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Mensagem
por Clermont » Sáb Set 01, 2007 12:39 pm
ANTI-TOCAIA NO IRAQUE – parte 1.
Por John Plaster – capítulo 20 de “Ultimate Sniper”, 2006, da Paladin Press.
Muitas experiências e lições anti-tocaia tem emergido do Iraque, onde as forças americanas e da coalizão tem confrontado adversários tocaieiros dedicados e cheios de recursos. Em acréscimo a coletânea de experiências de veteranos do Iraque, nós incorporamos neste capítulo dezenas de relatórios, artigos de imprensa e mesmo relatos de insurgentes iraquianos envolvendo 16 engajamentos de tocaieiros terroristas contra forças americanas, britânicas e polonesas.
UM PERFIL: O TOCAIEIRO IRAQUIANO.
Antes de analisar os outros atributos do tocaieiro insurgente iraquiano, tenha em mente que ele é um terrorista em primeiro lugar, que é capaz de qualquer tipo de ato para avançar sua causa sem consideração pela lei ou ética ou o que um ocidental consideraria moralidade. Uma urdidura inseparável o conecta aos seus camaradas que instalam bombas em locais públicos e matam reféns indefesos com pouco remorso. A cada dia, ele viola as Leis da Guerra Terrestre ao vestir roupas paisanas, assassinar civis, continuar a atirar contra soldados e fuzileiros navais incapacitados, fugir de cenários de tocaias em ambulâncias, disparar, de propósito por detrás de um escudo humano de mulheres e crianças e operar das mesquitas. Não espere quartel dele e não seja surpreendido por seus ultrajes.
Explicando sua motivação, um tocaieiro iraquiano contou ao London Sunday Times, “Quando eu tocaio meu alvo e o vejo tombar, eu me sinto extasiado – tonto de júbilo. Eu caio ao chão, gritando para Deus, dizendo Allah akbar, pois Deus, em verdade é grande. Quando os tocaieiros deles matam um de nós, nós vamos para o paraíso como mártires. Mas quando nós os matamos, eles vão para o inferno.”
Baseado na ameaça que representam, eu categorizei os tocaieiros insurgentes do Iraque em três classes, o “tocaieiro à queima-roupa” (”potshot sniper”), o “atirador de precisão treinado” (”trained marksman”) e o tocaieiro “um tiro-um morto” (”one shot-one kill” sniper).
O tocaieiro à queima-roupa é um civil relativamente destreinado que adquiriu um fuzil com mira telescópica. Seu fanatismo excede sua habilidade, embora ele seja, razoavelmente mortífero em 90 a 180 metros – cerca de dois quarteirões de cidade – perto o bastante para que ele não precise dominar estimativa de distância, compensação de vento, etc, para atingir seus alvos. Uma reminiscência dos tocaieiros da Juventude Hitlerista que lutaram nos dias finais da Segunda Guerra Mundial, ele começou com um pouco mais de um par de horas de instrução. Alguém mais pode, até mesmo ter zerado seu fuzil para ele, mas tudo que ele precisa é saber como manter o retículo no seu alvo. A maioria dos tocaieiros à queima-roupa será capturada ou morta antes de aprender o bastante para serem chamados de tocaieiros, embora a experiência, somente, irá elevar alguns a este nível. Muito pelo alto, eu estimaria que esta categoria constitui metade dos tocaieiros no Iraque.
Acima dele está o atirador de precisão treinado, provavelmente um ex-militar ou atirador esportivo que sabe como disparar um fuzil com competência, mas que não tem nem o adestramento e nem a experiência dos tocaieiros. Ele pode atingir alvos do tamanho de um prato de jantar, precisamente entre 180 e 360 metros, ou alvos menores e parcialmente expostos em distâncias mais curtas. Se ele absorver suas experiências, pode se tornar tão mortífero quanto um tocaieiro adestrado em escola em poucos meses. O atirador de precisão treinado compreende, talvez de 40 a 45 % das fileiras dos tocaieiros insurgentes.
