O que é uma favela carioca?
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O que é uma favela carioca?
Um texto altamente esclarecedor é que faz jus a uma leitura lenta e cuidadosa. O historiador e antropólogo Marcos Alvito é um homem decente e do mais alto grau intelectual. O que ele diz deve ser levado em conta por quaisquer pessoas interessadas em compreender os graves problemas de ordem social, econômica e cultural que atormentam não só o Rio de Janeiro, mas também outras áreas do país.
Os negritos são de minha autoria.
ABANDONO E PRECONCEITO SÃO ESTIGMAS DAS FAVELAS.
Domingo, 19 de Agosto de 2001
O historiador Marcos Alvito trocou anos de estudo sobre Grécia pelas três favelas siamesas que compõem Acari, na Av. Brasil. Disso resultou sua tese de doutorado e um livro (As cores de Acari) que ilumina o fenômeno da favelização no Rio de Janeiro. A aventura mudou a visão que tinha sobre a pobreza e a violência que atordoam a cidade.
Entrevista / MARCOS ALVITO
por MÁRCIA VIEIRA e Jonas Cunha
Mulheres de Atenas e Mulheres de Atenas e Esparta. Este seria o tema de tese de doutorado em antropologia de Marcos Alvito, 40 anos, historiador carioca de rosto anguloso, fascinado por versos de Homero. Das ''estratégias de apropriação do corpo feminino'' na Grécia para o feijão de dona Marlene em Acari, favelão plano nos confins da Avenida Brasil, foi um enorme salto. Da harmonia para o caos. Da sabedoria oracular para Xangô, a quem hoje reverencia sempre que chega em casa. É o protetor das pedreiras e seu apartamento no Jardim Botânico dá de cara para uma. Também trocou horas de leitura pela pelada regada a cerveja nos fins de semana na favela onde leva o filho de sete anos e joga no ataque, na banheira, para compensar seus escassos recursos.
A aventura em que Alvito se lançou resultou no livro ''As cores de Acari - Uma Favela Carioca'', lançado pela Editora da Fundação Getúlio Vargas, que renova e atualiza em grande estilo os estudos sobre a favelização no Rio de Janeiro. A experiência não lhe rendeu apenas amizades entre os 40 mil habitantes de Acari - ''criei laços fortes com os moradores; continuo indo lá'' - mas uma compreensão mais aguda do que são as mais de 600 favelas onde vivem um milhão de cariocas. Em Acari, viu de perto a brutalidade da polícia, a crueldade dos traficantes, fervor evangélico, jovens mães viciadas em cocaína, mas também raros exemplos de sociabilidade, além de estratégias de sobrevivência de quem já se acostumou com a orfandade do poder público e cada vez tem menos oportunidades de melhorar de vida só trabalhando. ''Um ambiente de injustiça e abandono facilita a penetração de esquemas criminosos onde jovens são usados como mão de obra barata'', diz. ''O tráfico é neoliberal, vai onde tem mão de obra mais barata''.
Vista na intimidade a favela derruba suas lendas. Ali funciona o varejo da droga para alimentar o viciado da Zona Sul. Meia verdade. Cada vez mais os pobres estão se viciando em cocaína, numa proporção alarmante, depõe Alvito. Favelado não gosta de polícia, prefere os traficantes. Falso. Acari viveu dias de esplendor com uma ocupação da polícia civil. A educação é a única saída para se melhorar de vida. Outra meia verdade. Favelados fazem um imenso esforço para educar os filhos, mas mesmo com segundo grau eles não encontram emprego decente e acabam, como os pais, caixeiros na Ceasa. Não há simplificação que ajude a entender a complexidade da favela.
A vida de Alvito mudou completamente. Hoje dá aulas de História da Sexualidade. Aprendeu a tocar pandeiro. Anda até freqüentando shows de samba. Nesta entrevista para o Jornal do Brasil falou sobre o mundo das favelas, um fenômeno inexorável da vida carioca, para dizer que só é possível entendê-las, como são, jogando fora a pesada carga de preconceitos e estereótipos que desviam a atenção dos problemas reais.
Esta semana discutiu-se muito a atuação da polícia no combate ao tráfico de drogas nas favelas cariocas. Os moradores das favelas preferem a ocupação policial à presença do tráfico?
Claro. Mas existem vários tipos de ocupação policial. A ocupação feita em Acari, em 1996, foi uma ocupação de exceção. Foi a polícia civil, na gestão do Hélio Luz (Chefe da Polícia Civil), com ordens claras de ocupar a favela respeitando os moradores. Os policiais estavam ali para desmantelar o tráfico. Sem tocar na comunidade. E nos poucos meses em que a polícia civil ficou lá, pacificamente, o tráfico acabou. Mesmo. Em dois, três meses, os policiais conseguiram achar mais armas e drogas do que a polícia militar, que entrava três vezes por dia em Acari, durante 10 anos. Os traficantes foram embora. Quem era aviãozinho, quem era endolador, quem não era conhecido pela polícia ficou ali, procurou outro emprego, mudou de vida. O resto fugiu. A polícia desmontou também a possibilidade do tráfico voltar. Os moradores me diziam que a favela estava uma maravilha, que a polícia estava respeitando todo mundo. E isto é muito importante. Os moradores diziam que enquanto a polícia civil estivesse lá, agindo corretamente, não havia condição moral para o tráfico voltar. A favela estava melhor sem ele. Os moradores têm idéia de justiça e reciprocidade muito forte. Se a polícia respeita os moradores, eles também respeitam a polícia. E aí eles não dão apoio para nenhum traficante. Pode ser um menino que eles viram crescer. Os moradores diziam na época: ''a favela está maravilhosa, está uma uva, a polícia deveria ficar aqui um milhão de anos.''
O que aconteceu quando a polícia civil foi embora?
Entrou a polícia militar. No início, eram policiais de batalhões diferentes. Portanto não dava para o traficante saber qual policial aceitava propina. Ficava difícil o acerto, o esquema da corrupção. Depois houve a entrada do batalhão de choque. Os soldados usaram Acari para treinar. Ficavam correndo pela favela de fuzil na mão, com crianças brincando na rua. Eu ficava alucinado vendo aquilo. E depois finalmente veio o 9° Batalhão da Polícia Militar. Aí todo mundo se arrepiou e os moradores prenunciaram que o tráfico ia voltar. A violência é irmã da corrupção e a corrupção é a irmã do tráfico. A linguagem da violência é a linguagem do tráfico. Quando ficou apenas o posto policial comunitário, com um número muito menor de policiais, de um único batalhão, que já tinha todo um acerto com os traficantes. Aí é óbvio que o tráfico voltou. Voltou em outras modalidades, menos ostensivo. Mas voltou.
O primeiro passo para acabar com o tráfico no Rio é ocupar as favelas nos moldes que a Polícia Civil fez em Acari?
Não, isto não é solução. Primeiro porque não tem tropa policial suficiente para ocupar todas as comunidades. Não há homens preparados para fazer este tipo de ocupação feita pela polícia civil de desmantelamento e de inteligência. E quando você ocupa uma série de favelas, as facções correm para outras. O tráfico é rápido, móvel, adaptável. Portanto não é nessa esfera do varejinho que vai se conseguir combater o tráfico. Hoje em Acari tem tráfico de drogas e corrupção policial. Onde tem corrupção tem morte porque se o traficante não paga a polícia mata. É o que o Caio Ferraz (sociólogo que dirigiu a Casa da Paz em Vigário Geral) chamava de chacina à prestação. Todo mundo se choca quando morrem 21 pessoas de uma só vez, mas na verdade toda semana morre um, dois, três. E não se acaba com o poder do tráfico de uma hora para outra. A turma que tem 15 anos já nasceu na favela com a percepção de que a autoridade máxima ali é o líder do tráfico. Portanto, mesmo no momento em que a polícia tinha desmantelado o tráfico em Acari, pairava ainda nas mentes e nos corpos dos moradores o medo da volta do tráfico. Eles estavam o tempo todo pensando na possibilidade de um dia o tráfico voltar. Um dia quem não agisse corretamente teria que prestar contas. E isso é uma verdade. Portanto não são momentos de presença policial que vão apagar esta certeza. A população pobre jamais teve segurança. Ela sempre esteve abandonada à própria sorte tendo que criar seus mecanismos de sobrevivência.
Como se poderia atacar o tráfico, eliminá-lo de vez das favelas?
Para resolver a violência, tem que pensar em resolver o problema da injustiça. Tem que pensar em resolver o problema do desemprego, do preconceito racial, da desigualdade ao acesso à educação, à assistência médica. Um ambiente de injustiça, de abandono facilita a penetração de esquemas criminosos, que usam estes jovens como mão-de-obra barata. O tráfico é neoliberal. Ele vai onde tem mão-de-obra mais barata, de fácil reposição. Onde tem jovem de 15 anos disposto a arriscar a própria vida em troca daquele dinheiro, ele se instala. O dia em que a classe média empobrecer o suficiente para aceitar este dinheiro, ele também vai empregar gente de classe média. É possível desmantelar o tráfico indo ao Fórum. Quem são esses advogados que defendem os traficantes? Tem que investigar daí pra cima.
Este poder que o tráfico tem na favela se estende às associações de moradores? Até que ponto o tráfico domina estas associações nas favelas cariocas?
Em cada favela há uma relação diferente. O que pesa nesta diferença é a relação da favela com o restante da sociedade. Ela é determinante na possibilidade da associação de moradores construir alianças que permitam a ela contrabalançar o poder do tráfico. Isso aconteceu em Vigário Geral, depois da chacina de 21 pessoas que chamou atenção de todo mundo para a favela. E acontece na Mangueira, por causa da visibilidade da escola de samba. Nesta favelas fica mais fácil para a associação de moradores construir uma relação diferente com o tráfico. Acari nunca teve nada disso. Fica muito longe da Zona Sul, lá no fundo da Avenida Brasil. Em Acari não vai ninguém. O líder comunitário fica sem aliança possível. Mas mesmo em Acari houve uma resistência ao tráfico por parte da associação de moradores. Teve até um presidente que chegou a criar uma cela dentro da sede da associação para prender traficante e entregar para a polícia. É claro que depois ele teve que sair fugido para não morrer. Em Acari existem várias associações. Umas mais outras menos ligadas ao tráfico. Em uma delas a influência do tráfico era tão grande que a sede foi construída pelo Cy (ex-chefe do tráfico, já morto). Era uma baita duma sede, com dois andares.
Nestes seis anos frequentando Acari e outras favelas, o Sr. percebe um aumento do número de pessoas pobres consumindo drogas?
Em todos os lugares que fui isso me chamou muito atenção. Tinha muita esta idéia de que a favela é o lugar do varejo e que a classe média e os ricos é que consomem a droga. Infelizmente não é verdade. Eu vi coisas assustadoras. Mãe entrando com filho de 12 anos na boca-de-fumo. Mãe carregando filho recém-nascido para consumir droga. Tudo gente pobre. Vi grupos de senhores de 50 anos cheirando cocaína numa birosca. O problema da droga e da dependência química dentro das comunidades pobres é muito mais amplo do que a gente pode avaliar. A quantidade de dependentes químicos em favela hoje é enorme. Em Parada de Lucas eu via entrar uma multidão, tinha até trocador de ônibus. É claro que tinha gente que ia revender, mas a quantidade é impressionte. O próprio tráfico tem preocupação com isso. No caso do viciado que vem de fora para comprar droga, o traficante estabelece as normas disciplinares. Proíbe que ele cheire ou fume no meio da rua (no livro, Alvito revela a existência de um ''Cheiródromo'' em Acari) e até quanto tempo ele pode ficar na favela. Mas o morador não. É mais complicado. O morador fica o tempo todo olhando a boca-de-fumo, vendo onde os caras malocam as coisas. Ouvi muitas histórias em Acari sobre estas pessoas. Gente que se aproveitava das entradas da polícia na favela para roubar as drogas que os traficantes escondiam. É claro que depois eram assassinados pelos traficantes. Sem discussão.
O uso de drogas hoje é maior do que o consumo de álcool nas comunidades carentes?
