Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#136 Mensagem por Clermont » Sáb Mai 30, 2015 10:56 pm

Bolovo escreveu:(...) Tento entender o que seria uma derrota então e, o mais incrível de tudo, o mundo ficou mais perigoso após ambas desastradas campanhas militares...
"O objetivo da guerra é a obtenção de uma paz mais perfeita."

(Capitão Sir Basil Liddel Hart.)




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mmatuso
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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#137 Mensagem por mmatuso » Sáb Mai 30, 2015 11:08 pm

Em todos esses casos deram um efeito colateral.

Na Libia armamento saiu por tudo que é fronteira e outros países se desestabilizaram.

Mundo perfeito para os EUA seria algo como as ditaduras das AL que eles ajudaram apoiaram, atrasaram em 50 anos os países, os governos pacificaram por si só e mantiveram a influência geopolitica para sempre.




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#138 Mensagem por Clermont » Sex Out 02, 2015 5:42 pm

O INDICIAMENTO DA AMÉRICA POR PUTIN.

Patrick J. Buchanan, 2 de outubro de 2015.

"Percebem agora o que vocês fizeram?"

Desta forma Vladimir Putin, em seu pronunciamento na ONU sumarizou o seu indiciamento da política externa dos Estados Unidos que produziu uma série de desastres no Oriente Médio que não precisavam ser descritos para nós pelo líder russo.

Quatorze anos depois de invadirmos o Afeganistão, tropas afegãs estão novamente combatendo forças talibans pelo controle de Kunduz. Somente 10 mil soldados americanos ainda naquele devastado país impedem o retorno triunfal do Taliban ao poder.

Uma dúzia de anos após George W. Bush invadir o Iraque, o ISIS ocupa sua segunda cidade, Mosul, controla sua maior província, Anbar e mantém a capital de Anbar, Ramadi, enquanto Bagdá afasta-se de nós - para Teerã.

O custo para os iraquianos por sua "libertação"? Cem mil mortos, meio milhão de viúvas e órfãos, milhões saíram do país e, mesmo assim, a guerra continua.

Como a Líbia tem se saído desde que "libertamos" aquela terra? Um estado falhado, dilacerado por uma guerra civil entre um "Alvorecer da Líbia" islamista em Trípoli e um regime em Tobruk apoiado pelo ditador do Egito.

E então há o Iêmen. Desde março, quando os rebeldes houthi arrancaram um fantoche saudita do poder, Riyad, apoiada por bombas e informações americanas, vem bombardeando a mais pobre das nações no mundo árabe.

Cinco mil foram mortos e 25 mil feridos desde março. E já que 25 milhões de iemenitas dependem de importações de comida, que foram em grande parte cortadas, o que está acontecendo é descrito por uma autoridade da ONU como "catástrofe humanitária".

"Depois de cinco meses o Iêmen parece a Síria depois de cinco anos," disse o chefe internacional da Cruz Vermelha ao retornar.

Na segunda-feira, a festa de casamento de um combatente houthi foi atingida por mísseis disparados do ar com 130 convidados mortos. Ajudamos a produzir isto?

O que Putin vê como a raiz ideológica destes desastres?

"Após o final da Guerra Fria, um centro único de dominação emergiu no mundo, então estes que se viram no topo da pirâmide foram tentados a pensar que eram fortes e excepcionais; deviam saber mais."

Então, adotando políticas "baseadas na presunção e crença na própria excepcionalidade e impunidade," este "centro único de dominação", os Estados Unidos, começaram a exportar "as assim chamadas revoluções democráticas."

E no que deu tudo isso? Diz Putin:

"Uma agressiva interferência estrangeira resultou na descarada destruição de instituições nacionais... Ao invés do triunfo da democracia e progresso, tivemos violência, pobreza e desastre social. Ninguém se importa nem um pouco sobre direitos humanos, incluindo o direito à vida."

Putin está errado em sua imagem sobre o que ocorreu no Oriente Médio depois de nós mergulharmos nele? Ou seu resumo sobre o que as intervenções americanas trouxeram ecoa os avisos feitos contra elas durante anos por opositores americanos?

O conceito de Putin de "soberania do estado" é este: "Somos todos diferentes, e devemos respeitar isto. Ninguém precisa conformar-se a um único modelo de desenvolvimento que alguém tenha tido e definitivamente reconhecido como o certo."

A União Soviética tentou este caminho, disse Putin, e fracassou. Agora os americanos estão tentando a mesma coisa, e alcançarão o mesmo fim.

Ao contrário da maioria dos discursos na ONU, o de Putin merece estudo. Pois ele não apenas identifica o quadro mental dos Estados Unidos que ajudou a produzir o novo mundo de desordem, ele também identifica a causa da emergente segunda Guerra Fria.

Para Putin, a exploração do Ocidente de sua vitória na Guerra Fria movendo a OTAN para o quintal da Rússia provocou a visceral reação russa. O golpe apoiado pelos EUA na Ucrânia que derrubou o governo eleito pró-russo levou diretamente a violenta reação do Donbas pró-russo.

