Iraque - Noticias de Guerra
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VITÓRIA DE JOSÉ MAURÍCIO BUSTANI MUDA DIPLOMACIA.
Embaixador derrubado por manobra americana em 2002 ganha ação por danos morais e caso firma jurisprudência no mundo
Gisele Teixeira
BRASÍLIA - A recente decisão do Tribunal da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de ordenar à Organização de Proibição de Armas Químicas (Opaq) o imediato pagamento de indenização por danos materiais e morais ao embaixador José Maurício Bustani, afastado desde 2000, cria uma importante jurisprudência no direito internacional.
O caso se arrastava desde 2002, mas só teve solução no dia 14 de julho deste ano. Em 1997, o brasileiro assumiu o cargo de diretor geral da Opaq, entidade criada no mesmo ano para implementar a Convenção de Proibição de Armas Químicas. Em 2000, foi reconduzido ao posto, por aclamação, um ano antes do término de seu mandato. Em 2002, por pressão dos Estados Unidos, foi afastado do cargo sem qualquer processo legal, um fato considerado ''sem precedentes na história dos organismos internacionais'', segundo o Itamarati.
- É uma vitória inédita, que reduz os estragos provocados na autonomia de organismos internacionais - diz o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, que acompanha o caso de perto desde o início. A mesma opinião têm a professora da Universidade de Brasília, Julie Schmied, e o advogado Roberto Caldas, ligado o Conselho Federal da OAB. Ambos consideram que a decisão preserva a independência e a imparcialidade. Bustani é o atual embaixador do Brasil em Londres.
O afastamento foi ligado aos preparativos dos EUA para atacar o Iraque. A razão da invasão era que Bagdá teria armas químicas e outras de destruição em massa, o que até hoje não foi provado pelo governo Bush. Na época, Bustani queria a adesão do país à Opaq e, conseqüentemente, a aceitação pelo governo iraquiano do regime de inspeções. Isso enfraqueceria a posição dos EUA pela guerra. Assim, a Casa Branca manobrou para afastá-lo, acusando-o de supostas irregularidades administrativas que, como o arsenal de Sadã, jamais apareceram.
O embaixador levou o caso à OIT que, em 2003, considerou que as alegações eram ''extremamente vagas'' e concluiu que a sua demissão foi ilegal. A Opaq foi condenada a pagar 50 mil euros por danos morais e 5 mil euros em custos. Por danos materiais, a pena foi o pagamento dos salários que Bustani teria direito até o fim do seu mandato, em maio de 2005. A Opaq, contudo, ignorou a decisão.
- Eles queriam negociar, mas não fazia mais sentido - conta Nogueira Batista.
Bustani pediu ao Tribunal a execução da sentença e em julho, a corte ordenou o imediato pagamento, com juros. Confirmou, também, a obrigatoriedade do cumprimento de sentenças internacionais por parte de organismos que reconhecem sua jurisdição. Os recursos vão para o fundo de cooperação para países em desenvolvimento da Opaq. O objetivo da briga, segundo Bustani, era estabelecer essa jurisprudência sobre a legalidade dos atos que ferem os princípios das organizações internacionais, como independência e neutralidade do diretor-geral e igualdade jurídica dos membros, entre outras.
A decisão talvez não apague a mágoa do embaixador em relação à posição do Ministério das Relações Exteriores na época, em especial do então chanceler Celso Lafer. O Itamarati foi acusado por Bustani de dar só apoio formal à sua permanência. Sob pressão dos EUA, o governo afirmou que ele não era representante seu na Opaq e sim um funcionário internacional. Celso Lafer disse ontem que não leu a decisão da OIT.
- O resultado corrobora meu ponto de vista no sentido de defender o caráter internacional do secretariado e de preservar as determinações dos membros.
O ex-ministro reafirma a tese brasileira de que esta não era uma questão bilateral entre Brasil e EUA, mas multilateral.
- Bustani era do Itamarati mas exercia um cargo internacional - argumenta, frisando que o Brasil defendeu, sim, o mandato e que Bustani pôde se manifestar. - Se ele questiona a minha atuação, também não aprecio sua posição.
Embaixador derrubado por manobra americana em 2002 ganha ação por danos morais e caso firma jurisprudência no mundo
Gisele Teixeira
BRASÍLIA - A recente decisão do Tribunal da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de ordenar à Organização de Proibição de Armas Químicas (Opaq) o imediato pagamento de indenização por danos materiais e morais ao embaixador José Maurício Bustani, afastado desde 2000, cria uma importante jurisprudência no direito internacional.
O caso se arrastava desde 2002, mas só teve solução no dia 14 de julho deste ano. Em 1997, o brasileiro assumiu o cargo de diretor geral da Opaq, entidade criada no mesmo ano para implementar a Convenção de Proibição de Armas Químicas. Em 2000, foi reconduzido ao posto, por aclamação, um ano antes do término de seu mandato. Em 2002, por pressão dos Estados Unidos, foi afastado do cargo sem qualquer processo legal, um fato considerado ''sem precedentes na história dos organismos internacionais'', segundo o Itamarati.
- É uma vitória inédita, que reduz os estragos provocados na autonomia de organismos internacionais - diz o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, que acompanha o caso de perto desde o início. A mesma opinião têm a professora da Universidade de Brasília, Julie Schmied, e o advogado Roberto Caldas, ligado o Conselho Federal da OAB. Ambos consideram que a decisão preserva a independência e a imparcialidade. Bustani é o atual embaixador do Brasil em Londres.
O afastamento foi ligado aos preparativos dos EUA para atacar o Iraque. A razão da invasão era que Bagdá teria armas químicas e outras de destruição em massa, o que até hoje não foi provado pelo governo Bush. Na época, Bustani queria a adesão do país à Opaq e, conseqüentemente, a aceitação pelo governo iraquiano do regime de inspeções. Isso enfraqueceria a posição dos EUA pela guerra. Assim, a Casa Branca manobrou para afastá-lo, acusando-o de supostas irregularidades administrativas que, como o arsenal de Sadã, jamais apareceram.
O embaixador levou o caso à OIT que, em 2003, considerou que as alegações eram ''extremamente vagas'' e concluiu que a sua demissão foi ilegal. A Opaq foi condenada a pagar 50 mil euros por danos morais e 5 mil euros em custos. Por danos materiais, a pena foi o pagamento dos salários que Bustani teria direito até o fim do seu mandato, em maio de 2005. A Opaq, contudo, ignorou a decisão.
- Eles queriam negociar, mas não fazia mais sentido - conta Nogueira Batista.
Bustani pediu ao Tribunal a execução da sentença e em julho, a corte ordenou o imediato pagamento, com juros. Confirmou, também, a obrigatoriedade do cumprimento de sentenças internacionais por parte de organismos que reconhecem sua jurisdição. Os recursos vão para o fundo de cooperação para países em desenvolvimento da Opaq. O objetivo da briga, segundo Bustani, era estabelecer essa jurisprudência sobre a legalidade dos atos que ferem os princípios das organizações internacionais, como independência e neutralidade do diretor-geral e igualdade jurídica dos membros, entre outras.
A decisão talvez não apague a mágoa do embaixador em relação à posição do Ministério das Relações Exteriores na época, em especial do então chanceler Celso Lafer. O Itamarati foi acusado por Bustani de dar só apoio formal à sua permanência. Sob pressão dos EUA, o governo afirmou que ele não era representante seu na Opaq e sim um funcionário internacional. Celso Lafer disse ontem que não leu a decisão da OIT.
- O resultado corrobora meu ponto de vista no sentido de defender o caráter internacional do secretariado e de preservar as determinações dos membros.
O ex-ministro reafirma a tese brasileira de que esta não era uma questão bilateral entre Brasil e EUA, mas multilateral.
- Bustani era do Itamarati mas exercia um cargo internacional - argumenta, frisando que o Brasil defendeu, sim, o mandato e que Bustani pôde se manifestar. - Se ele questiona a minha atuação, também não aprecio sua posição.
História
http://www.worldnetdaily.com/news/artic ... E_ID=39776
Video
http://ads.wnd.com/video/ambush.wmv
Um dos Veiculos depois de sofrerem o Ataque
[img]http://www.worldnetdaily.com/images2/suv5.jpg[/im
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Combates em Najaf matam 77 iraquianos em 24 horas
20/08/04 08:19
BAGDÁ (Reuters) - Nas últimas 24 horas, ao menos 77 iraquianos foram mortos e 70 ficaram feridos em confrontos na cidade sagrada de Najaf, informou na sexta-feira o Ministério da Saúde do Iraque.
Segundo ele, 13 iraquianos morreram e 107 outras pessoas ficaram feridas em Bagdá no mesmo espaço de tempo. Em Basra, uma pessoa morreu e outra está ferida.
O ministério disse que as mortes foram causadas durante combates entre milícias xiitas leais ao clérigo radical Moqtada al-Sadr e forças dos EUA e do governo iraquiano.
Seis dos mortos em Najaf eram policiais mortos após um ataque lançado por morteiro.
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Aviões dos EUA bombardeiam Najaf após "apelo final" a Al-Sadr
Por Michael Geory
NAJAF, Iraque (Reuters) - Aviões norte-americanos bombardearam na quinta-feira os arredores de uma mesquita sagrada onde uma milícia radical xiita está entrincheirada. Seu líder, Moqtada al-Sadr, ignorou uma última exigência de rendição feita pelo governo iraquiano.
Os Estados Unidos fizeram sucessivos ataques contra as posições de Al-Sadr que se agrupam dentro e em torno da mesquita do Imã Ali, o lugar mais sagrado para os xiitas no Iraque. Durante a noite, o céu de Najaf ficou iluminado por clarões brancos e laranjas, mas não ficou claro se isso marca o início da invasão prometida pelo governo.
Uma grande nuvem de fumaça se ergueu do antigo cemitério onde há duas semanas acontecem confrontos entre os homens de Al-Sadr e as tropas norte-americanas. Foram ouvidas rajadas de metralhadoras. Há blindados dos EUA na área.
"Este é um último apelo para que se desarmem, esvaziem o templo sagrado, admitam o trabalho político e considerem os interesses da pátria", disse o primeiro-ministro interino Iyad Allawi numa entrevista coletiva de madrugada.
Em uma carta atribuída a Al-Sadr, o clérigo pedia que seus combatentes entreguem o controle da mesquita às autoridades religiosas locais, mas rejeitava a exigência de desmantelar a milícia Mehdi e participar do processo político.
Mas a carta tinha um selo que não é consistente com os que apareciam em cartas anteriores de Al-Sadr.
Dentro da cidade, onde as ruas estão tomadas por cartuchos de projéteis disparados, o clima é de contestação. Um homem caminhava por uma rua próxima à mesquita levando duas granadas e xingando Allawi e as tropas apoiadas pelos EUA.
"Eles são uma piada. Que venham. Estamos esperando pela luta e todos nós queremos ser mártires, então não temos o que perder", disse o combatente Ibrahim.
Longe dali, três morteiros atingiram uma delegacia, matando sete policiais e ferindo 21, segundo as autoridades, que atribuíram o ataque à milícia Mehdi.
Em Basra (sul), testemunhas disseram que sabotadores incendiaram a sede da empresa estatal de petróleo South Oil Co.. "Não foi acidente. O fogo é enorme", disse um funcionário do local.
Aviões dos EUA também bombardearam alvos muçulmanos sunitas na cidade de Falluja, segundo testemunhas.
ATAQUE À EMBAIXADA DOS EUA
Em Bagdá, um morteiro atingiu o teto da embaixada norte-americana, na vigiadíssima Zona Verde, ferindo levemente dois funcionários, segundo um porta-voz.
Al-Sadr retomou a sua tradicional retórica desafiadora depois de passar dois dias dando sinais de que desarmaria a milícia e encerraria as duas semanas de impasse na mesquita.
Questionado sobre as exigências do governo, o xeique Ahmed Al Sheibani, importante assessor de Al-Sadr e comandante da Mehdi, disse a jornalistas: "Está muito claro que as rejeitamos."
A rebelião abala a autoridade de Allawi, mata centenas de pessoas e atinge o mercado mundial de petróleo. A cotação do barril de referência nos EUA atingiu 48,75 dólares, um novo recorde.
Allawi se disse satisfeito com os eventuais comentários conciliadores por parte de Al-Sadr e seus seguidores, mas cobrou algo concreto por escrito. Ele não quis dizer se há um prazo para que o clérigo se renda, mas autoridades de primeiro escalão disseram que é questão de horas.
Mas invadir a mesquita pode jogar o governo contra a maioria xiita da população especialmente se a ação contar com envolvimento dos 2.000 marines dos EUA que cercam o local.
O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que Al-Sadr tem de cumprir as exigências do governo. "O governo iraquiano deixou claro que ele não pode ter uma lei à parte para si."
(Com reportagem de Nadim Ladki, Matthew Green e Ibon Villelabeitia em Bagdá).
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EUA fazem bombardeio violento contra reduto de Al-Sadr
Por Michael Georgy
NAJAF, Iraque (Reuters) - Os militares norte-americanos usaram um de seus aviões mais letais para bombardear posições defendidas em Najaf pelas armas leves da milícia Mehdi, do clérigo radical xiita Moqtada al-Sadr.
O inconfundível e ameaçador zumbido do bombardeiro AC-130, equipado com armas de grande velocidade e precisão, foi seguido por estrondos nos arredores da mesquita e do antigo cemitério onde os homens de Al Sadr estão entrincheirados.
Casas a até cinco quilômetros dali tremeram por causa das bombas. O céu ficou colorido por clarões laranjas.
Também era possível ouvir os disparos dos veículos de combate Bradley, enquanto outros blindados avançavam sobre os militantes, cheios de ódio e disposição, mas com poucas armas capazes de repelir esse tipo de agressão.
Em meio a todos os ruídos, destacava-se também o grito "Allahu Akbar" ("Deus é grande"), saindo dos alto-falantes da mesquita do Imã Ali, que é sagrada para os xiitas de todo o mundo.
Ainda não está claro se as tropas norte-americanas estão avançando em direção à mesquita e ao imenso cemitério vizinho. Mas o barulho dos canhões do AC-130 deixa poucas dúvidas de que essa pode ser a última chance para Al-Sadr entregar as armas e dar ordens para seu grupo debandar.
O governo interino do Iraque anunciou na quinta-feira que a milícia teria poucas horas para se render, ou do contrário enfrentaria uma ofensiva. Um comandante da milícia rejeitou categoricamente a ordem, elevando o temor de que haja uma batalha campal em Najaf.
Os insurgentes estão armados com rifles AK-47, granadas de propulsão, morteiros e pistolas, que prometem usar até a morte. Até agora, porém, eles não haviam enfrentado o poderio dos AC-130. Na madrugada de sexta-feira (fim da tarde no Brasil), a cidade de Najaf, onde vive meio milhão de pessoas, continua cercada pelos tanques dos EUA.
Blindados penetraram na direção da zona de combates, mas não se sabe se eles se aproximaram da mesquita, que está sendo vigiada por centenas de milicianos, prontos para lançarem granadas contra os norte-americanos.
Mas Al-Sadr talvez não esteja tão impressionado com essa demonstração de força dos Estados Unidos. Ele sabe que qualquer dano grave à mesquita enfureceria milhões de xiitas moderados e colocaria os EUA e seus aliados do governo interino do Iraque em situação difícil.
O governo iraquiano diz que pretende retirar Al-Sadr do local, mas que tomará cuidado para preservar a cúpula dourada da mesquita e não permitirá que os soldados dos EUA participem da invasão.
Os AC-130 foram usados pela primeira vez na Guerra do Vietnã, para destruir concentrações de tropas inimigas.
Abraço a todos
César
20/08/04 08:19
BAGDÁ (Reuters) - Nas últimas 24 horas, ao menos 77 iraquianos foram mortos e 70 ficaram feridos em confrontos na cidade sagrada de Najaf, informou na sexta-feira o Ministério da Saúde do Iraque.
Segundo ele, 13 iraquianos morreram e 107 outras pessoas ficaram feridas em Bagdá no mesmo espaço de tempo. Em Basra, uma pessoa morreu e outra está ferida.
O ministério disse que as mortes foram causadas durante combates entre milícias xiitas leais ao clérigo radical Moqtada al-Sadr e forças dos EUA e do governo iraquiano.