Depende da geração. Na turma que hoje está com 40/50 anos o grande problema ainda é o alcoolismo. Nas igrejas evangélicas é assim: as mulheres desta idade vão lá porque têm um marido alcoólatra ou um filho viciado em drogas. Já as mulheres de 30 é meio a meio. O marido pode ser viciado ou alcoólatra. Às vezes, os dois vícios caminham juntos.
O que leva os jovens a trabalharem para o tráfico? É o desemprego, a miséria?
Não dá para fazer a associação miséria/criminalidade. Senão a India seria o país com maior índice de criminalidade no mundo. E não é. Senão o Nordeste, que é mais miserável que Rio e São Paulo, seria mais violento. E não é. Quando este jovem escolhe o rumo que vai dar na vida, ele tem opções. As opções hoje estão muito restritas, o mercado de trabalho está mais fechado, mais exigente. Antes não precisava ter segundo grau para conseguir alguma coisa. Hoje precisa e o diploma não te garante mais nada. Na favela isto é impressionante. A primeira geração que se instalou em Acari viveu uma ascensão social. Ele passou do barraco de madeira para a casa de alvenaria de dois andares. Mas a geração seguinte não avançou muito. Tirando um ou outro caso a ascensão social do pobre está barrada. O sujeito bancou o filho no segundo grau, no curso de inglês, esperando que ele conseguisse uma profissão melhor. Mas o filho hoje está carregando caixote no Ceasa. E o que é pior, o filho nunca teve a expectativa de ser carregador no Ceasa. Ele esperava mais. Isso para ele é descer na vida, ao contrário do pai, que tem orgulho do que conseguiu carregando caixote.
Estudar pra quê? Estudando na escola pública, ele sabe que não vai passar para faculdade pública. Quando consegue passar, entra para carreiras menos disputadas. Vai ser assistente social, porque já é negro, favelado, então vai trabalhar com negro e favelado. Por que um morador de favela não pode ser físico nuclear ou médico? O campo de possibilidades é mínimo. Não é a miséria que leva ao tráfico. Em contato com estas expectativas insatisfeitas, o adolescente vê um outro mundo com chance de ganhar dinheiro. Traficante gosta de lasanha, gosta de pizza. Traficante gosta de uísque. Não bebe cerveja. Por que? Ele gosta de coisas que a classe média gosta. Como aquela mãe que conta no livro que tem um filho que trabalhava no tráfico. Ela diz ''até os filhos dele são metidos. São diferentes dos meus outros netos. Só comem biscoito recheado''. Mesmo entre os biscoitos há uma divisão. A sociedade brasileira é hierárquica. De repente, você tem um jovem com uma explosão de testosterona com aquela coisa de se sentir imortal, querendo inverter o sistema hierárquico em que ele é mandado. Você dá uma oportunidade para ele ganhar dinheiro, ele vai, ele entra para o tráfico. Mas os que vão são minoria. A maioria rala, sofre e se submete.
No livro, o senhor diz que o Comando Vermelho e o Terceiro Comando existem mais nos discursos da polícia e nas reportagens do jornal, do que na realidade da favela. O tráfico não é então tão organizado quanto se imagina?
Esta divisão existe na cadeia e existe principalmente como divisão simbólica, na construção da identidade dos meninos. Em escolas hoje no Rio o recreio tem que ser dividido. Os meninos que são de favela do Comando Vermelho e os que são de favela do Terceiro Comando não se misturam. Os meninos estão acostumados a esse universo dividido, maniqueísta. Do ponto de vista simbólico é assim. Agora do ponto de vista de estruturação, dos traficantes serem organizados efetivamente é uma piada. É para não se ver o que está acima deles. O que existe de fato é um conjunto de alianças que o chefe do tráfico de uma área faz com o chefe de uma outra área. São alianças localizadas, não existe um comando que determina as ações de todas as favelas filiadas.
O senhor destaca no livro a importância da religião dentro de Acari. Por que as igrejas evangélicas de um modo geral, e as pentecostais em particular, conseguiram se firmar com toda força em Acari e nas outras favelas cariocas?
Estas religiões são de salvação individual. O indivíduo dá o testemunho, ele vai se batizar, se converter, se transformar, renascer. As pessoas passam também a dispor de uma alavanca para entender o mundo em que vivem. Como analisar um mundo em que se corta a cabeça dos inimigos? Um mundo onde as pessoas são esquartejadas, colocadas dentro de um saco e jogadas para o porco comer? Como é que você vai explicar o significado do terror, do indizível, daquilo que você não consegue imaginar e que você vê ali na sua frente? As pessoas convivem com o mal absoluto. E aí entram essas religões. Elas fazem uma oposição entre o bem e o mal. Os moradores têm cotidianamente a exemplificação do mal. O mal é o crime, a droga, a arma. E aí a igreja acrescenta: o mal é a macumba, é o feitiço, são os espíritos, são os Exus. Está muito difícil praticar o candomblé nas favelas hoje em dia. De início, quando o tráfico se implantou, as religiões afro-brasileiras eram hegemônicas e tinham uma força muito grande. Então os chefes do tráfico também eram das religiões afro-brasileiras. Porque ela é a mais democrática que tem. Na festa do candomblé, a porta fica aberta. Ninguém precisa se converter, nem acreditar, nem pagar o dízimo. As igrejas pentecostais colocam as religiões afro-brasileiras na conta do mal. Dizem que o traficante que matou, que estuprou, que cortou a cabeça, estava possuído por Exu. Este mesmo traficante quando se converte, diz isso: ''Não fui eu. Eu era apenas um instrumento do demônio, do diabo''. Aí ele renasce. O morador da favela identifica logo o traficante, que mata, que rouba, que destrói. Ele olha para a droga, que é motivo de morte, de destruição, de desestruturação familiar - a droga acaba sendo chamada de diabo ralado.
E por que o tráfico não impede a entrada destas igrejas na favela?
Porque como esse pensamento já se tornou hegemônico, o próprio tráfico se vê como um mal. Ele não nega que ele seja o mal. Aí ele assume e anuncia que ele não é só o mal. Ele é o terror. Aí ele tem que ser mais maligno do que o outro para levar mais pânico, mais medo, e vencer o inimigo. É a violência absoluta.
A maioria da população de Acari frequenta as igrejas evangélicas?
Não fiz nenhum trabalho estatístico. Mas em Acari são cerca de 40 mil pessoas. Existem lá 37 templos religiosos, sendo que 31 são evangélicos. Dá uma média de 1 200 pessoas por templo. E destes centros evangélicos, 80% são pentecostais. A religião que domina as conversas em Acari é a pentecostal. Do ponto de vista individual, este mecanismo é muito poderoso para reconstituir um significado do mundo. A religião ajuda a reconstruir o mundo que está diante de você. E o mundo é um garoto de 14 anos matando outro garoto de 14 anos. É o filho de 13 anos batendo no próprio pai. É um chefe de 18 anos tendo não sei quantas meninas. É a droga rolando solta. É o marido que volta em casa bêbado e espanca a mulher. É o desemprego. É a escola e o hospital que não fucionam. Enfim, é o caos absoluto. Mas você não consegue viver no caos absoluto, do ponto de vista simbólico. Quando o mundo não faz mais sentido, você enlouquece. Quando você percebe que não tem saída, você entra para a religião. Ela te dá um sistema simbólico que é muito
apropriado para a situação que você está vivendo. O do candomblé é muito mais complexo de entender. Para o indivíduo, a fé é uma coisa belíssima. Individualmente faz bem. Mas para o coletivo não. O convertido se isola. Ele não pode beber, não pode ir a festas. Depois não podem nem jogar futebol com quem não é da religião, que eles chamam de ímpios. Porque se o ímpio faz uma falta mais dura é porque ele é um agente do mal que está te testando. Ele vai se isolando e passando a conviver só com quem é da igreja.
A favela tem o estereótipo de ser um lugar caótico e violento. É só preconceito?
O que é característico da favela não é a violência. É a sociabilidade, é a amizade. É este vínculo pessoal, o calor humano. Isto é marcante. A violência é uma visitante indesejada e que está presente em toda a sociedade brasileira. A favela tem uma ética comportamental que não existe no resto da cidade. Etiqueta na favela é importante. Mulher casada só pode ser chamada de ''dona''. Todo mundo fala bom dia, boa tarde, boa noite. As pessoas precisam desta relação para sobreviver. A vizinha precisa da outra para tomar conta do filho enquanto vai trabalhar. O outro precisa do vizinho para fazer um serviço de pedreiro. E assim por diante. Há outros estereótipos errados. A própria idéia de favela é uma mentira. O contexto de cada favela muda tanto que praticamente a única coisa que une as favelas é o preconceito que os moradores do asfalto têm em relação às favelas. Elas são completamente diferentes entre si. É claro que existem algumas coisas semelhantes: os moradores não tem título de propriedade, eles são todos pobres. Mas não é aquele negócio de que você viu uma favela e já conhece todas. Só é assim quando você lida com estereótipos. Cada uma tem uma dinâmica, uma riqueza. Aquilo que se acusa a favela, de ser violenta, suja, irracional, mas marcada por uma alegria excessiva, é um resumo do que se acha do negro. É a mesma visão. O negro é sujo, violento, é alegre, está sempre sorrindo, gosta de festa. O estereótipo é o mesmo.
O que estas comunidades, como Acari, precisam para se tornar lugares melhores para os seus moradores?
O grande problema da favela hoje está no asfalto. É a sociedade inteira achar que a favela é um problema. Ela não é um problema. Ela foi uma solução que a população pobre encontrou para sobreviver. A favela cheira mal porque o lixeiro não passa lá para recolher o lixo. Não é como no asfalto que a Comlurb passa três vezes por semana pela rua. Não há ajuda nenhuma de infraestrutura urbana, e aí se diz que as ruas são caóticas.
Então a chegada do favela-bairro é boa para estas comunidades?
O morador de favela geralmente quer que chegue o favela-bairro porque ele fica feliz com qualquer coisa que ele possa ganhar. Mas a gente tem que perceber o seguinte: 80% da urbanização das favelas foi feita pelos próprios moradores. Isso é fundamental. Se isso fosse contado economicamente, imagina quanto valeria? Acari era inabitável. Era um pântano. Foi devidamente aterrado e aplainado e se tornou área habitável. Os moradores colocaram um sistema de água. Colocaram um sistema de luz, muito antes da Light entrar. A favela tem esta imagem de coisa atrasada. Mas não é verdade. Ela é antenada. Outro dia, lá em Acari, vi um bar: o Internet Beer Show. Não tem computador, mas tem o nome. O cara sabe que internet está na moda. Tem aula de aeróbica na favela. Favelado é um cara progressista. Ele é ligadão nas novidades. Ele compra o tênis da última moda, é bem verdade que o dele é o falsificado, mas ele sabe o que a Zona Sul está usando. O favela-bairro é visto como um benefício, mas ele não resolve o problema da favela porque não existe um problema arquitetônico naquele espaço. O problema é a inserção na sociedade destas pessoas que vivem em favelas. O favela-bairro aproveita o que os moradores já fizeram, coloca uma rampinha, bota a placa. Mas e o problema do emprego, da capacitação da juventude? E o problema da escola, do hospital, do tráfico? O favela-bairro tem um outro problema a médio e longo prazo. A prefeitura urbaniza, melhora a aparência. A casa valoriza. Mas se o morador continua na mesma pindaíba, uma classe média empobrecida pode querer ir morar lá, pode querer comprar a casa. Se o morador da favela está numa situação difícil, porque ele continua sem chances de emprego, ele vende a casa e vai construir um barraco lá em outro lugar. Aí é uma remoção branca. E tem outro problema. Se legalizar tudo na favela, der o título de propriedade, o Estado vai querer cobrar imposto. Vai querer regularizar a situação do comércio, exigir alvará. Então todo este projeto favela-bairro, além dos dividendos políticos, também é uma forma de a médio prazo começar a cobrança de impostos. Se os moradores de favela jamais foram incorporados como cidadãos, eles vão ser incorporados como contribuintes.
