GUERRA DO CHACO: BOLÍVIA X PARAGUAI

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Túlio
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GUERRA DO CHACO: BOLÍVIA X PARAGUAI

#1 Mensagem por Túlio » Seg Mar 20, 2006 8:08 pm

O Poder Aéreo na Guerra do Chaco
Dr. James S. Corum

A Guerra do Chaco foi a maior e a mais sangrenta guerra travada no Hemisfério Ocidental, no século vinte. Durante três anos, de 1932 a 1935, a Bolívia e o Paraguai envolveram-se em uma guerra selvagem pelo Chaco – um deserto inóspito, situado no coração da América do Sul – com enorme número de baixas (60.000 bolivianos e 30.000 paraguaios mortos). Nenhuma das nações envolvidas era produtora de armamentos ou de aeronaves; por isto, essas duas pequenas nações esticaram suas economias até o máximo, a fim de recrutarem grandes exércitos e equiparem-nos com as melhores armas que puderam comprar no mercado mundial. As forças armadas de ambas as nações foram treinadas por comandantes europeus e compreenderam o papel importante que o poder aéreo representara na Guerra Mundial; desse modo, Bolívia e Paraguai empenharam-se em munir a si próprios das forças aéreas mais modernas de que pudessem dispor.

Este artigo tratará do uso do poder aéreo pela Bolívia e pelo Paraguai durante a Guerra do Chaco. As forças aéreas desempenharam um papel importante em todos os estádios da guerra, em uma variedade de papéis que incluíram apoio aéreo aproximado, reconhecimento e evacuação de baixas. A Guerra do Chaco oferece um estudo de caso muito útil a respeito de como as nações pequenas podem usar o poder aéreo e dele abusar em uma importante guerra convencional. Uma vez que ambas as nações enfrentaram, durante o confronto, embargos de armas que proibiam a venda de aeronaves militares e materiais bélicos, também é um estudo de caso útil a respeito de como nações pequenas podem encontrar meios de burlar as restrições internacionais que lhes foram impostas, para manterem seus exércitos equipados e suas forças aéreas em operação.

As origens da guerra
O Chaco é uma região desértica de 150.000 milhas quadradas, que, no final dos anos trinta, tinha permanecido largamente despovoado e inexplorado. É limitado, ao sul, pelo rio Pilcomayo e pela Argentina, e, a leste, pelo rio Paraguai e pela região fértil do Paraguai central. A oeste o Chaco é limitado pelas planícies andinas da Bolívia e, ao norte, por regiões selvagens do Brasil e da Bolívia. A região é coberta com mata espessa e quebrachos, tem poucos recursos exploráveis e o potencial de agricultura é precário. A maior parte do ano é quente e seca e abriga uma variedade impressionante de cobras venenosas e insetos transmissores de doenças. A água é extremamente escassa no Chaco e os poucos mananciais e lagos da região assumiram importância estratégica central nas campanhas da guerra. No inverno, há uma curta estação chuvosa, durante a qual as poucas estradas, trilhas empoeiradas na maior parte do ano, transformam-se em charcos intransitáveis. É uma das regiões mais inóspitas no mundo para se travar uma guerra em grande escala.

As origens da guerra estão na perda, por parte da Bolívia, de seu litoral e do acesso ao Oceano Pacífico, durante as guerras com o Chile, na década de 1880. Depois da perda de território para o Chile, a Bolívia buscou uma saída para o oceano. O rio Paraguai, que limita o Chaco a leste, é um rio profundo, acessível a embarcações de grande calado. A Bolívia desejava um porto oceânico no rio Paraguai e, para ter pleno acesso ao rio Paraguai, precisava ocupar o Chaco. O único problema é que os paraguaios chegaram lá primeiro. A pequena ocupação e a exploração do Chaco, realizadas nos anos vinte, foram feitas pelo Paraguai. Alguns assentamentos agrícolas, povoados por imigrantes alemães menonistas, foram criados sob a autoridade paraguaia no Chaco. Além disso, os paraguaios dirigiam algumas operações de corte de quebrachos, ricos em tanino, para a curtição de couros, e haviam construído algumas ferrovias de bitola estreita para o interior do Chaco, a fim de transportar as toras até o rio Paraguai.

Na primeira parte do século, a Bolívia ressuscitou algumas antigas reivindicações de terra datadas da era colonial espanhola, que colocavam o Chaco sob a soberania do Vice-Reino do Peru e herdado pela Bolívia. O Paraguai podia fazer reivindicações ao Chaco com base em escrituras do século XVI, quando fazia parte do Vice-Reino do Rio de la Plata. As negociações continuaram durante anos, com o Paraguai oferecendo à Bolívia um porto livre no rio Paraguai, porém recusando ceder à sua reivindicação ou à ocupação efetiva da maior parte do Chaco. A Bolívia não se conformava com nada menos do que a plena posse de toda a região. Para a Bolívia, era questão de orgulho nacional e necessidade econômica apropriar-se do Chaco. Para o Paraguai, a situação era diferente. O Paraguai tinha perdido um terço de seu território nacional na desastrosa Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870), quando enfrentara as forças aliadas do Brasil, da Argentina e do Uruguai. Depois de anos de luta difícil, os paraguaios tinham ganho uma reputação de coragem e perseverança – e também perdido oitenta por cento de sua população adulta masculina, morta em uma guerra que não podia ser vencida. O Paraguai precisara de duas gerações para recuperar-se da devastação da guerra anterior. Perder outra parte grande de seu território reduziria o Paraguai a não mais que um terço do território que lhe coubera quando tornou-se indepen-dente da Espanha, em 1811. Se outra partição de seu território acontecesse, o Paraguai ficaria tão reduzido que sua soberania como nação estaria em dúvida. Assim, resistir às reivindicações bolivianas pelo Chaco foi visto pelos paraguaios como questão de sobrevivência nacional.

Foi bravura, da parte do Paraguai, resistir com tanto brio às reivindicações bolivianas. Em 1930, a Bolívia tinha uma população de três milhões de habitantes contra um milhão do Paraguai, e a economia boliviana, apoiada em suas ricas minas de estanho e prata, era três vezes maior do que a economia do Paraguai, que se baseava na pecuária, no óleo de palma e na plantação de algodão. A guerra foi vista como inevitável por ambos os lados. Durante os anos vinte, tanto a Bolívia quanto o Paraguai expandiram suas forças armadas para a guerra.

Os exércitos adversários
Na primeira parte do século, o Paraguai tinha como prática enviar seus melhores oficiais para o Chile ou a Argentina, a fim de receberem instrução militar. Antes da Primeira Guerra Mundial, uma missão militar alemã ocupou-se em adestrar o exército paraguaio. Depois da Primeira Guerra Mundial, a principal influência estrangeira veio da França, com a chegada de uma missão militar francesa de porte considerável, em 1926. Nas reformas que se seguiram à revolução de 1922, o Paraguai fez planos de criar um exército regular de 4.000 homens, a ser ampliado para 24.000 em tempos de mobilização. Nos meados da década de vinte, o Paraguai esticou seu orçamento nacional para reequipar suas forças. Foram comprados mais de 10.000 fuzis Mauser da Espanha. Da Dinamarca, o Paraguai comprou metralhadoras leves Madsen e dos EUA, 32 metralhadoras pesadas Browning. O Paraguai comprou da França oito obuseiros de montanha Schneider, modelo 1927, de 105 mm, e 24 canhões de montanha, de 75 mm. Depois de um enfrentamento com os bolivianos no Chaco, em 1928, o Paraguai comprou mais armas e continuou a aumentar seu exército. Foram comprados mais sete mil fuzis Mauser, bem como outras 200 metralhadoras Madsen e vinte e quatro morteiros Stokes-Brand, de 81 mm. O programa da academia de oficiais foi revisado. Uma academia de sargentos foi criada e, também, uma academia do Estado-Maior Geral. O Paraguai construiu lentamente seu exército, marinha e armas aéreas e, por volta de 1931, contava com aproximadamente 4.000 homens nas forças armadas regulares em armas, com capacidade para mobilizar aproximadamente mais de 16.000 homens. A economia nacional ao longo dos anos vinte foi esticada até o limite, ao adquirir armas e equipamento para a defesa do Chaco.

