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Mensagem
por Lauro Melo » Seg Ago 16, 2004 9:25 am
Correio Braziliense - 16 / 08 / 2004
AVIAÇÃO
A briga no céu agora é política
Embraer busca aliados no governo e no Congresso para reverter licitação bilionária que dá vitória ao caça russo Sukhoi. Lula convocará o Conselho de Defesa Nacional ainda neste semestre para decidir a compra
Sandro Lima
Da equipe do Correio
Ricardo Stuckert / PR 04.08.04
Devido a um forte lobby da Embraer, o governo avalia cancelar o projeto FX, uma licitação para a compra de 12 novos aviões de caça para a Força Aérea Brasileira (FAB). Somente na primeira fase do projeto seriam gastos US$ 700 milhões para a aquisição das aeronaves. Todas as fases da licitação — técnica, comercial e transferência de tecnologia — já foram concluídas há quatro meses pelo governo Lula e o vencedor, segundo apurou o Correio, foi o caça russo Sukhoi. O Mirage 2000-BR, do consórcio franco-brasileiro Embraer-Dassault, ficou em segundo lugar na avaliação dos militares. Foi aí que começou o problema. A Embraer não aceita a derrota e quer reverter o jogo: trabalha para ganhar a preferência do governo e articula para que critérios políticos prevaleçam sobre critérios técnicos.
A Embraer conta com uma forte bancada no Congresso, que inclui integrantes da base de apoio do governo e da oposição, e também com apoios de peso no Executivo. Jogam nesse time os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e do Trabalho, Ricardo Berzoini; o presidente nacional do PT, José Genoino, e o líder do governo no Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Além deles, uma bancada de mais de 30 parlamentares de vários partidos apóia a empresa.
Solução caseira
O consórcio russo também conta com seus defensores dentro do governo, como os ministros da Coordenação Política, Aldo Rebelo, e da Defesa, José Viegas; e o Comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos da Silva Bueno. Entre os dois grupos está o presidente Lula, que apesar de pender para uma solução caseira, dando a vitória à Embraer, não bateu o martelo ainda.
Para não passar por cima de critérios técnicos de avaliação feitos pelo Comando da Aeronáutica, uma das soluções encontradas pelo governo é comprar ou fazer leasing de aviões usados e posteriormente realizar uma outra licitação. Procurada pelo Correio, a Embraer preferiu não se pronunciar.
O presidente Lula deve convocar o Conselho de Defesa Nacional ainda neste semestre para decidir a compra. A hipótese mais forte é pelo cancelamento, mas tanto a Embraer quanto o consórcio russo atuam forte nos bastidores do governo para vencer a licitação. As empresas intensificaram o corpo-a-corpo pois sabem da intenção do presidente Lula em resolver o problema. Na semana passada, ele visitou o porta-aviões São Paulo, em Vitória, e prometeu aos militares reequipar as Forças Armadas.
O NEGÓCIO
12 Caças podem ser compra US$ 700 milhões é o valor a ser pago na primeira fase
A aproximação entre a Embraer e o governo teve início ainda em 2002 durante as eleições. Vários integrantes do PT mantiveram contatos com a Embraer e receberam financiamento para a campanha. Foram agraciados pelo financiamento o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo, com R$ 100 mil, o presidente do PT, José Genoino, com R$ 200 mil, e o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, com R$ 25 mil. Além dos petistas, a Embraer fez doações a 25 parlamentares, inclusive da oposição, como o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder tucano. A campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu R$ 500 mil.
Logo no primeiro dia de governo, o presidente Lula adiou a licitação dos caças sob a alegação de que a prioridade de sua gestão era o programa Fome Zero.
A licitação já havia sido concluída no governo anterior, e naquela ocasião a Embraer também havia perdido. O vencedor foi o caça sueco Grippen. Apesar do processo de testes da Aeronáutica ter sido concluído ainda em 2002, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso optou por deixar a decisão a cargo de seu sucessor.
Tecnologia
No atual governo, foi feita uma nova rodada de testes das aeronaves e de ofertas comerciais e de transferência de tecnologia por parte dos grupos envolvidos na disputa. Desta vez quem obteve a preferência dos militares foi o Sukhoi.
Dos cinco finalistas, o MIG russo e o F-16 americano foram descartados. No caso do MIG, devido à defasagem tecnológica em relação aos outros concorrentes. E o F-16, por causa das restrições do governo norte-americano à transferência de tecnologia e controle dos armamentos das aeronaves. Corre por fora o caça Grippen, do consórcio anglo-sueco Grippen, que foi bem avaliado pela Aeronáutica e oferece um pacote vantajoso de contrapartidas comerciais. Ele ficou em terceiro lugar, atrás do Mirage 2000-BR.
Em vários pontos, a proposta russa foi melhor que a da Embraer-Dassault, a começar pelo preço do caça, inferior ao valor do Mirage 2000-BR. Na criação de empregos, o consórcio russo sai na frente e oferece 400 novos postos de trabalho, contra 200 propostos pela Embraer. Os russos também oferecem fabricar os armamentos do Sukhoi no Brasil e parceria para o desenvolvimento de tecnologia espacial.
Custos
Em relação às contrapartidas comerciais, os russos propuseram compras e abertura de mercado que representam R$ 2,5 bilhões. No quesito transferência de tecnologia das aeronaves, Embraer e russos se igualam. Contra o Sukhoi há a desconfiança de alguns integrantes da FAB de que a aeronave, com alguns anos de uso, tenha um alto custo de manutenção e operação.
Com o atraso na decisão, que deve sair até o fim do ano, ganha força no governo a idéia da compra ou leasing de caças usados. Já há candidatos na fila. São eles o Kfir, do governo israelense; o F-16 da Holanda; e o Sukhoi-27 modernizado, oferecido pelo governo russo. Para viabilizar a proposta da compra ou aluguel de aviões provisórios para a FAB, que não seriam tão sofisticados quanto os do projeto FX, um outro lobby, coordenado por um grupo de ex-oficiais da Aeronáutica, trabalha a todo vapor na Esplanada.
A encomenda dos novos caças tem que ser feita com bastante antecedência pois as primeiras aeronaves só ficarão prontas em um prazo de três anos. Mesmo que o governo opte ainda este ano, ou posteriormente, pelo Sukhoi, ou até mesmo pelo Mirage 2000, no próximo ano a FAB necessitará de aeronaves para substituir a atual frota. Caso contrário, haverá uma canibalização dos atuais Mirage, ou seja, peças de um avião serão retiradas para que outros possam continuar em operação.
MODERNIZAÇÃO
Os 53 caças AMX-A1 da Força Aérea Brasileira (FAB) passarão por processo de modernização ao custo de US$ 400 milhões, cerca de R$ 1,2 bilhão. A recauchutagem será feita no posto da Embrar em Gavião Peixoto, em Araraquara (SP), com tecnologia nacional. Em três anos, as primeiras unidades serão entregues aos militares. O programa de recuperação segue até 2012. O AMX A-1 é considerado estratégico pelo governo. Tem grande capacidade de carregar armamentos, característica essencial para um avião de combate.
OS CONCORRENTES
Aviões - Fabricante
Sukhoi Su-35 - Avibrás — Rossoboronexport
Mirage-2000BR - Embraer — Dassault
Grippen - consórcio anglo-sueco Grippen
F-16 - Lockheed — Martin
MiG-29 - MAPO — MiG
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