Acari foi marcado também pelo projeto Fábrica da Esperança, do pastor evangélico Caio Fábio. O projeto ficou desacreditado depois que polícia encontrou cocaína escondida no prédio. A Fábrica da Esperança era boa para os moradores?
Eu não conheci a Fábrica. Só posso dizer que ela não tinha nenhum enraizamento comunitário. Ela atendia as pessoas de Acari, mas todo o seu staff era de fora. As psicólogas que trabalhavam lá vieram me perguntar como é que eu fazia para entrar na favela porque elas nunca tinham entrado.
O Sr.passou três anos frequentando Acari e hoje mantém amigos por lá. Esta convivência com a favela mudou a sua vida de alguma forma?
Muito. Eu era ateu convicto. Achava religião uma coisa estúpida, alienada, fruto da ignorância. Mas vi que a religião é apenas uma forma de pensar o mundo. Rezar o pai nosso não significa que você acredite exatamente naquelas palavras. O mais importante na religião é a prática. É a demonstração de que você é humilde suficiente para pedir ajuda, para não se sentir todo-poderoso. Eu agora abraço todos os deuses. Os deuses gregos, os deuses do candomblé, o deus dos evangélicos, que é o deus da Dona Marlene, a matriarca de uma família que eu conheci lá e que acabei me tornando amigo. Aprendi mais coisas na favela. Aprendi que a sinceridade lá é fundamental. Ao contrário do mundo acadêmico que é hipócrita, cínico, político, na favela o que conta é manter a palavra. O principal patrimônio de quem vive na favela é a honestidade, o caráter.
Os negritos são de minha autoria.
ABANDONO E PRECONCEITO SÃO ESTIGMAS DAS FAVELAS.
Domingo, 19 de Agosto de 2001
O historiador Marcos Alvito trocou anos de estudo sobre Grécia pelas três favelas siamesas que compõem Acari, na Av. Brasil. Disso resultou sua tese de doutorado e um livro (As cores de Acari) que ilumina o fenômeno da favelização no Rio de Janeiro. A aventura mudou a visão que tinha sobre a pobreza e a violência que atordoam a cidade.
Entrevista / MARCOS ALVITO
por MÁRCIA VIEIRA e Jonas Cunha
Mulheres de Atenas e Mulheres de Atenas e Esparta. Este seria o tema de tese de doutorado em antropologia de Marcos Alvito, 40 anos, historiador carioca de rosto anguloso, fascinado por versos de Homero. Das ''estratégias de apropriação do corpo feminino'' na Grécia para o feijão de dona Marlene em Acari, favelão plano nos confins da Avenida Brasil, foi um enorme salto. Da harmonia para o caos. Da sabedoria oracular para Xangô, a quem hoje reverencia sempre que chega em casa. É o protetor das pedreiras e seu apartamento no Jardim Botânico dá de cara para uma. Também trocou horas de leitura pela pelada regada a cerveja nos fins de semana na favela onde leva o filho de sete anos e joga no ataque, na banheira, para compensar seus escassos recursos.
A aventura em que Alvito se lançou resultou no livro ''As cores de Acari - Uma Favela Carioca'', lançado pela Editora da Fundação Getúlio Vargas, que renova e atualiza em grande estilo os estudos sobre a favelização no Rio de Janeiro. A experiência não lhe rendeu apenas amizades entre os 40 mil habitantes de Acari - ''criei laços fortes com os moradores; continuo indo lá'' - mas uma compreensão mais aguda do que são as mais de 600 favelas onde vivem um milhão de cariocas. Em Acari, viu de perto a brutalidade da polícia, a crueldade dos traficantes, fervor evangélico, jovens mães viciadas em cocaína, mas também raros exemplos de sociabilidade, além de estratégias de sobrevivência de quem já se acostumou com a orfandade do poder público e cada vez tem menos oportunidades de melhorar de vida só trabalhando. ''Um ambiente de injustiça e abandono facilita a penetração de esquemas criminosos onde jovens são usados como mão de obra barata'', diz. ''O tráfico é neoliberal, vai onde tem mão de obra mais barata''.
Vista na intimidade a favela derruba suas lendas. Ali funciona o varejo da droga para alimentar o viciado da Zona Sul. Meia verdade. Cada vez mais os pobres estão se viciando em cocaína, numa proporção alarmante, depõe Alvito. Favelado não gosta de polícia, prefere os traficantes. Falso. Acari viveu dias de esplendor com uma ocupação da polícia civil. A educação é a única saída para se melhorar de vida. Outra meia verdade. Favelados fazem um imenso esforço para educar os filhos, mas mesmo com segundo grau eles não encontram emprego decente e acabam, como os pais, caixeiros na Ceasa. Não há simplificação que ajude a entender a complexidade da favela.
A vida de Alvito mudou completamente. Hoje dá aulas de História da Sexualidade. Aprendeu a tocar pandeiro. Anda até freqüentando shows de samba. Nesta entrevista para o Jornal do Brasil falou sobre o mundo das favelas, um fenômeno inexorável da vida carioca, para dizer que só é possível entendê-las, como são, jogando fora a pesada carga de preconceitos e estereótipos que desviam a atenção dos problemas reais.
Esta semana discutiu-se muito a atuação da polícia no combate ao tráfico de drogas nas favelas cariocas. Os moradores das favelas preferem a ocupação policial à presença do tráfico?
Claro. Mas existem vários tipos de ocupação policial. A ocupação feita em Acari, em 1996, foi uma ocupação de exceção. Foi a polícia civil, na gestão do Hélio Luz (Chefe da Polícia Civil), com ordens claras de ocupar a favela respeitando os moradores. Os policiais estavam ali para desmantelar o tráfico. Sem tocar na comunidade. E nos poucos meses em que a polícia civil ficou lá, pacificamente, o tráfico acabou. Mesmo. Em dois, três meses, os policiais conseguiram achar mais armas e drogas do que a polícia militar, que entrava três vezes por dia em Acari, durante 10 anos. Os traficantes foram embora. Quem era aviãozinho, quem era endolador, quem não era conhecido pela polícia ficou ali, procurou outro emprego, mudou de vida. O resto fugiu. A polícia desmontou também a possibilidade do tráfico voltar. Os moradores me diziam que a favela estava uma maravilha, que a polícia estava respeitando todo mundo. E isto é muito importante. Os moradores diziam que enquanto a polícia civil estivesse lá, agindo corretamente, não havia condição moral para o tráfico voltar. A favela estava melhor sem ele. Os moradores têm idéia de justiça e reciprocidade muito forte. Se a polícia respeita os moradores, eles também respeitam a polícia. E aí eles não dão apoio para nenhum traficante. Pode ser um menino que eles viram crescer. Os moradores diziam na época: ''a favela está maravilhosa, está uma uva, a polícia deveria ficar aqui um milhão de anos.''
O que aconteceu quando a polícia civil foi embora?
Entrou a polícia militar. No início, eram policiais de batalhões diferentes. Portanto não dava para o traficante saber qual policial aceitava propina. Ficava difícil o acerto, o esquema da corrupção. Depois houve a entrada do batalhão de choque. Os soldados usaram Acari para treinar. Ficavam correndo pela favela de fuzil na mão, com crianças brincando na rua. Eu ficava alucinado vendo aquilo. E depois finalmente veio o 9° Batalhão da Polícia Militar. Aí todo mundo se arrepiou e os moradores prenunciaram que o tráfico ia voltar. A violência é irmã da corrupção e a corrupção é a irmã do tráfico. A linguagem da violência é a linguagem do tráfico. Quando ficou apenas o posto policial comunitário, com um número muito menor de policiais, de um único batalhão, que já tinha todo um acerto com os traficantes. Aí é óbvio que o tráfico voltou. Voltou em outras modalidades, menos ostensivo. Mas voltou.
O primeiro passo para acabar com o tráfico no Rio é ocupar as favelas nos moldes que a Polícia Civil fez em Acari?
Não, isto não é solução. Primeiro porque não tem tropa policial suficiente para ocupar todas as comunidades. Não há homens preparados para fazer este tipo de ocupação feita pela polícia civil de desmantelamento e de inteligência. E quando você ocupa uma série de favelas, as facções correm para outras. O tráfico é rápido, móvel, adaptável. Portanto não é nessa esfera do varejinho que vai se conseguir combater o tráfico. Hoje em Acari tem tráfico de drogas e corrupção policial. Onde tem corrupção tem morte porque se o traficante não paga a polícia mata. É o que o Caio Ferraz (sociólogo que dirigiu a Casa da Paz em Vigário Geral) chamava de chacina à prestação. Todo mundo se choca quando morrem 21 pessoas de uma só vez, mas na verdade toda semana morre um, dois, três. E não se acaba com o poder do tráfico de uma hora para outra. A turma que tem 15 anos já nasceu na favela com a percepção de que a autoridade máxima ali é o líder do tráfico. Portanto, mesmo no momento em que a polícia tinha desmantelado o tráfico em Acari, pairava ainda nas mentes e nos corpos dos moradores o medo da volta do tráfico. Eles estavam o tempo todo pensando na possibilidade de um dia o tráfico voltar. Um dia quem não agisse corretamente teria que prestar contas. E isso é uma verdade. Portanto não são momentos de presença policial que vão apagar esta certeza. A população pobre jamais teve segurança. Ela sempre esteve abandonada à própria sorte tendo que criar seus mecanismos de sobrevivência.
Como se poderia atacar o tráfico, eliminá-lo de vez das favelas?
Para resolver a violência, tem que pensar em resolver o problema da injustiça. Tem que pensar em resolver o problema do desemprego, do preconceito racial, da desigualdade ao acesso à educação, à assistência médica. Um ambiente de injustiça, de abandono facilita a penetração de esquemas criminosos, que usam estes jovens como mão-de-obra barata. O tráfico é neoliberal. Ele vai onde tem mão-de-obra mais barata, de fácil reposição. Onde tem jovem de 15 anos disposto a arriscar a própria vida em troca daquele dinheiro, ele se instala. O dia em que a classe média empobrecer o suficiente para aceitar este dinheiro, ele também vai empregar gente de classe média. É possível desmantelar o tráfico indo ao Fórum. Quem são esses advogados que defendem os traficantes? Tem que investigar daí pra cima.
Este poder que o tráfico tem na favela se estende às associações de moradores? Até que ponto o tráfico domina estas associações nas favelas cariocas?
Em cada favela há uma relação diferente. O que pesa nesta diferença é a relação da favela com o restante da sociedade. Ela é determinante na possibilidade da associação de moradores construir alianças que permitam a ela contrabalançar o poder do tráfico. Isso aconteceu em Vigário Geral, depois da chacina de 21 pessoas que chamou atenção de todo mundo para a favela. E acontece na Mangueira, por causa da visibilidade da escola de samba. Nesta favelas fica mais fácil para a associação de moradores construir uma relação diferente com o tráfico. Acari nunca teve nada disso. Fica muito longe da Zona Sul, lá no fundo da Avenida Brasil. Em Acari não vai ninguém. O líder comunitário fica sem aliança possível. Mas mesmo em Acari houve uma resistência ao tráfico por parte da associação de moradores. Teve até um presidente que chegou a criar uma cela dentro da sede da associação para prender traficante e entregar para a polícia. É claro que depois ele teve que sair fugido para não morrer. Em Acari existem várias associações. Umas mais outras menos ligadas ao tráfico. Em uma delas a influência do tráfico era tão grande que a sede foi construída pelo Cy (ex-chefe do tráfico, já morto). Era uma baita duma sede, com dois andares.
Nestes seis anos frequentando Acari e outras favelas, o Sr. percebe um aumento do número de pessoas pobres consumindo drogas?
