Que Deus salve o Imperador!

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 60631
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceram: 6358 vezes
Contato:

#31 Mensagem por Túlio » Dom Out 15, 2006 2:20 pm

Pois, na boa, Dindo, a priori nada tenho contra uma Monarquia Constitucional, não creio de jeito nenhum que seria AINDA PIOR que a República que temos. Só não afirmo que seria MELHOR...

Há Países que se dão bem com este sistema de governo, a Inglaterra em primeiro lugar na lista, mas há outros...

Por exemplo, o que era a Espanha ANTES do Rei Juan Carlos?

Com a palavra, os colegas Espanhóis... :wink:




"The two most powerful warriors are patience and time." - Leon Tolstoy
Avatar do usuário
Guerra
Sênior
Sênior
Mensagens: 14202
Registrado em: Dom Abr 27, 2003 10:47 pm
Agradeceram: 135 vezes

#32 Mensagem por Guerra » Dom Out 15, 2006 4:42 pm

Clermont escreveu:Eu creio que foi um grande erro, até mesmo, uma tragédia, a destruição do Império brasileiro por alguns patifes tipo Rui Barbosa e traidores militares como Deodoro (na verdade, um tolo) e Floriano. O Brasil deixou de ser um império e se converteu em mais uma república de bananas.


O BRasil nunca foi uma guatemala, nicaragua ou honduras (as famosas republicas das bananas se não falho a memória). O problema é que paramos no tempo (como toda nação da america latina) e outras nações nos deixaram para trás.


Uns poucos anos depois, a Marinha estava bombardeando o centro do Rio de Janeiro e entramos na época da anarquia militar, da qual só nos livramos, em 1985.


A anarquia militar tem varios culpados, mas esta longe de ser apenas dos militares. O unico erro do EB foi começar uma grande transformação (na formação militar) dentro da instituição a curto prazo, que faciilitou o aparecimento de rebeldes sem causa, e alguns grupos se aproveitaram dessa situação para alcançar esses rebeldes.



Teria sido uma delícia ver todos os regimentos, batalhões e grupos do Exército, denominados "Deodoro", "Floriano", "Constant" e outros escórias, terem de ser rebatizados. Teria sido um castigo merecido pela traição de 15 de Novembro de 1889.


O prazer seria só pelo revanchismo de um lado, porque ninguém, na proclamação da republica, rebatizou ruas, escolas ou praças chamadas Dom Pedro I ou Dom Pedro II e muito menos o 32º BI, que até hoje tem sua denominação histórica.




Avatar do usuário
Spectral
Sênior
Sênior
Mensagens: 740
Registrado em: Qui Fev 03, 2005 8:47 pm
Localização: UK // Portugal

#33 Mensagem por Spectral » Dom Out 15, 2006 5:09 pm

O que é tal "questão Christie" referida pelo César e outros ?




Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 60631
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceram: 6358 vezes
Contato:

#34 Mensagem por Túlio » Dom Out 15, 2006 5:15 pm

Spectral escreveu:O que é tal "questão Christie" referida pelo César e outros ?


Em 1862, três arruaceiros foram presos no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Ao serem detidos, foram identificados como marinheiros britânicos e, devido à relação entre Inglaterra e Brasil, os marinheiros foram liberados. Mesmo assim, o embaixador inglês no Brasil, William Dougal Christie, exigiu que o Império indenizasse a Inglaterra pela carga do navio inglês Prince of Wales, que que foi saqueado próxima da província do Rio Grande do Sul, exigiu também a demissão dos policiais que detiveram os marinheiros britânicos e um pedido oficial de desculpas do imperador à coroa britânica.

No ano seguinte, navios britânicos bloquearam o porto do Rio de Janeiro e apreenderam cinco navios ali ancorados. D. Pedro II, sofrendo pressão popular, tentou uma saída diplomática, chamando o rei Leopoldo I da Bélgica para conduzir uma arbitragem imparcial. Leopoldo I favoreceu o Brasil e, como a Inglaterra negou-se a pedir desculpas, o imperador cortou relações diplomáticas com a Inglaterra, no mesmo ano de 1863. A Inglaterra apenas desculpou-se em 1865, quando mostrou apoio ao Brasil na Guerra do Paraguai.

A vitória do governo na disputa acabou por fortalecer a imagem do Brasil no exterior, pois o Brasil ainda tinha 40 anos de existência, e temia não ter reconhecimento junto aos países europeus. Os outros países da América do Sul passavam por problemas parecidos.




"The two most powerful warriors are patience and time." - Leon Tolstoy
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceram: 644 vezes

#35 Mensagem por Clermont » Dom Out 15, 2006 8:18 pm

O prazer seria só pelo revanchismo de um lado, porque ninguém, na proclamação da republica, rebatizou ruas, escolas ou praças chamadas Dom Pedro I ou Dom Pedro II e muito menos o 32º BI, que até hoje tem sua denominação histórica.