Seis dos mortos em Najaf eram policiais mortos após um ataque lançado por morteiro.
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Aviões dos EUA bombardeiam Najaf após "apelo final" a Al-Sadr
Por Michael Geory
NAJAF, Iraque (Reuters) - Aviões norte-americanos bombardearam na quinta-feira os arredores de uma mesquita sagrada onde uma milícia radical xiita está entrincheirada. Seu líder, Moqtada al-Sadr, ignorou uma última exigência de rendição feita pelo governo iraquiano.
Os Estados Unidos fizeram sucessivos ataques contra as posições de Al-Sadr que se agrupam dentro e em torno da mesquita do Imã Ali, o lugar mais sagrado para os xiitas no Iraque. Durante a noite, o céu de Najaf ficou iluminado por clarões brancos e laranjas, mas não ficou claro se isso marca o início da invasão prometida pelo governo.
Uma grande nuvem de fumaça se ergueu do antigo cemitério onde há duas semanas acontecem confrontos entre os homens de Al-Sadr e as tropas norte-americanas. Foram ouvidas rajadas de metralhadoras. Há blindados dos EUA na área.
"Este é um último apelo para que se desarmem, esvaziem o templo sagrado, admitam o trabalho político e considerem os interesses da pátria", disse o primeiro-ministro interino Iyad Allawi numa entrevista coletiva de madrugada.
Em uma carta atribuída a Al-Sadr, o clérigo pedia que seus combatentes entreguem o controle da mesquita às autoridades religiosas locais, mas rejeitava a exigência de desmantelar a milícia Mehdi e participar do processo político.
Mas a carta tinha um selo que não é consistente com os que apareciam em cartas anteriores de Al-Sadr.
Dentro da cidade, onde as ruas estão tomadas por cartuchos de projéteis disparados, o clima é de contestação. Um homem caminhava por uma rua próxima à mesquita levando duas granadas e xingando Allawi e as tropas apoiadas pelos EUA.
"Eles são uma piada. Que venham. Estamos esperando pela luta e todos nós queremos ser mártires, então não temos o que perder", disse o combatente Ibrahim.
Longe dali, três morteiros atingiram uma delegacia, matando sete policiais e ferindo 21, segundo as autoridades, que atribuíram o ataque à milícia Mehdi.
Em Basra (sul), testemunhas disseram que sabotadores incendiaram a sede da empresa estatal de petróleo South Oil Co.. "Não foi acidente. O fogo é enorme", disse um funcionário do local.
Aviões dos EUA também bombardearam alvos muçulmanos sunitas na cidade de Falluja, segundo testemunhas.
ATAQUE À EMBAIXADA DOS EUA
Em Bagdá, um morteiro atingiu o teto da embaixada norte-americana, na vigiadíssima Zona Verde, ferindo levemente dois funcionários, segundo um porta-voz.
Al-Sadr retomou a sua tradicional retórica desafiadora depois de passar dois dias dando sinais de que desarmaria a milícia e encerraria as duas semanas de impasse na mesquita.
Questionado sobre as exigências do governo, o xeique Ahmed Al Sheibani, importante assessor de Al-Sadr e comandante da Mehdi, disse a jornalistas: "Está muito claro que as rejeitamos."
A rebelião abala a autoridade de Allawi, mata centenas de pessoas e atinge o mercado mundial de petróleo. A cotação do barril de referência nos EUA atingiu 48,75 dólares, um novo recorde.
Allawi se disse satisfeito com os eventuais comentários conciliadores por parte de Al-Sadr e seus seguidores, mas cobrou algo concreto por escrito. Ele não quis dizer se há um prazo para que o clérigo se renda, mas autoridades de primeiro escalão disseram que é questão de horas.
Mas invadir a mesquita pode jogar o governo contra a maioria xiita da população especialmente se a ação contar com envolvimento dos 2.000 marines dos EUA que cercam o local.
O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, disse que Al-Sadr tem de cumprir as exigências do governo. "O governo iraquiano deixou claro que ele não pode ter uma lei à parte para si."
(Com reportagem de Nadim Ladki, Matthew Green e Ibon Villelabeitia em Bagdá).
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EUA fazem bombardeio violento contra reduto de Al-Sadr
Por Michael Georgy
NAJAF, Iraque (Reuters) - Os militares norte-americanos usaram um de seus aviões mais letais para bombardear posições defendidas em Najaf pelas armas leves da milícia Mehdi, do clérigo radical xiita Moqtada al-Sadr.
O inconfundível e ameaçador zumbido do bombardeiro AC-130, equipado com armas de grande velocidade e precisão, foi seguido por estrondos nos arredores da mesquita e do antigo cemitério onde os homens de Al Sadr estão entrincheirados.
Casas a até cinco quilômetros dali tremeram por causa das bombas. O céu ficou colorido por clarões laranjas.
Também era possível ouvir os disparos dos veículos de combate Bradley, enquanto outros blindados avançavam sobre os militantes, cheios de ódio e disposição, mas com poucas armas capazes de repelir esse tipo de agressão.
Em meio a todos os ruídos, destacava-se também o grito "Allahu Akbar" ("Deus é grande"), saindo dos alto-falantes da mesquita do Imã Ali, que é sagrada para os xiitas de todo o mundo.
Ainda não está claro se as tropas norte-americanas estão avançando em direção à mesquita e ao imenso cemitério vizinho. Mas o barulho dos canhões do AC-130 deixa poucas dúvidas de que essa pode ser a última chance para Al-Sadr entregar as armas e dar ordens para seu grupo debandar.
O governo interino do Iraque anunciou na quinta-feira que a milícia teria poucas horas para se render, ou do contrário enfrentaria uma ofensiva. Um comandante da milícia rejeitou categoricamente a ordem, elevando o temor de que haja uma batalha campal em Najaf.
Os insurgentes estão armados com rifles AK-47, granadas de propulsão, morteiros e pistolas, que prometem usar até a morte. Até agora, porém, eles não haviam enfrentado o poderio dos AC-130. Na madrugada de sexta-feira (fim da tarde no Brasil), a cidade de Najaf, onde vive meio milhão de pessoas, continua cercada pelos tanques dos EUA.
Blindados penetraram na direção da zona de combates, mas não se sabe se eles se aproximaram da mesquita, que está sendo vigiada por centenas de milicianos, prontos para lançarem granadas contra os norte-americanos.
Mas Al-Sadr talvez não esteja tão impressionado com essa demonstração de força dos Estados Unidos. Ele sabe que qualquer dano grave à mesquita enfureceria milhões de xiitas moderados e colocaria os EUA e seus aliados do governo interino do Iraque em situação difícil.
O governo iraquiano diz que pretende retirar Al-Sadr do local, mas que tomará cuidado para preservar a cúpula dourada da mesquita e não permitirá que os soldados dos EUA participem da invasão.
Os AC-130 foram usados pela primeira vez na Guerra do Vietnã, para destruir concentrações de tropas inimigas.
Abraço a todos
César
"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."
Antoine de Saint-Exupéry
Antoine de Saint-Exupéry
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A GUERRA NO IRAQUE VISTA POR UM MARINE BRASILEIRO.
Matéria publicada no jornal Zero Hora (Porto Alegre).
Cristiano Macedo da Silva "Nunca se está pronto para ir a uma guerra, Eu posso ensinar a uma criança tudo sobre um carro. Mas, até ela dirigir, nunca vai saber como é".
LETÍCIA SANDER
O rodízio de tropas em uma base americana em Okinawa, no Japão, salvou o brasileiro Cristiano Macedo da Silva de voltar a conviver com uma realidade que, por pouco, não lhe causou um grande trauma. É que Cristiano, 25 anos, integra o corpo de fuzileiros navais das forças armadas dos EUA. Foi enviado ao Iraque no ano passado, no auge da guerra, e assistiu "de camarote" à queda de Bagdá. Como era de se esperar, não tem nenhuma saudade dos tempos no Golfo Pérsico. E, se não fosse para o Japão, corria sério risco de ter de voltar para lá.
Por isso, os últimos meses foram tensos para o marine brasileiro, que nasceu em Cuiabá (MT), tem família no sul do Brasil e mora desde 1994 nos EUA. No início de julho, Cristiano conversou com ZH por telefone, de San Diego, na Califórnia. Poucos dias antes, recebera a confirmação da viagem para o Japão, onde passará os seis próximos meses.
- Foi um alívio - diz.
Cristiano confessa que está cansado das surpresas da vida militar. Por isso, assim que retornar do Japão, vai se desligar das forças armadas, nas quais foi parar quase por acaso. Tinha 22 anos, instalava aparelhos de ar-condicionado em Atlanta e andava insatisfeito. Queria estudar. Incentivado por um amigo, resolveu se alistar.
Cristiano vislumbrava uma vida tranqüila. Há anos que os EUA não se envolviam em uma guerra "de peso". Mas deu azar. Cursava a escola militar básica, em Parris Island, na Carolina do Sul, quando o World Trade Center foi derrubado, em Nova York. Depois do 11 de Setembro, tudo mudaria. Cristiano fez uma série de treinamentos, virou técnico de Clanf, um tipo de carro de lagarta anfíbio. Em uma sexta-feira, recebeu a notícia de que, no domingo, partiria para a guerra.
- Eu me perguntava por que raios tinha ido morar nos EUA, por que estava fazendo tudo aquilo - conta.
Convencer a família foi ainda mais difícil. O pai e a mãe não gostaram da notícia. No Brasil, parentes de Cristiano insistiam para que ele voltasse para sua terra.
Foi aí que surgiu o maior de todos os problemas. Desde que se tornou um fuzileiro, Cristiano fazia questão de ressaltar que era diferente. Era brasileiro. Nas vésperas da guerra, com toda a paranóia que envolve uma missão de risco, isso virou problema. Alguns colegas começaram a desconfiar dele. Pensavam que pudesse ser um traidor. Por que não se assumia como um americano verdadeiro, em uma hora daquelas? Cristiano chegou a ser chamado por superiores, teve de se explicar. Mas decidiu ir adiante. Em 30 de janeiro de 2003, como integrante do 3º batalhão anfíbio dos marines, embarcou rumo ao Golfo.
- Tinha de ir até o fim. Os EUA me deram uma oportunidade de vida - afirma.
Acostumado às tradições gaudérias - familiares têm uma fazenda em Lages, Santa Catarina -, Cristiano colocou na mala que levou ao Iraque lenço, bombachas e chimarrão:
- Tu não imaginas o que passa pela cabeça quando se vai para uma guerra. Podia ser a última vez que eu usaria bombachas.
Cristiano não usou as bombachas, pois não se livrou um instante sequer do uniforme militar. Mas chimarrão ele tomou. Levou 2 quilos de erva e consumiu tudo. Um dia, quase se deu mal por causa disso. Seus superiores pensaram que estivesse distribuindo drogas.
Cristiano foi para o Kuwait e, de lá, avançou quase em linha reta até Bagdá. Passou por poucas cidades, cujo nome não sabe - que lhe lembraram Correia Pinto, em Santa Catarina. Não tinha acesso a nenhuma informação e era obrigado a aceitar o jejum de notícias para a família. Em determinado momento, já não sabia mais se era sábado, domingo ou quarta-feira. A unidade de Cristiano, com cerca de 10 mil homens, foi uma das primeiras a chegar a Bagdá:
- Ouvia tiro e barulho de bomba toda hora.
Mas Cristiano nunca atirou e nem atiraram diretamente contra ele. É que, como mecânico de tanques, ficava sempre uns 15 quilômetros atrás da ponta de seu batalhão.
A preocupação era com ataque químico ou biológico
Mesmo assim, a rotina no Iraque estava longe de ser tranqüila. Acordava por volta das 5h. A primeira providência era fazer a barba. Isso porque, se fossem atacados com armas químicas e tivessem de usar máscaras antigás, o equipamento se fixaria melhor na pele barbeada. Só então Cristiano ia trabalhar. Socorria veículos atolados, recolhia motores. Comia quando dava. Dividia a noite entre vigília e sono. Durante o conflito, dormiu no máximo quatro horas consecutivas.
- A gente não sabia muito o que se passava. Quem via TV, no Brasil, estava melhor informado do que a gente, em Bagdá - conta.
A lista de proibições impostas aos soldados era grande: não podiam escrever cartas à família com informações relevantes, deveriam evitar contato com os iraquianos, não sabiam em que pé andava a guerra, quando iriam embora ou como seria o dia seguinte.
- Abala ver tanta gente morrer sem necessidade. De tanque, abríamos passagem entre gente morta - lembra.
Cristiano perdeu colegas e, até hoje, tem dificuldades de falar sobre o período em que esteve no Iraque. Até para a mãe, Kéia, os detalhes foram poupados. Voltar foi tão difícil quanto ir, admite Cristiano. Ele teve pesadelos, se sentia muito nervoso.
Evangélico, Cristiano se apoiou na religião para superar a fase. Mas admite:
- É fácil perder o controle quando se está em uma guerra. Tu nunca sabes se vai estar vivo amanhã, se vai ver a mãe, se vai tomar café de novo, ou banho.
Cristiano resolveu tocar a vida. Em novembro do ano passado, se casou com Andressa, brasileira de Londrina. Agora, só pensa em virar esta página. Já sabe até o dia em que deixará o corpo dos fuzileiros navais: 17 de junho de 2005, logo que retornar do Japão. Cristiano quer ser biólogo.
Matéria publicada no jornal Zero Hora (Porto Alegre).
Cristiano Macedo da Silva "Nunca se está pronto para ir a uma guerra, Eu posso ensinar a uma criança tudo sobre um carro. Mas, até ela dirigir, nunca vai saber como é".
LETÍCIA SANDER
O rodízio de tropas em uma base americana em Okinawa, no Japão, salvou o brasileiro Cristiano Macedo da Silva de voltar a conviver com uma realidade que, por pouco, não lhe causou um grande trauma. É que Cristiano, 25 anos, integra o corpo de fuzileiros navais das forças armadas dos EUA. Foi enviado ao Iraque no ano passado, no auge da guerra, e assistiu "de camarote" à queda de Bagdá. Como era de se esperar, não tem nenhuma saudade dos tempos no Golfo Pérsico. E, se não fosse para o Japão, corria sério risco de ter de voltar para lá.
Por isso, os últimos meses foram tensos para o marine brasileiro, que nasceu em Cuiabá (MT), tem família no sul do Brasil e mora desde 1994 nos EUA. No início de julho, Cristiano conversou com ZH por telefone, de San Diego, na Califórnia. Poucos dias antes, recebera a confirmação da viagem para o Japão, onde passará os seis próximos meses.
- Foi um alívio - diz.
Cristiano confessa que está cansado das surpresas da vida militar. Por isso, assim que retornar do Japão, vai se desligar das forças armadas, nas quais foi parar quase por acaso. Tinha 22 anos, instalava aparelhos de ar-condicionado em Atlanta e andava insatisfeito. Queria estudar. Incentivado por um amigo, resolveu se alistar.
Cristiano vislumbrava uma vida tranqüila. Há anos que os EUA não se envolviam em uma guerra "de peso". Mas deu azar. Cursava a escola militar básica, em Parris Island, na Carolina do Sul, quando o World Trade Center foi derrubado, em Nova York. Depois do 11 de Setembro, tudo mudaria. Cristiano fez uma série de treinamentos, virou técnico de Clanf, um tipo de carro de lagarta anfíbio. Em uma sexta-feira, recebeu a notícia de que, no domingo, partiria para a guerra.
- Eu me perguntava por que raios tinha ido morar nos EUA, por que estava fazendo tudo aquilo - conta.
Convencer a família foi ainda mais difícil. O pai e a mãe não gostaram da notícia. No Brasil, parentes de Cristiano insistiam para que ele voltasse para sua terra.
Foi aí que surgiu o maior de todos os problemas. Desde que se tornou um fuzileiro, Cristiano fazia questão de ressaltar que era diferente. Era brasileiro. Nas vésperas da guerra, com toda a paranóia que envolve uma missão de risco, isso virou problema. Alguns colegas começaram a desconfiar dele. Pensavam que pudesse ser um traidor. Por que não se assumia como um americano verdadeiro, em uma hora daquelas? Cristiano chegou a ser chamado por superiores, teve de se explicar. Mas decidiu ir adiante. Em 30 de janeiro de 2003, como integrante do 3º batalhão anfíbio dos marines, embarcou rumo ao Golfo.