Uma das maiores aquisições de armas feitas pelo Paraguai, que viria a exercer importante impacto na condução da guerra, foi a compra, à Itália, de duas poderosas canhoneiras couraçadas, em 1930. As duas grandes canhoneiras “Humaitá” e “Paraguai”, bem equipadas e fortemente armadas, eram embarcações de 845 toneladas, para serviço no rio Paraguai. Cada qual possuía dois canhões principais de 4,7 polegadas e eram bem equipadas com canhões antiaéreos (três canhões AAA de 3 polegadas e dois canhões 40mm). Essas embarcações podiam transportar tropa e equipamento pelo rio Paraguai até o teatro de operações do Chaco.

A Bolívia, com uma população bem superior à do Paraguai e uma renda regular proveniente de suas minas de estanho e de prata, pôde comprar uma quantidade considerável de armamento moderno, na década que precedeu a guerra. Em 1926, a Bolívia assinou contrato com a Vickers para adquirir 36.000 fuzis, 250 metralhadoras pesadas e 500 metralhadoras leves, 196 peças de artilharia e grande quantidade de munição. O começo da depressão, em 1929, reduziu o contrato com a Vickers, mas, na época da eclosão da guerra, em 1932, a Bolívia contava com um armamento impressionante de 39.000 fuzis Mauser modernos, 750 metralhadoras, 64 peças de artilharia modernas e cinco carros de combate britânicos, para equipar seu exército regular de aproximadamente 6.000 homens.

Comandantes adversários
A figura militar preponderante na Bolívia, nas duas décadas que antecederam à eclosão da Guerra do Chaco, foi um oficial alemão, Hans Kundt. Kundt nasceu em 1869, em Mecklenburg, e foi declarado oficial em 1888. Serviu no Estado-Maior e foi à Bolívia em 1911, como chefe da missão de treinamento militar alemã na Bolívia. Ele se deu extremamente bem com os bolivianos e desenvolveu boa reputação como excelente administrador e oficial de treinamento. Chamado de volta para a Alemanha, quando da eclosão da Primeira Guerra Mundial, serviu no Front Oriental como chefe de estadomaior e comandante de brigada. Foi para a reserva como coronel, depois da Primeira Guerra Mundial, mas foilhe concedido o posto de major-general quando de sua passagem para a reserva. Depois da Primeira Guerra Mundial, foi convidado a voltar para seu país adotivo e lhe foram oferecidas as funções de chefe de estadomaior do exército e ministro da guerra, como general quatro estrelas. Assumiu os cargos e dirigiu o programa de rearmamento da Bolívia, nos anos vinte, e o planejamento para a ocupação do Chaco. Tinha excelentes qualidades como dedicado administrador e oficial de treinamento, e preocupava-se com o bemestar de seus soldados, o que, certamente, não era característico da tradição militar sul-americana. No entanto, mostrara, na Primeira Guerra Mundial, que era um tático medíocre, preferindo ataques diretos na maioria das situações de combate. Apesar de sua formação de estado-maior, não era um bom estrategista. Embora a principal questão militar da Bolívia, nos anos vinte, fosse o Chaco, Kundt nunca visitou a região ou familiarizou-se com ela, e sua idéia de uma guerra com o Paraguai era essencialmente a de uma marcha triunfal, sem oposição, dos exércitos bolivianos pela região. Kundt relutava em confiar nos comandantes bolivianos – e ele tinha alguns que eram muito bons – preferindo microgerenciar o trabalho do exército. Em 1930, foi removido dos cargos que exercia como chefe de estado-maior e ministro da guerra, e mandado para o exílio, por seu papel em uma tentativa de golpe.

Em contraposição ao General Kundt, estava o comandante paraguaio na Guerra do Chaco, José Félix Estigarribia. Estigarribia nasceu em circunstâncias modestas, como filho de um fazendeiro e prateiro, em Caraguatay, no Paraguai, em 1888, e freqüentou uma faculdade de agronomia. Contudo, depois de obter o diploma, Estigarribia alterou suas ambições profissionais e, em 1910, ingressou no exército e foi nomeado tenente de infantaria. De 1911-1913, Estigarribia fez a Academia Militar Chilena. Na época, considerava-se que o Chile tinha o melhor exército da América do Sul. Ele mostrou-se muito promissor como jovem comandante e, por volta de 1917, já era capitão. Exerceu um papel importante na revolução de 1922, no Paraguai, e, depois, foi promovido a major e selecionado para fazer o curso de Estado-Maior do Exército francês, na École Superieur de Guerre. Em 1927, concluiu o curso de três anos e, em 1928, foi nomeado chefe do estado-maior do exército. Depois de exercer a função por menos de um ano, foi afastado, devido a discordâncias com o governo a respeito da estratégia para a defesa do Chaco. Todavia, quando a guerra se aproximava, o governo decidiu que Estigarribia era o homem que eles queriam no local e, em 1931, nomearam-no comandante no Chaco, com a missão de organizar uma divisão de campanha para a defesa da região. Estigarribia tinha uma reputação sólida no exército como estudioso dedicado da guerra moderna. Possuía uma grande biblioteca militar pessoal e falava francês com grande fluência e um pouco de inglês. Era conhecido como homem de poucas palavras, mas enérgico, e era benquisto pelos soldados.

As forças aéreas adversárias
A Bolívia entrou na era de aviação em 1915, quando o primeiro vôo bem-sucedido foi feito em La Paz. Em 1916, a Bolívia propôs-se criar uma unidade de aviação militar e enviou três comandantes à Argentina e três ao Chile, para receberem treinamento de vôo. No começo dos anos vinte, a Bolívia adquiriu vários aviões de treinamento franceses e tentou montar seu próprio treinamento de pilotos. Após algumas tentativas fracassadas, foi criada uma escola de aviação militar adequada em La Paz, em 1925, sob a direção do Major Bernardino Bilbao Rioja, um dos seis primeiros pilotos militares da Bolívia. Foi contratado um piloto-instrutor suíço, e a unidade de aviação militar começou a crescer, até tornar-se uma autêntica força aérea. Por volta de 1925, a Bolívia já tinha adquirido uma variedade de aviões militares europeus, incluindo 5 Fokker C-V, 2 caças Fiat BR, 2 bombardeiros Breguet XIX franceses, 10 caças Bristol F.2B, 9 biplanos Martinsyde e 11 Avro 504.

O Comandante do Corpo de Aviação boliviano, durante a maior parte dessa época, foi o Major Bilbao Rioja, aviador e comandante muito capaz, que passava o tempo estudando aviação européia e americana. Traduziu e publicou, às suas próprias custas, diversos manuais técnicos e de tiro aéreo para a sua pequena força aérea. Bilbao Rioja teve influência considerável na compra de equipamentos do incipiente Corpo de Aviação, bem como em sua organização e doutrina.

Em 1927, a Bolívia encomendou da Inglaterra nove caças Vickers “Vespa”, aeronaves leves, altamente capazes e ágeis para a sua época. Em 1926-27, a Bolívia recebeu da França seis bombardeiros Breguet XIX, aeronaves bastante robustas e capazes. Em 1929, a Bolívia comprou quatro modelos mais aperfeiçoados do Breguet XIX. Na época da eclosão da Guerra do Chaco, a Bolívia tinha um corpo de aviação muito capaz para os padrões sul-americanos. Nos meses que antecederam o conflito, os bolivianos desdobraram um grupo aéreo constituído de três aviões de caça Vickers “Vespa”, três bombardeiros Breguet XIX, cinco a seis aviões de caça Vickers Type 143 “Scout” e um par de Fokker CV, para Villa Montes, na fronteira do Chaco, nas planícies bolivianas.