A menor categoria é esta do treinado em escola, totalmente qualificado, o tocaieiro “um tiro-um morto”, ou estes com bastante experiência da Chechênia ou outro lugar que os tenha, previamente qualificado para o trabalho. Eles representam 5 % ou no máximo 10 % dos tocaieiros inimigos. Um dos mais bem-sucedidos tocaieiros do Iraque – alegadamente com 23 mortes – contou ao entrevistador britânico que ele aprendeu suas habilidades através da Internet e brincando com videogames – o que eu não acredito nem por um segundo. Supondo que ele tenha participado de um curso de tocaieiro, talvez fora do Iraque, iria ele admitir isso para um jornalista estrangeiro?
Todos esses tocaieiros observam as forças americanas e estudam suas táticas e técnicas. Eles compreendem o que é uma Força de Reação Rápida (Quick Reaction Force, ou QRF), como ela opera e aprenderam a disparar e fugir antes que uma QRF possas contê-los em uma busca e isolamento. Repetidas vezes, eu encontro a mídia insurgente iraquiana se vangloriando de que os cordões americanos não estão no lugar, rápido o bastante para impedir a fuga do tocaieiro.
ARMAMENTO E EQUIPAMENTO.
Os tocaieiros iraquianos tem um amplo suprimento de fuzis de tocaia soviéticos SVD ou a versão de fabricação iraquiana, o fuzil “al Kadesih”. Apesar de ter sido capturado aos milhares em 2003, as unidades de operações especiais e de segurança interna de Saddam Hussein tinham, anteriormente, armazenado pilhas de tais fuzis. Um indicativo da imagem prestigiosa do “al Kadesih é de que Saddam Hussei tinha centenas – possivelmente milhares – deles com placas douradas para apresentações. Esses fuzis dourados tem se tornado o mais procurado souvenir de guerra pelos GIs.
Dependendo da fonte, o “al Kadesih” é comparavelmente preciso – ou levemente menos preciso – que seu primo russo SVD, provavelmente na casa dos 2 MOA. Eu não posso dizer com certeza, pois nunca disparei em testes o “al Kadesih”. Mas, claramente esse fuzil, de muitas maneiras é idêntico ao SVD, sendo sua mais distinta diferença a ausência de um descanso de rosto. Alguns carregadores tem uma palmeira estampada neles e não são intercambiáveis com o SVD. Eu não encontrei nenhum incidente de um tocaieiro iraquiano utilizando um fuzil de ação de ferrolho, embora um se vangloriasse para um jornalista de que estava adquirindo um fuzil de ação de ferrolho europeu de qualidade.
O máximo alcance efetivo de um tocaieiro iraquiano é limitado pela capacidade de suas miras ópticas. A obsoleta luneta PSO-1 de estilo soviético encontrada na maioria dos fuzis de tocaia iraquianos tem uma magnificação fixa de 4 X, mantendo seus tiros bem-visados até 350 metros ou menos. Além deste alcance, um atirador de precisão talentoso pode atingir um torso humano, mas ele não estará efetuando tiros de precisão.
E mais, devido a ele carecer de um observador e luneta de observação, o tocaieiro iraquiano não pode ajustar, com eficácia seu fogo, como um tocaieiro ocidental. Eu não passei em revista nem um só engajamento de tocaieiro iraquiano que envolvesse uma mira noturna, portanto eu duvido que eles as tenham – no entanto, tem ocorrido tiros disparados em áreas bem-iluminadas após escurecer.
Como regra, o tocaieiro iraquiano não tem rádio, mas algumas vezes ele se comunica pelo celular – o que, se você parar para pensar, é muito menos incriminador se ele for parado pelas forças de segurança. Da mesma forma, ele não carrega nenhum equipamento além do seu fuzil e, talvez um carregador sobressalente, tanto para permanecer flexivelmente móvel, como para tornar simples o descarte de evidências incriminatórias quando ele precisar se misturar com a população.