- Tinha de ir até o fim. Os EUA me deram uma oportunidade de vida - afirma.
Acostumado às tradições gaudérias - familiares têm uma fazenda em Lages, Santa Catarina -, Cristiano colocou na mala que levou ao Iraque lenço, bombachas e chimarrão:
- Tu não imaginas o que passa pela cabeça quando se vai para uma guerra. Podia ser a última vez que eu usaria bombachas.
Cristiano não usou as bombachas, pois não se livrou um instante sequer do uniforme militar. Mas chimarrão ele tomou. Levou 2 quilos de erva e consumiu tudo. Um dia, quase se deu mal por causa disso. Seus superiores pensaram que estivesse distribuindo drogas.
Cristiano foi para o Kuwait e, de lá, avançou quase em linha reta até Bagdá. Passou por poucas cidades, cujo nome não sabe - que lhe lembraram Correia Pinto, em Santa Catarina. Não tinha acesso a nenhuma informação e era obrigado a aceitar o jejum de notícias para a família. Em determinado momento, já não sabia mais se era sábado, domingo ou quarta-feira. A unidade de Cristiano, com cerca de 10 mil homens, foi uma das primeiras a chegar a Bagdá:
- Ouvia tiro e barulho de bomba toda hora.
Mas Cristiano nunca atirou e nem atiraram diretamente contra ele. É que, como mecânico de tanques, ficava sempre uns 15 quilômetros atrás da ponta de seu batalhão.
A preocupação era com ataque químico ou biológico
Mesmo assim, a rotina no Iraque estava longe de ser tranqüila. Acordava por volta das 5h. A primeira providência era fazer a barba. Isso porque, se fossem atacados com armas químicas e tivessem de usar máscaras antigás, o equipamento se fixaria melhor na pele barbeada. Só então Cristiano ia trabalhar. Socorria veículos atolados, recolhia motores. Comia quando dava. Dividia a noite entre vigília e sono. Durante o conflito, dormiu no máximo quatro horas consecutivas.
- A gente não sabia muito o que se passava. Quem via TV, no Brasil, estava melhor informado do que a gente, em Bagdá - conta.
A lista de proibições impostas aos soldados era grande: não podiam escrever cartas à família com informações relevantes, deveriam evitar contato com os iraquianos, não sabiam em que pé andava a guerra, quando iriam embora ou como seria o dia seguinte.
- Abala ver tanta gente morrer sem necessidade. De tanque, abríamos passagem entre gente morta - lembra.
Cristiano perdeu colegas e, até hoje, tem dificuldades de falar sobre o período em que esteve no Iraque. Até para a mãe, Kéia, os detalhes foram poupados. Voltar foi tão difícil quanto ir, admite Cristiano. Ele teve pesadelos, se sentia muito nervoso.
Evangélico, Cristiano se apoiou na religião para superar a fase. Mas admite:
- É fácil perder o controle quando se está em uma guerra. Tu nunca sabes se vai estar vivo amanhã, se vai ver a mãe, se vai tomar café de novo, ou banho.
Cristiano resolveu tocar a vida. Em novembro do ano passado, se casou com Andressa, brasileira de Londrina. Agora, só pensa em virar esta página. Já sabe até o dia em que deixará o corpo dos fuzileiros navais: 17 de junho de 2005, logo que retornar do Japão. Cristiano quer ser biólogo.
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Engraçado....eu andei vendo as fotos que o Spetsnaz colocou, eu percebi que quando os rebeldes do Iraque fazem alguma bagunça com os americanos, dificilmente sai na impresnsa, eu vi um monte de Humer tudo furado de bala e deformado pelo fogo, e a gente nem fica sabendo. É como se os EUA fossem infalíveis, e nunca tivessem baixas, eles devem tentar esconder ao máximo qualquer baixa de seus soldados.
Eu acho que apesar de todo o poder Americano, eu acho que foi uma tremenda fria, essa guerra do Iraque, estão gastando uma cassetada de dinheiro, e no final a guerra não fez o menor sentido. Morreram um montão de gente, e sem motivo...esquisito né! Essas duas guerras mais recentes, no Afeganistão e Iraque, mostraram que os EUA apesar de todo o poder também erram feio, e a economia deles vai cada vez mais para o beleléu, e quem cresce escondida, comendo pelas bairadas é a China, e não o EUA. Daqui alguns anos, ao invés de comer um Mec Donaldis, talvez nossos filhos aprendam a comer de Palitinho (chinês tambem come de palitinho??), ou também aprendam a gostar de comer um gafanhoto frito, escorpião grelhado, pênis de porco ao molho, etc.... O resultado a gente vê nas Olimpíadas, onde quem investe mais no povo é quem ganha mais medalha, no caso a China. O governo Bush, foi a hera perdida para os estados unidos da américa, eles perderam prestígio pelo mundo afora, e o número e anti-eua cresce "guerra após guerra", e diferentemente da imagem construída durante a guerra fria, eles agora estão colocando fogo na sua própria imagem, e construindo uma nova, completamente indescente e odiosa. Nós estamos nos acostumando mais uma vez a ver que o mundo não é um só, e sim muitos mundos (países) que são os mais desenvolvidos. Cada guerra que é declarada pelo EUA, são trilhões e trilhões que vão para o ralo sem motivo algum, e morrem pessoas, a pobreza cresce, e quem perde são os próprios EUA, que perdem clientes de Coca cola, e amantes de cultura americana, "o jeitinho americano de viver".
Por mais que eles tentem esconder, eles estão perdendo a guerra para si próprios, estão perdendo imagem, e principalmente dinheiro.
abraços a todos
Eu acho que apesar de todo o poder Americano, eu acho que foi uma tremenda fria, essa guerra do Iraque, estão gastando uma cassetada de dinheiro, e no final a guerra não fez o menor sentido. Morreram um montão de gente, e sem motivo...esquisito né! Essas duas guerras mais recentes, no Afeganistão e Iraque, mostraram que os EUA apesar de todo o poder também erram feio, e a economia deles vai cada vez mais para o beleléu, e quem cresce escondida, comendo pelas bairadas é a China, e não o EUA. Daqui alguns anos, ao invés de comer um Mec Donaldis, talvez nossos filhos aprendam a comer de Palitinho (chinês tambem come de palitinho??), ou também aprendam a gostar de comer um gafanhoto frito, escorpião grelhado, pênis de porco ao molho, etc.... O resultado a gente vê nas Olimpíadas, onde quem investe mais no povo é quem ganha mais medalha, no caso a China. O governo Bush, foi a hera perdida para os estados unidos da américa, eles perderam prestígio pelo mundo afora, e o número e anti-eua cresce "guerra após guerra", e diferentemente da imagem construída durante a guerra fria, eles agora estão colocando fogo na sua própria imagem, e construindo uma nova, completamente indescente e odiosa. Nós estamos nos acostumando mais uma vez a ver que o mundo não é um só, e sim muitos mundos (países) que são os mais desenvolvidos. Cada guerra que é declarada pelo EUA, são trilhões e trilhões que vão para o ralo sem motivo algum, e morrem pessoas, a pobreza cresce, e quem perde são os próprios EUA, que perdem clientes de Coca cola, e amantes de cultura americana, "o jeitinho americano de viver".
Por mais que eles tentem esconder, eles estão perdendo a guerra para si próprios, estão perdendo imagem, e principalmente dinheiro.
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FANATISMO
Por Charley Reese, Monday, August 23, 2004
É fácil evitar o fanatismo se você apenas lembrar que a maioria das vezes quando nossas mentes saltam do particular para o geral, estamos cometendo um erro de raciocínio. Raciocínio indutivo, que vai de muitos, muitos particulares para o geral, não se coaduna com ir de um ou dois particulares para o geral.
Um dos piores fanáticos raciais que eu conheço é um homem do Brooklyn que foi agredido violentamente na juventude por três desordeiros negros. Em vez de reconhecer que três indivíduos desordeiros não representam o todo, ele passou sua vida odiando pessoas negras. Alguns negros, tendo passado por más experiências com alguns indivíduos brancos, passam suas vidas odiando brancos.
E isso ocorre com qualquer grupo que tenha se tornado o alvo do dia. O fanatismo é tão persistente por que é o modo preguiçoso para lidar com a complexidade. A pessoa não tem de pensar, e a maioria das pessoas acha o pensar uma tarefa difícil e nociva. É muito mais fácil aceitar os pronunciamentos de demagogos que fazer sua própria análise.
Algumas das piores pessoas na nossa sociedade, hoje estão encorajando fanatismo contra os muçulmanos. Afinal de contas, 19 muçulmanos não nos atacaram em 11 de setembro de 2001? Sim, mas um bilhão de outros muçulmanos não nos atacaram e nem perdoam ou apoiam os atacantes. O Islam não perdoa o assassinato de inocentes, o terrorismo, a tortura. Ou a guerra, exceto em auto-defesa. Nem o faz o Cristianismo, ainda assim todos sabemos que nem todos os cristão seguem as regras de sua religião, e o mesmo vale para alguns muçulmanos.
A verdade é que a raça humana inteira pode ser dividida em duas categorias - os decentes e os indecentes. Alguns de ambos estão em cada grupo étnico, racial ou religioso. Você poderia olhar o índice de homicídios na América e concluir que todos os americanos são assassinos como conclui que todos os muçulmanos são terroristas.
Um dos venenos de nossa república tem sido o desenvolvimento dos noticiários de rádio e de televisão, algumas vezes errôneamente referidos como "jornais à cabo". Algumas dessas redes de notícias tem condenado os muçulmanos por estes não terem condenado os terroristas. Isso é um ultraje injusto. Lïderes muçulmanos condenaram e condenam os terroristas, apenas suas condenações não são noticiadas pelas mesmas redes que reclamam do alegado silêncio deles.
Eu tenho alguns amigos muçulmanos, e eles não são diferentes dos cristãos. Alguns são devotos. Alguns só aparecem nos feriados. Mas eles são todos pessoas excelentes e ferozes patriotas americanos. Eu nunca ouvi ninguém condenar Osama bin Laden com linguagem mais áspera do que meus amigos palestinos, que desprezam seu alegado apoio à independência palestina. Eles estavam tão furiosos com o ataque contra os Estados Unidos que alguns deles espumavam de raiva.
Os árabes, à propósito, são uma minoria no mundo muçulmanos, e nem todos os árabes são muçulmanos. Alguns são cristãos. O Cristianismo, afinal de contas, nasceu na Margem Ocidental em Belém. Seria tão estúpido tentar estigmatizar racialmente os muçulmanos como seria tentar estigmatizar racialmente os americanos. Nós viemos em todas as formas, tamanhos e cores, e o mesmo acontece com os muçulmanos. Se você raspar sua barba e bigode, Osama poderia facilmente, passar por um americano.
Eu aprendi muito tempo atrás que se você quer conhecer alguma coisa, vá a fonte. Se você quer saber o que é o comunismo, fale com as pessoas que vivem sob ele. Se você quer saber sobre o Islam, fale com muçulmanos. A grande coisa sobre a América é que qualquer país que você deseje conhecer, você pode encontrar pessoas que nasceram lá e vivem aqui. Qualquer assunto que lhe interesse, você pode achar pessoas que o conhecem de primeira mão.
Não seja uma ovelha. Não permita que demagogos, políticos e grupos de interesses especiais apascentem você daqui para lá, de acordo com seus propósitos ocultos. Use sua biblioteca pública. Use a Internet, e reconheça que a televisão é uma fonte não-confiável, especialmente, essas redes que vivem de conversa fiada para sobreviver. Eles são entrevistadores de celebridades, não pessoas de imprensa - embora Deus saiba que o jornalismo impresso tem suas próprias culpas.
A vida é muito curta para se odiar, e a política pública é muito importante para ser baseada em ficção, imaginação e propaganda. Nós temos a capacidade de sermos seres racionais, mas só se tivermos a vontade e o desejo de aprencer como pensar com precisão. O mundo é complexo, e nenhum de nós pode se permitir parar de pensar.
É realmente melhor acender uma vela que amaldiçoar a escuridão, e é certamente melhor somar à luz da razão do que contribuir para as trevas da ignorância e do ódio.
Por Charley Reese, Monday, August 23, 2004
É fácil evitar o fanatismo se você apenas lembrar que a maioria das vezes quando nossas mentes saltam do particular para o geral, estamos cometendo um erro de raciocínio. Raciocínio indutivo, que vai de muitos, muitos particulares para o geral, não se coaduna com ir de um ou dois particulares para o geral.
Um dos piores fanáticos raciais que eu conheço é um homem do Brooklyn que foi agredido violentamente na juventude por três desordeiros negros. Em vez de reconhecer que três indivíduos desordeiros não representam o todo, ele passou sua vida odiando pessoas negras. Alguns negros, tendo passado por más experiências com alguns indivíduos brancos, passam suas vidas odiando brancos.
E isso ocorre com qualquer grupo que tenha se tornado o alvo do dia. O fanatismo é tão persistente por que é o modo preguiçoso para lidar com a complexidade. A pessoa não tem de pensar, e a maioria das pessoas acha o pensar uma tarefa difícil e nociva. É muito mais fácil aceitar os pronunciamentos de demagogos que fazer sua própria análise.
Algumas das piores pessoas na nossa sociedade, hoje estão encorajando fanatismo contra os muçulmanos. Afinal de contas, 19 muçulmanos não nos atacaram em 11 de setembro de 2001? Sim, mas um bilhão de outros muçulmanos não nos atacaram e nem perdoam ou apoiam os atacantes. O Islam não perdoa o assassinato de inocentes, o terrorismo, a tortura. Ou a guerra, exceto em auto-defesa. Nem o faz o Cristianismo, ainda assim todos sabemos que nem todos os cristão seguem as regras de sua religião, e o mesmo vale para alguns muçulmanos.
A verdade é que a raça humana inteira pode ser dividida em duas categorias - os decentes e os indecentes. Alguns de ambos estão em cada grupo étnico, racial ou religioso. Você poderia olhar o índice de homicídios na América e concluir que todos os americanos são assassinos como conclui que todos os muçulmanos são terroristas.
Um dos venenos de nossa república tem sido o desenvolvimento dos noticiários de rádio e de televisão, algumas vezes errôneamente referidos como "jornais à cabo". Algumas dessas redes de notícias tem condenado os muçulmanos por estes não terem condenado os terroristas. Isso é um ultraje injusto. Lïderes muçulmanos condenaram e condenam os terroristas, apenas suas condenações não são noticiadas pelas mesmas redes que reclamam do alegado silêncio deles.
Eu tenho alguns amigos muçulmanos, e eles não são diferentes dos cristãos. Alguns são devotos. Alguns só aparecem nos feriados. Mas eles são todos pessoas excelentes e ferozes patriotas americanos. Eu nunca ouvi ninguém condenar Osama bin Laden com linguagem mais áspera do que meus amigos palestinos, que desprezam seu alegado apoio à independência palestina. Eles estavam tão furiosos com o ataque contra os Estados Unidos que alguns deles espumavam de raiva.
Os árabes, à propósito, são uma minoria no mundo muçulmanos, e nem todos os árabes são muçulmanos. Alguns são cristãos. O Cristianismo, afinal de contas, nasceu na Margem Ocidental em Belém. Seria tão estúpido tentar estigmatizar racialmente os muçulmanos como seria tentar estigmatizar racialmente os americanos. Nós viemos em todas as formas, tamanhos e cores, e o mesmo acontece com os muçulmanos. Se você raspar sua barba e bigode, Osama poderia facilmente, passar por um americano.
Eu aprendi muito tempo atrás que se você quer conhecer alguma coisa, vá a fonte. Se você quer saber o que é o comunismo, fale com as pessoas que vivem sob ele. Se você quer saber sobre o Islam, fale com muçulmanos. A grande coisa sobre a América é que qualquer país que você deseje conhecer, você pode encontrar pessoas que nasceram lá e vivem aqui. Qualquer assunto que lhe interesse, você pode achar pessoas que o conhecem de primeira mão.