O que Putin parece estar tentando dizer é isto:

Se as elites da América continuarem sustentando o seu direito de intervirem nos assuntos internos das nações, para transformá-las de acordo com o ideal dos Estados Unidos sobre o que é uma boa sociedade e um governo legítimo, então estaremos rumando para o conflito interminável. E, um dia, isso resultará inevitavelmente na guerra, enquanto mais e mais nações resistirão ao imperialismo moral da América.

As nações tem o direito de serem elas mesmas, Putin está dizendo.

Elas tem o direito de refletirem em suas instituições suas próprias histórias, crenças, valores e tradições, mesmo se estas resultem no que os americanos consideram como democracias não-liberais ou capitalismo autoritário ou mesmo teocracias muçulmanas.

Houve um tempo, não muito distante, quando os americanos não tinham problema algum com isto, quando os americanos aceitavam uma diversidade de regimes no exterior. Na verdade, a crença na não-intervenção foi uma vez a pedra de toque da política externa americana.

Quarta e quinta-feiras, as forças de Putin na Síria bombardearam os campos de rebeldes que buscam derrubar Assad, apoiados pelos Estados Unidos. Putin está mandando um sinal: a Rússia está disposta a escalar até uma colisão com os Estados Unidos para impedir-nos e nossos aliados sunitas árabes e turcos de liquidarmos Assad, o que poderá levar o ISIS ao poder em Damasco.

Talvez seja hora de baixarmos a bola de nossa ideologia e começar a respeitar os interesses vitais de outras nações soberanas, mesmo enquanto protegemos e defendemos os nossos próprios.




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#139 Mensagem por shucrut » Sex Out 02, 2015 9:53 pm

Clermont escreveu:O INDICIAMENTO DA AMÉRICA POR PUTIN.

Patrick J. Buchanan, 2 de outubro de 2015.

"Percebem agora o que vocês fizeram?"

Desta forma Vladimir Putin, em seu pronunciamento na ONU sumarizou o seu indiciamento da política externa dos Estados Unidos que produziu uma série de desastres no Oriente Médio que não precisavam ser descritos para nós pelo líder russo.

Quatorze anos depois de invadirmos o Afeganistão, tropas afegãs estão novamente combatendo forças talibans pelo controle de Kunduz. Somente 10 mil soldados americanos ainda naquele devastado país impedem o retorno triunfal do Taliban ao poder.

Uma dúzia de anos após George W. Bush invadir o Iraque, o ISIS ocupa sua segunda cidade, Mosul, controla sua maior província, Anbar e mantém a capital de Anbar, Ramadi, enquanto Bagdá afasta-se de nós - para Teerã.

O custo para os iraquianos por sua "libertação"? Cem mil mortos, meio milhão de viúvas e órfãos, milhões saíram do país e, mesmo assim, a guerra continua.

Como a Líbia tem se saído desde que "libertamos" aquela terra? Um estado falhado, dilacerado por uma guerra civil entre um "Alvorecer da Líbia" islamista em Trípoli e um regime em Tobruk apoiado pelo ditador do Egito.

E então há o Iêmen. Desde março, quando os rebeldes houthi arrancaram um fantoche saudita do poder, Riyad, apoiada por bombas e informações americanas, vem bombardeando a mais pobre das nações no mundo árabe.

Cinco mil foram mortos e 25 mil feridos desde março. E já que 25 milhões de iemenitas dependem de importações de comida, que foram em grande parte cortadas, o que está acontecendo é descrito por uma autoridade da ONU como "catástrofe humanitária".

"Depois de cinco meses o Iêmen parece a Síria depois de cinco anos," disse o chefe internacional da Cruz Vermelha ao retornar.

Na segunda-feira, a festa de casamento de um combatente houthi foi atingida por mísseis disparados do ar com 130 convidados mortos. Ajudamos a produzir isto?

O que Putin vê como a raiz ideológica destes desastres?

"Após o final da Guerra Fria, um centro único de dominação emergiu no mundo, então estes que se viram no topo da pirâmide foram tentados a pensar que eram fortes e excepcionais; deviam saber mais."

Então, adotando políticas "baseadas na presunção e crença na própria excepcionalidade e impunidade," este "centro único de dominação", os Estados Unidos, começaram a exportar "as assim chamadas revoluções democráticas."

E no que deu tudo isso? Diz Putin:

"Uma agressiva interferência estrangeira resultou na descarada destruição de instituições nacionais... Ao invés do triunfo da democracia e progresso, tivemos violência, pobreza e desastre social. Ninguém se importa nem um pouco sobre direitos humanos, incluindo o direito à vida."

Putin está errado em sua imagem sobre o que ocorreu no Oriente Médio depois de nós mergulharmos nele? Ou seu resumo sobre o que as intervenções americanas trouxeram ecoa os avisos feitos contra elas durante anos por opositores americanos?

O conceito de Putin de "soberania do estado" é este: "Somos todos diferentes, e devemos respeitar isto. Ninguém precisa conformar-se a um único modelo de desenvolvimento que alguém tenha tido e definitivamente reconhecido como o certo."

A União Soviética tentou este caminho, disse Putin, e fracassou. Agora os americanos estão tentando a mesma coisa, e alcançarão o mesmo fim.

