DÍVIDAS Exército sem dinheiro para pagar combustíveis
Dívidas não põem em causa as missões do Exército mas podem encarecer custo do combustível Carlos Varela *
O contrato de abastecimento de combustíveis às Forças Armadas e ao Ministério da Defesa poderá ser posto em causa se entretanto não for liquidada uma dívida no valor de cerca de dois milhões de euros e que tem origem no não pagamento do fornecimento de combustíveis ao Exército, um valor em dívida desde o início do ano.
Em causa está um contrato com a Galp Energia, que a empresa já avisou poder vir a denunciar se entretanto não se vir ressarcida do valor em causa, acumulado desde o início do ano.
A Galp recusou comentar a situação, alegando, de acordo com uma fonte oficial, "não comentar relações com os clientes". Porém, o JN tem conhecimento da existência de reuniões oficiais entre o Ministério da Defesa (MDN), a Manutenção Militar e a Galp para estudar a possibilidade de um pagamento faseado.
Ministério confirma dívida
O MDN, por sua vez, confirmou ao JN a existência da dívida, embora sem a quantificar, mas, em contrapartida, adiantou estar a "tentar encontrar uma solução financeira a curto prazo".
O MDN confirmou ainda que na origem dos valores em débito está o abastecimento de combustíveis ao Exército, cuja dívida foi contraída "pela Manutenção Militar", a entidade pública com quem o Exército contrata os fornecimentos de géneros e combustíveis.
A situação é completamente diferente quer na Marinha quer na Força Aérea, em que a área responsável pela logística dos estados-maiores dos ramos assume directamente o processo de aquisição e pagamento sem intermediários.
No entanto, as consequências da denúncia do contrato por parte da Galp, com o consequente acréscimo de custos - já que não está em causa o corte no fornecimento dos combustíveis -, poderão vir a atingir não apenas o Exército mas também a Marinha e a Força Aérea.
É que o contrato com a Galp foi assinado pela Central de Compras do Ministério da Defesa, um organismo criado quando Paulo Portas era ministro da Defesa.
O objectivo da Central de Compras era estabelecer um sistema de aquisições conjunto, quer para combustíveis quer para outros artigos, para os três ramos das Forças Armadas, de forma a reduzir as despesas. Um processo que, apesar deste percalço, tem vindo a dar bons resultados, segundo adiantaram ao JN fontes militares.
No entanto, se os contratos para os combustíveis são feitos para o conjunto da Marinha, Exército e Força Aérea já a facturação, ou seja o pagamento ao fornecedor, é da responsabilidade de cada ramo, com datas precisas de pagamento, que sistematicamente não têm vinda a ser respeitadas pelo organismo público que faz as compras para Exército.
Autonomia
As dívidas contraídas pela Manutenção Militar - enquadrada na categoria de estabelecimento fabril - para abastecer o Exército são já habituais há vários anos. A Manutenção tem personalidade jurídica e autonomia administrativa e financeira, mas a Lei Orgânica do Exército diz que os estabelecimentos fabris "estão sujeitos aos poderes de direcção e fiscalização" do ramo. O Exército tem solicitado aos Governos a resolução deste problema.