O primeiro vôo paraguaio teve lugar em 1915, quando um piloto paraguaio, que tinha entrado para a escola de aviação da Argentina, levou o primeiro avião para o Paraguai. No fim da Primeira Guerra Mundial, o Paraguai contratou vários aviões de treinamento franceses e montou um pequeno corpo de aviação. Algumas aeronaves tomaram parte nas ações de combate da revolução de 1922. A verdadeira gênese de um corpo de aviação, no Paraguai, começou com a chegada ao Paraguai de uma missão da Força Aérea francesa, em 1926. Os franceses mantiveram cinco missões aeronáuticas e de treinamento na América do Sul, entre 1918 e 1924. Em 1926, uma missão aérea francesa, composta por cinco comandantes e um sargento mecânico, chegou a Assunção para montar uma escola de tripulação aérea e de pessoal de terra para o Corpo de Aviação paraguaio. A missão francesa permaneceu de 1926 a 1931 e, nesse espaço de tempo, deu ao Corpo de Aviação paraguaio um fundamento firme e duas turmas de pilotos graduados pela escola de aviação. Por esse tempo, os franceses venderam ao Paraguai três aviões de treinamento Hanriot HD 32, dois aviões de treinamento Morane Saulnier 35, seis bombardei-ros/aviões de reconhecimento Potez 25 e quatro caças Wibault 73.

Na eclosão da Guerra do Chaco, os paraguaios possuíam uma pequena arma aérea de cerca de 25 pilotos e algumas dúzias de mecânicos e montadores. Alguns observadores foram treinados e o Corpo de Aviação foi organizado na forma de um pequeno esquadrão de caça, formado pelos Wibault 73 e um esquadrão de caça/bombardeio constituído dos Potez 25. Os paraguaios também possuíam alguns aviões leves de transporte e de emprego geral, como também aviões de treinamento sediados perto de Assunção, no Aeródromo de Nu-Guazu. Os bombardeiros Potez 25 estavam à beira da obsolescência em 1932, mas, nos anos vinte, essas aeronaves robustas, confiáveis, manobráveis e versáteis tinham sido das mais populares em uso nas forças armadas francesas, e tinham sido postas à prova em duras campanhas coloniais. O Wibault 73, caça monoplano de asa alta, também estava em serviço, na ocasião, com alguns esquadrões de caça franceses, e foi considerado um bom avião de caça. Todavia, o motor Lorraine-Diedrich, de 450 HP, arrefecido a água, que equipava o Wibault, tinha a tendência de superaquecer-se nas condições do Chaco, e os Wibaults foram de pouca utilidade na guerra, devido a constantes problemas no motor. O comandante do Corpo de Aviação paraguaio era um argentino, Major (mais tarde, Tenente-Coronel) Vicente Almonacid, que tinha voado com os franceses no Front Ocidental, na Primeira Guerra Mundial.

Para dois países pequenos e pobres, Bolívia e Paraguai tinham feito um significativo esforço para construírem forças aéreas efetivas para a guerra iminente. À eclosão da guerra, possuíam os bolivianos uma força aérea pequena, mas capaz, de cerca de quarenta aeronaves, incluindo aviões de treinamento e de transporte. O Paraguai podia desdobrar aproximadamente dez aviões de caça e tinha aproximadamente 20 mais de treinamento e de transporte. Assim que a guerra irrompeu, ambas as nações tentaram freneticamente burlar as restrições à venda de armas a combatentes, estabelecidas por nações neutras, e deram elevada prioridade à obtenção de aeronaves.

Começa a guerra
Em junho de 1932, um destacamento do Exército boliviano ocupou um pequeno posto avançado paraguaio, no Lago Pinantuten. Em julho, soldados paraguaios recuperaram o posto, depois de uma pequena escaramuça, e o Exército boliviano, no Chaco, revidou, atacando e ocupando as aldeias de Corrales e Toledo, em 27 e 28 de julho. Ao mesmo tempo, três regimentos bolivianos, apoiados por caças e bombardeiros, foram concentrados para um ataque ao forte paraguaio de Boquerón, que caiu no final de julho, depois de um combate intenso. Com a batalha de Boquerón, uma série de escaramuças praticamente incruentas tinha se ampliado para uma guerra em grande escala.

O conflito no Chaco sofreu uma rápida escalada durante o mês de agosto. No começo da guerra, os bolivianos tinham 4.000 soldados organizados que formavam o 1o Corpo-de-Exército na parte sudoeste do Chaco. Dois mil homens, organizados em duas divisões, estavam posicionados no nordeste do Chaco. Em agosto, um reforço adicional de 6.000 homens, proveniente da Bolívia, estava a caminho.

Os paraguaios, sob o comando de Estigarribia, reuniram uma força de 8.000 homens e os organizaram em um corpo-de-exército, no povoado de Isla Poí, em agosto de 1932. Outros 1.500 homens aferraram-se ao terreno em Nanawa, no sudeste do Chaco, e a 3a Divisão, com 3.000 homens e oito peças de campanha Schneider, estava posicionada na parte alta do rio Paraguai. Um reforço adicional de 3.000 homens foi despachado de Assunção. Durante os meses de julho e agosto, os paraguaios construíram uma pista de vôo em sua base avançada, em Isla Poí, e desdobraram uma pequena força de caça – essencialmente tudo que o Paraguai tinha de poder aéreo – para a zona de combate.

A posição estratégica
O primeiro erro estratégico importante dos bolivianos foi crer que alguns milhares de soldados bolivianos poderiam simplesmente intimidar os paraguaios e ocupar o Chaco com pouca resistência. A estratégia boliviana – se é que se pode chamar assim – fora desenvolvida sob o comando do General Kundt, nos anos vinte, e admitia que o Paraguai não poderia ou não quereria lutar, e reivindicava o avanço triunfal das armas bolivianas até o rio Paraguai. Todavia, o problema estratégico principal para a Bolívia era a sua longa e tênue linha de suprimentos até a linha de frente, no Chaco. Soldados bolivianos foram mobilizados na área central da Bolívia e transportados de trem, por quase todo o trajeto, até a base boliviana principal, a cidade de Villa Montes, na planície boliviana. De Villa Montes, os soldados bolivianos enfrentaram uma marcha de 200-300 milhas pela poeira e calor sufocante do Chaco, até alcançarem as linhas de frente. O calor e a falta de forragem tiveram como conseqüência que os cavalos não sobrevivessem por muito tempo no Chaco. Com efeito, logo foram desmontadas as unidades de cavalaria de ambos os exércitos. Isto significou que o transporte básico no Chaco era o caminhão motorizado, e esses eram escassos em ambos os exércitos. Uma vez que só havia caminhões suficientes para as suprimentos, os soldados tiveram de marchar durante semanas para alcançarem a linha de frente e, freqüentemente, chegavam exaustos e malnutridos.

Os paraguaios foram capazes de deslocar tropas desde Assunção e da área central paraguaia, em navio a vapor, rio Paraguai acima, até sua base, em Puerto Casado. De Puerto Casado, havia uma via férrea de bitola estreita para o Chaco, e Isla Poí, a base paraguaia principal no Chaco, situava-se a apenas 18 milhas do final da ferrovia. Tropas e suprimentos enfrentaram uma marcha relativamente pequena até a linha de frente. Durante a maior parte da guerra, os fatores logísticos e de transporte trabalharam em favor do Paraguai e, em grande parte, anularam a enorme superioridade boliviana em efetivo e material. Também ficou evidente que o transporte aéreo seria muito importante para as forças bolivianas, desde o começo da guerra.