Ao contrário da maioria dos discursos na ONU, o de Putin merece estudo. Pois ele não apenas identifica o quadro mental dos Estados Unidos que ajudou a produzir o novo mundo de desordem, ele também identifica a causa da emergente segunda Guerra Fria.

Para Putin, a exploração do Ocidente de sua vitória na Guerra Fria movendo a OTAN para o quintal da Rússia provocou a visceral reação russa. O golpe apoiado pelos EUA na Ucrânia que derrubou o governo eleito pró-russo levou diretamente a violenta reação do Donbas pró-russo.

O que Putin parece estar tentando dizer é isto:

Se as elites da América continuarem sustentando o seu direito de intervirem nos assuntos internos das nações, para transformá-las de acordo com o ideal dos Estados Unidos sobre o que é uma boa sociedade e um governo legítimo, então estaremos rumando para o conflito interminável. E, um dia, isso resultará inevitavelmente na guerra, enquanto mais e mais nações resistirão ao imperialismo moral da América.

As nações tem o direito de serem elas mesmas, Putin está dizendo.

Elas tem o direito de refletirem em suas instituições suas próprias histórias, crenças, valores e tradições, mesmo se estas resultem no que os americanos consideram como democracias não-liberais ou capitalismo autoritário ou mesmo teocracias muçulmanas.

Houve um tempo, não muito distante, quando os americanos não tinham problema algum com isto, quando os americanos aceitavam uma diversidade de regimes no exterior. Na verdade, a crença na não-intervenção foi uma vez a pedra de toque da política externa americana.

Quarta e quinta-feiras, as forças de Putin na Síria bombardearam os campos de rebeldes que buscam derrubar Assad, apoiados pelos Estados Unidos. Putin está mandando um sinal: a Rússia está disposta a escalar até uma colisão com os Estados Unidos para impedir-nos e nossos aliados sunitas árabes e turcos de liquidarmos Assad, o que poderá levar o ISIS ao poder em Damasco.

Talvez seja hora de baixarmos a bola de nossa ideologia e começar a respeitar os interesses vitais de outras nações soberanas, mesmo enquanto protegemos e defendemos os nossos próprios.

Gostei texto.




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#140 Mensagem por P44 » Sáb Out 03, 2015 7:01 am

:mrgreen:

Obama avisa Putin que estratégia russa para a Síria é “receita para o desastre”

João Manuel Rocha

02/10/2015 - 12:23

(actualizado às 22:40)

Primeiros bombardeamentos russos em Raqqa, província onde Estado Islâmico tem a sua "capital". Coligação liderada pelos EUA pede a Moscovo que concentre esforços na luta contra os jihadistas.

Imagem

O presidente dos EUA, Barack Obama, considera que os bombardeamentos russos na Síria “só fortalecem” o autoproclamado Estado Islâmico, porque Moscovo não estabelece diferenças entre os opositores de Bashar al-Assad e entende que todos “são terroristas”, o que, do seu ponto de vista, é uma “receita para o desastre”.

A abordagem russa está, para ele, votada ao fracasso e os ataques à “oposição moderada vão ser contraproducentes”, disse, numa conferência de imprensa na Casa Branca, esta sexta-feira à noite – dia 3 dos ataques russos aos grupos que combatem o Presidente Bashar al-Assad. Os EUA vão continuar a “ir atrás” do Estado Islâmico (EI), a apoiar a oposição moderada e a rejeitar a “teoria” russa de que “todos são terroristas”, afirmou também.

Obama disse que que está preparado para trabalhar com a Rússia, e também com o Irão, para encontrar uma solução política para a Síria. Mas, para que isso aconteça, o Presidente russo, Vladimir Putin, deve reconhecer que é preciso “haver uma mudança” de Governo em Damasco. “O problema é Assad e a brutalidade que infligiu ao povo sírio.”

O líder norte-americano disse não ter ilusões sobre a catástrofe humanitária que a Síria é, mas acrescentou que aprendeu noutras guerras recentes que não é o reforço do envolvimento militar que resolve problemas políticos.

Assad não descura também a frente diplomática e fez saber que o regime sírio está disposto a participar em discussões preparatórias de uma conferência de paz, embora tenha sérias reservas quanto a uma solução política negociada para a guerra. “O terrorismo não pode ser combatido [só] com ataques aéreos”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Walid al-Moulem, nas Nações Unidas.

“Os ataques aéreos são inúteis se não forem coordenados com o exército, a única força na Síria que combate o terrorismo”, disse Moulem, na Assembleia Geral, em Nova Iorque. As acções da coligação internacional liderada pelos EUA “só serviram para o espalhar”, acrescentou.

No terreno, a aviação russa bombardeou pela primeira vez alvos na província de Raqqa, no Norte, onde o EI tem a sua "capital", na noite de quinta-feira. Já esta sexta, foi anunciada a destruição de um posto de comando e de um paiol jihadista em Hama, a Oeste. Mas esses ataques não venceram a desconfiança ocidental dos bombardeamentos que Moscovo diz visarem tanto jihadistas como “todos os outros grupos terroristas”.

