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"Governo foi se incapacitando para prestar serviços"
Entrevista com Ozires Silva: ex-presidente da Embraer e da Varig
ESTELA BENETTI/ Agência RBS/Florianópolis
A trajetória de Ozires Silva, 75 anos, engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), fundador e ex-presidente da Embraer, que comandou a Petrobras e a Varig, além de ter sido ministro da Infra-estrutura no início dos anos 90, o coloca entre os mais capacitados para opinar sobre o apagão aéreo no país.
Com aversão à morosidade e entraves do setor público, Ozires critica os cortes de verbas ao controle aéreo e defende um novo estatuto jurídico à categoria incluindo comando civil aos profissionais. Na entrevista a seguir, alerta que outros serviços essenciais do setor público também correm perigo devido à falta de verbas.
Ozires atualmente preside a fundação mantenedora da Universidade Santo Amaro, de São Paulo.
Agência RBS - Por que o sistema de controle aéreo atingiu a situação crítica atual?
Ozires Silva - Se você olhar o que aconteceu com a legislação brasileira ao longo dos últimos anos, conclui que o governo foi se incapacitando para prestar serviços. Um sistema amarrado como é a administração direta, se mostra ineficaz para atender ao público, sobretudo em setores dinâmicos como é o caso da proteção ao vôo. Outros setores, como o de energia, também estão com problemas semelhantes, o que mostra que estamos caminhando para várias crises desse tipo.
Agência RBS - Que solução deveria ser dada às reivindicações dos controladores de vôo?
Ozires - Diria que o problema é estrutural, e os controladores de vôo deveriam ser atendidos quando dizem que gostariam de ser comandados não por militares, mas por civis. Deveria ser um negócio que pudesse dar uma dinâmica empresarial ao atendimento ao público porque, do contrário, vai falhar sempre.
Agência RBS - E a falta de verbas?
Ozires - A liberação completa das verbas previstas no orçamento acaba não sendo atendida pelo Ministério da Fazenda. Aí começam a cobrar resultados de um sistema que tem arrecadação proporcionada pelos próprios passageiros que pagam a taxa de embarque, na qual tem uma alíquota de proteção ao vôo. Esse dinheiro vai para o Tesouro Nacional e não volta. Isso está errado. Estamos diante de uma inequação. A solução para isso é uma reforma estrutural, que possa atender as necessidades do setor.
Agência RBS - Como avalia o crescimento do transporte aéreo brasileiro?
Ozires - Espero que os problemas de controle de vôos sejam resolvidos porque o transporte aeroportuário brasileiro mostra crescimento exuberante e contribui para o desenvolvimento. No ano passado, cresceu 14%, e este ano também registra taxa alta de expansão. A maioria dos passageiros viaja a negócios, por isso precisa de velocidade. O tempo, hoje, é a variável mais cara e mais necessária.
Agência RBS - O senhor vê oportunidades de crescimento do transporte regional?
Ozires - O sistema de transporte aéreo nacional caminha para uma transição entre aviões de grande porte e aviões de menor porte, para aviação regional, mercado que a Embraer está suprindo. Muitos países estão adotando regulamentação para que um maior número de cidades possa ser atendida com transporte aéreo de uma forma economicamente possível, para que as companhias ganhem dinheiro e não quebrem. Acho que esse tipo de regulamentação também é necessária no Brasil.
Agência RBS - Como regulamentar a expansão do transporte aéreo?
Ozires - Agora o governo criou a Agência Nacional de Aviação Civil e espero que comece a fazer estudos estratégicos para o transporte aéreo regular ser oferecido num maior número de cidades. Porque um país com 5,5 mil municípios ter apenas 125 cidades atendidas pelo transporte aéreo, colocando na linguagem simples, é ridículo.
Agência RBS - Por que os preços das passagens aéreas são altos?
Ozires - Com uma infra-estrutura cara, não dá para oferecer preço igual ao de ônibus. Nessa circunstância, o acesso ao transporte aéreo, embora tenhamos transportado 95 milhões de passageiros no ano passado, tenho a impressão de que nem 4 milhões de brasileiros voaram nesse período. Isso é uma desproporção enorme.
Agência RBS - O senhor presidiu a Varig numa fase em que a empresa já apresentava dificuldades. Por que as companhias aéreas enfrentam problemas? O risco continua?
Ozires - Não, já passou. O maior problema era a inflação porque o governo tentava controlar a inflação descontrolando as tarifas. O que causou a crise da Varig foi o congelamento de tarifas. A Varig entrou com ação contra o governo, já ganhou, mas o governo não reconhece que deve. Isso fez a companhia quebrar. É um exemplo de como a administração pública é enrolada. A Gol, que foi criada agora, e a TAM, que é relativamente nova, conseguiram escapar desses problemas graças ao Plano Real, que controlou a inflação.
Agência RBS - Como o senhor vê o futuro da Embraer, empresa que fundou?
Ozires - As empresas no Brasil enfrentam dificuldades muito maiores do que as no Exterior. A tendência de fracassarem é muito maior. Fico contente que os administradores da Embraer tenham estabelecido estratégias vencedoras.
Saiba mais
A tributação para as companhias aéreas nacionais está em 36%. Na Europa, é 16% e nos EUA, 12%
fonte: jornal "Zero Hora" 12 nov 2006
Um abraço e até mais...
Atual situação crítica no controle de vôo
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