Não seja uma ovelha. Não permita que demagogos, políticos e grupos de interesses especiais apascentem você daqui para lá, de acordo com seus propósitos ocultos. Use sua biblioteca pública. Use a Internet, e reconheça que a televisão é uma fonte não-confiável, especialmente, essas redes que vivem de conversa fiada para sobreviver. Eles são entrevistadores de celebridades, não pessoas de imprensa - embora Deus saiba que o jornalismo impresso tem suas próprias culpas.
A vida é muito curta para se odiar, e a política pública é muito importante para ser baseada em ficção, imaginação e propaganda. Nós temos a capacidade de sermos seres racionais, mas só se tivermos a vontade e o desejo de aprencer como pensar com precisão. O mundo é complexo, e nenhum de nós pode se permitir parar de pensar.
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Confrontos entre EUA e rebeldes xiitas matam 34 perto de Bagdá
da Folha Online
Confrontos entre as forças americanas e os rebeldes xiitas fiéis ao líder Moqtada al Sadr em Sadr City, subúrbio de Bagdá, mataram ao menos 34 pessoas, incluindo um soldado americano, e feriram outras 193 nas últimas 24 horas, informou Saad al Amili, do Ministério da Saúde iraquiano.
A resposta americana acontece um dia após um ataque com carro-bomba matar sete marines e três homens da Guarda Nacional Iraquiana em Fallujah, 50 km oeste de Bagdá.
O clérigo radical Al Sadr e seu seguidores combatem as tropas da coalizão liderada pelos EUA em Najaf, Karbala e outras cidades do sul do Iraque. Desde que Al Sadr liderou um levante contra os EUA em abril, autoridades americanas prometem capturá-lo "vivo ou morto".
Segundo a agência de notícias Reuters, somente nesta terça-feira 22 iraquianos morreram na região. A agência cita o Ministério da Saúde confirmando 15 mortes desde às 9h (2h de Brasília) e o médico Leith Ghazi afirmando que outras sete pessoas morreram durante a madrugada.
De acordo com o capitão do Exército Brian O'Malley, o conflito em Sadr City começou quando militantes atacaram as forças americanas que realizavam patrulhas de rotina. "Nós ficamos sob fogo", afirmou.
O xeque Raed al Kadhimi, porta-voz de Al Sadr em Bagdá, culpou o que ele descreveu como incursões americanas em Sadr City. "Nossos seguidores não tem outra alternativa a não ser retornar os disparos e enfrentar as forças americanas e os helicópteros que atingem nossas casas", disse em um comunicado.
Os novos confrontos acontecem após um período de relativa calma na região. Na semana passada, Al Sadr pediu para que seus seguidores cumprissem um cessar-fogo e anunciou que entrará para a política.
No entanto, colaboradores do líder disseram que as negociações em Sadr City entre os representantes do clérigo e o governo interino iraquiano estavam atrasadas porque o governo se recusava a cumprir os pedidos para que as tropas americanas saíssem do local.
Governador
O governador de Bagdá, Ali al Haidri, escapou ileso nesta terça-feira de um atentado com carro-bomba que provocou ao menos duas vítimas em um bairro a oeste da capital iraquiana, anunciou o Ministério do Interior.
"Aconteceu uma tentativa de assassinato contra o governador de Bagdá, que saiu ileso", afirmou o coronel Adnan Abdelrahman, porta-voz do ministério. Três guarda-costas do governador também ficaram feridos no ataque.
Fallujah
Um grupo ligado ao jordaniano Abu Musab Al Zarqawi [supostamente ligado à rede terrorista Al Qaeda] colocou um comunicado na internet assumindo a responsabilidade pelas mortes dos sete marines americanos e as descrevendo como "uma operação de martírio para atingir os soldados americanos e seus colaboradores mercenários do Exército iraquiano".
"(...)Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa
inteligência, empedernidos e cruéis.
Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.(...)"
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Brasileiro escreveu:Engraçado....eu andei vendo as fotos que o Spetsnaz colocou, eu percebi que quando os rebeldes do Iraque fazem alguma bagunça com os americanos, dificilmente sai na impresnsa, eu vi um monte de Humer tudo furado de bala e deformado pelo fogo, e a gente nem fica sabendo. É como se os EUA fossem infalíveis, e nunca tivessem baixas, eles devem tentar esconder ao máximo qualquer baixa de seus soldados.
Eu acho que apesar de todo o poder Americano, eu acho que foi uma tremenda fria, essa guerra do Iraque, estão gastando uma cassetada de dinheiro, e no final a guerra não fez o menor sentido. Morreram um montão de gente, e sem motivo...esquisito né! Essas duas guerras mais recentes, no Afeganistão e Iraque, mostraram que os EUA apesar de todo o poder também erram feio, e a economia deles vai cada vez mais para o beleléu, e quem cresce escondida, comendo pelas bairadas é a China, e não o EUA. Daqui alguns anos, ao invés de comer um Mec Donaldis, talvez nossos filhos aprendam a comer de Palitinho (chinês tambem come de palitinho??), ou também aprendam a gostar de comer um gafanhoto frito, escorpião grelhado, pênis de porco ao molho, etc.... O resultado a gente vê nas Olimpíadas, onde quem investe mais no povo é quem ganha mais medalha, no caso a China. O governo Bush, foi a hera perdida para os estados unidos da américa, eles perderam prestígio pelo mundo afora, e o número e anti-eua cresce "guerra após guerra", e diferentemente da imagem construída durante a guerra fria, eles agora estão colocando fogo na sua própria imagem, e construindo uma nova, completamente indescente e odiosa. Nós estamos nos acostumando mais uma vez a ver que o mundo não é um só, e sim muitos mundos (países) que são os mais desenvolvidos. Cada guerra que é declarada pelo EUA, são trilhões e trilhões que vão para o ralo sem motivo algum, e morrem pessoas, a pobreza cresce, e quem perde são os próprios EUA, que perdem clientes de Coca cola, e amantes de cultura americana, "o jeitinho americano de viver".
Por mais que eles tentem esconder, eles estão perdendo a guerra para si próprios, estão perdendo imagem, e principalmente dinheiro.
abraços a todos
Concordo com vc na maioria, o problema do Governo do Estados Unidos é a prepotência de achar que porque tem o mais bem equipado exército do mundo saum imbativeis em guerra. Eles não conseguiram aprender com a guerra do Vietnam, e me arrisco a dizer com a Guerra do Afeganistão, que apesar de não ser mto divulgado a vida deles não andam mto bem pelo lado de lá tb não. Mais dizer que é uma guerra sem proposito eu naum concordo, é uma guerra com o proposito de obtenção de lucro, com o controle de uma grande parte do petroleo mundial. Eu espero que eles só tenham prejuizo e dessa vez aprendam a não se acharem donos do mundo. Espero que se o Senador Jonh Kerry ganhe, seja um presidente a altura da maior potencia mundial e haja como tal, e não como um ditador enfeitado de presidente.
Outra parte que não concordo com vc(apesar de ser irrelevante) é que a China tem crescido "pelas beiradas", um país que tem o maior crescimento de alguns anos para cá não tem como crescer pelas beiradas, e com certeza o EUA já se sentem incomodados e ameaçados pela China, vc lembrou bem qndo falou da Olimpiadas.
Não estou dizendo que meu ponto de vista pe certo, é apenas meu ponto de vista.
Abraços
"(...)Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa
inteligência, empedernidos e cruéis.
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IRAQUE SOB TUTELA - Só desastre "livra" EUA do Iraque, diz Hersh.
Folha de São Paulo, 19 de setembro, 2004
LUCIANA COELHO de Nova York
Os EUA estão presos em uma fantasia neoconservadora, e, por mais irônico que isso possa soar, apenas uma guerra civil no Iraque conseguirá libertá-los dali.
O diagnóstico é do jornalista Seymour Hersh, ícone da reportagem investigativa americana que detalhou, em abril, os horrores ocorridos na prisão iraquiana de Abu Ghraib. Foi o texto ácido de Hersh para a revista "New Yorker" que deu a dimensão da tortura e da humilhação sexual de prisioneiros iraquianos por militares dos EUA, ilustradas em fotos dos próprios soldados.
Premiado com o Pulitzer por sua cobertura do massacre americano em My Lai (1968), na Guerra do Vietnã, Hersh expõe em seu novo livro, "Cadeia de Comando", suas investigações sobre as torturas e todo o contexto político que possibilitou os abusos.
"Não há nada mais perigoso do que idealistas com poder de guerra nas mãos e completamente errados sobre o mundo", afirma.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista à Folha.
Folha - Até que nível vai a cadeia de comando envolvendo as torturas ocorridas em Abu Ghraib?
Seymour Hersh - Se o que você quer saber é se [o secretário da Defesa] Donald Rumsfeld ou o vice-presidente [Dick Cheney] ou o presidente [George W. Bush] sabiam de algo sobre Abu Ghraib, a resposta é não. Não há razão para alguém em pleno juízo permitir aquilo. Mas, se você está falando das condições, da idéia de que a Casa Branca sabia que havia algo de errado com o tratamento dos prisioneiros e não fez nada para impedir, aí vai lá em cima.
O problema é que as pessoas lá em cima têm um modo errado de pensar. Um dos problemas que nós jornalistas nos EUA temos é que a Casa Branca tem suas próprias definições. Num documento da Casa Branca, um advogado do Departamento da Justiça diz que, se você machucar alguém num interrogatório a ponto de quebrar um membro ou até matar a pessoa, isso não será considerado tortura caso sua intenção seja proteger a segurança nacional. Eles é que definem tortura. Eles têm suas próprias palavras para descrever o que fazem.
Folha - Como o sr. chegou até a história de Abu Ghraib?
Hersh - A [rede de TV] CBS conseguiu as fotos, e eu fiquei sabendo. Fiquei feliz, porque era uma história importante. Só que a reportagem não aparecia. Então alguém em contato com a CBS me disse que eles estavam sob pressão, e eu comecei a investigar.
Logo descobri não só as fotos, mas também o primeiro relatório do general [Antonio] Taguba, que é uma coisa fantástica, pois foi escrito para nunca vir a público. Ele diz logo de cara que tudo começou no Afeganistão. É um relatório interno, cheio de julgamentos contundentes. O ponto é que Taguba vê o que houve em Abu Ghraib como um problema institucional, e não como sete meninos levados aprontando.
Foi só muito depois que outros relatórios disseram que a inteligência "podia" estar envolvida. Mas a verdadeira história é que ninguém, nem nenhum dos relatórios, tratou da cadeia de comando. Ninguém chegou a Rumsfeld ou à Casa Branca.
Folha - O sr. acredita que o caso esteja sendo realmente investigado, como prometido, ou esse processo visa só o baixo escalão?
Hersh - Visa o baixo escalão, a realidade é sempre essa com os militares. Quando eu escrevi sobre My Lai, só um tenente foi para a cadeia. Havia 500 pessoas mortas, e generais por perto. Isso é institucional. Quando me perguntam se estão acobertando alguém, se Donald Rumsfeld pediu para ficar de fora do processo, a resposta é não. Porque ele não precisa fazer isso, ninguém vai investigá-lo.
Folha - O sr. citou o Vietnã, onde esteve. Quanto falta para Iraque se tornar um Vietnã?
Hersh - Na verdade acho que o Iraque está muito pior, embora para os americanos seja difícil entender isso, já que 68 mil meninos americanos morreram no Vietnã e mil no Iraque. Lá a guerra toda foi um erro colossal, mas era uma área em que entramos e perdemos sem nenhuma conseqüência negativa para os EUA.
Dois anos depois da guerra, o novo governo vietnamita estava nos pedindo para montar uma embaixada e fazer negócios, porque é uma cultura onde o que acabou fica para trás.
No Iraque não. Nós começamos uma coisa no Oriente Médio que será uma guerra estratégica. Fomos à guerra contra o islã. É por isso que Abu Ghraib é tão importante, porque mesmo nossos melhores amigos no mundo islâmico, gente que faz negócio conosco e manda seus filhos para nossas escolas, estão se perguntando "que tipo de país é esse, onde pegam homens e os expõem em fotografias homossexuais"?
Folha - O escândalo de Abu Ghraib foi pior do que ir à guerra sem provas e legitimidade?
Hersh - É a conseqüência de ir à guerra quando não devíamos.
Folha - Se Bush for reeleito, a Doutrina Bush será endurecida?
Hersh - Com certeza. Eu sou contra a reeleição. Acho que ele foi um desastre na Presidência. Mas, neste momento, parece que ele vai ser reeleito. Acho que o único jeito de nos livrarmos dessa gente, desses neoconservadores, é ter uma tragédia colossal, e estamos perto disso no Iraque.
Folha - O sr. acha que a imprensa americana se perdeu na cobertura desses fatos? Afinal, chegou-se a um ponto em que havia jornais do porte de um "New York Times" fazendo mea-culpa...
Hersh - Eu trabalhei muito tempo para o "New York Times" e acho que todos os jornais se perderam. Uma das coisas que esse governo fez foi assustar os jornais. Nos últimos três anos eu tenho escrito reportagens muito críticas sobre essa guerra [contra o terror], e elas sempre são ignoradas. Mesmo agora quando estou aparecendo na TV por causa do livro. É difícil os repórteres escreverem.
Uma das coisas que conto é que há unidades secretas montadas por Rumsfeld sumindo com pessoas pelo mundo, como acontecia na Argentina e no Brasil durante as ditaduras. Isso está acontecendo agora em vários lugares, mas meus colegas ignoram.
Folha - A imprensa americana deixou passar coisas como o caso de Ahmed Chalabi, empresário iraquiano que serviu de fonte do governo dos EUA e de vários jornais cujos relatos se provaram falsos. O que aconteceu?
Hersh - Sou cauteloso ao criticar a imprensa, porque parece que estou me gabando. Mas eu fiz o livro e vem a Casa Branca e põe gente para dizer na imprensa que ele tem como base fontes anônimas. Tem, e daí? Qual é o ponto? Eu não entendo a imprensa.
Folha - O sr. acha que, após o escândalo, a cobertura melhorou?
Hersh - Não está tão bom, mas melhorou um pouquinho no geral, porque agora as coisas estão ficando difíceis. A guerra foi obviamente um desastre, e pode haver uma guerra civil no Iraque.
Você está fazendo uma pergunta essencial mais uma vez, mas neste caso sua opinião vale tanto quanto a minha. A questão é como essa gente, esse pessoal neoconservador, utópicos irracionais que acham que a democracia é imposta, como eles passam a controlar a situação? Como eles derrotam não só a imprensa, mas também calam os militares e o Congresso? É por causa do medo. O 11 de Setembro e o medo. Em vez de dizer que não há o que temer, o governo Bush fica manipulando esse medo, alimentando.
Folha - Não estamos chegando a um ponto em que as pessoas começam a se cansar dessa retórica?
Hersh - Acho que, neste momento, Bush fez o suficiente para ganhar a eleição. Depois, acho que teremos de ter um desastre no Iraque, e aí as coisas poderão mudar.
Folha - Guerra civil?
Hersh - Sim, eu estou extremamente pessimista. Como você acha que eu me sinto? Eu estou cansado desse sujeito. Vou ter de fazer mais quatro anos de reportagens sobre ele, e eu quero voltar para o mundo real e parar de escrever sobre isso. Há outras coisas que eu quero fazer. Mas não. Agora tem essa história das italianas seqüestradas, há rumores de que o próprio governo iraquiano as teria seqüestrado para que a insurgência pareça pior... Não há como alguém como [o premiê] Iyad Allawi governar o Iraque.
Folha - O sr. acredita que o governo americano realmente esperava que alguém que trabalhou para a CIA, como Allawi, gozasse da confiança dos iraquianos?
Hersh - Sim, eles esperavam. Isso é o mais impressionante. Estamos vivendo em uma fantasia e chegamos a um beco do qual não podemos sair. O que vamos fazer? Bombardear tudo?
Folha - Eles ainda crêem estar fazendo o melhor para os EUA?
Hersh - Claro, isso é óbvio. Eles deliram. Eles não foram para o Iraque por causa de petróleo ou de Israel. Eles foram porque são utópicos. Você pode chamá-los de idealistas, mas não há nada mais perigoso do que idealistas com poder e guerra nas mãos e completamente errados sobre o mundo.
Eles achavam que podiam invadir o país com 5.000 soldados e as forças especiais, jogar umas bombas, fincar umas bandeiras americanas e Saddam Hussein ia sair correndo e a democracia ia brotar como água do chão. E eles acreditavam nisso. Existe algo mais perigoso do que gente que não entende o mundo?