O anúncio de que a aviação russa fez bombardeamentos na província de Raqqa, foi feito pelo Ministério da Defesa de Moscovo. Bombardeiros tácticos Sukhoi-34 visaram, entre outros alvos, “um posto de comando camuflado em Kasrat Faraj”. Foi também atingido um “campo de treino” próximo de Maadan Jadid, indica um comunicado.

Os ataques de quinta-feira foram confirmados pela Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma das principais fontes de informação sobre o que ocorre no interior da Síria, segundo o qual foram mortos pelo menos 12 jihadistas. Os raides aéreos levaram ao cancelamento das orações de sexta-feira.

Foram também anunciados bombardeamentos nas províncias de Alepo, no Norte, Idlib (Nordeste) e Hama. Mas os lugares indicados pelo Governo russo como tendo sido alvos do Estado Islâmico são, segundo o observatório, ocupados pela Frente al-Nusra, ligada à Al-Qaeda, e por outros grupos anti-Assad.

O anúncio dos ataques em Raqqa não basta para vencer as desconfianças dos EUA e dos seus aliados de que a Rússia estará a atacar sobretudo opositores do Presidente sírio, onde o Estado Islâmico tem pouca presença. “A operação foi inteiramente montada contra posições do [moderado] Exército Livre da Síria”, disse Ahmet Davutoglu, primeiro-ministro da Turquia.

"Acabem imediatamente"

Sete dos países que integram a coligação internacional – EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Qatar, Arábia Saudita e também a Turquia – apelaram a Moscovo para acabar “imediatamente” com os ataques contra a oposição a Assad e concentrar esforços no EI, que controla metade de um país em guerra há quatro anos. Ataques que não visem o grupo islamista só “alimentam mais o extremismo e a radicalização”, disseram. :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:

O Governo de Moscovo admite prolongar por “três a quatro meses” os bombardeamentos, disse Alexei Pouchkov, presidente da comissão de assuntos estrangeiros da Duma, a câmara baixa do Parlamento. Ao mesmo tempo, a Rússia – acusada de querer ajudar Assad a permanecer no poder – entregou no Conselho de Segurança um projecto de resolução que associaria o Governo de Damasco a uma coligação alargada contra os jihadistas.

http://www.publico.pt/mundo/noticia/rus ... co-1709856




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#141 Mensagem por Clermont » Qui Dez 03, 2015 5:21 pm

QUEM É NOSSO MELHOR ALIADO: ERDOGAN OU PUTIN?

Patrick J. Buchanan, 1º de dezembro de 2015.

Segunda-feira, "Morning Joe" da MSNBC transmitiu uma acalorada discussão com Donald Trump sobre se ele tinha razão em garantir que os muçulmanos em New Jersey celebraram enquanto as torres vinham abaixo no 11 de Setembro.

Sobre as comemorações muçulmanas em Berlim, entretanto, parece não haver dúvidas. Em meu capítulo "Eurabia", em "State of Emergency: The Third World Invasion and Conquest of America," (2006) encontra-se esta citação do New York Times Magazine, exatos dez anos atrás.

Em paralelo com as declarações de "solidariedade incondicional" com os americanos pela maioria dos alemães, reuniões de outro tipo estavam tendo lugar em Neukolln e Kreuzberg. Rojões foram disparados dos pátios de edifícios, fogos de artifício de pobres, esporádicos, esparsos e alegres; dois rojões aqui, três ali. Mesmo assim, centenas de rojões estavam rumando para o céu em comemoração do ataque, enquanto a maioria dos berlinenses estava procurando palavras para expressar seu horror.


Neukolln e Kreuzberg são os bairros dos "gastarbeiters", trabalhadores turcos muçulmanos que vieram para a Alemanha aos milhões para executarem trabalhos braçais no início dos anos 1960.

Enquanto persiste a agitação sobre o que Trump viu, uma questão mais séria surgiu: estará o homem-forte turco, presidente Recep Erdogan, tentando arrastar os Estados Unidos para o seu lado numa guerra na Síria, e para um confronto com a Rússia de Vladimir Putin?

Um pouco de história seria útil. Não foi até 1952 que a Turquia ingressou na Organização do Tratado do Atlântico Norte, da qual todos os membros, exceto dois em doze, estavam no Atlântico ou no Mar do Norte.

Apesar disso, trazer a Turquia foi um golpe de mestre, colocando a OTAN nos Dardanelos, no Bósforo e na costa meridional do Mar Negro, bem em frente à fronteira da União Soviética de Stalin.

Mas o mundo que tornava a Turquia um tal bem estratégico desvaneceu-se. Armênia e Geórgia não são mais repúblicas soviéticas e sim nações livres. O império soviético, o Pacto de Varsóvia e a União Soviética não mais existem, e as nações balcânicas tanto como os estados bálticos são membros da UE e da OTAN.

A Turquia não é mais a nação-estado secular de Kemal Ataturk, mas cada vez mais inclina-se para o Despertar Islâmico. Na guerra civil da Síria, seu comportamento não tem sido o que se esperaria de um aliado.

