ponte em londres..............
eitah pega!!!!




sempre em busca da batida perfeita
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#4 Mensagem por Vinicius Pimenta » Sáb Mai 28, 2005 9:58 am

Continue que está ótimo!




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Você é responsável pelo ambiente e a qualidade do fórum que participa. Faça sua parte.
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#5 Mensagem por Sniper » Sáb Mai 28, 2005 10:53 am

Muito bom! :D Estou ansioso pela continuação! :D




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#6 Mensagem por rodrigo » Sáb Mai 28, 2005 9:08 pm

A opção inglesa

Diante da impossibilidade do vôo do C-130 até a base de Rio Grande, devido à grande distância da ilha de Ascensão até o alvo, o governo inglês voltou seus esforços diplomáticos em relação ao Chile. O governo de Santiago já havia atendido vários pedidos de Londres, principalmente em relação à mobilização da Marinha e Força Aérea Chilenas, que obrigaram os argentinos a manterem seus MIRAGE III em prontidão, fora do conflito das Malvinas, para proteger a capital, Buenos Aires, a partir da Base Aérea de Tandil. Mais uma vez, o Governo Pinochet exerceu sua neutralidade do lado inglês, permitindo, por fim, que fossem utilizadas Bases Aéreas chilenas para vôos de aviões Canberra, equipados com câmeras laterais, para o reconhecimento das principais bases aéreas argentinas, aviões especiais C-130 de espionagem eletrônica, e conforme boatos de moradores próximos às bases chilenas, aviões SR-71 Blackbird. Mesmo com todo o apoio tecnológico, foi impossível obter informações suficientemente precisas para o planejamento da inserção de tropas especiais na base argentina. O pavor constante do ataque do EXOCET, que obrigava a uma meticulosa vigília dos operadores eletrônicos ingleses, já estava levando a frota inglesa ao desespero, com falsos alertas acontecendo diariamente, com um sério abalo da moral. Diante desse quadro preocupante, o comando da frota decidiu arriscar: seria enviado um Sea King com soldados da SAS, para o reconhecimento anterior ao ataque.

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A preparação

Decidido o primeiro movimento, buscou-se compor o grupo de reconhecimento apenas de voluntários. O objetivo da missão seria reconhecer o perímetro e os prédios que faziam parte da Base de Rio Grande, atestar a existência dos Super Etendard e dos EXOCET, localizar o alojamento dos pilotos, que seriam alvo secundário da missão e levantar o estado de prontidão das tropas defensoras argentinas. Os cálculos matemáticos previam que seria possível o vôo do Sea King até o alvo, com mais 100 mihas de reserva, para que o helicóptero tivesse a oportunidade de se dirigir ao território chileno, e lá pousando seria alegado um erro de navegação. O helicóptero teve todo o equipamento desnecessário para a missão retirado, e foram instalados dois tanques auxiliares internos. O dia havia sido escolhido por uma razão especial: 17 de maio, dia da Marinha Argentina, e esperava-se que a guarnição estivesse descontraída, envolvida em festividades.

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#7 Mensagem por RAF » Sáb Mai 28, 2005 10:44 pm

Quero mais!!! :twisted: Quero mais!!! [072]

Texto muito bom!!!




"SI VIS PACEM PARABELLUM"
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Operação Mikado

#8 Mensagem por carsm1 » Sáb Mai 28, 2005 11:33 pm

Muito bom Rodrigo,manda o resto,estou curioso.
Tem um exelente livro escrito pelo General Paulo de Queiroz Duarte da Bibliex,Conflito das Malvinas em dois volumes.Há no livro algumas discrepancias em relação ao armamento,mas e muito bom.Recomendo.
Em tempo:Vocês sabiam que na época da guerra das Malvinas, uma porrada de ¨brasucas ¨se apresentaram como voluntários para lutar ao lado dos nossos ¨hermanos ¨argentinos? Seria o BTL Macacos....