Vendo por esse ângulo, está certo. Embora, se a Monarquia tivesse sido reestabelecida, evidentemente, seria inaceitável que os nomes de militares que não foram nada, além de golpistas, pudessem continuar sendo ostentados por unidades de um novo Exército Imperial Brasileiro.

Novo Exército Imperial Brasileiro?

Santo Delírio, Batman! :shock:




Avatar do usuário
Morcego
Sênior
Sênior
Mensagens: 9018
Registrado em: Sáb Mai 01, 2004 12:27 pm
Localização: Santos/SP
Agradeceram: 9 vezes
Contato:

#36 Mensagem por Morcego » Dom Out 15, 2006 9:12 pm

Sou em favor de UNIFICAR todos os povos de lingua PORTUGUESA sobre a coroa brasilindia.


tugas





TREMEI


Imagem




Avatar do usuário
Guerra
Sênior
Sênior
Mensagens: 14202
Registrado em: Dom Abr 27, 2003 10:47 pm
Agradeceram: 135 vezes

#37 Mensagem por Guerra » Seg Out 16, 2006 11:20 am

tulio escreveu:
César escreveu:
Nós fomos absolutamente humilhados na questão Christie. A Baía de Guanabara foi fechada pela RN.


Ué, mas segundo o aspirante a D. Pedro III, tínhamos então a SEGUNDA MAIS PODEROSA MARINHA DO MUNDO... Dificilmente e RN teria vindo INTEIRA pro Brasil, então, AONDE estava a tale de MIB - não é Men In Black, mas o tracadalho é do carilho...hehehehehe...- que num mandou pro fundo a inglesada?

:


Tulio, na epoca a marinha era a unica ligação com o exterior. Se a grande aventura militar atual é pilotar um caça, na epoca, a aventura era servir a marinha, e a força representava a elite da sociedade brasileira.
Essa comparação da MB com a Marinha in black só mostra a caduquice dessas ideias de monarquias. O que ninguém diz é que o exército da epoca fazia das tripas o coração para sobreviver, e só na republica conseguiu se firmar como instituição.
Faça uma pesquisa e veja quantas vezes falaram em desmontar o exército durante o imperio e quantas vezes tiveram a mesma ideia com relação a MIB.




Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 60631
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceram: 6358 vezes
Contato:

#38 Mensagem por Túlio » Seg Out 16, 2006 12:12 pm

SGT GUERRA escreveu:
tulio escreveu:
César escreveu:
Nós fomos absolutamente humilhados na questão Christie. A Baía de Guanabara foi fechada pela RN.


Ué, mas segundo o aspirante a D. Pedro III, tínhamos então a SEGUNDA MAIS PODEROSA MARINHA DO MUNDO... Dificilmente e RN teria vindo INTEIRA pro Brasil, então, AONDE estava a tale de MIB - não é Men In Black, mas o tracadalho é do carilho...hehehehehe...- que num mandou pro fundo a inglesada?

:


Tulio, na epoca a marinha era a unica ligação com o exterior. Se a grande aventura militar atual é pilotar um caça, na epoca, a aventura era servir a marinha, e a força representava a elite da sociedade brasileira.
Essa comparação da MB com a Marinha in black só mostra a caduquice dessas ideias de monarquias. O que ninguém diz é que o exército da epoca fazia das tripas o coração para sobreviver, e só na republica conseguiu se firmar como instituição.
Faça uma pesquisa e veja quantas vezes falaram em desmontar o exército durante o imperio e quantas vezes tiveram a mesma ideia com relação a MIB.


POWS!!!

ISSO é interessante, por onde eu começo? Num tenho a menor idéia, mas gostaria bastante de fazê-lo... :wink:




"The two most powerful warriors are patience and time." - Leon Tolstoy
Avatar do usuário
delmar
Sênior
Sênior
Mensagens: 5239
Registrado em: Qui Jun 16, 2005 10:24 pm
Localização: porto alegre
Agradeceram: 501 vezes

#39 Mensagem por delmar » Seg Out 16, 2006 2:58 pm

SGT GUERRA escreveu:
tulio escreveu:
César escreveu:
Nós fomos absolutamente humilhados na questão Christie. A Baía de Guanabara foi fechada pela RN.


Ué, mas segundo o aspirante a D. Pedro III, tínhamos então a SEGUNDA MAIS PODEROSA MARINHA DO MUNDO... Dificilmente e RN teria vindo INTEIRA pro Brasil, então, AONDE estava a tale de MIB - não é Men In Black, mas o tracadalho é do carilho...hehehehehe...- que num mandou pro fundo a inglesada?