Os turcos deixaram a porta aberta para os jihadistas juntarem-se ao ISIS. Eles são acusados por dois jornalistas turcos, agora encarando a prisão perpétua, de embarcarem armas para o ISIS. Os turcos são acusados de permitirem ao ISIS movimentar petróleo do Estado Islâmico através da Turquia. A Rússia, que juntou-se aos Estados Unidos no bombardeio dos caminhões-tanque que movimentam o petróleo, acusa o filho de Erdogan de envolvimento no comércio do mercado negro com o califado.

Ao invés de enfrentar o ISIS, Erdogan está combatendo os curdos na Turquia e no Curdistão iraquiano e está ameaçando atacar os curdos da Síria se estes atravessarem para a margem ocidental do Eufrates.

Ancara também está se tornando ditatorial e repressiva.

Erdogan tem péssimas relações com o Egito e Israel e aparenta estar totalmente inclinado em derrubar Bashar Assad na Síria. Porém, o exército de Assad permanece a única força entre o ISIS e Damasco.

A Turquia de Erdogan sem sua própria agenda nacional independente. Embora compreensível, o que preocupa é que Erdogan pode escalar seu confronto com o regime Assad para um confronto com a Rússia de Putin, que apóia o regime sírio - e arrastar-nos para esta guerra.

E quanto mais tempo esta guerra prossegue, maior a probabilidade de algo assim acontecer.

Pois a premissa operacional da OTAN é de que um ataque contra um é um ataque contra todos. O que faríamos caso Erdogan provoque um ataque russo contra seus aviões e então invoque o Artigo V e chame todas as nações da OTAN para irem em defesa da Turquia contra a Rússia de Putin na Síria de Assad?

A derrubada do Sukhoi SU-24 russo faz desta questão mais do que uma hipótese.

Embora os russos tenham indicado que não vão transformar isso num casus belli, Putin fez a acusação de que os EUA receberam de antemão a informação do plano de vôo da aeronave russa.

Recebemos? Autorizamos, sabíamos ou suspeitávamos de que Erdogan estava planejando abater o avião russo? Isto não é pouca coisa. E os americanos tem o direito de saber.

E então há a questão geoestratégica.

O mundo de 2015 não é nada parecido com o mundo de Truman em 1952 ou o mundo de Reagan em 1982. O adversário que confrontávamos então, o império soviético e a União Soviética, já não existem há um quarto de século.

Por quê então a OTAN, criada para defender a Europa Ocidental contra aquele adversário, ainda existe?

Por quê ainda estamos comprometidos em enfrentar a Rússia não somente para defender a Alemanha, mas a Estônia e a Turquia de Erdogan, e se os neocons conseguirem abrir caminho, comprometidos perpetuamente em enfrentar a Rússia pela Geórgia, Ossétia do Sul, Abkhazia, Moldávia, Ucrânia, Donetsk e Luhansky?

Se a história do século XX ensinou algo é que garantias de guerra com muita freqüencia levam à guerra.

Mas nesta guerra contra o "terrorismo islâmico radical" quem é o aliado de verdade? Erdogan, que tem auxiliado e acolhido os jihadistas islâmicos na Síria, ou Putin, que os está bombardeando?




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#142 Mensagem por VivaRussia » Sex Dez 04, 2015 5:33 am

Vejam só, essa notícia veículada em 2002 pela rede Bobo, veículo oficial do Império Ocidental. Já mostram o plano para atacar seis países:

Iraque, Irã, Síria, Líbia, China e Rússia.

Posteriormente, o Iraque foi invadido sob pretexto de armazenar armas de destruição em massa;

Após os protestos chamados de "Primavera Árabe", criados pela CIA, atacaram Líbia e Síria. A Líbia foi destruída e está nas mãos hoje do Daesh. A Síria, em processo de destruição.

Como podemos ver hoje, dezembro/2015, três desses seis foram atacados e destruídos: Líbia, Iraque e Síria.

Restam apenas três.

Após a destruição da Síria, o próximo alvo lógico: Irã.

Depois do Irã, restam apenas: Rússia e China. Mas esses dois, como são alvos ossos duros de roer, serão os últimos da fila.



Dá para entender o porquê da Rússia estar arriscando seu pescoço na Síria? faz sentido agora?

VR




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#143 Mensagem por Clermont » Ter Abr 11, 2017 9:09 pm

TRUMP ESTÁ ALISTANDO-SE NO PARTIDO DE GUERRA?

Patrick J. Buchanan, 11.04.17.

Ao disparar mais de cinqüenta mísseis "Tomahawk" contra um aeródromo, nosso presidente "América Primeiro" pode ter-nos mergulhado em outra guerra no Oriente Médio que seus compatriotas não querem travar.

Até agora, Bashar Assad não parece intimidado. Deixando de lado o ataque, ele, desafiadoramente, voltou a bombardear os rebeldes a partir da mesma base aérea de Shayrat atingida pelos mísseis.

Trump "não irá parar aqui", preveniu a Embaixadora na ONU, Nikki Haley, no domingo. "Se precisar fazer mais, ele o fará."

Se Trump falhar em cumprir a ameaça de Haley, os falcões, agora o louvando, passarão a ridicularizá-lo como "Donald Obama".