A campanha de Boquerón
No começo de setembro, Estigarribia concentrou seu 1o Corpo-de-Exército e o enviou para cercar a guarnição boliviana de várias centenas de homens e investir contra ela, em Boquerón. Ambas as forças aéreas deram início ao patrulhamento e reconhecimento intenso, a fim de localizarem os movimentos de soldados inimigos. Os bolivianos, com sua força aérea maior, tinham a nítida vantagem no ar. Em 8 de setembro, dois caças Vickers “Vespa” bolivianos localizaram o 2º Regimento de Infantaria paraguaio, na estrada para Boquerón, e bombardearam e metralharam a coluna reiteradamente, infligindo grande número de baixas, entre homens e cavalos. Numerosos soldados paraguaios, a maioria dos quais nunca tinha visto um avião, entraram em pânico e desapareceram no mato, e seus comandantes tiveram de passar o resto do dia reunindo a unidade. Apesar desse revés, o avanço continuou e os paraguaios atacaram Boquerón, em 9 de setembro. Quando o ataque inicial fracassou, as forças paraguaias posicionaram-se ao redor da instalação para sitiá-la. Na manhã do dia 9, uma coluna inteira de caminhões, pertencente ao 13o Regimento de Infantaria boliviano, deparou-se com uma emboscada paraguaia e foi destroçada.

O patrulhamento aéreo levado a efeito pelos bolivianos, neste caso, deixou de apresentar ao alto comando boliviano uma imagem clara das operações ofensivas de Estigarribia. O cerrado fechado do Chaco serviu bem para ocultar as operações e ajudou os paraguaios a anularem alguns dos efeitos da capacidade de reconhecimento boliviana, que era superior. A artilharia paraguaia era o alvo principal das patrulhas aéreas bolivianas, mas os canhões eram especialmente difíceis de se localizar quando camuflados e cuidadosamente entrincheirados. O ataque inicial de metralhamento, de 8 setembro, ensinou aos paraguaios algumas lições valiosas a respeito do poder aéreo, que eles aprenderam rapidamente. Aprenderam a usar o cerrado fechado do Chaco para camuflar seus movimentos e desbordar o flanco boliviano. Foram abertas trilhas sob as árvores e linhas diretas eram evitadas. Os paraguaios aprenderam a entrelaçar os galhos das árvores sobre uma estrada, para minimizar sua assinatura aérea.

Com Boquerón sitiado, os bolivianos empregaram todos os seus bombardeiros e a força de caça para lançarem munição, provisões e suprimentos médicos aos defensores. Os paraguaios contra-atacaram, cercando Boquerón com metralhadoras. O fogo intenso do solo forçou os aviões bolivianos a lançarem os suprimentos a partir de uma altitude elevada. Os lançamentos eram imprecisos e a maioria dos supri-mentos caíram à retaguarda das linhas paraguaias. Todavia, o alto-comando boliviano não tinha idéia de que o ressuprimento aéreo de Boquerón fracassara, e foi lento em montar uma ofensiva para render o forte. Em 27 de setembro, o alto-comando boliviano lançou uma mensagem para a guarnição faminta, ordenando-lhes que esperassem mais dez dias, enquanto um contra-ataque era montado. Foi um grande choque para o alto-comando boliviano quando a guarnição de Boquerón se rendeu dois dias mais tarde, após uma defesa desesperada e audaciosa.

As operações aéreas iniciais
O Tenente-Coronel Bilbao Rioja assumiu o comando das unidades da força aérea boliviana no Chaco no começo do conflito e, em julho de 1932, concentrou sua força na base principal, em Villa Montes, com uma base avançada em Muñoz. Em julho de 1932, os bolivianos desdobraram 3 caças Vickers “Vespa”, 3 bombardeiros Breguet XIX e 5 a 6 (caças) Vickers Type 143 “Scouts” para seus campos avançados. Dada a situação estratégica, ele visitou o comandante do teatro de operações e afirmou que o melhor emprego da superior força aérea boliviana seria bombardear a principal base paraguaia em Puerto Casado, no rio Paraguai, pois todo homem, caminhão, cavalo e munição passavam por aquele porto a caminho do teatro de operações do Chaco central. Além disso, em uma altercação com o comandante do teatro de operações, Coronel Enrique Peñaranda, Bilbao Rioja insistiu em que Assunção também fosse bombardeada, a fim de quebrar o moral paraguaio. Com os aeródromos avançados bolivianos em Muñoz e Ballivían, era fácil para o Corpo de Aviação boliviano alcançar Puerto Casado e Assunção. As exigências de Bilbao Rioja foram recusadas, pois o alto-comando boliviano pensou, bastante acertadamente, que bombardear Assunção provocaria um clamor internacional contra a Bolívia. Naquela altura da guerra, o alto-comando boliviano não via necessidade de uma ação tão drástica, embora os bolivianos reestudassem a idéia mais tarde, durante a guerra.

Contudo, foram autorizados alguns ataques aéreos contra a base paraguaia em Puerto Casado. Esses ataques provocaram uma forte reação do governo argentino, já que muitos argentinos viviam em Puerto Casado e dirigiam a via férrea para o Chaco (e apoiavam os esforços de guerra paraguaios). A Argentina, embora oficialmente neutra durante toda a guerra, tinha uma neutralidade que pode ser descrita como extremamente amigável para com o Paraguai. Os argentinos forneceram equipamento, munição e aeronaves ao Paraguai, e davam apoio financeiro também. Após o bombardeio de Puerto Casado, em 1933, os argentinos disseram à Bolívia que não tolerariam baixas entre seus civis e fizeram algumas fortes insinuações de que poderiam entrar na guerra no lado do Paraguai, se os ataques persistissem. Enfrentado esse dilema, a Bolívia, inteligentemente, cancelou os ataques aéreos. Daí em diante, na campanha, o Corpo de Aviação boliviano seria empregado principalmente na linha de frente, na condução de reconhecimento, em patrulhas aéreas e no apoio aéreo aproximado.

Desde o começo, Bilbao Rioja ordenou que suas aeronaves conduzissem patrulhas agressivas sobre o Chaco, e os bolivianos perderam pelo menos um Vickers “Vespa” resultante do fogo de terra, no fim de julho. Durante a batalha de Boquerón, ambos os lados conduziram numerosos ataques, em apoio às tropas de terra. Entre 9 e 29 de setembro, os Potez 25 paraguaios, escoltados por caças Wibault, realizaram 12 ataques de bombardeio contra os bolivianos, em Boquerón. Os paraguaios, também, usaram seus bombardeiros Potez 25, que eram equipados com rádio, como observadores de artilharia para as suas baterias Schneider 75. O Tenente de Artilharia Alfredo Stroessner, mais tarde ditador do Paraguai, de 1954-1990, voou como observador no Potez 25, observando o tiro para a sua bateria de tiro de 75mm.

Embora ambas as forças aéreas tivessem executado missões de reconhecimento e apoio aéreo aproximado no decurso da campanha de Boquerón, o primeiro embate aéreo só aconteceu em 28 de setembro, quando um Potez 25 paraguaio deparou-se com um Vickers “Vespa” boliviano. O piloto paraguaio, Tenente Emilio Rocholl, foi ferido, mas retornou à base, com segurança. No último dia de setembro de 1932, a primeira perda em combate aéreo da guerra aconteceu quando um dos Wibaults paraguaios foi derrubado por um Vickers Type 143 boliviano.

