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Mensagem
por Lauro Melo » Seg Jul 05, 2004 10:15 pm
A concorrência
Disputam a licitação internacional da FAB cinco aviões: o franco-brasileiro Dassault/Embraer Mirage 2000-5, o anglo-sueco Gripen, o americano F-16 e dois russos, o Mig 29 e o Sukhoi 35 (SU35). O preço mais baixo foi o do Mig 29, seguido pelo Sukhoi (aproximadamente, 12% acima), mas os russos ficaram abaixo dos US$ 700 milhões orçados pela FAB.
Quanto aos outros concorrentes, a menos que tenha havido redução após a entrega das propostas, estavam todos acima desse patamar, havendo informações de que o Mirage 2000-5 e o Gripen foram cotados acima de US$ 1 bilhão.
O bimotor Sukhoi 35 é o que existe de mais moderno na Rússia e no mundo. A Força Aérea Russa está repotencializando todos os seus caças atuais (SU-27SK) para esse modelo, adotado pela China e pela Índia, países também de grande extensão territorial, como o Brasil.
Foi a única proposta a ofertar a instalação de um supercentro de manutenção e operação no Brasil (ou seja, um embrião muito desenvolvido de uma futura fábrica) em conjunto com a Avibrás, uma empresa de controle acionário realmente 100% brasileiro, ao contrário da Embraer.
Além de oferecer transferência máxima de tecnologia, a proposta do Sukhoi 35 tem o menor prazo de entrega e oferece gratuitamente a cessão de 12 aviões novos SU-27SK, para eliminar o vazio que a FAB temia: o período de cerca de dois anos entre a parada dos Mirage que ela tem e a chegada dos novos aviões.
Autonomia
Tecnicamente, o Sukhoi 35 é o mais avançado, com raio de combate de até 1.500 km, ou seja, o dobro dos outros caças (quase cinco vezes o alcance do Gripen), sem necessitar de tanques externos para atravessar o Atlântico, em contraste com os demais concorrentes, que não têm maior autonomia sem enormes tanques externos de combustível.
Outra vantagem é a contrapartida comercial, na ordem de US$ 3 bilhões, que abrange até transferência de tecnologia aeroespacial e na área de tecnologias sensíveis. A capacidade de importação de produtos comerciais básicos e sofisticados pela Rússia é enorme e uma grande fatia pode ser alocada ao Brasil.
Como a Rússia, a Índia e a China fabricam o Sukhoi, isso ensejaria ao Brasil o acesso a fontes alternativas de suprimentos a seus aviões e, possivelmente, exportar peças aqui fabricadas para eles. Finalmente, os lobistas tentaram denegrir o Sukhoi, alegando que o consumo de combustível por hora de vôo seria muito elevado, por se tratar de um bimotor muito potente, o que é uma falácia.
Não se fala em custo de hora de vôo para avião militar, como se fosse uma aeronave civil de transporte. Fala-se em custo da execução de um objetivo militar. E, nesse caso, o Sukhoi é de longe o de menor custo operacional, além de carregar maior quantidade de armamentos e de ter uma versão para operar em porta-aviões atracado. Outros caças só pousam em porta-aviões em movimento, a 50 km por hora, e com vento contrário.
Compra será decidida nos próximos dias
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve decidir, nos próximos dias, se leva adiante o processo de licitação de US$ 700 milhões para a compra de 12 caças para a Aeronáutica. Especula-se que o governo já teria desistido da compra. Por isso, voltaram a circular propostas de aquisição de aviões usados, o chamado projeto FX do B, porque seria uma alternativa barata. Mas a palavra final ainda não foi dada pelo presidente. Nos últimos dias, no entanto, voltaram a circular no Planalto informações sobre novas ofertas de aviões norte-americanos F-16 por Israel e por países integrantes da Otan - Organização do Tratado do Atlânico Norte.
Os países que apresentaram as propostas foram: Holanda, o mais barato deles (pouco mais de US$ 3 milhões cada), Bélgica, Turquia e Israel, com modelos variando de US$ 7 milhões a US$ 15 milhões cada, dependendo se as aeronaves estão ou não renovadas, com equipamentos mais modernos.
Mas, na FAB, a compra de caças F-16 não é vista com bons olhos por vários motivos. O primeiro deles, é operacional porque os oficiais dizem que é um barato que sairá caro.
Apesar de a compra de 12 aviões da Bélgica, por exemplo, sair por cerca de R$ 40 milhões, na verdade, os custos de adaptação são muito grandes. Além dos aviões propriamente ditos, seria preciso comprar aeronaves reabastecedoras dos Estados Unidos, que custariam cerca de US$ 300 milhões. Isso sem falar no armamento, que os norte-americanos não repassam e os nossos armamentos não são adaptáveis, o que nos deixaria completamente dependentes deles.
Outro problema é que o F-16 usa em parte do seu sistema de geração um combustível politicamente incorreto chamado hibrazina, que é altamente tóxico, e, por isso, condenado pelos ambientalistas. A preocupação dos militares brasileiros é tanta com este tipo de combustível que o Brasil pediu às autoridades venezuelanas, que usam este tipo de aeronave, que já tragam os F-16 para um exercício conjunto no final do ano com os tanques cheios para evitar que haja necessidade de se manusear o combustível no País. Outra desvantagem do F-16 é que ele necessita de uma pista limpa e regular para decolar, o que é difícil de se encontrar no Brasil.
Outras opções
Mas há outros estudos no Ministério da Defesa com ofertas alternativas para a compra de caças usados, a maior parte deles variações do modelo francês Mirage. Os Emirados Árabes ofereceram Mirage 2000, com preços variando de US$ 10 milhões a US$ 12 milhões, dependendo da aeronave a ser comprada. A África do Sul ofereceu os Cheetah, um Mirage com motor e radares mais modernos, e Israel, os Kfir, outro tipo de Mirage com outro tipo de motor, também moderno, considerados melhores que os Cheetah.
Os Kfir custam US$ 4 milhões cada, mais caros do que os Cheetah. No caso dos Mirage, a vantagem é que este já é um modelo usado pelo Brasil e a adaptação aos novos modelos seria mais fácil e mais barato, com aproveitamento dos armamentos.
"Os guerreiros não caem se ajoelham e levantam ainda mais fortes."
TOG: 22 anos de garra, determinação e respeito.