Folha de São Paulo, 19 de setembro, 2004
LUCIANA COELHO de Nova York
Os EUA estão presos em uma fantasia neoconservadora, e, por mais irônico que isso possa soar, apenas uma guerra civil no Iraque conseguirá libertá-los dali.
O diagnóstico é do jornalista Seymour Hersh, ícone da reportagem investigativa americana que detalhou, em abril, os horrores ocorridos na prisão iraquiana de Abu Ghraib. Foi o texto ácido de Hersh para a revista "New Yorker" que deu a dimensão da tortura e da humilhação sexual de prisioneiros iraquianos por militares dos EUA, ilustradas em fotos dos próprios soldados.
Premiado com o Pulitzer por sua cobertura do massacre americano em My Lai (1968), na Guerra do Vietnã, Hersh expõe em seu novo livro, "Cadeia de Comando", suas investigações sobre as torturas e todo o contexto político que possibilitou os abusos.
"Não há nada mais perigoso do que idealistas com poder de guerra nas mãos e completamente errados sobre o mundo", afirma.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista à Folha.
Folha - Até que nível vai a cadeia de comando envolvendo as torturas ocorridas em Abu Ghraib?
Seymour Hersh - Se o que você quer saber é se [o secretário da Defesa] Donald Rumsfeld ou o vice-presidente [Dick Cheney] ou o presidente [George W. Bush] sabiam de algo sobre Abu Ghraib, a resposta é não. Não há razão para alguém em pleno juízo permitir aquilo. Mas, se você está falando das condições, da idéia de que a Casa Branca sabia que havia algo de errado com o tratamento dos prisioneiros e não fez nada para impedir, aí vai lá em cima.
O problema é que as pessoas lá em cima têm um modo errado de pensar. Um dos problemas que nós jornalistas nos EUA temos é que a Casa Branca tem suas próprias definições. Num documento da Casa Branca, um advogado do Departamento da Justiça diz que, se você machucar alguém num interrogatório a ponto de quebrar um membro ou até matar a pessoa, isso não será considerado tortura caso sua intenção seja proteger a segurança nacional. Eles é que definem tortura. Eles têm suas próprias palavras para descrever o que fazem.
Folha - Como o sr. chegou até a história de Abu Ghraib?
Hersh - A [rede de TV] CBS conseguiu as fotos, e eu fiquei sabendo. Fiquei feliz, porque era uma história importante. Só que a reportagem não aparecia. Então alguém em contato com a CBS me disse que eles estavam sob pressão, e eu comecei a investigar.
Logo descobri não só as fotos, mas também o primeiro relatório do general [Antonio] Taguba, que é uma coisa fantástica, pois foi escrito para nunca vir a público. Ele diz logo de cara que tudo começou no Afeganistão. É um relatório interno, cheio de julgamentos contundentes. O ponto é que Taguba vê o que houve em Abu Ghraib como um problema institucional, e não como sete meninos levados aprontando.
Foi só muito depois que outros relatórios disseram que a inteligência "podia" estar envolvida. Mas a verdadeira história é que ninguém, nem nenhum dos relatórios, tratou da cadeia de comando. Ninguém chegou a Rumsfeld ou à Casa Branca.
Folha - O sr. acredita que o caso esteja sendo realmente investigado, como prometido, ou esse processo visa só o baixo escalão?
Hersh - Visa o baixo escalão, a realidade é sempre essa com os militares. Quando eu escrevi sobre My Lai, só um tenente foi para a cadeia. Havia 500 pessoas mortas, e generais por perto. Isso é institucional. Quando me perguntam se estão acobertando alguém, se Donald Rumsfeld pediu para ficar de fora do processo, a resposta é não. Porque ele não precisa fazer isso, ninguém vai investigá-lo.
Folha - O sr. citou o Vietnã, onde esteve. Quanto falta para Iraque se tornar um Vietnã?
Hersh - Na verdade acho que o Iraque está muito pior, embora para os americanos seja difícil entender isso, já que 68 mil meninos americanos morreram no Vietnã e mil no Iraque. Lá a guerra toda foi um erro colossal, mas era uma área em que entramos e perdemos sem nenhuma conseqüência negativa para os EUA.
Dois anos depois da guerra, o novo governo vietnamita estava nos pedindo para montar uma embaixada e fazer negócios, porque é uma cultura onde o que acabou fica para trás.
No Iraque não. Nós começamos uma coisa no Oriente Médio que será uma guerra estratégica. Fomos à guerra contra o islã. É por isso que Abu Ghraib é tão importante, porque mesmo nossos melhores amigos no mundo islâmico, gente que faz negócio conosco e manda seus filhos para nossas escolas, estão se perguntando "que tipo de país é esse, onde pegam homens e os expõem em fotografias homossexuais"?
Folha - O escândalo de Abu Ghraib foi pior do que ir à guerra sem provas e legitimidade?
Hersh - É a conseqüência de ir à guerra quando não devíamos.
Folha - Se Bush for reeleito, a Doutrina Bush será endurecida?
Hersh - Com certeza. Eu sou contra a reeleição. Acho que ele foi um desastre na Presidência. Mas, neste momento, parece que ele vai ser reeleito. Acho que o único jeito de nos livrarmos dessa gente, desses neoconservadores, é ter uma tragédia colossal, e estamos perto disso no Iraque.
Folha - O sr. acha que a imprensa americana se perdeu na cobertura desses fatos? Afinal, chegou-se a um ponto em que havia jornais do porte de um "New York Times" fazendo mea-culpa...
Hersh - Eu trabalhei muito tempo para o "New York Times" e acho que todos os jornais se perderam. Uma das coisas que esse governo fez foi assustar os jornais. Nos últimos três anos eu tenho escrito reportagens muito críticas sobre essa guerra [contra o terror], e elas sempre são ignoradas. Mesmo agora quando estou aparecendo na TV por causa do livro. É difícil os repórteres escreverem.
Uma das coisas que conto é que há unidades secretas montadas por Rumsfeld sumindo com pessoas pelo mundo, como acontecia na Argentina e no Brasil durante as ditaduras. Isso está acontecendo agora em vários lugares, mas meus colegas ignoram.
Folha - A imprensa americana deixou passar coisas como o caso de Ahmed Chalabi, empresário iraquiano que serviu de fonte do governo dos EUA e de vários jornais cujos relatos se provaram falsos. O que aconteceu?
Hersh - Sou cauteloso ao criticar a imprensa, porque parece que estou me gabando. Mas eu fiz o livro e vem a Casa Branca e põe gente para dizer na imprensa que ele tem como base fontes anônimas. Tem, e daí? Qual é o ponto? Eu não entendo a imprensa.
Folha - O sr. acha que, após o escândalo, a cobertura melhorou?
Hersh - Não está tão bom, mas melhorou um pouquinho no geral, porque agora as coisas estão ficando difíceis. A guerra foi obviamente um desastre, e pode haver uma guerra civil no Iraque.
Você está fazendo uma pergunta essencial mais uma vez, mas neste caso sua opinião vale tanto quanto a minha. A questão é como essa gente, esse pessoal neoconservador, utópicos irracionais que acham que a democracia é imposta, como eles passam a controlar a situação? Como eles derrotam não só a imprensa, mas também calam os militares e o Congresso? É por causa do medo. O 11 de Setembro e o medo. Em vez de dizer que não há o que temer, o governo Bush fica manipulando esse medo, alimentando.
Folha - Não estamos chegando a um ponto em que as pessoas começam a se cansar dessa retórica?
Hersh - Acho que, neste momento, Bush fez o suficiente para ganhar a eleição. Depois, acho que teremos de ter um desastre no Iraque, e aí as coisas poderão mudar.
Folha - Guerra civil?
Hersh - Sim, eu estou extremamente pessimista. Como você acha que eu me sinto? Eu estou cansado desse sujeito. Vou ter de fazer mais quatro anos de reportagens sobre ele, e eu quero voltar para o mundo real e parar de escrever sobre isso. Há outras coisas que eu quero fazer. Mas não. Agora tem essa história das italianas seqüestradas, há rumores de que o próprio governo iraquiano as teria seqüestrado para que a insurgência pareça pior... Não há como alguém como [o premiê] Iyad Allawi governar o Iraque.
Folha - O sr. acredita que o governo americano realmente esperava que alguém que trabalhou para a CIA, como Allawi, gozasse da confiança dos iraquianos?
Hersh - Sim, eles esperavam. Isso é o mais impressionante. Estamos vivendo em uma fantasia e chegamos a um beco do qual não podemos sair. O que vamos fazer? Bombardear tudo?
Folha - Eles ainda crêem estar fazendo o melhor para os EUA?
Hersh - Claro, isso é óbvio. Eles deliram. Eles não foram para o Iraque por causa de petróleo ou de Israel. Eles foram porque são utópicos. Você pode chamá-los de idealistas, mas não há nada mais perigoso do que idealistas com poder e guerra nas mãos e completamente errados sobre o mundo.
Eles achavam que podiam invadir o país com 5.000 soldados e as forças especiais, jogar umas bombas, fincar umas bandeiras americanas e Saddam Hussein ia sair correndo e a democracia ia brotar como água do chão. E eles acreditavam nisso. Existe algo mais perigoso do que gente que não entende o mundo?
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SEYMOUR HERSH, O Vietnã de Bush - No Iraque, o repórter que denunciou o massacre de My Lai revela os podres da guerra dos Estados Unidos contra o terror.
Marcelo Musa Cavallari - Época, 20 de setembro, 2004.
Em 1969 Seymour Hersh tinha 32 anos e era um repórter freelance. Em parte por causa da pouca idade e em parte por não pertencer a nenhum grande grupo de comunicação dos Estados Unidos, sua reportagem sobre soldados americanos destruindo deliberadamente uma aldeia vietnamita onde só havia velhos, mulheres e crianças foi recebida com desconfiança. Em pouco tempo, porém, todos os grandes jornais do país corriam atrás da história escabrosa de My Lai que Hersh havia descoberto. Hoje, 35 anos depois de My Lai, Hersh está novamente na vanguarda. Ele foi um dos primeiros a denunciar maus-tratos de prisioneiros na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, por soldados americanos. Na verdade, as fotos que chocaram o mundo estavam nas mãos da CBS havia meses, mas a rede de TV tinha acertado com o governo americano não publicá-las para não prejudicar o esforço de guerra. Foi só quando souberam que Hersh tinha a história que os diretores da CBS puseram as imagens no ar. Sabiam que Hersh não é de esconder suas descobertas para proteger algum governo. Para Hersh, os abusos de Abu Ghraib não são fatos isolados. Decorrem das decisões de uma cadeia de comando, título do livro que acaba de publicar no Brasil (Cadeia de Comando, Seymor Hersh, Ediouro, 398 págs. R$ 38 ), que não tem uma estratégia para estabelecer a paz no Iraque e no Afeganistão. Por telefone, Hersh falou a ÉPOCA.
ÉPOCA - É possível comparar My Lai a Abu Ghraib?
Seymour Hersh - Não há nada como My Lai. No massacre de My Lai, houve soldados americanos matando um punhado de pessoas inocentes. Eles pensaram que iam lutar contra o inimigo, mas não havia inimigo algum, só mulheres, crianças e velhos. Então, começaram a executá-los com uma fúria nunca vista. Num certo momento eles pararam, tiraram suas rações das mochilas, almoçaram e recomeçaram a atirar. Nesse nível, nunca houve nada como My Lai na história americana (1). Mas a importância de Abu Ghraib é tão grande quanto a de My Lai. A repercussão, a reação internacional ao que ocorreu em Abu Ghraib é, em todos os sentidos, tão importante quanto a de My Lai. Mais especificamente no mundo árabe, no mundo muçulmano, o efeito das imagens de Abu Ghraib foi devastador. Nos países árabes e islâmicos há muita gente que, apesar das complicações e dificuldades que a administração Bush representa, gosta da América, visita a América, tem filhos nas escolas aqui. Eles agora vêem os americanos como sexualmente pervertidos. Para os muçulmanos, homens serem mostrados assim - nus, simulando atos homossexuais, com mulheres ao redor fazendo sinal de positivo e ou negativo, apontando para os órgãos sexuais deles -, tudo isso é o cúmulo. É a coisa mais chocante e mais degradante que pode haver no mundo deles.
ÉPOCA - E, como jornalista, qual das duas histórias o senhor preferiu cobrir?
Hersh - Eu amo todos os meus filhos. My Lai foi muito importante porque foi a primeira história que me destacou. Também ganhei algum dinheiro, o que é algo considerável em nossa profissão. Mas Abu Ghraib, embora muito triste, foi uma história muito satisfatória, porque atinge uma administração que tem sido tão hábil em enganar e manter sob controle as coisas. Eu recebi muitas cartas que diziam ''Graças a Deus, pela primeira emenda da Constituição americana, estou contente pela liberdade de expressão na América''. É um lembrete de que a imprensa pode cumprir um papel. E também de que a imprensa não tem feito um trabalho muito bom.
ÉPOCA - Os abusos em Abu Ghraib foram um desvio de comportamento em um Exército geralmente correto e civilizado?
Hersh - Não. Acho que a razão de ser de meu livro é a pergunta: ''O que está acontecendo?''. No verão de 2002 alguém da CIA foi para a prisão na base de Guantánamo, em Cuba, estabelecida como centro de detenção para membros da Al Qaeda, e voltou com um relatório que dá nojo: estávamos prendendo as pessoas erradas, não estávamos obtendo as informações que queríamos. E essa pessoa também disse a seus colegas que havia evidências muito ruins sobre a coerção exercida sobre os prisioneiros e ele se sentia muito preocupado com isso. Ou seja, o governo foi posto a par desses fatos muito cedo. Algo como 15 meses antes do aparecimento das fotos de Abu Ghraib. E num nível muito alto. A assessora especial de Segurança, Condollezza Rice, convocou o secretário de Segurança, Donald Rumsfeld, para uma reunião. Rumsfeld ficou sabendo da existência de alegações sérias sobre violações à Convenção de Genebra, e não fez nada. Isso abalou muita gente dentro do governo. O pessoal das Forças Armadas estava muito preocupado. Isso porque um oficial das Forças Armadas acredita numa coisa: a maneira como você trata seus prisioneiros determina a maneira como seus homens feitos prisioneiros pelo outro lado serão tratados.
ÉPOCA - Depois do escândalo as coisas se corrigiram em Abu Ghraib?
Hersh - Acho que estão bem melhores, eles soltaram um monte de prisioneiros. Um dos grandes problemas é que a maior parte das pessoas, algo como 60% ou 70% segundo a Human Rights Watch, não tinha nada a ver com as atividades antiamericanas. Eram pegos em todo o Iraque por variados motivos e levados para a prisão.
ÉPOCA - E em Guantánamo?
Hersh - Eu não sei. De qualquer forma as coisas nunca foram tão ruins em Guantánamo quanto em Abu Ghraib. Foram ruins, mas nunca aconteceu o que foi flagrado nas imagens.
ÉPOCA - O que o senhor sabe sobre as alegações de que americanos assessoraram os torturadores no Brasil e nos demais países da América Latina durante os regimes militares?
Hersh - Bem, o que eu sei é que os EUA prepararam manuais sobre como conduzir interrogatórios que sugeriam medidas bastante brutais, como despir as pessoas, amarrá-las e coisas assim. Mas especificamente houve muitas denúncias de gente sendo treinada na Escola das Américas, no Panamá. Há também muitas histórias sobre a CIA estar envolvida em esquadrões da morte na guerra suja. O que posso dizer é que houve muitas alegações bastante sérias, que até hoje não foram completamente exploradas.
ÉPOCA - Parece que esse tipo de comportamento é muito antigo e a única novidade são as câmaras digitais.