Reequipar as forças/a
Campanha de Nanawa
Depois da campanha de Boquerón, os dois lados precisaram de algum tempo para descansar e se reorganizar. Os bolivianos, abalados, chamaram o General Kundt de volta do exílio e lhe ofereceram o cargo de comandante em-chefe das forças bolivianas. Esperava-se que a figura militar mais popular da Bolívia pudesse reunir o exército e derrotar rapidamente os paraguaios. As forças aéreas de ambos os lados estavam se desgastando depressa, e novas aeronaves eram necessárias. As duas forças aéreas tinham perdido diversas aeronaves preciosas em acidentes, nas difíceis condições dos aeródromos do Chaco. Os bolivianos encomendaram 20 biplanos Curtiss Wright C14R “Osprey” biplace de reconhecimento e bombardeio leve aos Estados Unidos, tendo as primeiras aeronaves chegado em janeiro de 1933. O Osprey era dotado de uma metralhadora dianteira e de outra traseira, ambas de calibre .30 e podia transportar até 260 lbs. de bombas, de várias configurações. Era manejável e tinha uma velocidade máxima de 163 mph. Era uma aeronave de ataque ao solo, muito capaz em sua época, e os bolivianos utilizaram-na como caça-bombardeiro durante toda a guerra. Tornar-se-ia a aeronave principal do acervo boliviano. Também foram encomendados diversos caças Model 35A “Hawk” II e Model 65A “Sea Hawk” II à Curtiss Wright. Quatro foram entregues em 1932, dois, em 1933 e três, em 1934. Esse caça monoplace estava entre os melhores caças de sua época e, com seu armamento constituído de duas metralhadoras dianteiras e uma carga de bombas de 220 lbs., era geralmente usado como caça-bombardeiro. Era o caça favorito do Corpo de Aviação boliviano. Outro acréscimo importante ao poder aéreo boliviano foi a compra, à Alemanha, de três trimotores de transporte Junkers JU 52. Esse avião de transporte muito capaz podia operar nas condições mais rústicas e levar uma carga de três toneladas. O primeiro chegou em outubro de 1932 e os outros dois, em 1933. Tornar-se-iam a espinha dorsal do serviço de transporte aéreo boliviano.

O Paraguai chegou a um estado de plena mobilização durante a campanha de Boquerón. A prioridade um do Corpo de Aviação era adquirir mais bombardeiros leves Potez 25, visto que essa aeronave se tinha revelado muito capaz em operar no Chaco. Sete outros Potez 25 foram adquiridos pelo Paraguai, no final de 1932/1933. Quanto aos caças Wibault, sua substituição tornava-se urgentemente necessária. O Paraguai só tinha seis Wibaults operacionais no começo da guerra, e dois foram destruídos em acidentes, logo no começo da campanha. O problema principal com os Wibaults era a inconfiabilidade de seu motor Lorraine-Diedrich, arrefecido a água, nas condições do Chaco. Cinco caças biplanos Fiat CR 20bis foram encomendados à Itália para substituir os Wibaults, completamente rejeitados. Os caças Fiat eram aeronaves capazes, porém, de modo geral, considerados inferiores aos caças Curtis “Hawk” dos bolivianos.

Os bolivianos reforçaram seu exército no Chaco e, em novembro, puderam bloquear o avanço paraguaio ao sul do Quilômetro 7. O General Kundt chegou em dezembro e ordenou uma série de ataques. Em 12-13 de dezembro de 1932, a 8ª Divisão boliviana rechaçou os paraguaios ao sul do Quilômetro 7, em um contra-ataque liderado por seis caças-bombardeiros. Em dezembro, Kundt lançou suas forças em uma série de ataques frontais, dispendiosos e inúteis, contra as defesas paraguaias em Nanawa. As linhas defensivas paraguaias estiveram bem dispostas por seus antigos comandantes russos brancos, veteranos da Primeira Guerra Mundial, que se tinham estabelecido no Paraguai e então serviam como comandantes paraguaios. Embora os bolivianos empregassem sua força aérea extensivamente no papel de ApAeAprx e contassem com forte apoio da artilharia, os métodos de ataque frontal do General Kundt não foram muito mais bem-sucedidos do que tinham sido, esses mesmos ataques, na Grande Guerra. A certa altura da campanha, porém, os defensores paraguaios sofreram uma severa escassez de munição, já que as chuvas pesadas tornaram as estradas intransitáveis. Estigarribia mobilizou todas as suas aeronaves — bombardeiros, aviões de caça e de transporte — para transportarem munição até uma pista de pouso desnivelada, em Nanawa. O transporte aéreo improvisado foi suficiente para permitir aos paraguaios manterem suas posições. Em fevereiro, Kundt lançou outra série de ataques às posições paraguaias em Toledo. O Corpo de Aviação boliviano metralhou e bombardeou novamente os defensores paraguaios aferrados ao terreno, com pouco efeito, e, mais uma vez, os bolivianos foram rechaçados após sofrerem pesadas perdas.

Nanawa II: a grande
ofensiva de Kundt
Em julho de 1933, Kundt concentrou o grosso de seu exército para tomar as posições paraguaias em Nanawa, por meio de ataque frontal. Com superioridade aérea, forte apoio de artilharia e cinco carros de combate Vickers na retaguarda, ele lançou suas tropas contra as posições paraguaias, que haviam sido reforçadas desde a última batalha. O Corpo de Aviação boliviano recebeu a missão de localizar e neutralizar a artilharia paraguaia. Porém, fracassou nesta missão, pois tornou-se quase impossível localizar as posições dos canhões paraguaios, bem camufladas no cerrado fechado da região. O ataque boliviano foi um fracasso sangrento com mais de 2.000 bolivianos mortos e apenas 149 paraguaios mortos e 400 feridos. Nanawa foi apropriadamente denominada a “Verdun do Chaco”.

Campo Vía: a maior vitória
paraguaia
Em outubro e novembro de 1933, patrulhas aéreas e terrestres paraguaias localizaram algumas importantes brechas nas linhas bolivianas, em Campo Vía. Estigarribia concentrou discretamente suas forças e, em 3 de dezembro, desencadeou uma manobra de duplo envolvimento que, rapidamente, cercou as 4ª e 9ª Divisões bolivianas. O ataque paraguaio foi uma surpresa, e a defesa boliviana estava mal organizada, já que o General Kundt reagiu lentamente à crise em desenvolvimento. Seus pilotos de reconhecimento tinham apresentados numerosos relatórios precisos sobre o efetivo e as localizações dos movimentos das tropas paraguaias, mas Kundt rejeitara os relatórios de seus aviadores como sendo alarmistas e imprecisos. Kundt estava convicto de que o exército paraguaio não estava ainda preparado para conduzir operações em uma frente ampla. Em 10 de dezembro, os bolivianos finalmente contra-atacaram, na tentativa de poupar algumas das forças posicionadas no bolsão, mas o apoio aéreo ao ataque foi mal coordenado e numerosas bombas lançadas pelo Corpo de Aviação boliviano caíram sobre suas próprias unidades no solo. Em 11 de dezembro, as duas divisões bolivianas se renderam. No maior desastre militar da Bolívia, mais de 2.600 soldados foram mortos e aproximadamente 7.500 foram feitos prisioneiros. Em um único golpe, o grosso das forças de combate bolivianas foi destruído. Apenas 1.500 homens escaparam do bolsão. Kundt foi logo afastado como comandante-em-chefe das forças da Bolívia e o Coronel Peñaranda promovido a brigadier general e nomeado comandante do Chaco. O exército boliviano fez uma retirada desordenada. A vitória de Campo Vía propiciou aos paraguaios 8.000 fuzis, 536 metralhadoras, 25 morteiros e 20 peças de artilharia, como também uma farta quantidade de munição. Para uma nação pequena e pobre como o Paraguai, os espólios da guerra foram uma dádiva dos céus e permitiu que Estigarribia e suas forças mantivessem a ofensiva.