E preciso ser raposa para reconhecer as armadilhas,e leão para afugentar os lobos.
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#9 Mensagem por rodrigo » Dom Mai 29, 2005 7:46 pm

O vôo

O Sea King partiu durante a madrugada, levando 9 homens do SAS, vestidos com o uniforme ártico, equipados com fuzis M-16 com lançadores de granada, e também com o mais moderno sistema portátil de comunicação via satélite até então. O porta-aviões INVINCIBLE foi levado a um ponto mais ao oeste, para diminuir a distância de vôo, e retornou rapidamente à zona de exclusão. O peso do grupo, somado ao excesso de combustível levado, levou os pilotos do helicóptero a tentar uma decolagem horizontal, que quase levou o Sea King à água. Para desviar a atenção dos argentinos nas ilhas, dois Harriers lançaram bombas de 1000 libras perto de Port Stanley, e no vôo de retorno lançaram diversos FLARES para criar um efeito visual de despiste. Durante o vôo foram entrentadas fortes turbulências, e o mar revolto jogava respingos de água no helicóptero, forçando o uso do limpador de pára-brisas durante todo o vôo. Ao avistar o continente, uma sensação de alívio foi sentida, pois diminuía a chance de uma queda no mar, que seria fatal pela impossibilidade de resgate. A 20 km norte da Base de Rio Grande, o RWR OMEGA do Sea King acusou a detecção da aeronave, e pior ainda, que os ingleses haviam sido detectados e tinham um LOCK-ON do radar. Foram momentos de tensão no vôo, e quando se aproximavam ainda mais do objetivo, foi visto o lançamento de um foguete sinalizador(FLARE), que naquele momento de angústia teve diversas interpretações pela tripulação, desde poderia ser munição traçante disparada em direção ao helicóptero, ou pior ainda, um míssel SA-7. Após alguns instantes, constataram que não havia risco, e procedendo a missão.

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Momentos de dúvida

Apesar do susto, os pilotos resolveram continuar, mas foram mais cautelosos no local do desembarque, que foi deslocado 2km abaixo do previamente combinado. Durante o tenso desembarque, para surpresa e desespero de todos, um segundo FLARE foi lançado em direção ao helicóptero, passando muito mais perto que o primeiro. Os homens do SAS já estavam abrindo a porta para desembarcar quando o piloto anunciou: missão cancelada, nosso efeito surpresa foi perdido. Após uma breve discussão, com os SAS querendo continuar, todos cederam ao bom senso do piloto e voltaram à aeronave. Diante da possibilidade de uma tragédia, se tropas argentinas se deslocasse para zona de desembarque, o Sea King abandonou a área, tendo como fundo as fracas luzes da cidade de Rio Grande. Restava ainda um desafio: chegar ao teritório chileno.

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#10 Mensagem por rodrigo » Qui Jun 02, 2005 11:08 am

Punta Arenas

Depois de abortar a missão, o Sea King rumou para o ponto previsto para o final da missão, perto do aeroporto chileno de Punta Arenas. A equipe SAS foi desembarcada mais longe, e sumiu, conforme previsto. A tripulação era composta por três oficiais, que pousaram o helicóptero uns 10Km de uma rodovia, atearam fogo ao Sea King, e se renderam às autoridades chilenas, sendo levados para a embaixada inglesa em Londres.

Conclusões
Apesar do fracasso da missão de reconhecimento, a operação MIKADO não foi cancelada. Outra missão de reconhecimento foi planejada, e só não fo executada porque os argentinos se renderam antes. Existe uma polêmica sobre o local de partida do Sea King, com os argentinos declarando que o vôo teve início no Chile, essa afirmação é negada por Londres e Santiago. Por fim, todas as estimativas inglesas apontavam a execução da missão como quase impossível, mas necessária, diante da falta de informações sobre a capcidade argentina de realizar mais missão com os Super Etendard armados com o EXOCET.

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HMS Sheffield, primeiro alvo acertado pelo EXOCET argentino

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Sea King da Royal Navy




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#11 Mensagem por rodrigo » Qui Jun 02, 2005 11:18 am

Fontes:

One Hundred Days - Adm. Woodward

The secret war for the Falklands - Nigel West

http://www.tropaselite.hpg.ig.com.br/UK_SAS_CAMPANHAS_FALKLANDS.htm




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