Hersh - É exatamente isso. Essa é a coisa importante sobre Abu Ghraib. Começou em setembro de 2002. Por que começou? Porque em agosto a ONU foi atingida, a Embaixada da Jordânia foi atingida, usinas elétricas foram atingidas e percebeu-se que o que estava ocorrendo no Iraque era poderoso e politicamente perigoso para as eleições presidenciais. Então se decidiu que era preciso lutar contra a insurgência e não havia nenhum jeito de penetrar nela. Foi por isso que as coisas começaram a piorar e os prisioneiros pararam de ser tratados humanamente. Pessoas envolvidas com interrogatórios com quem eu falei dizem que a melhor coisa a usar não é a força. É estabelecer algum tipo de relação, é mostrar que você é um cara bom. Mas eles escolheram usar a força para aumentar a pressão no Iraque. E isso vai até a cadeia de comando. Eles decidiram que iam ser duros e isso continuou até os garotos começarem a passar suas fotos.
ÉPOCA - E o que se pode dizer sobre o argumento de que é preciso uma nova forma de lutar contra o terrorismo, já que se trata de uma guerra não-convencional?
Hersh - Os EUA estão jogando xadrez e as pessoas contra quem estamos lutando estão jogando go (jogo japonês). Nós estamos jogando um jogo muito direto e definido e eles estão jogando algo muito complicado. Agora nós temos uma guerra civil ocorrendo no Iraque. Prometemos democracia para os xiitas, e não está dando certo, porque não queremos admitir que a concepção xiita de uma república é uma teocracia. Estamos agora tentando criar uma esfera política, mas o primeiro-ministro, Iyad Allawi, é um ex-oficial de inteligência de Saddam. Isso é inaceitável. Nós não teremos paz assim. Não há estratégia para sair do Iraque.
ÉPOCA - As guerras, tanto no Afeganistão quanto no Iraque, deveriam ter sido evitadas?
Hersh - Bem, é muito fácil dizer isso agora. Mas na época havia razões políticas. O presidente George W. Bush tinha uma opção. Muitos do Taleban não gostavam de Osama Bin Laden. O presidente poderia ter agido junto com eles em vez de começar a bombardeá-los todos. Mas nós decidimos que queríamos vingança. E agora temos uma guerra de guerrilha no Afeganistão, e não está nada claro quem vai vencer. Não está claro se o presidente interino, Hamid Karzai, ganhará as eleições, não está claro se vai mesmo haver eleições e, mesmo que haja, não está claro se serão eleições legítimas. Nós dizemos que estamos levando a democracia, mas estamos é levando o caos.
ÉPOCA - Mas em certo sentido um mundo sem Saddam Hussein, ou o Taleban, é um mundo melhor?
Hersh - Bem, diga isso aos mil garotos americanos que morreram no Iraque e às dezenas de milhares de iraquianos que morreram e aos milhares de iraquianos e americanos feridos. Eu não acho que eles vão concordar. E estou falando de Saddam sem armas. Se o Congresso americano soubesse que ele não tinha armas de destruição em massa, jamais teria dado autorização para a guerra.
ÉPOCA - O senhor acha que Bush mentiu deliberadamente?
Hersh - Não, não. Seria muito melhor que fosse isso. Nós poderíamos dizer ''É um bando de mentirosos'' e nos livraríamos deles rapidamente. Não, o pior é que ele acredita no que está fazendo. Ele e todo o seu gabinete. Eles acreditavam sinceramente que podiam tirar Saddam Hussein do poder à força e que, depois, a democracia iria fluir como água da torneira. Eles não fizeram isso por petróleo, eles não fizeram isso por algum interesse escuso. Isso é o pior, são líderes agindo por um idealismo que não tem nenhum contato com a realidade. E eles ainda acreditam nisso. Por isso, Bush pode estar tão calmo e aparecer na convenção republicana dizendo que estamos vencendo a guerra. Eles acreditam que toda a violência no Iraque é apenas um passo do caminho e que aquilo tudo da democratização do mundo árabe ainda vai acontecer.
ÉPOCA - E o povo americano parece acreditar nele.
Hersh - É verdade. Mas isso é porque o democrata John Kerry é um candidato tão ruim que não conseguiu convencer ninguém de que tem um plano.
ÉPOCA - O senhor concorda com as pessoas que dizem que Bush está tentando voltar a padrões de sigilo sobre a Presidência que foram derrubados com o escândalo de Watergate?
Hersh - Sim. Com certeza. Bush fechou o governo ao escrutínio da imprensa como nunca antes. Mas ainda somos uma democracia. Ninguém pode prender ninguém nem impedir uma história de ser publicada.
ÉPOCA - O senhor sofreu algum tipo de represália por causa das matérias que escreveu?
Hersh - Não, propriamente. A única coisa é que pessoas do governo Bush não falam comigo, como pessoas do governo Reagan e do governo do pai de Bush não falavam. Eu sou um renegado. Mas me considero um americano tão leal quanto um general de quatro estrelas. Usar da liberdade de expressão e denunciar abusos do poder é tão leal ao país quanto defendê-lo em uma guerra legítima.
ÉPOCA - O que Leo Strauss tem a ver com tudo isso?
Hersh - Muita coisa. Leo Strauss era um filósofo político que acreditava numa elite de iluminados capazes de tomar as decisões em nome da sociedade. As pessoas comuns não seriam aptas a compreender as decisões do governo e por isso não deveriam ser informadas de tudo o que o governo faz. Há vários membros da administração Bush ligados às idéias de Leo Strauss, como Paul Wolfowitz e os denominados neoconservadores. É uma seita.
ÉPOCA - O que o senhor pensa que serve de motivação para suas fontes lhe contarem as histórias que o governo gostaria de esconder?
Hersh - Não há nenhuma dúvida de que se trata de escrever uma história alternativa da guerra. Há pessoas em escalões muito elevados que me dão informações pois discordam das políticas. São pessoas que estão assustadas. Elas têm mulheres, filhos, uma hipoteca para pagar. Não querem perder o emprego, mas querem que eu saiba. E isso é o que tenho feito desde o 11 de setembro, tenho escrito uma história alternativa.
------------------------------------
(1): Bom sujeito esse. Uma pena que não conheça melhor a história de seu próprio país. Caso contrário, já teria ouvido falar em Sandy Creek; Washita; Wounded Knee e vários outros lugares onde bons soldados americanos, tementes a Deus, exterminaram cheyennes, dakotas e várias outras tribos indígenas.
Marcelo Musa Cavallari - Época, 20 de setembro, 2004.
Em 1969 Seymour Hersh tinha 32 anos e era um repórter freelance. Em parte por causa da pouca idade e em parte por não pertencer a nenhum grande grupo de comunicação dos Estados Unidos, sua reportagem sobre soldados americanos destruindo deliberadamente uma aldeia vietnamita onde só havia velhos, mulheres e crianças foi recebida com desconfiança. Em pouco tempo, porém, todos os grandes jornais do país corriam atrás da história escabrosa de My Lai que Hersh havia descoberto. Hoje, 35 anos depois de My Lai, Hersh está novamente na vanguarda. Ele foi um dos primeiros a denunciar maus-tratos de prisioneiros na prisão de Abu Ghraib, no Iraque, por soldados americanos. Na verdade, as fotos que chocaram o mundo estavam nas mãos da CBS havia meses, mas a rede de TV tinha acertado com o governo americano não publicá-las para não prejudicar o esforço de guerra. Foi só quando souberam que Hersh tinha a história que os diretores da CBS puseram as imagens no ar. Sabiam que Hersh não é de esconder suas descobertas para proteger algum governo. Para Hersh, os abusos de Abu Ghraib não são fatos isolados. Decorrem das decisões de uma cadeia de comando, título do livro que acaba de publicar no Brasil (Cadeia de Comando, Seymor Hersh, Ediouro, 398 págs. R$ 38 ), que não tem uma estratégia para estabelecer a paz no Iraque e no Afeganistão. Por telefone, Hersh falou a ÉPOCA.
ÉPOCA - É possível comparar My Lai a Abu Ghraib?
Seymour Hersh - Não há nada como My Lai. No massacre de My Lai, houve soldados americanos matando um punhado de pessoas inocentes. Eles pensaram que iam lutar contra o inimigo, mas não havia inimigo algum, só mulheres, crianças e velhos. Então, começaram a executá-los com uma fúria nunca vista. Num certo momento eles pararam, tiraram suas rações das mochilas, almoçaram e recomeçaram a atirar. Nesse nível, nunca houve nada como My Lai na história americana (1). Mas a importância de Abu Ghraib é tão grande quanto a de My Lai. A repercussão, a reação internacional ao que ocorreu em Abu Ghraib é, em todos os sentidos, tão importante quanto a de My Lai. Mais especificamente no mundo árabe, no mundo muçulmano, o efeito das imagens de Abu Ghraib foi devastador. Nos países árabes e islâmicos há muita gente que, apesar das complicações e dificuldades que a administração Bush representa, gosta da América, visita a América, tem filhos nas escolas aqui. Eles agora vêem os americanos como sexualmente pervertidos. Para os muçulmanos, homens serem mostrados assim - nus, simulando atos homossexuais, com mulheres ao redor fazendo sinal de positivo e ou negativo, apontando para os órgãos sexuais deles -, tudo isso é o cúmulo. É a coisa mais chocante e mais degradante que pode haver no mundo deles.
ÉPOCA - E, como jornalista, qual das duas histórias o senhor preferiu cobrir?
Hersh - Eu amo todos os meus filhos. My Lai foi muito importante porque foi a primeira história que me destacou. Também ganhei algum dinheiro, o que é algo considerável em nossa profissão. Mas Abu Ghraib, embora muito triste, foi uma história muito satisfatória, porque atinge uma administração que tem sido tão hábil em enganar e manter sob controle as coisas. Eu recebi muitas cartas que diziam ''Graças a Deus, pela primeira emenda da Constituição americana, estou contente pela liberdade de expressão na América''. É um lembrete de que a imprensa pode cumprir um papel. E também de que a imprensa não tem feito um trabalho muito bom.
ÉPOCA - Os abusos em Abu Ghraib foram um desvio de comportamento em um Exército geralmente correto e civilizado?
Hersh - Não. Acho que a razão de ser de meu livro é a pergunta: ''O que está acontecendo?''. No verão de 2002 alguém da CIA foi para a prisão na base de Guantánamo, em Cuba, estabelecida como centro de detenção para membros da Al Qaeda, e voltou com um relatório que dá nojo: estávamos prendendo as pessoas erradas, não estávamos obtendo as informações que queríamos. E essa pessoa também disse a seus colegas que havia evidências muito ruins sobre a coerção exercida sobre os prisioneiros e ele se sentia muito preocupado com isso. Ou seja, o governo foi posto a par desses fatos muito cedo. Algo como 15 meses antes do aparecimento das fotos de Abu Ghraib. E num nível muito alto. A assessora especial de Segurança, Condollezza Rice, convocou o secretário de Segurança, Donald Rumsfeld, para uma reunião. Rumsfeld ficou sabendo da existência de alegações sérias sobre violações à Convenção de Genebra, e não fez nada. Isso abalou muita gente dentro do governo. O pessoal das Forças Armadas estava muito preocupado. Isso porque um oficial das Forças Armadas acredita numa coisa: a maneira como você trata seus prisioneiros determina a maneira como seus homens feitos prisioneiros pelo outro lado serão tratados.
ÉPOCA - Depois do escândalo as coisas se corrigiram em Abu Ghraib?
Hersh - Acho que estão bem melhores, eles soltaram um monte de prisioneiros. Um dos grandes problemas é que a maior parte das pessoas, algo como 60% ou 70% segundo a Human Rights Watch, não tinha nada a ver com as atividades antiamericanas. Eram pegos em todo o Iraque por variados motivos e levados para a prisão.
ÉPOCA - E em Guantánamo?
Hersh - Eu não sei. De qualquer forma as coisas nunca foram tão ruins em Guantánamo quanto em Abu Ghraib. Foram ruins, mas nunca aconteceu o que foi flagrado nas imagens.
ÉPOCA - O que o senhor sabe sobre as alegações de que americanos assessoraram os torturadores no Brasil e nos demais países da América Latina durante os regimes militares?
Hersh - Bem, o que eu sei é que os EUA prepararam manuais sobre como conduzir interrogatórios que sugeriam medidas bastante brutais, como despir as pessoas, amarrá-las e coisas assim. Mas especificamente houve muitas denúncias de gente sendo treinada na Escola das Américas, no Panamá. Há também muitas histórias sobre a CIA estar envolvida em esquadrões da morte na guerra suja. O que posso dizer é que houve muitas alegações bastante sérias, que até hoje não foram completamente exploradas.
ÉPOCA - Parece que esse tipo de comportamento é muito antigo e a única novidade são as câmaras digitais.
Hersh - É exatamente isso. Essa é a coisa importante sobre Abu Ghraib. Começou em setembro de 2002. Por que começou? Porque em agosto a ONU foi atingida, a Embaixada da Jordânia foi atingida, usinas elétricas foram atingidas e percebeu-se que o que estava ocorrendo no Iraque era poderoso e politicamente perigoso para as eleições presidenciais. Então se decidiu que era preciso lutar contra a insurgência e não havia nenhum jeito de penetrar nela. Foi por isso que as coisas começaram a piorar e os prisioneiros pararam de ser tratados humanamente. Pessoas envolvidas com interrogatórios com quem eu falei dizem que a melhor coisa a usar não é a força. É estabelecer algum tipo de relação, é mostrar que você é um cara bom. Mas eles escolheram usar a força para aumentar a pressão no Iraque. E isso vai até a cadeia de comando. Eles decidiram que iam ser duros e isso continuou até os garotos começarem a passar suas fotos.
ÉPOCA - E o que se pode dizer sobre o argumento de que é preciso uma nova forma de lutar contra o terrorismo, já que se trata de uma guerra não-convencional?
Hersh - Os EUA estão jogando xadrez e as pessoas contra quem estamos lutando estão jogando go (jogo japonês). Nós estamos jogando um jogo muito direto e definido e eles estão jogando algo muito complicado. Agora nós temos uma guerra civil ocorrendo no Iraque. Prometemos democracia para os xiitas, e não está dando certo, porque não queremos admitir que a concepção xiita de uma república é uma teocracia. Estamos agora tentando criar uma esfera política, mas o primeiro-ministro, Iyad Allawi, é um ex-oficial de inteligência de Saddam. Isso é inaceitável. Nós não teremos paz assim. Não há estratégia para sair do Iraque.
ÉPOCA - As guerras, tanto no Afeganistão quanto no Iraque, deveriam ter sido evitadas?
Hersh - Bem, é muito fácil dizer isso agora. Mas na época havia razões políticas. O presidente George W. Bush tinha uma opção. Muitos do Taleban não gostavam de Osama Bin Laden. O presidente poderia ter agido junto com eles em vez de começar a bombardeá-los todos. Mas nós decidimos que queríamos vingança. E agora temos uma guerra de guerrilha no Afeganistão, e não está nada claro quem vai vencer. Não está claro se o presidente interino, Hamid Karzai, ganhará as eleições, não está claro se vai mesmo haver eleições e, mesmo que haja, não está claro se serão eleições legítimas. Nós dizemos que estamos levando a democracia, mas estamos é levando o caos.
ÉPOCA - Mas em certo sentido um mundo sem Saddam Hussein, ou o Taleban, é um mundo melhor?
Hersh - Bem, diga isso aos mil garotos americanos que morreram no Iraque e às dezenas de milhares de iraquianos que morreram e aos milhares de iraquianos e americanos feridos. Eu não acho que eles vão concordar. E estou falando de Saddam sem armas. Se o Congresso americano soubesse que ele não tinha armas de destruição em massa, jamais teria dado autorização para a guerra.
ÉPOCA - O senhor acha que Bush mentiu deliberadamente?
Hersh - Não, não. Seria muito melhor que fosse isso. Nós poderíamos dizer ''É um bando de mentirosos'' e nos livraríamos deles rapidamente. Não, o pior é que ele acredita no que está fazendo. Ele e todo o seu gabinete. Eles acreditavam sinceramente que podiam tirar Saddam Hussein do poder à força e que, depois, a democracia iria fluir como água da torneira. Eles não fizeram isso por petróleo, eles não fizeram isso por algum interesse escuso. Isso é o pior, são líderes agindo por um idealismo que não tem nenhum contato com a realidade. E eles ainda acreditam nisso. Por isso, Bush pode estar tão calmo e aparecer na convenção republicana dizendo que estamos vencendo a guerra. Eles acreditam que toda a violência no Iraque é apenas um passo do caminho e que aquilo tudo da democratização do mundo árabe ainda vai acontecer.
ÉPOCA - E o povo americano parece acreditar nele.