Em todos os lugares que fui isso me chamou muito atenção. Tinha muita esta idéia de que a favela é o lugar do varejo e que a classe média e os ricos é que consomem a droga. Infelizmente não é verdade. Eu vi coisas assustadoras. Mãe entrando com filho de 12 anos na boca-de-fumo. Mãe carregando filho recém-nascido para consumir droga. Tudo gente pobre. Vi grupos de senhores de 50 anos cheirando cocaína numa birosca. O problema da droga e da dependência química dentro das comunidades pobres é muito mais amplo do que a gente pode avaliar. A quantidade de dependentes químicos em favela hoje é enorme. Em Parada de Lucas eu via entrar uma multidão, tinha até trocador de ônibus. É claro que tinha gente que ia revender, mas a quantidade é impressionte. O próprio tráfico tem preocupação com isso. No caso do viciado que vem de fora para comprar droga, o traficante estabelece as normas disciplinares. Proíbe que ele cheire ou fume no meio da rua (no livro, Alvito revela a existência de um ''Cheiródromo'' em Acari) e até quanto tempo ele pode ficar na favela. Mas o morador não. É mais complicado. O morador fica o tempo todo olhando a boca-de-fumo, vendo onde os caras malocam as coisas. Ouvi muitas histórias em Acari sobre estas pessoas. Gente que se aproveitava das entradas da polícia na favela para roubar as drogas que os traficantes escondiam. É claro que depois eram assassinados pelos traficantes. Sem discussão.
O uso de drogas hoje é maior do que o consumo de álcool nas comunidades carentes?
Depende da geração. Na turma que hoje está com 40/50 anos o grande problema ainda é o alcoolismo. Nas igrejas evangélicas é assim: as mulheres desta idade vão lá porque têm um marido alcoólatra ou um filho viciado em drogas. Já as mulheres de 30 é meio a meio. O marido pode ser viciado ou alcoólatra. Às vezes, os dois vícios caminham juntos.
O que leva os jovens a trabalharem para o tráfico? É o desemprego, a miséria?
Não dá para fazer a associação miséria/criminalidade. Senão a India seria o país com maior índice de criminalidade no mundo. E não é. Senão o Nordeste, que é mais miserável que Rio e São Paulo, seria mais violento. E não é. Quando este jovem escolhe o rumo que vai dar na vida, ele tem opções. As opções hoje estão muito restritas, o mercado de trabalho está mais fechado, mais exigente. Antes não precisava ter segundo grau para conseguir alguma coisa. Hoje precisa e o diploma não te garante mais nada. Na favela isto é impressionante. A primeira geração que se instalou em Acari viveu uma ascensão social. Ele passou do barraco de madeira para a casa de alvenaria de dois andares. Mas a geração seguinte não avançou muito. Tirando um ou outro caso a ascensão social do pobre está barrada. O sujeito bancou o filho no segundo grau, no curso de inglês, esperando que ele conseguisse uma profissão melhor. Mas o filho hoje está carregando caixote no Ceasa. E o que é pior, o filho nunca teve a expectativa de ser carregador no Ceasa. Ele esperava mais. Isso para ele é descer na vida, ao contrário do pai, que tem orgulho do que conseguiu carregando caixote.
Estudar pra quê? Estudando na escola pública, ele sabe que não vai passar para faculdade pública. Quando consegue passar, entra para carreiras menos disputadas. Vai ser assistente social, porque já é negro, favelado, então vai trabalhar com negro e favelado. Por que um morador de favela não pode ser físico nuclear ou médico? O campo de possibilidades é mínimo. Não é a miséria que leva ao tráfico. Em contato com estas expectativas insatisfeitas, o adolescente vê um outro mundo com chance de ganhar dinheiro. Traficante gosta de lasanha, gosta de pizza. Traficante gosta de uísque. Não bebe cerveja. Por que? Ele gosta de coisas que a classe média gosta. Como aquela mãe que conta no livro que tem um filho que trabalhava no tráfico. Ela diz ''até os filhos dele são metidos. São diferentes dos meus outros netos. Só comem biscoito recheado''. Mesmo entre os biscoitos há uma divisão. A sociedade brasileira é hierárquica. De repente, você tem um jovem com uma explosão de testosterona com aquela coisa de se sentir imortal, querendo inverter o sistema hierárquico em que ele é mandado. Você dá uma oportunidade para ele ganhar dinheiro, ele vai, ele entra para o tráfico. Mas os que vão são minoria. A maioria rala, sofre e se submete.
No livro, o senhor diz que o Comando Vermelho e o Terceiro Comando existem mais nos discursos da polícia e nas reportagens do jornal, do que na realidade da favela. O tráfico não é então tão organizado quanto se imagina?
Esta divisão existe na cadeia e existe principalmente como divisão simbólica, na construção da identidade dos meninos. Em escolas hoje no Rio o recreio tem que ser dividido. Os meninos que são de favela do Comando Vermelho e os que são de favela do Terceiro Comando não se misturam. Os meninos estão acostumados a esse universo dividido, maniqueísta. Do ponto de vista simbólico é assim. Agora do ponto de vista de estruturação, dos traficantes serem organizados efetivamente é uma piada. É para não se ver o que está acima deles. O que existe de fato é um conjunto de alianças que o chefe do tráfico de uma área faz com o chefe de uma outra área. São alianças localizadas, não existe um comando que determina as ações de todas as favelas filiadas.
O senhor destaca no livro a importância da religião dentro de Acari. Por que as igrejas evangélicas de um modo geral, e as pentecostais em particular, conseguiram se firmar com toda força em Acari e nas outras favelas cariocas?
Estas religiões são de salvação individual. O indivíduo dá o testemunho, ele vai se batizar, se converter, se transformar, renascer. As pessoas passam também a dispor de uma alavanca para entender o mundo em que vivem. Como analisar um mundo em que se corta a cabeça dos inimigos? Um mundo onde as pessoas são esquartejadas, colocadas dentro de um saco e jogadas para o porco comer? Como é que você vai explicar o significado do terror, do indizível, daquilo que você não consegue imaginar e que você vê ali na sua frente? As pessoas convivem com o mal absoluto. E aí entram essas religões. Elas fazem uma oposição entre o bem e o mal. Os moradores têm cotidianamente a exemplificação do mal. O mal é o crime, a droga, a arma. E aí a igreja acrescenta: o mal é a macumba, é o feitiço, são os espíritos, são os Exus. Está muito difícil praticar o candomblé nas favelas hoje em dia. De início, quando o tráfico se implantou, as religiões afro-brasileiras eram hegemônicas e tinham uma força muito grande. Então os chefes do tráfico também eram das religiões afro-brasileiras. Porque ela é a mais democrática que tem. Na festa do candomblé, a porta fica aberta. Ninguém precisa se converter, nem acreditar, nem pagar o dízimo. As igrejas pentecostais colocam as religiões afro-brasileiras na conta do mal. Dizem que o traficante que matou, que estuprou, que cortou a cabeça, estava possuído por Exu. Este mesmo traficante quando se converte, diz isso: ''Não fui eu. Eu era apenas um instrumento do demônio, do diabo''. Aí ele renasce. O morador da favela identifica logo o traficante, que mata, que rouba, que destrói. Ele olha para a droga, que é motivo de morte, de destruição, de desestruturação familiar - a droga acaba sendo chamada de diabo ralado.
E por que o tráfico não impede a entrada destas igrejas na favela?
Porque como esse pensamento já se tornou hegemônico, o próprio tráfico se vê como um mal. Ele não nega que ele seja o mal. Aí ele assume e anuncia que ele não é só o mal. Ele é o terror. Aí ele tem que ser mais maligno do que o outro para levar mais pânico, mais medo, e vencer o inimigo. É a violência absoluta.
A maioria da população de Acari frequenta as igrejas evangélicas?
Não fiz nenhum trabalho estatístico. Mas em Acari são cerca de 40 mil pessoas. Existem lá 37 templos religiosos, sendo que 31 são evangélicos. Dá uma média de 1 200 pessoas por templo. E destes centros evangélicos, 80% são pentecostais. A religião que domina as conversas em Acari é a pentecostal. Do ponto de vista individual, este mecanismo é muito poderoso para reconstituir um significado do mundo. A religião ajuda a reconstruir o mundo que está diante de você. E o mundo é um garoto de 14 anos matando outro garoto de 14 anos. É o filho de 13 anos batendo no próprio pai. É um chefe de 18 anos tendo não sei quantas meninas. É a droga rolando solta. É o marido que volta em casa bêbado e espanca a mulher. É o desemprego. É a escola e o hospital que não fucionam. Enfim, é o caos absoluto. Mas você não consegue viver no caos absoluto, do ponto de vista simbólico. Quando o mundo não faz mais sentido, você enlouquece. Quando você percebe que não tem saída, você entra para a religião. Ela te dá um sistema simbólico que é muito
apropriado para a situação que você está vivendo. O do candomblé é muito mais complexo de entender. Para o indivíduo, a fé é uma coisa belíssima. Individualmente faz bem. Mas para o coletivo não. O convertido se isola. Ele não pode beber, não pode ir a festas. Depois não podem nem jogar futebol com quem não é da religião, que eles chamam de ímpios. Porque se o ímpio faz uma falta mais dura é porque ele é um agente do mal que está te testando. Ele vai se isolando e passando a conviver só com quem é da igreja.
A favela tem o estereótipo de ser um lugar caótico e violento. É só preconceito?
O que é característico da favela não é a violência. É a sociabilidade, é a amizade. É este vínculo pessoal, o calor humano. Isto é marcante. A violência é uma visitante indesejada e que está presente em toda a sociedade brasileira. A favela tem uma ética comportamental que não existe no resto da cidade. Etiqueta na favela é importante. Mulher casada só pode ser chamada de ''dona''. Todo mundo fala bom dia, boa tarde, boa noite. As pessoas precisam desta relação para sobreviver. A vizinha precisa da outra para tomar conta do filho enquanto vai trabalhar. O outro precisa do vizinho para fazer um serviço de pedreiro. E assim por diante. Há outros estereótipos errados. A própria idéia de favela é uma mentira. O contexto de cada favela muda tanto que praticamente a única coisa que une as favelas é o preconceito que os moradores do asfalto têm em relação às favelas. Elas são completamente diferentes entre si. É claro que existem algumas coisas semelhantes: os moradores não tem título de propriedade, eles são todos pobres. Mas não é aquele negócio de que você viu uma favela e já conhece todas. Só é assim quando você lida com estereótipos. Cada uma tem uma dinâmica, uma riqueza. Aquilo que se acusa a favela, de ser violenta, suja, irracional, mas marcada por uma alegria excessiva, é um resumo do que se acha do negro. É a mesma visão. O negro é sujo, violento, é alegre, está sempre sorrindo, gosta de festa. O estereótipo é o mesmo.
O que estas comunidades, como Acari, precisam para se tornar lugares melhores para os seus moradores?
O grande problema da favela hoje está no asfalto. É a sociedade inteira achar que a favela é um problema. Ela não é um problema. Ela foi uma solução que a população pobre encontrou para sobreviver. A favela cheira mal porque o lixeiro não passa lá para recolher o lixo. Não é como no asfalto que a Comlurb passa três vezes por semana pela rua. Não há ajuda nenhuma de infraestrutura urbana, e aí se diz que as ruas são caóticas.
Então a chegada do favela-bairro é boa para estas comunidades?