Enquanto em operação ele, com freqüência usa uma balaclava preta, uma prática talvez influenciada pelos terroristas palestinos similarmente trajados. Parcialmente, essa máscara de esquiador gera uma mística, mas de forma mais prática isso oculta sua identidade para que ele não possa ser identificado pelos transeuntes iraquianos. Alguns tocaieiros iraquianos vão além e ocultam suas identidades por trás de um nom de guerre ou codinome.
A INFLUÊNCIA CHECHENA.
Embora alguns combatentes chechenos tenham se infiltrado no Iraque, na área do tiro de tocaia a influência deles tem excedido seus números. Durante boa parte da década passada, radicais islâmicos tem enfrentado forças russas na assolada República da Chechênia e aprendido muito sobre guerra de rua, especialmente durante as batalhas na capital do país, Grozny. Os feitos de combate deles tem sido significativos, incluindo a morte, por um tocaieiro, do major-general Mikhail Malofeyev, o comandante das forças russas no norte da Chechênia.
Tocaieiros chechenos afiliados com a al Qaeda se tornaram respeitados como especialistas no assunto e prontamente disponíveis para compartilhar suas experiências, e talvez mesmo dirigir escolas para combatentes aliados tais como os insurgentes iraquianos.
Foram os chechenos quem primeiro organizaram equipes de caçadores-matadores (“grupos combatentes”) para mesclar tocaieiros, com fogueteiros RPG e metralhadores para ataques móveis do tipo bater-e-correr – uma tática imitada pelos insurgentes e muito provavelmente inspirada ou instruída pelos veteranos chechenos. Alguns vídeos terroristas iraquianos tem exibido um tocaieiro armado de SVD em companhia de insurgentes com RPGs e AKs – similar à equipe de caçadores-matadores chechena – e tais grupos tem sido encontrados nas vizinhanças mais rebeladas do Iraque.
Embora ainda não tendo sido vistos no Iraque, equipes de cinco homens – com um tocaieiro e quatro AKs, ou atiradores de metralhadora – tem sido agrupados pelos rebeldes nas áreas rurais da Chechênia. O tocaieiro irá espreitar à frente, talvez uns 500 metros – ou conservar-se em emboscada nessa posição avançada – e disparar um tiro bem-visado. Ouvindo isso, seus camaradas irão abrir fogo para desviar a atenção e fornecer fogo de cobertura para o tocaieiro escapar da resposta das forças russas.
Considerando-se sua experiência, é possível que alguns dos melhores tocaieiros insurgentes iraquianos – os tipos “um tiro-um morto” tenham sido treinados ou aconselhados pelos chechenos. Ou alguns podem, mesmo serem chechenos.
MUNIÇÃO PARA TOCAIEIRO.
A disponibilidade de munição de qualidade pode ser um fator limitador para os tocaieiros insurgentes. A mais abundante munição 7,62 x 54 R é a de bala de baixa categoria, adequada para o disparo pela metralhadora PK, e que é carente de consistência e, portanto de precisão.
No entanto, um tocaieiro tem um índice tão baixo de consumo que não se exige muita munição para mantê-lo suprido. Um tocaieiro urbano iraquiano pode operar um ano inteiro com o conteúdo de um único pacote de munição. Como é bem conhecido, antes da invasão de 2003, Saddam fez com que suas unidades de elite e forças de segurança internas – o núcleo da insurgência – armazenassem munição e armas, especificamente para continuar a luta. Esse fato, juntamente com a disponibilidade de munição de qualidade nos países vizinhos, sugere que o suprimento de munição não é um problema significativo para os tocaieiros. Quando estes, eventualmente forem descobertos disparando, principalmente munição de bala comum – e as mortes por um só tiro declinarem – isso será um forte indicativo de inteligência de que os maiores esforços de contra-insurgência estão obtendo sucesso.