Hersh - É verdade. Mas isso é porque o democrata John Kerry é um candidato tão ruim que não conseguiu convencer ninguém de que tem um plano.
ÉPOCA - O senhor concorda com as pessoas que dizem que Bush está tentando voltar a padrões de sigilo sobre a Presidência que foram derrubados com o escândalo de Watergate?
Hersh - Sim. Com certeza. Bush fechou o governo ao escrutínio da imprensa como nunca antes. Mas ainda somos uma democracia. Ninguém pode prender ninguém nem impedir uma história de ser publicada.
ÉPOCA - O senhor sofreu algum tipo de represália por causa das matérias que escreveu?
Hersh - Não, propriamente. A única coisa é que pessoas do governo Bush não falam comigo, como pessoas do governo Reagan e do governo do pai de Bush não falavam. Eu sou um renegado. Mas me considero um americano tão leal quanto um general de quatro estrelas. Usar da liberdade de expressão e denunciar abusos do poder é tão leal ao país quanto defendê-lo em uma guerra legítima.
ÉPOCA - O que Leo Strauss tem a ver com tudo isso?
Hersh - Muita coisa. Leo Strauss era um filósofo político que acreditava numa elite de iluminados capazes de tomar as decisões em nome da sociedade. As pessoas comuns não seriam aptas a compreender as decisões do governo e por isso não deveriam ser informadas de tudo o que o governo faz. Há vários membros da administração Bush ligados às idéias de Leo Strauss, como Paul Wolfowitz e os denominados neoconservadores. É uma seita.
ÉPOCA - O que o senhor pensa que serve de motivação para suas fontes lhe contarem as histórias que o governo gostaria de esconder?
Hersh - Não há nenhuma dúvida de que se trata de escrever uma história alternativa da guerra. Há pessoas em escalões muito elevados que me dão informações pois discordam das políticas. São pessoas que estão assustadas. Elas têm mulheres, filhos, uma hipoteca para pagar. Não querem perder o emprego, mas querem que eu saiba. E isso é o que tenho feito desde o 11 de setembro, tenho escrito uma história alternativa.
------------------------------------
(1): Bom sujeito esse. Uma pena que não conheça melhor a história de seu próprio país. Caso contrário, já teria ouvido falar em Sandy Creek; Washita; Wounded Knee e vários outros lugares onde bons soldados americanos, tementes a Deus, exterminaram cheyennes, dakotas e várias outras tribos indígenas.
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DESTRUINDO A GUARDA NACIONAL
William S. Lind - 24 de setembro de 2004.
A unidade sabia que em breve iria embarcar para o "front". Alguns soldados responderam desertando. Outros se embebedaram e brigaram. Em resposta, oficiais trancaram a unidade em seus aquartelamentos, permitindo aos soldados saírem só para adestramento, nem mesmo para um cigarro, até que pudessem ser colocados num transporte que os levaria para o combate.
Parece que eu estou descrevendo algum regimento de infantaria soviético de terceiro escalão em, digamos, 1942. De fato, estou falando sobre o I Batalhão do 178o Regimento de Artilharia de Campanha, da Guarda Nacional da Carolina do Sul, em setembro de 2004. De acordo com uma história de primeira página no Washington Post de 19 de setembro, a unidade estava se desintegrando mesmo antes de ser desdobrada para o Iraque. Faz tremer só em pensar o que irá acontecer uma vez que ela chegue lá e se encontre sob ataque diário de inimigos habilidosos que ela não pode identificar.
Um dos efeitos prováveis da guerra desastrosa no Iraque será a destruição de uma velha instituição americana, a Guarda Nacional. Desesperado por tropas enquanto a situação no Iraque se deteriora, o Secretário de Defesa Rumsfeld está usando a Guarda Nacional numa missão para a qual ela nunca foi destinada: levar a cabo uma "guerra de escolha" meio mundo de distância. A maioria dos guardas se alistou esperando para socorrer vizinhos em desastres naturais, ou talvez manter a ordem localmente no evento de um distúrbio. Eles nunca se alistaram para Vietnam II: a Missão.
Sim, a Guarda foi mobilizada e desdobrada no além-mar em ambas as guerras mundiais, (na verdade, uma das divisões americanas que assaltaram as praias da Normandia, era da Guarda Nacional), mas estas foram verdadeiras guerras nacionais, nas quais o povo americano estava totalmente envolvido de um modo ou outro. Guerras de gabinete, como elas costumavam ser chamadas, são algo totalmente diferente. Como Frederico, O Grande disse, guerras de gabinete precisam ser travadas de tal forma que o povo nem saiba que elas estejam ocorrendo.
Mas os guardas nacionais são o povo. Enviá-los numa guerra de gabinete é fazer mau uso deles de um modo que irá destruí-los. Mesmo na Revolução Americana, os milicianos raramente foram solicitados a lutar fora de seus próprios estados, Quando eram, normalmente eles respondiam desertando.
A culpa não está com os soldados da Guarda Nacional. Mesmo dentro de suas unidades, eles estão sendo horrivelmente mau utilizados. Uma das forças da Guarda é a coesão de unidade: membros de uma unidade vem do mesmo lugar e normalmente conhecem uns aos outros, tanto na unidade, onde eles servem há muito tempo, como na comunidade local. No caso do I/178o de Artilharia de Campanha, o Post relata que para "preencher a unidade, grupos de soldados foram sacados de diferentes unidades da Guarda, alguns voluntariamente, alguns sob ordens." A coesão saiu pela janela. Um soldado na unidade disse, "nosso moral não é alto o bastante para ficarmos longe por 18 meses... eu acho que um bocado desse caras irá se quebrar no Iraque." Isto é o que sempre acontece quando a coesão da unidade é destruída, em todo exército na história.
Para muitos guardas, o desdobramento para o Iraque significa ruína econômica. Eles tem pagamentos de hipotecas, pagamentos de carros, débitos do cartão de crédito, tudo calculado em seus salários civis. Repentinamente, por um ano ou mais, seus rendimentos caem para aqueles de um soldado. As famílias que eles deixam para trás encaram a perda de tudo que elas tem. Que miliciano não iria desertar nessa situação?
O alcance real do dano da decisão de Rumsfeld de enviar a Guarda para o Iraque - 40 % das tropas americanas no Iraque são agora de reservistas do Exército ou de guardas nacionais - não irá ser revelada até que as unidades retornem. Uma das poucas já de volta, viu 70 % dos seus membros abandonarem a Guarda imediatamente.
O que a elite de Washington que trava guerras de gabinete não compreende, ou pouco se importa, é o papel vital que a Guarda Nacional desempenha nos níveis local e estadual. Uma vez que a Guarda seja destruída, quem irá fornecer os serviços de emergência que a comunidade necessita quando o desastre acontece? Poderiámos pensar que numa chamada "guerra contra o terror", onde o perigo para o território metropolitano americano é prontamente reconhecido, alguém na capital da nação iria se preocupar com a primeira linha de defesa local.
O fato é que a Versalhes sobre o Potomac não se preocupa com o resto do país sob qualquer aspecto, enquanto os dólares do imposto continuem chegando. Meu velho amigo, Rei Luís XVI poderia ser capaz de dizer a Rumsfeld & Cia onde essa estrada eventualmente termina.
William S. Lind - 24 de setembro de 2004.
A unidade sabia que em breve iria embarcar para o "front". Alguns soldados responderam desertando. Outros se embebedaram e brigaram. Em resposta, oficiais trancaram a unidade em seus aquartelamentos, permitindo aos soldados saírem só para adestramento, nem mesmo para um cigarro, até que pudessem ser colocados num transporte que os levaria para o combate.
Parece que eu estou descrevendo algum regimento de infantaria soviético de terceiro escalão em, digamos, 1942. De fato, estou falando sobre o I Batalhão do 178o Regimento de Artilharia de Campanha, da Guarda Nacional da Carolina do Sul, em setembro de 2004. De acordo com uma história de primeira página no Washington Post de 19 de setembro, a unidade estava se desintegrando mesmo antes de ser desdobrada para o Iraque. Faz tremer só em pensar o que irá acontecer uma vez que ela chegue lá e se encontre sob ataque diário de inimigos habilidosos que ela não pode identificar.
Um dos efeitos prováveis da guerra desastrosa no Iraque será a destruição de uma velha instituição americana, a Guarda Nacional. Desesperado por tropas enquanto a situação no Iraque se deteriora, o Secretário de Defesa Rumsfeld está usando a Guarda Nacional numa missão para a qual ela nunca foi destinada: levar a cabo uma "guerra de escolha" meio mundo de distância. A maioria dos guardas se alistou esperando para socorrer vizinhos em desastres naturais, ou talvez manter a ordem localmente no evento de um distúrbio. Eles nunca se alistaram para Vietnam II: a Missão.
Sim, a Guarda foi mobilizada e desdobrada no além-mar em ambas as guerras mundiais, (na verdade, uma das divisões americanas que assaltaram as praias da Normandia, era da Guarda Nacional), mas estas foram verdadeiras guerras nacionais, nas quais o povo americano estava totalmente envolvido de um modo ou outro. Guerras de gabinete, como elas costumavam ser chamadas, são algo totalmente diferente. Como Frederico, O Grande disse, guerras de gabinete precisam ser travadas de tal forma que o povo nem saiba que elas estejam ocorrendo.
Mas os guardas nacionais são o povo. Enviá-los numa guerra de gabinete é fazer mau uso deles de um modo que irá destruí-los. Mesmo na Revolução Americana, os milicianos raramente foram solicitados a lutar fora de seus próprios estados, Quando eram, normalmente eles respondiam desertando.
A culpa não está com os soldados da Guarda Nacional. Mesmo dentro de suas unidades, eles estão sendo horrivelmente mau utilizados. Uma das forças da Guarda é a coesão de unidade: membros de uma unidade vem do mesmo lugar e normalmente conhecem uns aos outros, tanto na unidade, onde eles servem há muito tempo, como na comunidade local. No caso do I/178o de Artilharia de Campanha, o Post relata que para "preencher a unidade, grupos de soldados foram sacados de diferentes unidades da Guarda, alguns voluntariamente, alguns sob ordens." A coesão saiu pela janela. Um soldado na unidade disse, "nosso moral não é alto o bastante para ficarmos longe por 18 meses... eu acho que um bocado desse caras irá se quebrar no Iraque." Isto é o que sempre acontece quando a coesão da unidade é destruída, em todo exército na história.
Para muitos guardas, o desdobramento para o Iraque significa ruína econômica. Eles tem pagamentos de hipotecas, pagamentos de carros, débitos do cartão de crédito, tudo calculado em seus salários civis. Repentinamente, por um ano ou mais, seus rendimentos caem para aqueles de um soldado. As famílias que eles deixam para trás encaram a perda de tudo que elas tem. Que miliciano não iria desertar nessa situação?
O alcance real do dano da decisão de Rumsfeld de enviar a Guarda para o Iraque - 40 % das tropas americanas no Iraque são agora de reservistas do Exército ou de guardas nacionais - não irá ser revelada até que as unidades retornem. Uma das poucas já de volta, viu 70 % dos seus membros abandonarem a Guarda imediatamente.
O que a elite de Washington que trava guerras de gabinete não compreende, ou pouco se importa, é o papel vital que a Guarda Nacional desempenha nos níveis local e estadual. Uma vez que a Guarda seja destruída, quem irá fornecer os serviços de emergência que a comunidade necessita quando o desastre acontece? Poderiámos pensar que numa chamada "guerra contra o terror", onde o perigo para o território metropolitano americano é prontamente reconhecido, alguém na capital da nação iria se preocupar com a primeira linha de defesa local.
O fato é que a Versalhes sobre o Potomac não se preocupa com o resto do país sob qualquer aspecto, enquanto os dólares do imposto continuem chegando. Meu velho amigo, Rei Luís XVI poderia ser capaz de dizer a Rumsfeld & Cia onde essa estrada eventualmente termina.
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Os presidentes, podem ou não serem reeleitos. Os generais podem ou não serem exonerados e perderem suas reputações militares. Pra eles, meros pedidos de desculpas não bastam.
Também seria melhor ainda se os mais de mil americanos e mais de 20 mil iraquianos, pudessem se levantar de suas sepulturas. E retomarem suas vidas de onde elas pararam.
Não é uma peninha que isso não aconteça?
As pessoas deviam ter mais cuidado - e pudor - em pedirem a Guerra. Ainda mais quando elas próprias não estão dispostas a participarem dela.
---------------------------
O IRAQUE HOJE É MELHOR QUE ONTEM?
Deborah Berlinck - Correspondente - O Globo, 29 de setembro de 2004.
PARIS - Um dos mais respeitados intelectuais franceses, Dominique Moisi, do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), fez o seu mea culpa. Ele foi um dos poucos franceses a apoiarem abertamente a guerra no Iraque porque acreditou na versão de Washington de que o regime de Saddam Hussein trabalhava clandestinamente num programa de bomba nuclear, química ou biológica. Ele hoje vem a público dizer: "Eu errei". A ponto de se perguntar se os iraquianos não estavam melhor anes, sob Saddam, do que hoje.
O GLOBO: O senhor foi um dos poucos intelectuais franceses a apoiarem a guerra. Por que mudou de opinião agora?
DOMINIQUE MOISI: Há duas razões. A primeira é que fui a favor da guerra acreditando, como muitos, que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa. Hoje percebo que a razão sobre a qual me baseei não existe. A segunda é que o pós-guerra confirmou minha maior inquietude em relação ao conflito - o fato de o mundo não estar mais seguro hoje. Se considerarmos que o maior desafio ao mundo ocidental é combater o fundamentalismo islâmico sem alienar os muçulmanos, o pós-guerra no Iraque fez com que esse objetivo ficasse mais distante. A questão hoje é: será que mil soldados americanos morreram por uma causa que não existe e por um objetivo - a democracia no Iraque - não realizável, pelo menos num espaço de tempo razoável?
O GLOBO: Intelectuais acreditaram que era possível democratizar o Iraque. Erraram?
MOISI: Outra razão pela qual apoiei a intervenção no Iraque é que não via outro método para livrar o país de um ditador cruel. Mas hoje, entre a barbárie de um déspota em declínio e a violência quotidiana e o caos que se agrava, podemos levantar a questão: o Iraque de hoje é melhor do que o de ontem? Ou vai ser melhor amanhã do que ontem? A partir de uma concepção judaico-cristã da responsabilidade do analista, acredito que é melhor dizer: eu errei.
O GLOBO: O senhor ecoa o que os iraquianos dizem: com Saddam, a violência era terrível, mas pelo menos ela era previsível.
MOISI: É isso mesmo, no fundo. A outra questão que levanto é que saber se um outro governo (americano), com outra política, poderia ter sido bem-sucedido no Iraque ou se, diante da complexidade da situação iraquiana e da cultura americana, a opieração estva mesmo fadada ao fracasso.
O GLOBO: Qual o tamanho do estrago?
MOISI: O primeiro estrago é o da imagem dos EUA. O aumento do antiamericanismo no mundo se acelerou ainda mais depois da guerra no Iraque. Bush no Iraque serve de álibi a Putin (presidente russo) em suas ações na Chechênia.
O GLOBO: Como resolver o problema? A eleição de Kerry pode ajudar?
MOISI: Não creio. Nessa questão, a diferença entre Bush e Kerry é pequena é a margem de manobra de Kerry, extremamente limitada.
Também seria melhor ainda se os mais de mil americanos e mais de 20 mil iraquianos, pudessem se levantar de suas sepulturas. E retomarem suas vidas de onde elas pararam.
Não é uma peninha que isso não aconteça?
As pessoas deviam ter mais cuidado - e pudor - em pedirem a Guerra. Ainda mais quando elas próprias não estão dispostas a participarem dela.
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O IRAQUE HOJE É MELHOR QUE ONTEM?
Deborah Berlinck - Correspondente - O Globo, 29 de setembro de 2004.
PARIS - Um dos mais respeitados intelectuais franceses, Dominique Moisi, do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), fez o seu mea culpa. Ele foi um dos poucos franceses a apoiarem abertamente a guerra no Iraque porque acreditou na versão de Washington de que o regime de Saddam Hussein trabalhava clandestinamente num programa de bomba nuclear, química ou biológica. Ele hoje vem a público dizer: "Eu errei". A ponto de se perguntar se os iraquianos não estavam melhor anes, sob Saddam, do que hoje.