O morador de favela geralmente quer que chegue o favela-bairro porque ele fica feliz com qualquer coisa que ele possa ganhar. Mas a gente tem que perceber o seguinte: 80% da urbanização das favelas foi feita pelos próprios moradores. Isso é fundamental. Se isso fosse contado economicamente, imagina quanto valeria? Acari era inabitável. Era um pântano. Foi devidamente aterrado e aplainado e se tornou área habitável. Os moradores colocaram um sistema de água. Colocaram um sistema de luz, muito antes da Light entrar. A favela tem esta imagem de coisa atrasada. Mas não é verdade. Ela é antenada. Outro dia, lá em Acari, vi um bar: o Internet Beer Show. Não tem computador, mas tem o nome. O cara sabe que internet está na moda. Tem aula de aeróbica na favela. Favelado é um cara progressista. Ele é ligadão nas novidades. Ele compra o tênis da última moda, é bem verdade que o dele é o falsificado, mas ele sabe o que a Zona Sul está usando. O favela-bairro é visto como um benefício, mas ele não resolve o problema da favela porque não existe um problema arquitetônico naquele espaço. O problema é a inserção na sociedade destas pessoas que vivem em favelas. O favela-bairro aproveita o que os moradores já fizeram, coloca uma rampinha, bota a placa. Mas e o problema do emprego, da capacitação da juventude? E o problema da escola, do hospital, do tráfico? O favela-bairro tem um outro problema a médio e longo prazo. A prefeitura urbaniza, melhora a aparência. A casa valoriza. Mas se o morador continua na mesma pindaíba, uma classe média empobrecida pode querer ir morar lá, pode querer comprar a casa. Se o morador da favela está numa situação difícil, porque ele continua sem chances de emprego, ele vende a casa e vai construir um barraco lá em outro lugar. Aí é uma remoção branca. E tem outro problema. Se legalizar tudo na favela, der o título de propriedade, o Estado vai querer cobrar imposto. Vai querer regularizar a situação do comércio, exigir alvará. Então todo este projeto favela-bairro, além dos dividendos políticos, também é uma forma de a médio prazo começar a cobrança de impostos. Se os moradores de favela jamais foram incorporados como cidadãos, eles vão ser incorporados como contribuintes.
Acari foi marcado também pelo projeto Fábrica da Esperança, do pastor evangélico Caio Fábio. O projeto ficou desacreditado depois que polícia encontrou cocaína escondida no prédio. A Fábrica da Esperança era boa para os moradores?
Eu não conheci a Fábrica. Só posso dizer que ela não tinha nenhum enraizamento comunitário. Ela atendia as pessoas de Acari, mas todo o seu staff era de fora. As psicólogas que trabalhavam lá vieram me perguntar como é que eu fazia para entrar na favela porque elas nunca tinham entrado.
O Sr.passou três anos frequentando Acari e hoje mantém amigos por lá. Esta convivência com a favela mudou a sua vida de alguma forma?
Muito. Eu era ateu convicto. Achava religião uma coisa estúpida, alienada, fruto da ignorância. Mas vi que a religião é apenas uma forma de pensar o mundo. Rezar o pai nosso não significa que você acredite exatamente naquelas palavras. O mais importante na religião é a prática. É a demonstração de que você é humilde suficiente para pedir ajuda, para não se sentir todo-poderoso. Eu agora abraço todos os deuses. Os deuses gregos, os deuses do candomblé, o deus dos evangélicos, que é o deus da Dona Marlene, a matriarca de uma família que eu conheci lá e que acabei me tornando amigo. Aprendi mais coisas na favela. Aprendi que a sinceridade lá é fundamental. Ao contrário do mundo acadêmico que é hipócrita, cínico, político, na favela o que conta é manter a palavra. O principal patrimônio de quem vive na favela é a honestidade, o caráter.
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Bom texto mesmo.
Só gostaria de comentar 2 coisas.
Bom, tal problema nao admite uma análise tao simplória. De fato, existem, e muitos, advogados que defendem traficantes. Isso é ilicito? Isso é proibido?
Todos merecem defesa decente, caso contrário nao estariamos em um Estado Democrático de Direito. Desde o homicida até o ladrao de galinha merecem tal defesa. Fazer uma analogia entre criminalidade e advocacia é muito perigoso. Antiético pode até ser, como o é, mas criminoso nao.
Sem duvida existem casos em que o Advogado serve para outros fins, que nao aqueles propriamente de exercício do devido processo legal. Aí sim seria o caso de se investigar, caso contrário, a meu ver, dependendo das medidas tomadas, poder-se-ia enquadrar até em cerceamento de defesa e libberdade. Portanto devemos ponderar bastanta ao dizer "advogado de traficante" é isso, é aquilo. O advogado está fazendo o seu trabalho licitamente -repito, pode ser antietico-, e nao merece o rótulo de bandido. Essa analogia entre traficante e advogado é perigosa, simplória e falha.
Nao dá em termos. A miserabilidade, sem duvida alguma, representa um dos fatores fundamentais para o aumento da criminalidade. POde nao ser o único fator, mas é sem dúvida um dos principais.
Nao há uma ligaçao direta entre miserabilidade e criminalidade, já que nesta ligaçao entram os outros fatores, como o ambiente social, os valores, a educaçao, etc; sendo que muitos desses fatores estao condicionados ao fator economico.
O próprio autor acaba fazendo "exceçoes" à sua propria teoria ao dizer "As opções hoje estão muito restritas, o mercado de trabalho está mais fechado, mais exigente. Antes não precisava ter segundo grau para conseguir alguma coisa. Hoje precisa e o diploma não te garante mais nada". Está claro que o fator economico e social aqui influi demais; ele mesmo reconhece isso.
"Estudar pra quê? Estudando na escola pública, ele sabe que não vai passar para faculdade pública. Quando consegue passar, entra para carreiras menos disputadas." Aqui mais uma exceçao a sua teoria. Portanto acho que a coisa nao é bem por aí, como indica a frase em negrito referente a pergunta. Sao muitas variaveis e fatores, mas sem duvida nenhuma o fatores economicos e sociais -miserabilidade- contam MUITO na determinaçao da violencia.
Valeu......Outro dia comento mais coisas.
falow.
Só gostaria de comentar 2 coisas.
Quem são esses advogados que defendem os traficantes? Tem que investigar daí pra cima.
Bom, tal problema nao admite uma análise tao simplória. De fato, existem, e muitos, advogados que defendem traficantes. Isso é ilicito? Isso é proibido?
Todos merecem defesa decente, caso contrário nao estariamos em um Estado Democrático de Direito. Desde o homicida até o ladrao de galinha merecem tal defesa. Fazer uma analogia entre criminalidade e advocacia é muito perigoso. Antiético pode até ser, como o é, mas criminoso nao.
Sem duvida existem casos em que o Advogado serve para outros fins, que nao aqueles propriamente de exercício do devido processo legal. Aí sim seria o caso de se investigar, caso contrário, a meu ver, dependendo das medidas tomadas, poder-se-ia enquadrar até em cerceamento de defesa e libberdade. Portanto devemos ponderar bastanta ao dizer "advogado de traficante" é isso, é aquilo. O advogado está fazendo o seu trabalho licitamente -repito, pode ser antietico-, e nao merece o rótulo de bandido. Essa analogia entre traficante e advogado é perigosa, simplória e falha.
Não dá para fazer a associação miséria/criminalidade. Senão a India seria o país com maior índice de criminalidade no mundo. E não é. Senão o Nordeste, que é mais miserável que Rio e São Paulo, seria mais violento
Nao dá em termos. A miserabilidade, sem duvida alguma, representa um dos fatores fundamentais para o aumento da criminalidade. POde nao ser o único fator, mas é sem dúvida um dos principais.
Nao há uma ligaçao direta entre miserabilidade e criminalidade, já que nesta ligaçao entram os outros fatores, como o ambiente social, os valores, a educaçao, etc; sendo que muitos desses fatores estao condicionados ao fator economico.
O próprio autor acaba fazendo "exceçoes" à sua propria teoria ao dizer "As opções hoje estão muito restritas, o mercado de trabalho está mais fechado, mais exigente. Antes não precisava ter segundo grau para conseguir alguma coisa. Hoje precisa e o diploma não te garante mais nada". Está claro que o fator economico e social aqui influi demais; ele mesmo reconhece isso.
"Estudar pra quê? Estudando na escola pública, ele sabe que não vai passar para faculdade pública. Quando consegue passar, entra para carreiras menos disputadas." Aqui mais uma exceçao a sua teoria. Portanto acho que a coisa nao é bem por aí, como indica a frase em negrito referente a pergunta. Sao muitas variaveis e fatores, mas sem duvida nenhuma o fatores economicos e sociais -miserabilidade- contam MUITO na determinaçao da violencia.
Valeu......Outro dia comento mais coisas.
falow.
"O Lenin dizia que socialismo é igual a ferro mais energia. Hoje é educação mais educação."
Cristovam Buarque
Existem 3 pontos em que eu não concordo no texto, primeiramente gostaria de falar que tenho alguma - mesmo que mínima - propriedade para falar do assunto. Primeiramente pq moro perto de Acari, segundo por já estudar e pesquisar esse assunto a tanto tempo.
1. Exemplo da Pol. Civil/PM/9 Batalhão
Primeiramente, A Pol. Civil no Estado do RJ tem um aspecto mais investigativo, quando o autor se refere a PM, dizendo que entrava 3 vezes por dia, durante 10 anos, com certeza na imensa maiora das vezes não entrava a procura de armas e/ou drogas, mas para entreveiro com traficantes q fizeram "alguma" no "asfalto" (fora da favela...).
Segundo, achei de extrema grosseira, não sei se o autor de fato pesquisou ou tem algum policial da Família. Mas porque o acerto entre o pequeno grupo de PMs que ficou na favela após a ocupação da Civil e os Traficantes? A explicação é simples, a maioria das favelas "grandes" aqui no RJ, tem um posto policial chamado P.P.C (Posto de Policiamento Comunitário) onde um pequeno número de PMs é "obrigado" a passar dia e noite dando "segurança" e reprimindo o tráfico na comunidade... E ai se tem duas opções! ou aceita propina da Bandidagem e faz vista grossa, ou da uma de "policial" e morre COM CERTEZA! Pq falo com tanta propriedade sobres ESTE assunto (PPC...) pq meu irmão trabalha no PPC do morro do São Carlos.
2. Organização do Tráfico de Drogas no RJ
Foi citada uma espécie de "Aliança Local" entre chefes "Locais" e que na verdade não existiriam chefes no topo da carreira... ERRADO! existem 3 facções criminosas hoje no RJ... O citado "Terceiro Comando" por ele já não existe faz tempo (A Data do artigo é de 2001 mesmo?). As facções são, por ordem cronológica, CV (Comando Vermelho) ADA (Amigo dos Amigos) e TCP (Terceiro Comando Puro). Dessas 3 facções apenas o CV é uma "bagunça" já que a maioria dos líderes estão presos, já no caso do ADA (Comandado pelo traficante Linho) e TCP (Robinho Pinga) a liderança é BEM forte.
3. Favela Bairro
O Favela Bairro, projeto municipal em que favelas sofrem diversas obras com o propósito de se tornar mais habitáveis, pode ter dar SIM uma grande ajuda contra o tráfico de drogas em Favelas, em morro a questão é diferente. Pra quem não é do RJ, não se liga muito no que é "Favela" e o que é "Morro", favelas são no plano e morro auto-explicável. Em favelas (plano) o Favela Bairro pode ajudar, visto que as obras tiram a principal vantagem dos Traficantes, que é ter tempo para esconder drogas/armas. Mas uma vez tenho certa propriedade pra falar disso, pois numa favela perto, após obras do Favela Bairro o tráfico ficou tão fraco a ponto de praticamente não existir... Perguntei a um amigo meu que morava lá o motivo! A Resposta foi simples: "Eles vão perder tudo que colocarem lá em termos de Fuzil e Droga"
Ou seja, é mais fácil fazer a boca com pistolas e pouca quantidade de droga, pois se "rodarem" perdem pouco dinheiro. Do outro lado temos a favela do Muquiço, que ainda não sofreu as obras do favela bairro, o que tem de fuzil, metralhadora e obstáculos pra polícia invadir a favela... só fazendo uma grande operação mesmo.
1. Exemplo da Pol. Civil/PM/9 Batalhão
Primeiramente, A Pol. Civil no Estado do RJ tem um aspecto mais investigativo, quando o autor se refere a PM, dizendo que entrava 3 vezes por dia, durante 10 anos, com certeza na imensa maiora das vezes não entrava a procura de armas e/ou drogas, mas para entreveiro com traficantes q fizeram "alguma" no "asfalto" (fora da favela...).
