#114
Mensagem
por jif_jr » Sáb Jul 03, 2004 2:38 am
Antes de voces mandarem as FAs varrerem morro, voltem alguns anos no tempo e tentem enchergar onde começa a problemática carioca, sinceramente o que acontece hoje no Rio ou em São Paulo é fruto da nossa própria hipocrisia, vou tentar trazer situação para Sampa, onde eu estou mais habituado:
Imagine um garoto que chega do Nordeste hoje em sampa, ele e sua família vem em busca de condições melhores e com a esperança de uma vida melhor, ele vai morar com seus pais em algum lugar da períferia, onde nem se sonha em ver a presença do estado, a não ser a polícia, a escola (totalmente desorganizada), e muito raramente um posto de saúde horrível.
Seu pai com muito sacrifício consegue um emprego de ajudante de pedreiro e trabalha todos os dias das 5:30 ás 20:00 (ele acorda às 3:30 e toma um trem de 2 horas p/ chegar ao local do trabalho, consequentemente vai chegar no seu adorável lar por volta das 22:00) para ganhar a enorme quantia de R$ 300,00/350,00, sua mãe não pode trabalhar por que tem que ficar em casa e cuidar dos seus 4 irmãos mais novos, enquanto isso seus 2 irmãos mais velhos (cada um com cerca de 9/10 anos) vão para o trem pedir dinheiro para ajudar na renda familiar, e o nosso garoto depois que sai da escola ao meio-dia (nosso garoto já tem 08 anos e esta na 3ª serie) fica ali por perto de casa procurando alguma coisa para fazer (como já falei o estado não oferece nenhum tipo de lazer), ele conheçe uns moleques da mesma idade jogando bola em um terreno abandonado, e faz amizade.
Passados alguns meses da sua triunfal chegada ao maravilhoso lugar chamado São Paulo ele abandona seus estudos naquela ótima escola do estado, que só viria a o ensina-lo a ler e escrever quando ele estivesse na 6ª/7ª série, e pressionado pela falta de dinheiro vai com seus novos coleguinhas vender bala em algum semáforo, onde quer que ele esteja (na Brigadediro, na Paulista, na Radial Leste, ou em qualquer cruzamento) a situação será sempre a mesma, o sinal fecha, ele se aproxima do Audi A3 preto com insulfilme, rodas de liga leve, rebaixado, e com o porta malas totalmente ocupado pelas caixas seladas com seus alto falantes de 18 polegadas, e ao se aproximar sempre a mesma cena, o vidro escuro se fecha sem ao menos o motorista olhar para a cara do nosso garoto, vou falar um pouco do nosso motorista.
Ele é um jovem universitário que faz Adm. de Empresas na PUC, e vai herdar a empresa do papai, quando o motorista percebe a presença do nosso garoto ele (que estava falando naquele celular lindo novinho de R$ 2.500,00 que tira foto e tudo) rapidamente fecha o vidro, mas o nosso garoto insistente bate no vidro e pede uns trocados e ele o diz que não tem!
Logo ele volta a falar ao celular, ele está combinando com um amigo para sairem à noite depois da aula, nossa que legal! eles vão a uma discoteca nos jardins, a entrada custa R$ 70,00, ele costuma beber um pouquinho, só umas doses de Whisk (acho que é assim que se escreve), cada dose custa R$ 15,00, depois da balada ele vai sair com a Juliana, uma mina que ele está comendo ai, acho que ele vai levar ela para um motel, ah nada que uns R$100,00 não pague, antes de desligar ele ainda fala para o amigo que está com vontade de aproveitar o sol e ir no fim de semana para sua casa em Ubatuba, ele ainda comenta: "Putz esta cidade está horrível todo cruzamento que eu paro vem um pivete pedir dinheiro, como se eu não soubesse que ele vai comprar droga!, já imaginou se eu fosse dar dinheiro pra todos eles quanto que eu iria gastar?"
E aquele nosso garoto que cresceu neste contexto, passados alguns anos aprendeu tudo o que não devia, uma de suas irmãs já havia morrido,por que na sua casa não tem esgoto nem água encanada (mais uma vez a falta do estado), ela pegou uma infecção e morreu nos braços da sua mãe esperando para ser atendida na fila do hospital, que trágico!
E o nosso garoto? Ele aprendeu que para nós magnatas do poder, sua vida não tem valor, um carro importado é mais importante, um celular, um Whysk, e ele passou a não dar valor à vida dos outros também, começou a cheirar cola para se esquecer das mazelas da sua vida, começou a cometer pequenos delitos, furtar, passou a usar drogas mais fortes, aprendeu que a polícia não é tão boa quanto se parece, ficou devendo para os traficantes, comprou uma arma, foi para o semáfaro, só que destavez não de dia, e sim á noite, pena que a vítima reagiu não quis entregar o relógio de ouro, que pena, era a primeira vez que nosso garoto iria assaltar, sabe como é garoto nervoso com arma na mão, a vítima ainda reage, nossa! Latrocínio, roubo seguido de morte e o nosso garoto vai sentir o peso da mão de um polícial.
Olha lá ele passando em um destes telejornais sensacionalistas, coitado do nosso garoto com 14 anos foi para a FEBÉM (a verdadeira escola do crime).
O que será do nosso garoto agora? seu futuro já está traçado, não passa dos 20 anos, só de pensar naquele garoto bonito, gordinho, com um futuro promissor, tão inteligente!, que pena não teve infância, não teve oportunidades, não teve sorte, e os seus irmãos ?
Devem estar na mesma situação que ele, sendo transformados pela sociedade em marginais, que aprenderam que sua vida não vale nada, não terão oportunidades, e neste momento em algum lugar alguém deve estar discutindo qual a melhor forma de limpar estes cidadãos periféricos da sociedade, com o BOPE ou com as FAs ou talvez pena de morte ?
Se estas pessoas que agora discutem o futuro deles porque não pensaram em dar uma outra oportunidade de vida a eles? Talvez ele prefira outra alternativa, mas...
... e se preciso for até mesmo com a perda da própria vida!!!!
COR UNUM ET ANIMA UNA PRO BRASILIA