:


Tulio, na epoca a marinha era a unica ligação com o exterior. Se a grande aventura militar atual é pilotar um caça, na epoca, a aventura era servir a marinha, e a força representava a elite da sociedade brasileira.
Essa comparação da MB com a Marinha in black só mostra a caduquice dessas ideias de monarquias. O que ninguém diz é que o exército da epoca fazia das tripas o coração para sobreviver, e só na republica conseguiu se firmar como instituição.
Faça uma pesquisa e veja quantas vezes falaram em desmontar o exército durante o imperio e quantas vezes tiveram a mesma ideia com relação a MIB.


Outra boa observação do Sgt. Guerra. Apenas acrescentar que a oficialidade da marinha era da elite, especialmente carioca e fluminense. Já os marujos eram recrutados à força, especialmente entre negros e mulatos, e tratados com extrema violência. O castigo físico, chibatadas, era uma constante.
Foi um marinheiro gaucho, João Cândido, quem comandou um motim e obrigou o governo a decretar o fim da lei da chibata nos navios da marinha brasileira.

saudações




Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
Avatar do usuário
Paisano
Sênior
Sênior
Mensagens: 16163
Registrado em: Dom Mai 25, 2003 2:34 pm
Localização: Volta Redonda, RJ - Brasil
Agradeceram: 285 vezes
Contato:

Re: Que Deus salve o Imperador!

#40 Mensagem por Paisano » Sáb Nov 17, 2012 1:15 pm

Fazendo justiça a Dom Pedro II

Fonte: http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=52613
José Luis Orlandeli

Imagem
D. Pedro II morreu pobre

Homem culto e justo, não era dado a fanfarronices exibicionistas, mas portava-se discretamente como um digno Chefe de Estado. Talvez seja essa a causa de 120 anos depois aparecer tanta injustiça.

O Brasil esteve entre os mais desenvolvidos nos tempos do império. Se o país se tornou um dos últimos a abolir a escravidão, não foi pela omissão de D. Pedro II, pois a monarquia já não era absolutista como teimam alguns brasileiros em acreditar. Apesar das oposições, foi pela articulação e ação consciente da herdeira imperial que enfim acabou acontecendo a abolição, o que lhe custou o trono.

Não falem mais isso e procurem ler a esse respeito, mas cuidado na escolha das fontes, pois a ideologia vencedora tratou de excluir documentação e distorceu a história no decorrer das décadas. Um exemplo disso foi a queima de documentação a mando dos mandatários republicanos relativa à escravidão – por que fizeram isso?

Por quase 100 anos fomos privados de manifestar simpatia pelo sistema monárquico devido à cláusula pétrea que a ditadura republicana nos impôs por medo. Mas os tempos estão mudando e muita gente hoje conhece a verdade, e aumenta o número de monarquistas no Brasil.

Só para lembrar, antes de expulsá-los do Brasil, as lideranças republicanas ofereceram uma pensão milionária a D. Pedro II e sua família para se manterem no exílio, custeada pelos cofres do governo brasileiro.

D. Pedro recusou e ainda retrucou que o dinheiro era algo pertencente ao povo brasileiro e, se ele não estava mais a serviço, não o mereceria. Quantos presidentes de república teriam essa nobreza? Ele morreu pobre num hotel de Paris, com a cabeça recostada num travesseiro de terra do seu amado Brasil. Mesmo nos dias de hoje uma família real inteira se mantém com muito menos do que gasta a maioria dos presidentes de República. Querem apostar?




Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceram: 644 vezes

Re: Que Deus salve o Imperador!

#41 Mensagem por Clermont » Sáb Nov 17, 2012 2:04 pm

Fazendo justiça a Dom Pedro II
Como sempre, nem muito ao mar, nem muito à terra. Querendo fazer "justiça", acaba-se fazendo injustiça histórica e criando mais mitos.

Dom Pedro estava bem longe deste "vovôsão" que todo mundo gostaria de ter, que a imagem idosa dele dá a impressão.
Um exemplo disso foi a queima de documentação a mando dos mandatários republicanos relativa à escravidão – por que fizeram isso?
Isso ocorreu por ordem direta de Rui Barbosa, quando era ministro da justiça. Eu não gosto de Rui Barbosa. Pra ser sincero, desprezo ele. Mas, neste caso, pelo menos há uma interpretação que merece ser levada em conta. O "deus dos advogados" teria feito isto porque, com a destruição dos documentos, ficaria impossível aos donos de escravos, algum dia, exigirem ressarcimento pelas perdas materiais que incorreram com a abolição. Pois, o fato cruel, mas verdadeiro, é que os escravos eram bens, que custaram dinheiro. Ao serem libertados, quem é que arcou com o prejuízo? Então, se isto for verdade, Rui Barbosa, apenas, estava preservando o erário público. Claro, que, se ele fosse o advogado de algum senhor de escravos, com certeza, iria ficar furioso com o ministro da justiça que tivesse feito a mesma coisa, pois isso incorreria emm prejuízo para o seu cliente. E, desta forma, em perda de honorários para o próprio advogado...