Segundo, achei de extrema grosseira, não sei se o autor de fato pesquisou ou tem algum policial da Família. Mas porque o acerto entre o pequeno grupo de PMs que ficou na favela após a ocupação da Civil e os Traficantes? A explicação é simples, a maioria das favelas "grandes" aqui no RJ, tem um posto policial chamado P.P.C (Posto de Policiamento Comunitário) onde um pequeno número de PMs é "obrigado" a passar dia e noite dando "segurança" e reprimindo o tráfico na comunidade... E ai se tem duas opções! ou aceita propina da Bandidagem e faz vista grossa, ou da uma de "policial" e morre COM CERTEZA! Pq falo com tanta propriedade sobres ESTE assunto (PPC...) pq meu irmão trabalha no PPC do morro do São Carlos.
2. Organização do Tráfico de Drogas no RJ
Foi citada uma espécie de "Aliança Local" entre chefes "Locais" e que na verdade não existiriam chefes no topo da carreira... ERRADO! existem 3 facções criminosas hoje no RJ... O citado "Terceiro Comando" por ele já não existe faz tempo (A Data do artigo é de 2001 mesmo?). As facções são, por ordem cronológica, CV (Comando Vermelho) ADA (Amigo dos Amigos) e TCP (Terceiro Comando Puro). Dessas 3 facções apenas o CV é uma "bagunça" já que a maioria dos líderes estão presos, já no caso do ADA (Comandado pelo traficante Linho) e TCP (Robinho Pinga) a liderança é BEM forte.
3. Favela Bairro
O Favela Bairro, projeto municipal em que favelas sofrem diversas obras com o propósito de se tornar mais habitáveis, pode ter dar SIM uma grande ajuda contra o tráfico de drogas em Favelas, em morro a questão é diferente. Pra quem não é do RJ, não se liga muito no que é "Favela" e o que é "Morro", favelas são no plano e morro auto-explicável. Em favelas (plano) o Favela Bairro pode ajudar, visto que as obras tiram a principal vantagem dos Traficantes, que é ter tempo para esconder drogas/armas. Mas uma vez tenho certa propriedade pra falar disso, pois numa favela perto, após obras do Favela Bairro o tráfico ficou tão fraco a ponto de praticamente não existir... Perguntei a um amigo meu que morava lá o motivo! A Resposta foi simples: "Eles vão perder tudo que colocarem lá em termos de Fuzil e Droga"
Ou seja, é mais fácil fazer a boca com pistolas e pouca quantidade de droga, pois se "rodarem" perdem pouco dinheiro. Do outro lado temos a favela do Muquiço, que ainda não sofreu as obras do favela bairro, o que tem de fuzil, metralhadora e obstáculos pra polícia invadir a favela... só fazendo uma grande operação mesmo.
As GATs e RPs estão em toda cidade!
Como diria Bezerra da Silva: "Malandro é Malandro... Mané é Mané..."
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É aí que entra minha idéia meio radical. Favela-Bairro. Minha proposta é cara, mas com certeza seria eficiente. Esbarraria apenas nesses "sociólogos", "defensores dos direitos humanos" e outros "ólogos da vida".
Pegue uma favela como exemplo, vamos dizer, Rocinha. Um verdadeiro labirinto de vielas, construções uma por cima das outras, buracos, etc. Minha proposta. Mande um avião/helicóptero de reconhecimento, ou pode ser por satélite, fazer fotos da região. Com base nessas fotos, tracariam-se ruas largas o suficiente para mão e contra-mão de veículos maiores como caminhões de bombeiros. Traçado todo o projeto viário, entrar-se-ia na favela com escavadeiras e etc e abriria-se as ruas. Quero deixar claro que antes disso moveriam-se os moradores e seus bens, logicamente.
Após ter essas ruas abertas, entrariam com os serviços de esgoto sanitário, água, luz, telefone, etc. Pavimenta-se as ruas. Pronto, teríamos um verdadeiro bairro. Paralelo a isso, deveriam ser construídos postos de saúde, creches, postos policiais e todos os serviços presentes no "asfalto".
Para finalizar, nos quarteirões recém criados construiriam-se prédios residenciais ao estilo BNH (um novo projeto nesse estilo) para que os moradores pudessem ter finalmente um bom lugar para morar. Seriam dados aos moradores da favela (previamente cadastrados) o título de propriedade do apartamento, o qual não poderia ser vendido para nenhuma outra família, devendo no máximo ser entregue de volta ao governo caso o morador preferisse mudar-se do, agora sim, bairro.
Enfim, tenho certeza que o projeto é faraônico, caríssimo, difícil de ser feito. Mas penso que essa seria uma solução muito boa para a maior parte dos problemas dessas favelas.
Pegue uma favela como exemplo, vamos dizer, Rocinha. Um verdadeiro labirinto de vielas, construções uma por cima das outras, buracos, etc. Minha proposta. Mande um avião/helicóptero de reconhecimento, ou pode ser por satélite, fazer fotos da região. Com base nessas fotos, tracariam-se ruas largas o suficiente para mão e contra-mão de veículos maiores como caminhões de bombeiros. Traçado todo o projeto viário, entrar-se-ia na favela com escavadeiras e etc e abriria-se as ruas. Quero deixar claro que antes disso moveriam-se os moradores e seus bens, logicamente.
Após ter essas ruas abertas, entrariam com os serviços de esgoto sanitário, água, luz, telefone, etc. Pavimenta-se as ruas. Pronto, teríamos um verdadeiro bairro. Paralelo a isso, deveriam ser construídos postos de saúde, creches, postos policiais e todos os serviços presentes no "asfalto".
Para finalizar, nos quarteirões recém criados construiriam-se prédios residenciais ao estilo BNH (um novo projeto nesse estilo) para que os moradores pudessem ter finalmente um bom lugar para morar. Seriam dados aos moradores da favela (previamente cadastrados) o título de propriedade do apartamento, o qual não poderia ser vendido para nenhuma outra família, devendo no máximo ser entregue de volta ao governo caso o morador preferisse mudar-se do, agora sim, bairro.
Enfim, tenho certeza que o projeto é faraônico, caríssimo, difícil de ser feito. Mas penso que essa seria uma solução muito boa para a maior parte dos problemas dessas favelas.
Vinicius Pimenta
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A minha proposta para as favelas.
Morador de favela não mora lá porque gosta, mora porque não tem opção.
Porque não cria financiamentos pra baixa renda comprar seu imóvel, tipo assim: o pessoal que ganha salário mínimo tá ligado?
Pô hoje em dia tá difícil comprar imóvel até pro pessoal da classe média, imagina esse pessoal carente, é um absurdo os preços dos imóveis aqui no RJ em determinadas regiões, impraticável.
Uma pergunta:
PORQUE DUAS POLÍCIAS???
Morador de favela não mora lá porque gosta, mora porque não tem opção.
Porque não cria financiamentos pra baixa renda comprar seu imóvel, tipo assim: o pessoal que ganha salário mínimo tá ligado?
Pô hoje em dia tá difícil comprar imóvel até pro pessoal da classe média, imagina esse pessoal carente, é um absurdo os preços dos imóveis aqui no RJ em determinadas regiões, impraticável.
Uma pergunta:
PORQUE DUAS POLÍCIAS???
"A aplicação das leis é mais importante que a sua elaboração." (Thomas Jefferson)
- Vinicius Pimenta
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Só financiar imóvel não adianta. Há um enorme défict habitacional. Não tem como realojar todos os moradores de favelas em outros bairros e prédios. Daí a idéia de se transformar a favela em verdadeiros bairros, construindo pequenos prédios de 4/5 andares (talvez mais), com cerca de 6 apartamentos por andar (talvez mais). A rocinha tem cerca 50 mil moradores, se colocarmos numa média de 4 pessoas por família teríamos algo em torno de 12,5 mil famílias. Então, fazendo dezenas (talvez centenas) de prédios desses e financiando outros tantos, seria possível mudar um pouco essa situação. O problema é o custo, isso eu não tenho nem como calcular.
Vinicius Pimenta
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Tudo bem Vinicius, mas a quantidade favelados cresceu tanto assim porque o poder público foi omisso na questão. Porque não cortaram logo no início quando nasce uma favela, nos primeiros barracos.
Essa sua proposta é um tipo de vila nos moldes daquelas tipo: Vila Kennedy, Vila Vintém etc. Esses conjuntos habitacionais foram criados um tempão atrás, não sei porque pararam com essa política.
Ah, tem uma coisa tb que deve ser levada em conta, não adianta nada tb o estado fazer sua parte e o morador não, tem que haver uma política de controle de natalidade. O indivíduo tá passando maior aperto e ainda assim faz 5,6,7,8 filhos tá de sacanagem. O cara tá passando fome, mas tem disposição pra fazer filho rsrsrs. Vai ser só mais um monte de favelados igual aos pais, brincadeira tb isso.
Ah, de novo.
POR QUE DUAS POLÍCIAS???
Essa sua proposta é um tipo de vila nos moldes daquelas tipo: Vila Kennedy, Vila Vintém etc. Esses conjuntos habitacionais foram criados um tempão atrás, não sei porque pararam com essa política.
Ah, tem uma coisa tb que deve ser levada em conta, não adianta nada tb o estado fazer sua parte e o morador não, tem que haver uma política de controle de natalidade. O indivíduo tá passando maior aperto e ainda assim faz 5,6,7,8 filhos tá de sacanagem. O cara tá passando fome, mas tem disposição pra fazer filho rsrsrs. Vai ser só mais um monte de favelados igual aos pais, brincadeira tb isso.
Ah, de novo.
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aki em bsb o governo criou um programa em 1992 que retirou as favelas da regiao do plano piloto e criou diversas cidades para poder abrigar essa populacao, hoje mesmo depois de mais de dez anos algumas dessas cidades ainda nao tem infrainstrutura adequada, mas por outro lado exitem outras que dispoe de quase tudo e nenhuma delas podem ser hoje comparadas as favelas.
ja ia esquecendo, nesse tempo todo surgiram mais algumas favelas em outras cidades do DF como a estrutural e a Itapua, mas como elas sao invasoes o governo nao pode investir nelas, mas parece que eles deram a posse da terra para o pessoal da estrutural e creio que dentro de 2 anos ja devam estar cendo iniciados obras de infra estrutura basica.
Galera o problema é bem maior do que habitação e miséria como o próprio autor do texto diz. Tem o problema dos usuários, esses devem ser totalmente sufocados para que não financiem o tráfico do modo com estão financiando...
Pra quem ainda achar o poder organizacional do tráfico fraco, aqui vai mais um texto tirado da lista Alça de Mira:
Bandidos produzem armas caseiras, No ano passado, foram apreendidos 30 fuzis deste tipo
http://www.exercito.gov.br/Resenha/homepage.htm#alem
Marco Antônio Martins
Em meio às campanhas pelo desarmamento patrocinadas pelos governos estadual e
federal, os traficantes de drogas encontraram uma forma de manter seu poderio
nas favelas do Rio. É cada vez mais comum a presença de armas e explosivos de
fabricação caseira nas mãos de criminosos. Por semana, o Esquadrão Anti-Bombas,
da Polícia Civil, recolhe uma média de oito granadas artesanais. Isso
representa 32 explosivos por mês, podendo chegar a um arsenal de pouco mais de
380 bombas confeccionadas nas comunidades carentes.
E o problema não pára por aí. Durante o ano passado, a Polícia Civil apreendeu
30 fuzis, fabricados em diferentes morros do Rio. A Delegacia de Repressão ao
Contrabando de Armas, da Polícia Federal, tenta descobrir quem estaria
produzindo este armamento. Os fuzis são de calibre 7,62 e têm capacidade para
apenas dois disparos, realizados através de uma espécie de espoleta. Um deles,
apreendido numa favela da Zona Norte da cidade, traz a inscrição: ''Republic of
Angola - 7220 - Angofal cal. 7,62 - CV''.
- Esse é o prenúncio de que o combate ao crime no Rio se tornará mais difícil
do que é hoje. Eles buscam a tecnologia para produzir armas em massa. Quando
conseguirem, uma quadrilha vai vender para outra. Daqui a pouco, teremos cópias
de fuzis AK-47, que podem ser reproduzidos facilmente - analisou o professor
Ronaldo Leão, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal
Fluminense.
Leão teme que o tráfico passe a contar com profissionais, como torneiros
mecânicos, que seriam capazes de copiar peças e assim montar armas.