O avanço paraguaio:
as batalhas de Picuiba
e El Carmen
À medida que as linhas de apoio logístico paraguaias se alongaram, seu avanço diminuiu de velocidade e parou quando os bolivianos conseguiram compor uma linha defensiva em Ballivían e no Chaco Central. Em maio de 1934, o Coronel Bilbao Rioja, que tinha assumido o comando de um corpo-de-exército e entregue o Corpo de Aviação ao Tenente-Coronel Jorge Jordán, preparou uma armadilha para a 2a Divisão paraguaia que avançava, cercando essa grande unidade em Cañada Strongest, no Chaco Central. Os paraguaios conseguiram escapar do bolsão, mas, no processo, 500 de seus soldados morreram em ação e 1.500 outros foram feitos prisioneiros. Foi a maior vitória da Bolívia na guerra, que serviu para consolidar a reputação de Bilbao Rioja como o melhor comandante terrestre da Bolívia, como também um comandante aéreo capaz. Em julho de 1934, a ofensiva paraguaia foi rechaçada em Picuiba, e Estigarribia procurou meios para restabelecer a manobra no campo de batalha. Achou sua oportunidade em El Carmen, em novembro de 1934, quando seus ataques de flanco de surpresa cercaram o Corpo de Reserva boliviano. Dois mil soldados bolivianos morreram e 4.000 foram levados prisioneiros. Apenas 2.000 conseguiram escapar do bolsão para lugar seguro.

Um mês depois, em Picuiba, os bolivianos confundiram um flanqueamento paraguaio com um ataque de menor importância, quando os paraguaios se apoderaram dos únicos mananciais na área de Yrendagué. O Corpo de Cavalaria boliviano, privado de água, foi forçado a retirar-se. Calcula-se que, dos 5.300 cavalarianos, 1.600 morreram de sede durante a retirada.

As batalhas finais
No começo de 1935, o Exército boliviano tinha-se retirado de quase todo o Chaco e recuado até sua base principal, em Villa Montes. Agora, a situação logística trabalhou a favor da Bolívia, pois os paraguaios tiveram de depender do transporte por caminhão, por toda a extensão do Chaco. A esta altura da guerra, ambas as forças aéreas estavam exaustas e tinham sofrido um desgaste pesado. Estigarribia conservou suas poucas aeronaves operacionais remanescentes para fazer reconhecimento estratégico, embora diversos ataques de bombardeio tivessem sido levados a efeito contra alvos bolivianos, na primeira metade de 1935.

Os paraguaios mantiveram a pressão sobre os bolivianos e cruzaram o rio Parapiti, um ponto que já estava bem dentro do território boliviano, em abril de 1935. Em uma série de contra-ataques selvagens, os bolivianos rechaçaram os paraguaios para o outro lado do rio. A esta altura, ambas as nações estavam esgotadas. A Bolívia tinha desistido de qualquer idéia de que pudesse conquistar o Chaco pela força, e as forças paraguaias foram pressionadas até o limite. Um armistício foi assinado em 14 de junho de 1935, pondo fim à guerra. Negociações subseqüentes reconheceram o direito do Paraguai a virtualmente todo o Chaco.

Durante a Guerra do Chaco, os bolivianos mobilizaram 210.000 homens. Desses, aproximadamente 60.000 foram mortos, 10.000 desertaram (para a Argentina) e 23.500 foram levados prisioneiros. O Paraguai mobilizou 150.000 homens, perdeu 31.500 entre mortos e desaparecidos e 2.500 prisioneiros. Segundo qualquer análise, foi uma guerra sangrenta. Todavia, quando se observa as pequenas populações das nações envolvidas – Bolívia: 3 milhões, Paraguai: 1 milhão – pode-se ter uma idéia da verdadeira escala do conflito.

Avaliação da guerra aérea
O desgaste de aeronaves e aviadores durante a guerra foi elevado para ambos os lados. A principal causa de destruição de aeronaves e aviadores foram os acidentes operacionais. Dos nove Curtiss “Falcons” encomendados pela Bolívia, dois foram perdidos em combate e quatro em acidentes, durante a guerra. O Paraguai perdeu quatro aeronaves em acidentes de treinamento, com quatro fatalidades durante o conflito. No decorrer da guerra, a Bolívia operou entre 57 e 62 aeronaves de combate e 22 aeronaves de treinamento e transporte. O Paraguai operou 32 aeronaves de combate e 23 aeronaves de treinamento e transporte. De acordo com os números paraguaios oficiais, o Paraguai perdeu oito aeronaves em combate durante a guerra (um Wi-bault, quatro Potez 25, um CANT, dois Fiat CR 20) e a Bolívia perdeu dez (seis Osprey, um Junkers, um Hawk, um Curtiss Falcon). A principal causa das perdas em combate foi o fogo de terra. O combate aéreo foi muito raro. Todavia, quando as forças aéreas entravam em contato, ocorriam alguns combates aéreos intensos, tal como um choque incomum, logo no início da guerra, entre dois bombardeiros Potez 25 paraguaios e dois bombardeiros Breguet XIX bolivianos.

Em diversas ocasiões, alguns ataques muito bem-sucedidos foram conduzidos contra bases aéreas inimigas e depósitos de suprimentos. O ataque paraguaio mais bem-sucedido na guerra foi conduzido em 8 de julho de 1934 ao aeródromo e depósito boliviano em Ballivían. Quatro Potez 25, escoltados por dois caças Fiat, lançaram 40 bombas no aeródromo boliviano e destruíram, pelo menos, quatro caças Curtiss no solo e danificaram outros. Os bombardeiros Potez também atacaram e destruíram o principal depósito de combustível em Ballivían, causando uma séria escassez de combustível para um exército que já sofria de falta de combustível e de suprimentos. O maior êxito do Corpo de Aviação boliviano aconteceu na Batalha de El Carmen, em novembro de 1934, quando as unidades aéreas bolivianas cobriram a retirada do Corpo de Cavalaria, por meio de ataques constantes contra as unidades avan-çadas paraguaias. O fato de alguém da força boliviana ter conseguido escapar deveu-se, em grande parte, aos esforços dos aviadores.

Aeronaves de apoio
Embora os esquadrões de caça e de bombardeio das duas forças aéreas adquirissem boa parte da glória, as humildes aeronaves desarmadas de transporte e de emprego geral, de ambos os lados, exerceram papéis muito importantes na guerra. Os dois lados utilizaram uma ampla variedade de aeronaves leves e de transporte para apoiar suas forças.

No começo da guerra, o exército boliviano assumiu a linha aérea civil Lloyd Aeréo Boliviano (LAB), que tinha quatro robustos aviões de transporte leve Junkers F13 (monomotores, 6 passageiros) e três aviões de transporte Junkers W34, de maior porte. A LAB tinha acabado de adquirir um novo Trimotor Ford, que era usado como transporte, até ser destruído em um acidente. Em dezembro de 1932, a Bolívia recebeu da Alemanha três aviões trimotores de transporte Junkers JU 52. A estrutura robusta do JU 52, suas boas características de vôo e sua capacidade de carga de três toneladas fizeram dele uma aeronave ideal para as condições sul-americanas. A Bolívia tinha uma capacidade de transporte aéreo impressionante para um país pequeno, e os problemas de logística do Chaco exigiram que fosse utilizada ao máximo durante toda a guerra, transportando suprimentos vitais de munição, combustível e medicamentos para a linha de frente. Durante a guerra, os JU 52, sozinhos, levaram mais de 4.400 toneladas de carga para a linha de frente.

O Paraguai, também, colocou em serviço uma grande variedade de aeronaves de transporte e de emprego geral. No final de 1932, o Paraguai comprou dos EUA dois monoplanos Travel Air Model S-6000, de seis passageiros, para servirem como ambulâncias aéreas. O Paraguai também obteve um bimotor de transporte Breda 44, italiano, a ser usado como ambulância aérea. A Guerra do Chaco viu ambos os lados fazerem extenso uso de aeronaves para transportar doentes e feridos, desde aeródromos na linha de frente até hospitais permanentes à retaguarda. Calcula-se que os JU 52 transportaram 40.000 soldados bolivianos feridos e enfermos para a retaguarda no transcurso da guerra. A capacidade de trans-porte dos Travel Airs e Breda 44 paraguaios era menor, mas eles geralmente tinham de voar uma distância menor até os navios-hospitais completamente mobiliados, aportados nos portos fluviais de Concepción e Puerto Casado. Soldados gravemente feridos eram também aerotransportados para o Hospital Militar Central, em Assunção. As ambulâncias aéreas estavam em uso constante, e milhares de soldados paraguaios foram evacuados durante a guerra.