Mas, se ele seguir os tambores de guerra de John McCain, Lindsey Graham e Marco Rubio, ordenando a destruição da força aérea da Síria, poderemos entrar em guerra não apenas contra o ISIS e al-Qaida, mas contra a Síria, Rússia, Irã e o Hezbollah.

Uma guerra síria consumiria a presidência de Trump.

Estaremos prontos para isto? Como poderemos vencer tal guerra sem formar um grande exército e enviá-lo para o Oriente Médio?

Outro problema: o ataque de mísseis de Trump foi inconstitucional. Assad nem nos atacou ou ameaçou, e o Congresso que, apenas ele, tem o poder para autorizar guerra contra a Síria, nunca fez isto.

Em verdade, o Congresso negou ao presidente Obama esta autorização específica, em 2013.

O que Trump estava pensando? Eis aqui sua racionalização estratégica:

"Quando você mata crianças inocentes, bebês inocentes - bebês, bebês pequenos - com gás químico... isso cruza muitas, muitas linhas, além da linha vermelha... E eu digo a vocês, este ataque de ontem contra crianças, teve um grande impacto sobre mim... minha atitude para com a Síria e Assad mudou muito."


Dois dias depois, Trump ainda estava emotivo:

"Bebês maravilhosos foram cruelmente assassinados neste ataque verdadeiramente bárbaro. Nenhuma criança de Deus deveria, jamais, sofrer tal horror."


Claro, este ataque de gás foi uma atrocidade, um crime de guerra, e imagens de suas pequenas vítimas são de partir o coração. Porém, 400 mil pessoas morreram na guerra civil da Síria, entre elas milhares de crianças e recém-nascidos.

Elas foram mortas pelas forças de Assad? Certamente, mas também por aviões e drones turcos, israelenses, russos, americanos - e pelos curdos, iranianos, Hezbollah, al-Qaida, ISIS, rebeldes apoiados pelos EUA e milícias xiitas.

Assad está batalhando insurgentes e jihadistas que massacrariam seus irmãos alauítas e os cristãos na Síria, justamente como estes coptas foram massacrados no Domingo de Ramos. Por que Assad é mais responsável por todas as mortes na Síria do que estes lutando para derrubá-lo e matá-lo?

E estamos certos de que Assad, pessoalmente, ordenou um ataque de gás contra civis?

Pois isto não faz sentido algum. Por que Assad, que está vencendo a guerra e foi informado que a América não estava mais exigindo sua remoção, ordenaria um ataque com gás dos nervos contra crianças, certamente inflamando a ira da América, em troca de nenhum ganho militar?

Semelhante ao ataque de gás em 2013, este tem as marcaas de uma operação "bandeira falsa" para fazer a América estourar na direção da guerra civil da Síria.

E, como na maioria das guerras, os primeiros tiros disparados recebem os mais sonoros aplausos. Mas, se o presidente se bandeou com os neocons e o Partido de Guerra, e estamos mergulhando de volta no turbilhão do Oriente Médio, Trump precisa saber que muitos daqueles que ajudaram a indicá-lo e elegê-lo - para manter-nos fora de guerras desnecessárias - poderão não estar ao lado dele.

Não temos nenhum interesse nacional vital na guerra civil da Síria. São estes travando a luta que tem causas consideradas dignas de se morrer.

Para o ISIS, é o sonho de um califado. Para a al-Qaida, trata-se de empurrar os cruzados para fora do Dar al Islam. Para os turcos, trata-se, como sempre, dos curdos.

Para Assad, esta guerra é sobre sua sobrevivência e a do seu regime. Para Putin, é sobre a Rússia permanecer uma grande potência e não perder sua última base naval no Mediterrâneo. Para o Irã, é sobre preservar uma ponte terrestre com seu aliado xiita, Hezbollah. Para este, é sobre não ser cortado do mundo xiita e isolado no Líbano.

Porque todos tem interesses vitais na Síria, todos investiram mais sangue neste conflito do que nós. E eles não desistirão de seus ganhos ou objetivos na Síria e cederão aos americanos sem luta.

E se formos à guerra na Síria, pelo quê estaríamos lutando?

Uma Nova Ordem Mundial? Democracia? Separação entre mesquita e estado? Diversidade? Livre expressão para heréticos muçulmanos? Direitos LGBT?

Em 2013, uma grande coalizão formou-se para compelir o Congresso a negar autoridade para Barack Obama levar-nos para a guerra na Síria.

Estamos de volta a esta barricada. Uma batalha depois da Páscoa está se formando no Congresso sobre a mesma questão: o presidente está autorizado a levar-nos para a guerra contra Assad e seus aliados no interior da Síria?

Se, depois do Afeganistão, Iraque, Líbia e Iêmen, nós não queremos a América em mais outra guerra no Oriente Médio, o momento para impedir isto é antes que o Partido de Guerra nos tenha colocado nela. O momento é agora.




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#144 Mensagem por Grep » Ter Abr 11, 2017 11:55 pm

Acabou a aventura do bufão, voltamos a programação normal.




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#145 Mensagem por Juniorbombeiro » Qua Abr 12, 2017 12:44 am

Os Sauditas devem estar peidando fino, vai que uma cagada dessas resolve resultar um política de olho por olho, dente por dente, e a Rússia e China se sintam no direito de "punir" alguns tiranos. Difícil, até pelas aproximações comerciais com os Emirados, e não ser a abordagem comum, mas quem tem, tem medo.