Na sexta-feira, policiais da Delegacia de Repressão à Armas e Explosivos
(Drae), da Polícia Civil, prenderam o ex-cabo das Forças Especiais do Exército,
André Luís Martins, 39 anos. Ele era responsável por fabricar artefatos
explosivos para traficantes das favelas de Acari, no Subúrbio do Rio, e da
Coréia, em Senador Camará.
Por cada explosivo vendido, ele ganhava R$ 100. De acordo com o delegado Carlos
Oliveira, da Drae, o ex-militar chegou a vender 95 artefatos para Acari
arrecadando R$ 9.500. As bombas caseiras eram confeccionadas com tubos de PVC,
dinamite e ainda teriam pregos, que serviriam como estilhaços na explosão.
- O trabalho para essas quadrilhas é rentável. Ou seja, é um problema
enfrentado pela polícia. A questão é que não é o tráfico que vai atrás desses
profissionais, mas eles que procuram os criminosos - disse o delegado Oliveira,
da Drae.
Pra quem ainda achar o poder organizacional do tráfico fraco, aqui vai mais um texto tirado da lista Alça de Mira:
Bandidos produzem armas caseiras, No ano passado, foram apreendidos 30 fuzis deste tipo
http://www.exercito.gov.br/Resenha/homepage.htm#alem
Marco Antônio Martins
Em meio às campanhas pelo desarmamento patrocinadas pelos governos estadual e
federal, os traficantes de drogas encontraram uma forma de manter seu poderio
nas favelas do Rio. É cada vez mais comum a presença de armas e explosivos de
fabricação caseira nas mãos de criminosos. Por semana, o Esquadrão Anti-Bombas,
da Polícia Civil, recolhe uma média de oito granadas artesanais. Isso
representa 32 explosivos por mês, podendo chegar a um arsenal de pouco mais de
380 bombas confeccionadas nas comunidades carentes.
E o problema não pára por aí. Durante o ano passado, a Polícia Civil apreendeu
30 fuzis, fabricados em diferentes morros do Rio. A Delegacia de Repressão ao
Contrabando de Armas, da Polícia Federal, tenta descobrir quem estaria
produzindo este armamento. Os fuzis são de calibre 7,62 e têm capacidade para
apenas dois disparos, realizados através de uma espécie de espoleta. Um deles,
apreendido numa favela da Zona Norte da cidade, traz a inscrição: ''Republic of
Angola - 7220 - Angofal cal. 7,62 - CV''.
- Esse é o prenúncio de que o combate ao crime no Rio se tornará mais difícil
do que é hoje. Eles buscam a tecnologia para produzir armas em massa. Quando
conseguirem, uma quadrilha vai vender para outra. Daqui a pouco, teremos cópias
de fuzis AK-47, que podem ser reproduzidos facilmente - analisou o professor
Ronaldo Leão, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Federal
Fluminense.
Leão teme que o tráfico passe a contar com profissionais, como torneiros
mecânicos, que seriam capazes de copiar peças e assim montar armas.
Na sexta-feira, policiais da Delegacia de Repressão à Armas e Explosivos
(Drae), da Polícia Civil, prenderam o ex-cabo das Forças Especiais do Exército,
André Luís Martins, 39 anos. Ele era responsável por fabricar artefatos
explosivos para traficantes das favelas de Acari, no Subúrbio do Rio, e da
Coréia, em Senador Camará.
Por cada explosivo vendido, ele ganhava R$ 100. De acordo com o delegado Carlos
Oliveira, da Drae, o ex-militar chegou a vender 95 artefatos para Acari
arrecadando R$ 9.500. As bombas caseiras eram confeccionadas com tubos de PVC,
dinamite e ainda teriam pregos, que serviriam como estilhaços na explosão.
- O trabalho para essas quadrilhas é rentável. Ou seja, é um problema
enfrentado pela polícia. A questão é que não é o tráfico que vai atrás desses
profissionais, mas eles que procuram os criminosos - disse o delegado Oliveira,
da Drae.
As GATs e RPs estão em toda cidade!
Como diria Bezerra da Silva: "Malandro é Malandro... Mané é Mané..."
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Salve, Spetznaz com "Z".
O professor se limita a repetir um questionamento que muitos fazem. Após a prisão, o bandido Elias Maluco - o torturador e assassino de Tim Lopez - contava com dois ou mais advogados na sua defesa. O problema é que ele, em juízo, se declarou "pintor de automóveis". Alguém neste fórum, conhece algum pintor de automóveis; gari; porteiro; faxineiro que tenha, um só advogado? Quanto mais vários deles? Então, de onde é que sai o dinheiro dos honorários desses chicaneiros de porta de cadeia? Muitos deles não fazem a menor questão de "saberem" disso (entre aspas, claro, porque eles sabem muito bem de onde vem o dinheiro que eles usam para por o pão na boca de seus filhos...)
Uma solução simples é aprovar uma medida que proibe a contratação de advogados particulares por criminosos que não comprovem uma fonte legal de rendimentos. Assim, só poderiam ser atendidos - como acontece com os verdadeiros pintores de automóveis, faxineiros, porteiros - pela defensoria pública. Desse modo, a sociedade saberia "quem são esses advogados"...
Infelizmente, alguns advogados e juristas consideram tal medida uma "aberração anticonstitucional, que viola o direito de defesa dos cidadãos". Cidadãos como o bandido Elias Maluco.
Cidadão?
Evidente que ele faz "exceções". O Professor Marcos Alvito é um homem inteligente demais para já não ter aprendido que, em se tratando de relações humanas não existe regra sem exceções.
Como diz o professor, o fator sócio-econômico tem um grande peso, mas não pode ser considerado o definidor em última análise do comportamento individual criminoso. Eu sei bem que tal intepretação não casa com certas teorias que vêem a "infra-estrutura econômica como determinante da super-estrutura ideológica",
O grande perigo dessa visão ideológica na tentativa de explicação - e mais ainda na tentativa de resolução - das questões criminais é que, em primeiro lugar, não explica a existência de um Juiz "Lalau". Ou a de um tenente-coronel da PM de São Paulo reformado, que percebia um rendimento de mais de 10 mil reais, e mesmo assim foi parar na cadeia por tentar chantagear um candidato a prefeito.
E não explica o trecho do professor:
Ou seja, embora as condições sejam as mesmas, uma grande maioria ainda prefere cozinhar debaixo do sol, vendendo latinha de refrigerante, do que ir pegar numa espada e retalhar um ser humano ainda vivo, em troca do dinheiro do tráfico.
E a sociedade brasileira tem que se aperfeiçoar, lutar para o desenvolvimento econômico-social dessa Nação pensando primordialmente em fazer justiça aquele sujeito honesto e decente que está vendendo latinha de refrigerante no sinal de trânsito. Porque esse brasileiro merece algo mais da Pátria em que nasceu.
O que mais me assusta em se levar ao excesso esse tipo de discurso é o uso político que se faz dele. Primeiro, pelos revolucionários de esquerda que sonham em converter os habitantes das comunidades carentes (ou os "sem-terra" do campo) em soldados da Revolução dos Oprimidos. Não por coincidência, os terroristas marxistas da década dos 70, colocados nos presídios com presos comuns - a suprema asneira da Ditadura militar - repassaram todas as suas técnicas terroristas para os bandidos, juntamente com suas fantasias comunistas "de uma sociedade sem excluídos".
Os bandidos ficaram com as técnicas e jogaram as fantasias na lata de lixo. E foi daí que nasceu o "Comando Vermelho".
Outro uso que se faz desse discurso, é a repetida negativa de se reformar os códigos penais, endurecendo-os. Afinal, se a causa do banditismo "em última instância" são "fatores sociais-econômicos e a miserabilidade", por que devemos nos concentrar em punição, em repressão? Realmente, punição e repressão não podem ser a única resposta. Mas elas terão, sim, de acompanhar quaisquer outras ações de combate à criminalidade. Gostem disso, ou não, muitos juristas brasileiros.
Afinal, o bandido Elias Maluco, em outra situação sócio-econômica, poderia ter sido um novo Beethoven. Ou um novo Einstein. Ou talvez, um renomado "chef" de cozinha.
Ele é muito bom com "assados"...
Todos merecem defesa decente, caso contrário nao estariamos em um Estado Democrático de Direito. Desde o homicida até o ladrao de galinha merecem tal defesa. Fazer uma analogia entre criminalidade e advocacia é muito perigoso. Antiético pode até ser, como o é, mas criminoso nao.
O professor se limita a repetir um questionamento que muitos fazem. Após a prisão, o bandido Elias Maluco - o torturador e assassino de Tim Lopez - contava com dois ou mais advogados na sua defesa. O problema é que ele, em juízo, se declarou "pintor de automóveis". Alguém neste fórum, conhece algum pintor de automóveis; gari; porteiro; faxineiro que tenha, um só advogado? Quanto mais vários deles? Então, de onde é que sai o dinheiro dos honorários desses chicaneiros de porta de cadeia? Muitos deles não fazem a menor questão de "saberem" disso (entre aspas, claro, porque eles sabem muito bem de onde vem o dinheiro que eles usam para por o pão na boca de seus filhos...)
Uma solução simples é aprovar uma medida que proibe a contratação de advogados particulares por criminosos que não comprovem uma fonte legal de rendimentos. Assim, só poderiam ser atendidos - como acontece com os verdadeiros pintores de automóveis, faxineiros, porteiros - pela defensoria pública. Desse modo, a sociedade saberia "quem são esses advogados"...
Infelizmente, alguns advogados e juristas consideram tal medida uma "aberração anticonstitucional, que viola o direito de defesa dos cidadãos". Cidadãos como o bandido Elias Maluco.
Cidadão?
Nao dá em termos. A miserabilidade, sem duvida alguma, representa um dos fatores fundamentais para o aumento da criminalidade. POde nao ser o único fator, mas é sem dúvida um dos principais. Nao há uma ligaçao direta entre miserabilidade e criminalidade, já que nesta ligaçao entram os outros fatores, como o ambiente social, os valores, a educaçao, etc; sendo que muitos desses fatores estao condicionados ao fator economico. O próprio autor acaba fazendo "exceçoes" à sua propria teoria
Evidente que ele faz "exceções". O Professor Marcos Alvito é um homem inteligente demais para já não ter aprendido que, em se tratando de relações humanas não existe regra sem exceções.
Como diz o professor, o fator sócio-econômico tem um grande peso, mas não pode ser considerado o definidor em última análise do comportamento individual criminoso. Eu sei bem que tal intepretação não casa com certas teorias que vêem a "infra-estrutura econômica como determinante da super-estrutura ideológica",
O grande perigo dessa visão ideológica na tentativa de explicação - e mais ainda na tentativa de resolução - das questões criminais é que, em primeiro lugar, não explica a existência de um Juiz "Lalau". Ou a de um tenente-coronel da PM de São Paulo reformado, que percebia um rendimento de mais de 10 mil reais, e mesmo assim foi parar na cadeia por tentar chantagear um candidato a prefeito.
E não explica o trecho do professor:
(...)Você dá uma oportunidade para ele ganhar dinheiro, ele vai, ele entra para o tráfico. Mas os que vão são minoria. A maioria rala, sofre e se submete.(...)
Ou seja, embora as condições sejam as mesmas, uma grande maioria ainda prefere cozinhar debaixo do sol, vendendo latinha de refrigerante, do que ir pegar numa espada e retalhar um ser humano ainda vivo, em troca do dinheiro do tráfico.
E a sociedade brasileira tem que se aperfeiçoar, lutar para o desenvolvimento econômico-social dessa Nação pensando primordialmente em fazer justiça aquele sujeito honesto e decente que está vendendo latinha de refrigerante no sinal de trânsito. Porque esse brasileiro merece algo mais da Pátria em que nasceu.
Sao muitas variaveis e fatores, mas sem duvida nenhuma o fatores economicos e sociais -miserabilidade- contam MUITO na determinaçao da violencia.
