cicloneprojekt escreveu:Delta Dagger escreveu:Walter, vc teria paciência para explicar as características de emprego Classe Guppy (brasileiros) e qual a evolução que houve ao entrar em operação na MB a Classe Oberon? Se possível nos fale tb qual a evolução desta para a Tupy em termos de dourina. Se não for pedir demais.
Abs
Não é pedir demais de forma alguma.
Não tive tempo de escrever nada sobre os GUPPY(só um esclarecimento, os GUPPY eram o nome dos programas de upgrade a que eram submetidos os submarinos das classes Balao e Tench, e não o nome da classe do submarino).
É que na verdade estou escrevendo um post sobre a guerra das Malvinas a pedido do colega "brigadeiro"
, "que tem que sair até o final de semana"
Mas aqui vai alguma coisa.
OBS. O que vou postar agora são posts-resposta sobre sua mesma dúvida que já havia postado aqui e em outras listas.
Qual a evolução que houve ao entrar em operação na MB a Classe Oberon?
Comentando rapidamente sobre os
Oberons.
Tive o prazer e a honra de fazer parte da tripulação de dois
submarinos classe
Oberon (classe
Humaitá) o S22
Riachuelo (apelidado
pelos ingleses de "double two")e o seu irmão+velho, o S-20
Humaitá .
A vida á bordo dos subs
Humaitá, era de certa forma, um "luxo"
em comparação aos subs americanos Guppy II/III, apesar de também
vivermos sob o regime de "cama quente", em que havia um revezamento
da maioria da tripulação no tempo de uso dos catres(camas)ou
simplesmente beliches, operávamos com uma tripulação normal de 74
homens (originalmente) em um submarino com melhor distribuição do
espaço interno, tínhamos a comodidade de ter uma televisão, (o que
era uma grande comodidade depois de uns 15 dias debaixo d'água...).
A respeito da vida á bordo, devo também comentar sobre o
aspecto psicológico de todos os tripulantes terem uma idéia precisa
do nível de sofisticação que tínhamos á bordo, seus computadores de
direção de tiro (SDT), o TIOS( que posteriormente teve vários itens
de sua programação modificados (melhorados) com tecnologia
brasileira desenvolvida no CASNAV(um reflexo do impacto tecnológico
da incorporação das F
Niteróis, e claro, dos próprios
Oberons), e
principalmente(no meu caso) uma espetacular casa de máquinas, cujos
motores de origem inglesa, tinham quase que uma mística em relação á
confiabilidade, em torno de si.
Os
Oberon realmente não tinham um projeto de casco que primava
pela agilidade submersa, na verdade, a filosofia de projetos de
submarinos ingleses, optava(na época) pelo
pragmatismo/conservadorismo de projeto hidrodinâmico, privilegiando
no entanto, seus subsistemas eletro-eletrônicos, que eram de fato
top de linha à época( como a suíte sonar, a mais completa á
disposição da MB até hoje, que era composta pelos sonar de casco
THORN EMI Type 197CA de media freqüência, passivo/ativo para busca e
ataque; hidrofone lateral BAC Type 2007AA de baixa freqüência, para
busca; hidrofones de interceptação (goniômetros) DUUG-1 e AUUD-1;
ecobatimetro Type 773/776). Não podemos esquecer também o fato pouco
conhecido de que os
Oberon na verdade eram um considerável
aperfeiçoamento dos submarinos da classe
Porpoise,, externamente
eram iguais, mas suas hélices eram quádruplas, enquanto que as do
Oberon eram triplas(exceção feita aos primeiros dois
oberonsaustralianos)
Tínhamos um tempo de guinada completa(a velocidade de 5 nós) de
quase três minutos!
MAS, era a guinada MAIS silenciosa do Atlântico sul, pode ter
certeza.