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#146 Mensagem por Clermont » Dom Abr 16, 2017 8:49 am

O "ATAQUE QUÍMICO" DA SÍRIA: CUI BONO?

Uri Avnery - Antiwar.com, 15 de abril de 2017.

Cui bono - "quem se beneficia" - é a primeira questão que um detetive experimentado pergunta quando investiga um crime.

Já que, eu mesmo, fui um detetive por um curto tempo na juventude, sei o que isto significa. Com freqüencia, a primeira e óbvia suspeita é falsa. Você se pergunta, "cui bono", e outro suspeito, em quem você não pensou, aparece.

Há duas semanas, esta questão atormenta minha mente. Ela não me deixa.

Na Síria, foi cometido um terrível crime. A população civil numa vila mantida por rebeldes, chamada Idlib, foi atingida com gás venenoso. Dezenas de civis, incluindo crianças, sofreram uma morte miserável.

Quem pôde fazer tal coisa? A resposta foi óbvia: este terrível ditador, Bashar al-Assad. Quem mais?

E, assim, dentro de poucos minutos (literalmente) o New York Times e uma hoste de excelentes jornais por todo o Ocidente, proclamou, sem hesitação: Assad fez isto!

Nenhuma necessidade de provas. Nenhuma investigação. Isto, simplesmente, era auto-evidente. Assad, é claro. Dentro de minutos, todo mundo sabia disto.

Uma tempestade de indignação varreu o mundo ocidental. Ele tem de ser punido! O pobre Donald Trump, que não tinha uma prova, submeteu-se à pressão e ordenou um insensato ataque de mísseis contra um aeródromo sírio, após pregar durante anos que os Estados Unidos, sob circunstância alguma, deveriam envolver-se na Síria. De repente, contradisse à si mesmo. Apenas para ensinar a este bastardo uma lição. E para mostrar ao mundo que "macho-cho" ele, Trump, realmente é.

A operação foi um imenso sucesso. Da noite para o dia, o desprezado Trump tornou-se um herói nacional. Mesmo os liberais beijaram seus pés.

Mas, durante tudo isso, aquela questão continuava a importunar minha mente. Por que Assad fez isto? O que ele tinha a ganhar?

A resposta simples é: nada. Absolutamente, nada.

("Assad" significa "leão" em árabe. Contrário ao que especialistas e estadistas ocidentais parecem acreditar, a palavra é paroxítona).

Com a ajuda da Rússia, Irã e o Hizbullah, Assad, lentamente, está vencendo a guerra civil devastando a Síria há anos. Ele já mantém quase todas as grandes cidades que constituem o núcleo da Síria. Ele tem armas o bastante para matar tantos civis inimigos quanto deseje seu coração.

Então, por que, em nome de Alá, ele usaria gás para matar umas poucas dezenas mais? Por que excitar a ira do mundo inteiro, pedindo por uma intervenção americana?

Não há modo nenhum de negar a conclusão: Assad é quem menos tinha a ganhar do ato ignóbil. Na lista do "cui bono", ele fica em último.

Assad é um ditador cínico, talvez cruel, mas está longe de ser um tolo. Ele foi criado por seu pai, Hafez al-Assad, que foi ditador por muito mais tempo antes dele. Mesmo se fosse um tolo, seus conselheiros incluém algumas das pessoas mais espertas do planeta: Vladimir Putin da Rússia, Hassan Rouhani do Irã e Hassan Nasrallah do Hizbullah.

Então, quem tinha algo a ganhar? Bom, meia dúzia de seitas e milícias sírias que estão lutando contra Assad e umas com as outras nesta louca guerra civil. E também os aliados árabes sunitas delas, os sauditas e outros xeques do Golfo. E Israel, é claro. Todos eles tem interesse em incitar o mundo civilizado contra o ditador sírio.

Simples lógica.

Uma ação militar precisa ter um objetivo político. Como Carl von Clausewitz, famosamente, escreveu há duzentos anos atrás: a guerra é a continuação da política por outros meios.

Os dois principais oponentes na guerra civil síria são o regime Assad e o Daesh [ISIS]. Portanto, qual o objetivo dos Estados Unidos? Parece piada: os EUA querem destruir ambos os lados. Outra piada: primeiro querem destruir o Daesh, para isso bombardeiam Assad.

A destruição do Daesh é altamente desejável. Há poucos grupos mais detestáveis no mundo. Mas o Daesh é uma idéia, antes do que apenas uma organização. A destruição do Daesh dispersaria milhares de dedicados assassinos por todo o mundo.

(Curiosamente o bastante, os Assassinos originais, cerca de novecentos anos atrás, eram fanáticos muçulmanos muito similares ao Daesh atual.)

Os próprios clientes da América na Síria são um bando lamentável, quase batidos. Eles não tem chance alguma de vencerem.

Prejudicar Assad agora apenas significa prolongar uma guerra civil que, neste ponto, é ainda mais insensata do que antes.

Para mim, jornalista profissional a maior parte da minha vida, o aspecto mais deprimente de todo este capítulo é a influência da mídia americana e ocidental em geral.