O que mais me assusta em se levar ao excesso esse tipo de discurso é o uso político que se faz dele. Primeiro, pelos revolucionários de esquerda que sonham em converter os habitantes das comunidades carentes (ou os "sem-terra" do campo) em soldados da Revolução dos Oprimidos. Não por coincidência, os terroristas marxistas da década dos 70, colocados nos presídios com presos comuns - a suprema asneira da Ditadura militar - repassaram todas as suas técnicas terroristas para os bandidos, juntamente com suas fantasias comunistas "de uma sociedade sem excluídos".
Os bandidos ficaram com as técnicas e jogaram as fantasias na lata de lixo. E foi daí que nasceu o "Comando Vermelho".
Outro uso que se faz desse discurso, é a repetida negativa de se reformar os códigos penais, endurecendo-os. Afinal, se a causa do banditismo "em última instância" são "fatores sociais-econômicos e a miserabilidade", por que devemos nos concentrar em punição, em repressão? Realmente, punição e repressão não podem ser a única resposta. Mas elas terão, sim, de acompanhar quaisquer outras ações de combate à criminalidade. Gostem disso, ou não, muitos juristas brasileiros.
Afinal, o bandido Elias Maluco, em outra situação sócio-econômica, poderia ter sido um novo Beethoven. Ou um novo Einstein. Ou talvez, um renomado "chef" de cozinha.
Ele é muito bom com "assados"...
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Salve ZeRo4,
Embora eu não tenha nenhuma - nem mesmo mínima - propriedade para falar do assunto, gostaria de tentar dizer alguma coisa.
Antes de mais nada, embora eu não tenha lido o livro - coisa que ainda espero fazer, algum dia - parece claro que não se trata de uma obra de cunho policial, mas sim uma tese humanística e antropológica sobre a vida de uma determinada comunidade. E em tal relato, a questão da violência e da criminalidade entram como itens acessórios e não principais. Então não se pode esperar receitas prontas e acabadas para lidar com questões de técnicas policiais.
Eu também, como já disse, só posso falar como leigo interessado no assunto. E nessa condição devo dizer que não me agrada que a PM entre em favelas "para entreveiro com traficantes q fizeram 'alguma' no 'asfalto' ". Tal tática não me parece nem um pouco produtiva. E só serve, quando muito, para pôr em risco a vida de cidadãos brasileiros inocentes, e para voltá-los contra o Poder Público.
Eu já tinha lido, num trabalho do próprio Delegado Hélio Luz, sobre a experiência da ocupação de Acari. E, em minha opinião, não pode haver dúvida alguma sobre a superioridade dos métodos então aplicados sobre tudo o que foi tentado antes, ou depois.
Eu não vi grosseira alguma. O 9o BPM ficou com a pecha de o mais corrupto batalhão de polícia do Estado, após o indiciamento em massa de policiais, há alguns anos (se não me falha a memória, parece que passou da centena o número de envolvidos. Aliás, não eram desse batalhão, vários dos acusados por chacinas como a de Vigário Geral?)
Sobre o problema da atitude dos soldados nos postos dentro de favelas, não posso concordar, em hipótese alguma.
Ou melhor, poderia concordar em que tal tática policial é um desastre e totalmente inútil. Cabendo a culpa disso, em primeiro lugar ao governador (seja ele quem for), e em segundo lugar aos comandantes da PM, por exporem seus soldados dessa forma. Mas, no momento em que tivermos de aceitar como certa tal atitude de um policial que diz: "ou eu aceito a propina, ou eu sou morto", então, seria melhor extinguir todas as forças da lei e da ordem, e entregar as chaves do Governo e da Assembléia Legislativa aos traficantes.
Pois toda a idéia de manutenção da Lei e da Ordem, e da defesa das Instituições terá perecido.
Eles são soldados da Polícia Militar! Eles não são recrutas arrancados à força de dentro de casa para servir. Eles são profissionais de polícia voluntários. Eles fizeram juramento. E eles vão ter de cumprir com ele.
Um policial que recebe propina não pode pedir compreensão à Sociedade. E nem pode esperar recebê-la. Seu único destino será a expulsão com desonra e a prisão por crime de corrupção.
Se acham que não tem mais condições de cumprirem com seu dever, então peçam desligamento. Eu conheço gente que fez isso. É mais decente do que pegar dinheiro de bicheiro ou de traficante.
O texto é mesmo de 2001. E é possível que as coisas tenham mudado desde então. Ao menos, com a limpeza que o bandido Beira-Mar fez entre seus inimigos. Parece claro que a intenção desse meliante é se tornar um "Pablo Escobar" tupiniquim. Coitados de nós, os cariocas, se isso acontecer!
Mas nessa época, talvez a observação do autor do texto não estivesse assim tão equivocada. Pelo menos, tal visão das grandes quadrilhas era a mesma que demonstrava o Delegado Hélio Luz, um homem que não pode ser considerado um leigo no assunto.
Como já escrevi, a preocupação fundamental do professor é com o bem-estar das pessoas da favela. O "Favela Bairro" tem de ter a mesma preocupação: levar bem-estar e dignidade a essas pessoas e não incorporar uma tentativa utilitarista de apenas "ser uma ajuda contra o tráfico de drogas". Até por que, como opinou o autor, o tráfico sai e vai se instalar na próxima comunidade de gente desassistida que irá, sem dúvida, surgir em algum lugar.
Sobre a terminologia, é preciso que se diga que esse nome "favela" era de um morro que se erguia próximo ao vilarejo de Canudos. Quando os soldados cariocas voltaram da guerra contra os beatos de Antônio Conselheiro, alguns deles foram morar num morro da cidade do Rio de Janeiro que, devido à semelhança com a localidade baiana, recebeu o nome de "Favela". E essa denominação acabou se estendendo a todas as comunidades de gente carente que surgiram na cidade, em especial, no começo do século XX, na esteira de grandes modificações urbanas que desalojaram grande número de pessoas que viviam em cortiços e casas de cômodos (habitações populares da época) e que tiveram de se abrigar nos morros do centro da cidade e nas regiões de periferia.
Embora eu não tenha nenhuma - nem mesmo mínima - propriedade para falar do assunto, gostaria de tentar dizer alguma coisa.
Antes de mais nada, embora eu não tenha lido o livro - coisa que ainda espero fazer, algum dia - parece claro que não se trata de uma obra de cunho policial, mas sim uma tese humanística e antropológica sobre a vida de uma determinada comunidade. E em tal relato, a questão da violência e da criminalidade entram como itens acessórios e não principais. Então não se pode esperar receitas prontas e acabadas para lidar com questões de técnicas policiais.
Eu também, como já disse, só posso falar como leigo interessado no assunto. E nessa condição devo dizer que não me agrada que a PM entre em favelas "para entreveiro com traficantes q fizeram 'alguma' no 'asfalto' ". Tal tática não me parece nem um pouco produtiva. E só serve, quando muito, para pôr em risco a vida de cidadãos brasileiros inocentes, e para voltá-los contra o Poder Público.
Eu já tinha lido, num trabalho do próprio Delegado Hélio Luz, sobre a experiência da ocupação de Acari. E, em minha opinião, não pode haver dúvida alguma sobre a superioridade dos métodos então aplicados sobre tudo o que foi tentado antes, ou depois.
Segundo, achei de extrema grosseira, não sei se o autor de fato pesquisou ou tem algum policial da Família. Mas porque o acerto entre o pequeno grupo de PMs que ficou na favela após a ocupação da Civil e os Traficantes? A explicação é simples, a maioria das favelas "grandes" aqui no RJ, tem um posto policial chamado P.P.C (Posto de Policiamento Comunitário) onde um pequeno número de PMs é "obrigado" a passar dia e noite dando "segurança" e reprimindo o tráfico na comunidade... E ai se tem duas opções! ou aceita propina da Bandidagem e faz vista grossa, ou da uma de "policial" e morre COM CERTEZA!
Eu não vi grosseira alguma. O 9o BPM ficou com a pecha de o mais corrupto batalhão de polícia do Estado, após o indiciamento em massa de policiais, há alguns anos (se não me falha a memória, parece que passou da centena o número de envolvidos. Aliás, não eram desse batalhão, vários dos acusados por chacinas como a de Vigário Geral?)
Sobre o problema da atitude dos soldados nos postos dentro de favelas, não posso concordar, em hipótese alguma.
Ou melhor, poderia concordar em que tal tática policial é um desastre e totalmente inútil. Cabendo a culpa disso, em primeiro lugar ao governador (seja ele quem for), e em segundo lugar aos comandantes da PM, por exporem seus soldados dessa forma. Mas, no momento em que tivermos de aceitar como certa tal atitude de um policial que diz: "ou eu aceito a propina, ou eu sou morto", então, seria melhor extinguir todas as forças da lei e da ordem, e entregar as chaves do Governo e da Assembléia Legislativa aos traficantes.
Pois toda a idéia de manutenção da Lei e da Ordem, e da defesa das Instituições terá perecido.
Eles são soldados da Polícia Militar! Eles não são recrutas arrancados à força de dentro de casa para servir. Eles são profissionais de polícia voluntários. Eles fizeram juramento. E eles vão ter de cumprir com ele.
Um policial que recebe propina não pode pedir compreensão à Sociedade. E nem pode esperar recebê-la. Seu único destino será a expulsão com desonra e a prisão por crime de corrupção.
Se acham que não tem mais condições de cumprirem com seu dever, então peçam desligamento. Eu conheço gente que fez isso. É mais decente do que pegar dinheiro de bicheiro ou de traficante.
Foi citada uma espécie de "Aliança Local" entre chefes "Locais" e que na verdade não existiriam chefes no topo da carreira... ERRADO! existem 3 facções criminosas hoje no RJ... O citado "Terceiro Comando" por ele já não existe faz tempo (A Data do artigo é de 2001 mesmo?)
O texto é mesmo de 2001. E é possível que as coisas tenham mudado desde então. Ao menos, com a limpeza que o bandido Beira-Mar fez entre seus inimigos. Parece claro que a intenção desse meliante é se tornar um "Pablo Escobar" tupiniquim. Coitados de nós, os cariocas, se isso acontecer!
Mas nessa época, talvez a observação do autor do texto não estivesse assim tão equivocada. Pelo menos, tal visão das grandes quadrilhas era a mesma que demonstrava o Delegado Hélio Luz, um homem que não pode ser considerado um leigo no assunto.
O Favela Bairro, projeto municipal em que favelas sofrem diversas obras com o propósito de se tornar mais habitáveis, pode ter dar SIM uma grande ajuda contra o tráfico de drogas em Favelas, em morro a questão é diferente. Pra quem não é do RJ, não se liga muito no que é "Favela" e o que é "Morro", favelas são no plano e morro auto-explicável.
Como já escrevi, a preocupação fundamental do professor é com o bem-estar das pessoas da favela. O "Favela Bairro" tem de ter a mesma preocupação: levar bem-estar e dignidade a essas pessoas e não incorporar uma tentativa utilitarista de apenas "ser uma ajuda contra o tráfico de drogas". Até por que, como opinou o autor, o tráfico sai e vai se instalar na próxima comunidade de gente desassistida que irá, sem dúvida, surgir em algum lugar.
Sobre a terminologia, é preciso que se diga que esse nome "favela" era de um morro que se erguia próximo ao vilarejo de Canudos. Quando os soldados cariocas voltaram da guerra contra os beatos de Antônio Conselheiro, alguns deles foram morar num morro da cidade do Rio de Janeiro que, devido à semelhança com a localidade baiana, recebeu o nome de "Favela". E essa denominação acabou se estendendo a todas as comunidades de gente carente que surgiram na cidade, em especial, no começo do século XX, na esteira de grandes modificações urbanas que desalojaram grande número de pessoas que viviam em cortiços e casas de cômodos (habitações populares da época) e que tiveram de se abrigar nos morros do centro da cidade e nas regiões de periferia.
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Na minha opinião, deveria bombardea a favela(logico que tiraria a população antes), arranca os escombros, e constroi uns par daqueles predinho, tudo igual. E manda a população pra la.
"A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de caráter, e quem é cruel com os animais, não pode ser um bom homem." Schopenhauer