Sobre o silêncio destas máquinas, posso lhe dizer o seguinte,
durante a operação READEX-78, (quando qdo eu ainda estava embarcado
no
Humaitá) na área marítima contígua ao Mar do Caribe, manobrando
conjuntamente com a US Navy, a Royal Canadian Navy, elementos da
Royal Netherlands Navy e também da Bunmdesmarine, estávamos em uma
área próxima (acho que umas 50milhas) ao norte das ilhas Virgens
Britânicas, e "enfrentávamos" uma operação de varredura que incluía
(se não me engano) como um dos pontais do esquema de varredura, o
USS
Arthur W. Radford DD 978, (Classe
Spruance)recém incorporado e que estava
equipado com o sonar SQS 53, e com um destróier
Canadense classe HCMS
Iroquois(que não lembro ao certo qual era)
do "outro lado"(equipado com o exelente sonar SQS-505), mas o que
havia mesmo de perigoso era o submarino holandês
Tijgerhaai S-807,
que tinha a tradicional boa reputação holandesa de eficiência e bom
desempenho. Pois bem, a varredura era(foi) conduzida no eixo leste-
oeste por uma extensão de aproximadamente 30 mil milhas quadradas,
onde nós por duas vezes fomos "iluminados cegamente"(
blind shining)
como se diz debaixo d água, o q quer dizer que o alcance sonar nos
atingiu(na primeira zona de convergência), mas sequer fomos
notados , pois não se executou uma busca de plotagem(que é qdo já se
tem certeza d q um submarino está em uma determinada ÁREA, e se
realiza uma busca do tipo "flash"(na gíria naval americana) que nada
mais é do que uma(na verdade algumas) emissões de baixa freqüência
via sonar ativo, com o objetivo de determinar com a máxima exatidão
possível a localização do contato. Repito, isso aconteceu duas
vezes em em menos de 5h, tanto por parte do DD
Radford , como do
HCMS canadense, e do (para minha surpresa, e de todos á bordo), do S-
807. Resumo da ópera, protagonizamos uma verdadeira carnificina, e
fomos o primeiro submarino estrangeiro a "mandar a pique" o W
Radford, o USS
Sims(navio tanque),o destróier canadense(e seus
helicópteros quem estavam no ar e q de repente perderam a "base"), o
HMS
Alacrity(que os argentinos fariam questão de ter afundado na
saída do canal de São Carlos na guerra das Malvinas,na noite de 10
de maio, a menos de 3,5 Kilo jardas!), alvejado ironicamente por
um "tiro" de Mk-37C á mesma distancia! Isso sem falar dos
helicópteros, provavelmente a maior concentração de
Sea King q todos
á bordo já tínhamos visto até então.(pelo menos 12 no ar, em um dado
momento) Para fechar, durante o nosso retorno,(em abril)
totalmente empolgados, realizamos a primeira entrada da barra da
Baía de Guanabara em submersão, feito inédito, para um submarino
daquele porte, só emergindo no través da Escola Naval, debaixo de
uma chuva barra-pesada, daquelas que só caem lá em Ribeirão
Preto.
Falando sobre minha área específica(MCPs)-Motores de combustão principais. Tive sorte pois a carga de trabalho era consideravelmente menor que nos GUPPY II e III. Tinhamos à disposição diversos avanços técnicos que facilitavam bastante o trabalho.
Como os "thermo-couples" nos cabeçotes dos cilindros dos
2 motores diesel Admiralty Standard Range de 16 cilindros 16 VVS-ASR-
1, seu uso era múltiplo, mas podemos enumerar os principais,
primeiro, em caso de pane do sistema de monitoramento térmico,
entravam em operação o monitoramento visual dos gradientes de
temperatura de operação dos cilindros, uma vez que em caso de mau
funcionamento de um deles havia o recurso de desconectar "metade do
motor" enquanto se executava a manutenção corretiva "no resto".
Os "thermo couples" também serviam ao sistema anti-incêndio de bordo
(no compartimento de máquinas de combustão principais MCP), com a
ultrapassagem de diversos parâmetros térmicos demandando o
desligamento automático e o conseqüente resfriamento, e/ou
acionamento do sistema de sprinklers do compartimento. O mesmo
conjunto de equipamentos (que na verdade era um
back-up de um
sistema mais avançado controlado remotamente), servia para (ajudar)
a gerar dados para estimativa de consumo de fluidos de propulsão/
lubrificação, uma vez que ultrapassados certos parâmetros do
estabelecidos pelo fabricante, podia-se estimar, o rendimento
mecânico de cada um dos motores. E finalmente, em função deste
último detalhe(a estimativa de rendimento), podíamos verificar a
correta calibragem acústica dos motores, através da estimada de
dispersão térmica, séries infinitas de Gausing...., integrais por
partes....(!), para mim que a época era Sargento Maquinista-
Assistente, aquilo parecia meio lunático, mas funcionava que nem
relógio inglês.
Mas dificilmente tínhamos que executar cálculos
manuais, pois afinal de contas é para isso que existem computadores,
e os nossos eram os Royal-technic 1100(!!!!), da Ferranti.
Qual a evolução que houve ao entrar em operação na MB a Classe Oberon?
Sds
Walter