Eu leio o New York Times e o admiro. Mesmo assim, ele rasgou todos os seus padrões profissionais ao publicar uma suposição não comprovada como uma verdade evangélica, sem nenhuma necessidade de verificação. Talvez, Assad seja culpado, afinal de contas. Mas, onde está a prova? Quem investigou e quais foram os resultados?

Pior, as "notícias" tornaram-se uma verdade mundial. Muitos milhões repetem-na, sem pensar, como auto-evidente, como o sol nascendo no leste e se pondo no oeste.

Sem questões levantadas. Sem provas exigidas ou fornecidas. Muito deprimente.

Voltando ao ditador. Por que a Síria precisa de um ditador? Por que ela não é uma bela democracia ao estilo EUA? Por que não aceita, agradecida, uma "mudança de regime" planejada pelos EUA?

A ditadura síria não é nenhum fenômeno acidental. Ela tem raízes muito concretas.

A Síria foi criada pela França depois da Grande Guerra. Posteriormente, uma parte dela separou-se e virou o Líbano.

Ambos são criações artificiais. Duvido se, mesmo hoje, existam mesmo "sírios" e "libaneses" de verdade.

O Líbano é um território montanhoso, idealmente adequado para pequenas seitas que precisam defender-se. Através dos séculos, muitas pequenas seitas acharam refúgio lá. Como resultado, o Líbano está cheio de tais seitas que desconfiam uma das outras - muçulmanos sunitas, muçulmanos xiitas, cristãos maronitas, outras seitas cristãs, drusos, curdos.

A Síria é a mesma coisa, com a maioria das mesmas seitas, e o acréscimo dos alauítas. Estes, como os xiitas, são seguidores de Ali Ibn Abi Talib, primo e genro do profeta. Eles ocupam uma faixa de terra no norte da Síria.

Ambos os países precisaram inventar um sistema que permitisse a entidades tão diversas e mutualmente suspeitosas, viverem juntas. Eles encontraram dois sistemas diferentes.

No Líbano, com um passado de muitas guerras civis brutais, inventou-se uma forma de compartilhamento. O presidente é sempre um maronita, o primeiro-ministro um sunita, o comandante do exército um druso, e o porta-voz do parlamento um xiita.

Quando Israel invadiu o Líbano em 1982, os xiitas no sul eram os mais baixos na escada. Eles saudaram nossos soldados com arroz. Mas logo compreenderam que os israelenses não tinham chegado só para derrotar os vizinhos arrogantes, mas tencionavam ficar. Portanto, os baixos xiitas começaram uma campanha guerrilheira muito bem-sucedida, no curso da qual tornaram-se a mais poderosa comunidade no Líbano. Eles são liderados pelo Hizbullah, o Partido de Deus. Mas o sistema ainda se mantém.

Os sírios acharam outra solução. De bom grado, submeteram-se a uma ditadura, para manter o país junto e assegurar a paz interna.

A Bíblia diz que os Filhos de Israel, quando decidiram que precisavam de um rei, escolheram um homem chamado Saul, pertencente a menor tribo, Binyamin. Os sírios modernos fizeram o mesmo: submeteram-se a um ditador de uma de suas menores tribos, os alauítas.

Os Assad são governantes seculares, anti-religiosos - o completo oposto do fanático e mortífero Daesh. Muitos muçulmanos acreditam que os alauítas nem mesmo são muçulmanos, no fim das contas. Desde que a Síria perdeu a Guerra do Yom Kippur contra Israel, quarenta e quatro anos atrás, os Assads tem mantido a paz em nossa fronteira, embora os israelenses tenham anexado as Colinas de Golan sírias.

A guerra civil na Síria ainda prossegue. Todo mundo está lutando contra todo mundo. Os diversos grupos de "rebeldes", criados, financiados e armados pelos americanos, agora estão em má situação. Há vários grupos competidores de jihadistas, todos odiando o jihadista Daesh. Há um enclave curdo, que deseja emancipar-se. Os curdos não são árabes, mas são principalmente muçulmanos. Há enclaves curdos nos vizinhos Iraque, Turquia e Irã, cuja mútua hostilidade os impedem de fazer causa comum.

E há o pobre, inocente Donald Trump, que jurou não envolver-se em toda esta bagunça e que está fazendo justamente isto.

Um dia antes, Trump era desprezado por metade do povo americano, incluindo a maior parte da mídia. Somente por ter lançado uns poucos mísseis, ele ganhou a admiração geral como um líder sábio e enérgico.

O que isto nos diz a respeito do povo americano, e a respeito da humanidade em geral?


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Uri Avnery é um ativista da paz, jornalista, escritor e ex-membro do Knesset israelense.




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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#147 Mensagem por knigh7 » Qui Ago 11, 2022 9:24 pm





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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#148 Mensagem por knigh7 » Qui Ago 11, 2022 9:31 pm





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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#149 Mensagem por Suetham » Sáb Abr 08, 2023 10:40 am





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Re: Os EUA e as suas políticas para o Médio Oriente

#150 Mensagem por Suetham » Qua Ago 09, 2023 7:48 pm





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