O General Estigarribia fez uso extenso de aviões leves de ligação para se deslocar pelo teatro de operações e conferenciar com os comandantes mais graduados. Estigarribia também usou aeronaves leves para conduzir seu próprio reconhecimento da linha de frente. O presidente do Paraguai, Eusebio Ayala, usou aviões regularmente para visitar as tropas na linha de frente e conferenciar com Estigarribia. Essa foi a primeira guerra em que aeronaves colocaram a liderança política em um contato pessoal mais próximo com a liderança militar durante a conduta de operações em um teatro de operações grande e isolado. O principal avião de ligação e de correio de alta velocidade, do Paraguai, foi um Consolidated Model 21 (PT 11), fabricado nos EUA. O Paraguai também adquiriu, pelo menos, um Curtiss “Robin”, dois DeHavilland DH60 “Moths” e duas aeronaves leves Junkers A-50F para missões de ligação e de transporte leve.

Operações aeronavais
O controle aéreo sobre o rio Paraguai assumiu uma importância considerável, porque todas as tropas e suprimentos enviados pelo Paraguai para o Chaco eram transportadas por essa via fluvial. A Marinha paraguaia tinha uma pequena arma aérea (Aviación Naval), equipada com dois hidraviões Macchi M.18 e um hidravião Savoia S59 bis. A Marinha posicionou sua pequena força em Bahia Negra, no setor norte do Chaco, para apoiar as forças do exército que bloqueavam qualquer avanço boliviano rio abaixo. Durante a guerra, a arma aeronaval paraguaia conduziu 145 missões aéreas, inclusive operações de reconhecimento e de ataque ao solo. A unidade aeronaval manteve os bolivianos no alto Paraguai sob pressão e chegou até mesmo a conduzir o primeiro bombardeio noturno nas Américas. Em 20 de dezembro de 1934, os dois Macchi M.18 bombardearam os postos avançados bolivianos em Vitriones e San Juan, com 800 lbs. de bombas.

Os bolivianos também basearam um pequeno esquadrão aéreo no setor norte do Chaco e atacaram o tráfego fluvial paraguaio em várias ocasiões. Por dependerem do rio como linha de comunicações, a perda de uma canhoneira ou de um grande navio a vapor por um ataque aéreo teria sido muito grave para o Paraguai. Para opor-se à ameaça aérea boliviana, a Marinha paraguaia usou suas canhoneiras pesadas, que eram bem equipadas com canhões antiaéreos, para escoltar tropas, suprir barcos e servir como baterias flutuantes antiartilharia, nas bases vitais em Concepción e Puerto Casado. As canhoneiras tiveram um desempenho admirável, repeliram aeronaves bolivianas em várias ocasiões e até afirma-se terem derrubado um avião atacante. Devido aos esforços da marinha, os bolivianos fizeram dano mínimo ao tráfego logístico do Paraguai.

Rompendo o embargo
de armas
Embora ambas as forças enfrentassem um desgaste pesado de aeronaves, o problema de se conseguir aviões de substituição foi dificultado pela Liga das Nações e pelo embargo do governo dos EUA à venda de armas para ambos os combatentes. Todavia, embora os embargos fossem inconvenientes, tanto a Bolívia quanto o Paraguai demonstraram engenho considerável para burlar o controle internacional e importar aeronaves suficientes para manterem suas forças aéreas em ação.

A Bolívia dependia do apoio do Chile. Essa nação tinha adquirido licença para montar alguns aviões Curtiss, inclusive o Curtiss “Falcon”. Já que os “Ospreys” bolivianos se desgastavam por meio de combates e acidentes, os bolivianos queriam um caça biplace mais pesado e mais rápido, e o “Falcon” foi uma excelente substituição. Os bolivianos foram capazes de importar vários “Falcons” do Chile durante a guerra, enquanto o Chile ignorava tranqüilamente o embargo da Liga das Nações. Curtiss “Hawks” e “Sea Hawks”, os melhores caças da Bolívia, também foram adquiridos por meio da conexão chilena.

A tentativa mais ambiciosa da Bolívia para burlar os embargos dos EUA e da Liga das Nações ocorreu em 1934, quando encomendou quatro bombardeiros Curtiss “Condor”. Esses bombardeiros biplanos de grande porte podiam carregar uma tonelada de bombas, contavam, cada um, com três torres com uma metralhadora calibre .30 em cada e tinham grande alcance. Oficialmente, os bolivianos queriam as aeronaves como “transporte médico”, porém como os “Condors” foram encomendados com equipamento militar completo, inclusive torres, metralhadoras e porta-bombas, isto parece implausível. A explicação provável para a encomenda é que, como as coisas iam muito mal no campo de batalha, os bolivianos queriam um bombardeiro pesado, com alcance suficiente para bombardear Assunção desde a Bolívia – e os “Condors” mostraram-se adequados. Quando os EUA recusaram permitir a venda das aeronaves, os bombardeiros foram adquiridos por um subterfúgio, por meio de uma linha aérea recém-criada, a Linha Aérea Tampa-New Orleans-Tampico (TNT). Os quatro “Condors” chegaram até o Peru, quando o governo dos EUA foi alertado e incentivou o Peru a reter as aeronaves.

Em conformidade com o embargo da Liga das Nações, a França reteve 19 aeronaves encomendadas pelo Paraguai, e os Países Baixos interromperam a remessa de cinco Fokker CV. Contudo, os paraguaios mostraram tanta engenhosidade quanto os bolivianos para conseguirem aeronaves. Sete Potez 25, vendidos pela França à Estônia, foram misteriosamente reencaminhados e transportados para o Paraguai. Ao longo da guerra, o Uruguai e Argentina conspiraram para apoiar a compra de armas por parte do Paraguai. O Uruguai permitiu que aeronaves da Europa fossem transportadas para os seus portos e diversos aviões de treinamento, transporte e ligação foram obtidos pelo Paraguai, por meio de fontes argentinas.

Conclusão
A Guerra do Chaco é um bom exemplo de como pequenas forças aéreas podem ter um impacto importante em uma guerra. As duas forças aéreas, que raramente desdobravam mais de 15 aviões de combate operacionais, no caso dos bolivianos, e nunca mais de 10, no caso dos paraguaios, desempenharam papéis importantes em todas as fases do conflito.

Ambas as forças aéreas demonstraram competência tática e engenhosidade considerável. O sistema de evacuação aeromédica de ambos os lados foi muito bem-sucedido e poupou as vidas de milhares de soldados que, de outro modo, teriam morrido nas condições rudimentares dos hospitais de campanha. O fato de estas pequenas forças aéreas poderem manter aeronaves operando nas condições miseráveis do Chaco evidencia a dedicação de seu esforço de manutenção. Embora o Exército boliviano, de modo geral, tenha atuado mal na batalha, o Cuerpo de Aviación, em algumas ocasiões, salvou da total destruição as unidades do exército em retirada, atacando implacavelmente e retardando a perseguição por parte das forças paraguaias.

Os comandantes aéreos de ambos os lados atuaram com competência. O Ten Cel Almona-cid, da Aviación en Campaña, do Paraguai, e o Cel Bilbao Rioja e Ten Cel Jordán, da Bolívia, merecem boa parte do crédito, por muito fazerem com pouquíssimos recursos. Quanto aos comandantes do teatro de operações, o Paraguai teve a sorte muito grande de ter em José Estigarribia um dos mais notáveis generais produzidos nas Américas. Com forças numericamente inferiores, ele reiteradamente levou vantagem sobre as forças inimigas, melhor equipadas, desbordando-as, superando-as na manobra e as aniquilando. Usou suas unidades aéreas com muita eficiência, nos papéis de reconhecimento e de ataque ao solo. Por outro lado, os bolivianos foram mal servidos por seus comandantes – especialmente o General Hans Kundt, que foi um desastre para as forças bolivianas. Esse produto do Estado-Maior Geral alemão não foi apenas um tático incompetente, mas desconsiderou repetidamente as informações precisas que seus aviadores lhe trouxeram – informações que poderiam ter convertido o desastre em Campo Vía em uma vitória boliviana.