O GLOBO: O senhor foi um dos poucos intelectuais franceses a apoiarem a guerra. Por que mudou de opinião agora?
DOMINIQUE MOISI: Há duas razões. A primeira é que fui a favor da guerra acreditando, como muitos, que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa. Hoje percebo que a razão sobre a qual me baseei não existe. A segunda é que o pós-guerra confirmou minha maior inquietude em relação ao conflito - o fato de o mundo não estar mais seguro hoje. Se considerarmos que o maior desafio ao mundo ocidental é combater o fundamentalismo islâmico sem alienar os muçulmanos, o pós-guerra no Iraque fez com que esse objetivo ficasse mais distante. A questão hoje é: será que mil soldados americanos morreram por uma causa que não existe e por um objetivo - a democracia no Iraque - não realizável, pelo menos num espaço de tempo razoável?
O GLOBO: Intelectuais acreditaram que era possível democratizar o Iraque. Erraram?
MOISI: Outra razão pela qual apoiei a intervenção no Iraque é que não via outro método para livrar o país de um ditador cruel. Mas hoje, entre a barbárie de um déspota em declínio e a violência quotidiana e o caos que se agrava, podemos levantar a questão: o Iraque de hoje é melhor do que o de ontem? Ou vai ser melhor amanhã do que ontem? A partir de uma concepção judaico-cristã da responsabilidade do analista, acredito que é melhor dizer: eu errei.
O GLOBO: O senhor ecoa o que os iraquianos dizem: com Saddam, a violência era terrível, mas pelo menos ela era previsível.
MOISI: É isso mesmo, no fundo. A outra questão que levanto é que saber se um outro governo (americano), com outra política, poderia ter sido bem-sucedido no Iraque ou se, diante da complexidade da situação iraquiana e da cultura americana, a opieração estva mesmo fadada ao fracasso.
O GLOBO: Qual o tamanho do estrago?
MOISI: O primeiro estrago é o da imagem dos EUA. O aumento do antiamericanismo no mundo se acelerou ainda mais depois da guerra no Iraque. Bush no Iraque serve de álibi a Putin (presidente russo) em suas ações na Chechênia.
O GLOBO: Como resolver o problema? A eleição de Kerry pode ajudar?
MOISI: Não creio. Nessa questão, a diferença entre Bush e Kerry é pequena é a margem de manobra de Kerry, extremamente limitada.
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SEM PROVAS EM BAGDÁ - Os Frutos da Perplexidade Inconsciente
Freed Reed - 7 de agosto de 2004
Alguns meses atrás, eu retornei para minha casa no México após duas semanas de uma dura viagem na Bolívia. Foi o tipo de viagem que na minha idade avançada já deveria ser esperto o bastante para não fazer: aterrizar em faixas de capim e embarcar nos intermináveis pântanos dos pampas, congelar em choupanas sem aquecimento nas alturas selvagens e desertas a 4.000 metros, "mountain bike" descendo o El Camino de la Muerte fora de La Paz.
Curiosamente, na América do Sul, nosso quintal, meus companheiros de viagem casuais virtualmente nunca eram americanos. Sim, haviam britânicos, australianos, neozelandeses. E alemães, franceses, e holandeses, mas não gringos.
Eles não eram hippies. Eles tinham entre 22 a 40 anos: uma moça irlandesa de talvez 26 que esteve sozinha na estrada por seis meses, uma francesa no ramo dos vinhos em seus trinta anos, numa excursão de duas semanas, um financista inglês de férias. A maioria carregava mochilas de expedição. Eles eram amistosos, auto-confiantes. Eu gostava deles.
Mas não haviam americanos.
É um padrão. Outro padrão é que quase todos os europeus falam ao menos duas línguas, os americanos somente uma. E isso não só na Bolívia. Eu vivo no México próximo a Guadalajara onde há uma grande população de expatriados americanos e retirados. Eles quase nunca aprendem espanhol e não se misturam muito com os mexicanos. Quando eu cobri as Forças Armadas americanas na Europa anos atrás, os soldados nunca aprendiam alemão. Alguns se recusavam a deixar a base.
Por quê? Falta de inteligência? Claramente não. Preguiça? Se for, é uma preguiça curiosa, localizada. Os americanos trabalham mais duro do que a maioria das pessoas em muitas coisas. O país não conseguiu sua posição no mundo por indolência e imbecilidade. Falta de iniciativa? Os americanos de longe comparados com a maioria das pessoas abrem mais companhias, fazem cursos, inventam coisas. Se eles quisessem aprender línguas, eles o fariam. Eles simplesmente não querem muito.
Eu penso que eles simplesmente não se importam com outras sociedades, não tem suficiente curiosidade para fazer o esforço necessário para aprender línguas. Onde eu vivo, muitos se escondem do México em comunidades fechadas e parecem não quererem estar no país. Talvez Lauderdale fosse muito dispendioso. Eles estão... não exatamente com receio, mas inquietos. Eles saem e caminham hesitantes, no modo como se comportam. Isso não é verdade para todos, em especial não para aqueles que tomam esposas e se tornam nativos. É verdade para a maioria.
Eles não são "americanos maus", notem. Eles não são descorteses com os mexicanos. Eles contribuem para caridade e fazem boas obras. A maioria leva vidas produtivas, não sem freqüencia em áreas exigentes. Eles são boas pessoas. Ainda assim parecem deslocadas.
Eu conheci meus companheiros na Bolívia brevemente, mas bem. Quando você passa noites à 20 abaixo de zero em choupanas sem aquecimento com o vento zunindo fora, oito num quarto em sacos de dormir, a intimidade cresce. Numa noite maluca nos pântanos, ficamos sem cerveja e o guia nos levou em botes pela noite para num remoto bar, assentado sobre estacas, onde bebemos até ficarmos idiotas. Foi uma noite esplêndida.
Mas não haviam gringos.
Os europeus se sacaneam entre eles um bocado. "O que você pode esperar de um alemão?" eles dizem, ou "todo mundo sabe que os holandeses são sovinas," mas eles dizem isso com um sorriso. Ainda assim, eles conhecem os países uns dos outros. Eles estiveram no Marrocos, Índia, Egito. Eles tem um cosmopolitismo sobre eles. Não é um ar de superioridade esnobe. Eles simplesmente estão confortáveis no estrangeiro.
Eles acham que os americanos são idiotas. Na maioria dos casos, eles não são ofensivos, não (normalmente) levantam o assunto. Eu não sou inclinado a defender o indefensável no entanto, e as discussões emergiam. Por quê - eles queriam saber -, os americanos nada sabem sobre o mundo? Eu nunca soube o que dizer. Bem, hã, é um pais muito grande, nós não temos de falar outras línguas, ah, as escolas são terríveis (por quê, eles perguntam), nós apenas não somos muito curiosos ou de viajar muito (por quê não, eles perguntam). O fato observável é que os americanos demonstram uma clara, inquestionável ignorância das outras culturas. Nosso atual presidente é um exemplo primário.
Que efeito isso tem sobre nossa política externa? Sobre nossas relações com o resto da Terra?
Um bocado, eu penso.
Eu lembro que a Casa Branca acreditava que os iraquianos iriam recepcionar nossa invasão jogando flores no nosso caminho, tal seria o seu deleite com os valores americanos, etc. É de cair o queixo. Ninguém na bolha hermética sobre a Avenida Pennsylvania compreende que outras pessoas tem seus meios de fazer as coisas? De que nem todo mundo quer ser americano? Duas semanas de mochilagem em volta de Marrakech e Cairo teriam os prevenido - mas quem na Casa Branca fez isso? Quem fora da Casa Branca fez isso?
A atitude americana implícita na política, e expressa nas patriotadas de muitos dos meus emails, é de que a maioria dos outros países são atrasados se não realmente aborígenes, e necessitados de iluminismo, talvez iluminismo armado. O desprezo é manifesto e profundo. Considerável parte dos meus emails dizem que os iraquianos, por exemplo, são sujos e pulguentos, não entendem nada além da força, e merecem qualquer tratamento que receberem.
Eu me pergunto: quantas dessas pessoas já falaram com um iraquiano? Com qualquer muçulmano? Estado no Iraque? Estado em qualquer lugar? Quantos sabem que países bordejam o Iraque? Tem um passaporte? Sabem que o ano de 622 DC pode ter sido de alguma relevância?
Esse arrepiante paroquialismo nos leva ao desastre quanto o país mergulha em atoleiros que não compreende e descobre que subestimou o inimigo.
Se eu menciono que o resto do mundo não gosta dos Estados Unidos, a resposta normalmente é, "melhor ser respeitado do que amado." Mas os EUA não são respeitados. São temidos, como um bêbado musculoso que entra num bar atrás de briga. Se George, Condoleeza e "Rumsnamara" tivessem passado um ano de tênis nas margens do Mekong no "Vietiene", em Rabat, em Manaus, em Lyon, em Istambul e Manágua - poderíamos não estar nesse país insular, perplexo que estamos hoje. E poderíamos não ser surpreendidos, de novo e de novo, ao descobrir que povos, sobre os quais não sabemos nada, não se comportam como nós esperávamos.
Freed Reed - 7 de agosto de 2004
Alguns meses atrás, eu retornei para minha casa no México após duas semanas de uma dura viagem na Bolívia. Foi o tipo de viagem que na minha idade avançada já deveria ser esperto o bastante para não fazer: aterrizar em faixas de capim e embarcar nos intermináveis pântanos dos pampas, congelar em choupanas sem aquecimento nas alturas selvagens e desertas a 4.000 metros, "mountain bike" descendo o El Camino de la Muerte fora de La Paz.
Curiosamente, na América do Sul, nosso quintal, meus companheiros de viagem casuais virtualmente nunca eram americanos. Sim, haviam britânicos, australianos, neozelandeses. E alemães, franceses, e holandeses, mas não gringos.
Eles não eram hippies. Eles tinham entre 22 a 40 anos: uma moça irlandesa de talvez 26 que esteve sozinha na estrada por seis meses, uma francesa no ramo dos vinhos em seus trinta anos, numa excursão de duas semanas, um financista inglês de férias. A maioria carregava mochilas de expedição. Eles eram amistosos, auto-confiantes. Eu gostava deles.
Mas não haviam americanos.
É um padrão. Outro padrão é que quase todos os europeus falam ao menos duas línguas, os americanos somente uma. E isso não só na Bolívia. Eu vivo no México próximo a Guadalajara onde há uma grande população de expatriados americanos e retirados. Eles quase nunca aprendem espanhol e não se misturam muito com os mexicanos. Quando eu cobri as Forças Armadas americanas na Europa anos atrás, os soldados nunca aprendiam alemão. Alguns se recusavam a deixar a base.
Por quê? Falta de inteligência? Claramente não. Preguiça? Se for, é uma preguiça curiosa, localizada. Os americanos trabalham mais duro do que a maioria das pessoas em muitas coisas. O país não conseguiu sua posição no mundo por indolência e imbecilidade. Falta de iniciativa? Os americanos de longe comparados com a maioria das pessoas abrem mais companhias, fazem cursos, inventam coisas. Se eles quisessem aprender línguas, eles o fariam. Eles simplesmente não querem muito.
Eu penso que eles simplesmente não se importam com outras sociedades, não tem suficiente curiosidade para fazer o esforço necessário para aprender línguas. Onde eu vivo, muitos se escondem do México em comunidades fechadas e parecem não quererem estar no país. Talvez Lauderdale fosse muito dispendioso. Eles estão... não exatamente com receio, mas inquietos. Eles saem e caminham hesitantes, no modo como se comportam. Isso não é verdade para todos, em especial não para aqueles que tomam esposas e se tornam nativos. É verdade para a maioria.
Eles não são "americanos maus", notem. Eles não são descorteses com os mexicanos. Eles contribuem para caridade e fazem boas obras. A maioria leva vidas produtivas, não sem freqüencia em áreas exigentes. Eles são boas pessoas. Ainda assim parecem deslocadas.
Eu conheci meus companheiros na Bolívia brevemente, mas bem. Quando você passa noites à 20 abaixo de zero em choupanas sem aquecimento com o vento zunindo fora, oito num quarto em sacos de dormir, a intimidade cresce. Numa noite maluca nos pântanos, ficamos sem cerveja e o guia nos levou em botes pela noite para num remoto bar, assentado sobre estacas, onde bebemos até ficarmos idiotas. Foi uma noite esplêndida.
Mas não haviam gringos.
Os europeus se sacaneam entre eles um bocado. "O que você pode esperar de um alemão?" eles dizem, ou "todo mundo sabe que os holandeses são sovinas," mas eles dizem isso com um sorriso. Ainda assim, eles conhecem os países uns dos outros. Eles estiveram no Marrocos, Índia, Egito. Eles tem um cosmopolitismo sobre eles. Não é um ar de superioridade esnobe. Eles simplesmente estão confortáveis no estrangeiro.
Eles acham que os americanos são idiotas. Na maioria dos casos, eles não são ofensivos, não (normalmente) levantam o assunto. Eu não sou inclinado a defender o indefensável no entanto, e as discussões emergiam. Por quê - eles queriam saber -, os americanos nada sabem sobre o mundo? Eu nunca soube o que dizer. Bem, hã, é um pais muito grande, nós não temos de falar outras línguas, ah, as escolas são terríveis (por quê, eles perguntam), nós apenas não somos muito curiosos ou de viajar muito (por quê não, eles perguntam). O fato observável é que os americanos demonstram uma clara, inquestionável ignorância das outras culturas. Nosso atual presidente é um exemplo primário.
Que efeito isso tem sobre nossa política externa? Sobre nossas relações com o resto da Terra?
Um bocado, eu penso.
Eu lembro que a Casa Branca acreditava que os iraquianos iriam recepcionar nossa invasão jogando flores no nosso caminho, tal seria o seu deleite com os valores americanos, etc. É de cair o queixo. Ninguém na bolha hermética sobre a Avenida Pennsylvania compreende que outras pessoas tem seus meios de fazer as coisas? De que nem todo mundo quer ser americano? Duas semanas de mochilagem em volta de Marrakech e Cairo teriam os prevenido - mas quem na Casa Branca fez isso? Quem fora da Casa Branca fez isso?
A atitude americana implícita na política, e expressa nas patriotadas de muitos dos meus emails, é de que a maioria dos outros países são atrasados se não realmente aborígenes, e necessitados de iluminismo, talvez iluminismo armado. O desprezo é manifesto e profundo. Considerável parte dos meus emails dizem que os iraquianos, por exemplo, são sujos e pulguentos, não entendem nada além da força, e merecem qualquer tratamento que receberem.
Eu me pergunto: quantas dessas pessoas já falaram com um iraquiano? Com qualquer muçulmano? Estado no Iraque? Estado em qualquer lugar? Quantos sabem que países bordejam o Iraque? Tem um passaporte? Sabem que o ano de 622 DC pode ter sido de alguma relevância?
Esse arrepiante paroquialismo nos leva ao desastre quanto o país mergulha em atoleiros que não compreende e descobre que subestimou o inimigo.
Se eu menciono que o resto do mundo não gosta dos Estados Unidos, a resposta normalmente é, "melhor ser respeitado do que amado." Mas os EUA não são respeitados. São temidos, como um bêbado musculoso que entra num bar atrás de briga. Se George, Condoleeza e "Rumsnamara" tivessem passado um ano de tênis nas margens do Mekong no "Vietiene", em Rabat, em Manaus, em Lyon, em Istambul e Manágua - poderíamos não estar nesse país insular, perplexo que estamos hoje. E poderíamos não ser surpreendidos, de novo e de novo, ao descobrir que povos, sobre os quais não sabemos nada, não se comportam como nós esperávamos.
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Sem querer parecer o puxa-saco, mas gostaria de dizer:
Esse último texto do Clermont é fantástico! Sintetizou muito bem a falta de conhecimento dos Americanos em relação ao resto do mundo(na minha opinião).
Parabéns!
Abraço a todos
César
Esse último texto do Clermont é fantástico! Sintetizou muito bem a falta de conhecimento dos Americanos em relação ao resto do mundo(na minha opinião).
Parabéns!
Abraço a todos
César
"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."
Antoine de Saint-Exupéry
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