JOSE CARNEIRO escreveu:Portanto, essa que não fossem as barreiras que o governo impõe no mercado de trabalho (como salário mínimo, férias, FGTS) não haveria desemprego é balela.
Em que momento afirmei isso? Favor recortar o post que contém tal afirmação.
Não falei que você disse isso. Isso é, na minha opinião, uma meia-verdade divulgada especialemnet pela imprensa.
Esta é uma pequena parte da literatura com a qual formo minha base teórica. Não encontro suporte para algumas de suas propostas, poderia me recomendar textos específicos? Poste as referências ou envie para o meu e.mail: jose.oliveira@ipea.gov.br. Obrigado.
Vou tentar responder o resto de suas colocações de uma vez só. Se ficar faltando alguma coisa me avisa que eu tento responder depois.
Começando, meu argumento sobre distribuição se baseia em Kaldor (1956) e em outros textos do próprio autor datados de 1957 e 1970, bem como em textos posteriores como Dixon e Thirwall (1975), outros do Thirwall, etc. Mas como referência geral indicaria o livro do McCombie e Thirwall, Economic Growth and the Balance-of-Payments Constraint (1994). Se você quiser referências detalhadas me escreve uma MP que eu tento te mandar. Se eu tiver mando inclusive o texto em pdf.
O argumento é o seguinte:
A economia tem dois setores, indústria e agricultura. O primeiro opera com retornos crescentes à escala e o segundo com retornos decrescentes. A medida que a economia cresce transfere-se mão-de-obra da agricultura para a indústria. Como a produtividade da indústria é maior do que da agricultura tal transferência aumenta a produtividade da economia como um todo e faz a economia crescer mais, desencadeando novas transferências intersetoriais de mão-de-obra e mais crescimento. É a chamada causação circular cumulativa, presente em Kaldor, Myrdal, dentre outros.
O crescimento nessa economia é liderado pela demanda, i.e., maiores níveis de demanda agregada que desencadeiam ou ampliam o processo de transferência de mão-de-obra. Para Kaldor, o principal componente da demanda em uma economia dual desse tipo seria a demanda interna por produtos industriais.
Dessa forma, se assumirmos que existem duas classes de rendas na economia, lucros e salários, e sendo a propensão marginal a consumir dos salários superior à dos lucros, tem-se que uma mudança da dist. funcional da renda em direção aos salários ampliaria o consumo interno e, consequentemente, desencadearia transferência intersetorial de mão-de-obra, maior produtividade, maior renda, etc. Tal mecanismo pára de existir quando cessa a transferência intersetorial de mão-de-obra. Nesse caso, o principal componente da demanda torna-se a demanda por exportações e o crescimento assume forma profit-led.
Tal dualidade campo-cidade pode parecer não ter mais sentido hoje em dia, mas se a redefinirmos em termos de uma dualidade entre setor formal e informal como o faz Dutt (2003) tem-se algo mais razoável.
Empiricamente, Barbosa-Filho e Taylor provam em artigo recente que o crescimento americano é liderado pelos lucros. Um colega meu de serviço queria testar a hipótese para o Brasil, mas só há dados que permitem fazer a dist. funcional da renda a partir de 1989 e em base anual, o que impossibilita rodar um VAR. Mas ele testou a hipótese para a Turquia e para a Grã-Bretanha e o resultado é o predito pelo Kaldor, i.e., o crescimento é wage-led na Turquia e profit-led na Grã-Bretanha. Vou ver se consigo a monografia dele.
Acho que tal argumento também cabe em um modelo a là Keynes (1937). Primeiro, supondo que o investimento determina o crescimento (Rodrik, 1999, diz que esse é o único claro canal existente entre crescimento e qualquer outra variável). Keynes afirma, na Teoria Geral, que o investimento será de um tamanho que iguale a Eficiência Marginal do Capital (EMgK) e os juros. A EMgK é basicamente a relação entre o fluxo de renda esperado de um bem de capital e seu preço. Se voltarmos a situação em que a propensão marginal a consumir dos salários supera a dos lucros temos que um distribuição de renda em favor dos salários aumenta o fluxo de renda esperado de determinado bem de capital (por exemplo, uma máquina de costura usada para fazer roupas tem sua rentabilidade aumentada se cresce a demanda por roupas). Tal aumento amplia, portanto, a EMgK e faz com que o investimento cresça e, logo, a economia cresce mais.
Você pode perguntar se o preço do bem de capital não cresce, uma vez que aumenta a participação dos salários na renda. Pode ser que sim. Mas se você acredita em Lei de Verdoorn, i.e., em retornos crescentes à escala, tem-se que uma maior demanda por um bem significa maior produação e maior produção leva a maior produtividade o que pode levar a menores preços ou a bens de caital mais eficientes. Nesse sentido, a Lei de Verdoorn reduziria o crescimento dos custos de produção devido ao aumento dos salários e faria com que maiores salários impactassem positivamente no crescimento.
Obviamente, meu argumento tem muitas limitações. Não há restrição de crédito, não há inovação, não há restrição externa, etc. Mas de qualquer forma foi uma tentativa de resposta.
Abs
Arthur