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#2 Mensagem por delmar » Seg Mar 20, 2006 8:40 pm

.
Muito bom este tópico Túlio. A chamada guerra do Chaco é pouco conhecida e estudada no Brasil. Segundo alguns historiadores havia também a possibilidade da descoberta de petróleo no território do chaco.
Outra parte interessante de citar, se tiveres, foi o uso, pela Bolivia, de veículos blindados no conflito.
Ainda sobre as tropas envolvidas, os soldados bolivianos eram, em sua grande maioria, indios dos altiplanos acostumados ao frio dos andes, que sofreram muito com o calor infernal do chaco.

saudações




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#3 Mensagem por Túlio » Seg Mar 20, 2006 8:58 pm

Delmar, postei esse tópico porque não há quase NADA de aproveitável na Net sobre o assunto, na verdade estou há mais de uma hora buscando um mapa decente, pows...
Sobre os índios, deu para entender que a guerra envolveu as sociedades indígenas em cujos territórios se desenvolveu a atividade militar, trouxe para o teatro de operações tam­bém índios de fora, como os andinos bolivianos e terminou por aumentar o controle de ambos os Estados sobre as áreas em que finalmente passaram a exercer a sobera­nia. Se o controle estatal se tornou mais efetivo sobre os índios chaquenhos (que não eram o alvo desta guerra), por outro lado parece ter conduzido os Estados contendores a ver com outros olhos os grupos indígenas que com eles tinham colaborado. Foi uma guerra que mexeu com identidades: o guarani ganhou força como língua paraguaia, os índios andinos ganharam pontos em seu esforço por conseguir a plena cidadania boli­viana. Outros se viram mal situados no jogo das identidades, como os chiriguanos da Bolívia, que eram convidados a passar para o outro lado por soldados paraguaios que falavam o guarani. A gente entende melhor essa salada étnica aí se parar para pensar que ninguém DE FATO ocupava a região, era do Paraguai e pronto... A coisa engrossou quando os bolivianos quiseram recuperar massa territorial para compensar a que haviam perdido para o Chile, e parecia fácil fazê-lo às custas do Paraguai.
Fotos, até agora, necas...
Vamos aguardar as contribuições dos colegas...




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#4 Mensagem por delmar » Seg Mar 20, 2006 9:34 pm

Túlio, tenho algumas fotos que peguei em um foro boliviano.

1. Um junker ju.52 boliviano, atolado por sair da pista.

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2. um Potz XXV paraguayo

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3. um blindado bolivianos no chaco

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4. Um Fiat CR 20 bis, bolivianos

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#5 Mensagem por Túlio » Seg Mar 20, 2006 9:47 pm

Muito dez, conterrâneo!
Se num for muito abuso, não arranjarias por lá uns mapas que prestem da região?
Tô me quebrando direto...




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#6 Mensagem por delmar » Seg Mar 20, 2006 10:11 pm

Aqui vai um mapa com informações da guerra.

Imagem

tanque wikers boliviano

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Junker.43

Imagem




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#7 Mensagem por Túlio » Seg Mar 20, 2006 11:29 pm

Estupendo, cupincha!!!
O mapa é muito tri...
Até agora - 23:30 e 5 vodkas - num arrumei nem pro cafezinho, podes me mandar o link prá esse fórum boliviano? Vou me registrar, talvez aprenda alguma kôza, pows...




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#8 Mensagem por delmar » Ter Mar 21, 2006 8:43 am

Túlio,
remeti para teu e-mail.

saudações




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#9 Mensagem por delmar » Ter Mar 21, 2006 4:57 pm

..
Oa Menonitas do Paraguai.

Mais uma curiosidade da guerra. Alguém viu um filme com Harrison Ford, em que ele era um policial que protegia um menino, testemunha de um crime praticado por outros policiais. Acaba indo parar em uma comunidade rural do interior, com costumes bem conservadores, os Amish. Parece que o nome do filme era "A testemunha".
Pois os AMISH são Menonitas ou anabatistas, uma seita religiosa que surgiu em 1500. Procuram viver isolados em comunidades próprias. No chaco do Paraguai, exatamente onde começou o conflito, os menonitas haviam estabelecido uma colonia. Os menonitas são contra a violência e não usam arma ou prestam serviço militar. Não sei qual foi a situação deles no decorrer do conflito, mas devem ter sofrido muito.




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#10 Mensagem por VICTOR » Qui Mar 23, 2006 10:16 am

delmar escreveu:Os Menonitas do Paraguai.

Vieram menonitas para o Brasil também, principalmente fugidos da Rússia em 1930. Eu estudei da 1a. à 8a. série num colégio menonita, chamado Erasto Gaertner, aqui em Curitiba, fundado em 1936.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Menonitas

http://en.wikipedia.org/wiki/Menonite




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#11 Mensagem por Túlio » Qui Mar 23, 2006 11:33 am

Sobre comunidades fechadas, lembro que tem uma de japoneses em Ivoti, RS, e outra de Quackers, também no RS, mas esta eu num sei onde fica...




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#12 Mensagem por delmar » Qui Mar 23, 2006 7:39 pm

Tem uma colonia Menonita no Rio Grande do Sul também. Fica em Bagé ou Aceguá, não sei ao certo em que municipio fica atualmente. Explico, Aceguá era um distrito de Bagé que emancipou-se. Com a divisão não sei quem ficou com os Menonitas.

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#13 Mensagem por hancelo » Sex Abr 28, 2006 9:15 pm

notavel estou imprecionado que relato parece que eu estava lá no teatro de operações não tinha o conhecimento que foi assim tão brutal os combates pensei que fossem escaramuças entre os dois paises e só. e depois falam que os paises da america dos sul são republicas de banana e os paraguaios gente valorosa sem desmerecer os bolivianos mais que os paraguaios foram brava gente isto foi. da pra fazer um filme com o que vc escreveu tulio, parabens




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#14 Mensagem por delmar » Sáb Abr 29, 2006 1:42 pm

hancelo escreveu:notavel estou imprecionado que relato parece que eu estava lá no teatro de operações não tinha o conhecimento que foi assim tão brutal os combates pensei que fossem escaramuças entre os dois paises e só. e depois falam que os paises da america dos sul são republicas de banana e os paraguaios gente valorosa sem desmerecer os bolivianos mais que os paraguaios foram brava gente isto foi. da pra fazer um filme com o que vc escreveu tulio, parabens


O fórum Defesabrasil também é cultura. Vale lembrar que o compadre Túlio é um enganador. Como falam no interior "é como o tatú, esconde a graxa embaixo do casco." Ele vem com aquela história de vodca e cerveja mas tem é outras coisas na cabeça. Bastante conhecimento.
Ele fica se fazendo mas não nos engana.

saudações




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#15 Mensagem por Túlio » Ter Mai 09, 2006 8:02 pm

Peraí, conterrâneo, num escondo nada embaixo de nada e sifazol é a vovózinha, POWS! :twisted:
Sobre a Vodka, bastou ter que ouvir (ler) sermão do Morcego no MSN sobre beber de manhã, hoje...HUAHUAHUAHAUAHUAHAUAHAUAHAUA
Tenho que estar c*gado mesmo...HEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEHEH
Mas tenho algo a declarar:
PARO DE BEBER SÓ QUANDO ESSE JOSTINHA QUE NOS (DES)GOVERNA PARAR DE COMETER/ACOBERTAR CRIMES E ENTREGAR OS BENS DA NAÇÃO AOS OUTROS COMUNAS!




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