Quando ao Dom Pedro II, ele teve alguns comportamentos muito negativos, que provocaram grandes danos ao Brasil, e, no final, levaram à destruição da instituição imperial brasileira. O mais fatídico, sem dúvida, foi ter sido ele, o imperador, um dos principais elementos incentivadores de uma guerra até o fim contra o Paraguai. Muita gente achava que, a partir do momento em que todo o território brasileiro estivesse livre de ocupação, seria mais proveitoso para o Império e mais econômico, uma paz negociada com o Paraguai. Muitos achavam que apenas a Argentina lucraria com uma completa destruição do regime de Solano Lopez, e, como era o Brasil, o principal sustentador do esforço de guerra, seria também o mais prejudicado, quanto maior fosse o tempo que levassem as hostilidades. Infelizmente, Dom Pedro II estava totalmente resolvido a aniquilar o regime paraguaio, e, segundo se diz, até mesmo chegou a ameaçar uma abdicação, caso a facção política defensora de uma paz negociada, fosse a vencedora.

Outra coisa muito triste, foi a forma como Dom Pedro II tratou o Duque de Caxias. Este, doente e desgostoso com a política da corte não queria assumir o cargo de chefe do governo, mas, por insistência até desavergonhada do Imperador, aceitou a função. Em carta à sua filha, Lima e Silva dise que, em dado momento, o Imperador chegou a abraçá-lo e disse que não o largaria, até que ele concordasse em assumir o governo. O Duque, na carta, disse que ficou sem saber o que fazer, com aquele literal "abraço-de-urso", já que não poderia usar da força física para se libertar daquela cena ridícula. Então, aceitou o cargo. No final de seu mandato, ele rascunhou uma série de propostas políticas, e as submeteu ao Imperador, para que fossem implementadas. Este, num ato traiçoeiro, as desconsiderou totalmente, humilhando o velho soldado, que lhe servira tão bem.

Em suma, Dom Pedro II, como governante efetivo e como homem, deixou muito a desejar. Mas, mesmo assim, aindo continuo achando que o Golpe do 15 de Novembro de 1889, não teve e nunca terá justificativa. O que Deodoro e Floriano fizeram foi um ato vergonhoso de traição descarada. Acho uma imoralidade que uma coisa dessas, ainda hoje, possa ser considerada como "Feriado Nacional". Pra mim, o 15 de Novembro de 1889 foi muito mais criminoso do que o 31 de Março de 1964. É até possível que o Império acabasse caindo, mas que, se assim fosse, não tivesse sido por uma vil quartelada militar, apoiada por trapaceiros inescrupulosos como Rui Barbosa e outros civis conspiradores.

(cacete! Acho que o meu monitor está pra explodir! Desligando com urgencia..!!!!




Avatar do usuário
Paisano
Sênior
Sênior
Mensagens: 16163
Registrado em: Dom Mai 25, 2003 2:34 pm
Localização: Volta Redonda, RJ - Brasil
Agradeceram: 285 vezes
Contato:

Re: Que Deus salve o Imperador!

#42 Mensagem por Paisano » Sáb Nov 17, 2012 3:42 pm

Biografia mostra D. Pedro II talhado para ser monarca*

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/arte ... 8911,0.htm
Em quase 50 anos de reinado deixa consolidada a unidade do Brasil

Quando se acaba de ler a biografia de D. Pedro II - Ser ou não Ser, de José Murilo de Carvalho, o primeiro pensamento que nos ocorre é de como teria sido sua vida se não tivesse nascido imperador do Brasil. Não que d. Pedro não tivesse qualidades para governar. Depois de quase 50 anos de reinado, como bem resume o autor, ele foi para o exílio "deixando consolidada a unidade do País, abolidos o tráfico e a escravidão e estabelecidas as bases do sistema representativo".

Mas d. Pedro II era um homem de qualidades medianas. Na vida real teria sido um bom e honrado pai de família, um prosaico funcionário público, freqüentador de rodas literárias, amante das belas letras, mas sem nenhum talento para elas. Seu texto era correto mas sem brilho, sua poesia era deplorável, suas idéias eram sensatas mas não exatamente ousadas. Sua vida pessoal foi das mais tediosas, passou-a quase toda cercado de poucos amigos verdadeiros, em um lar triste e pouco confortável, com uma esposa sem encantos que não escolhera. Seu único consolo eram os livros e as filhas. As amigas que teve, amores platônicos em sua maioria, cultivou-as, na maior parte do tempo, por meio de cartas. O longo diário que deixou supera o de Vargas na extensão e na sensaboricesse. São os diários de dois homens minuciosos e permanentemente ocupados com a burocracia, atentos a ela, sabedores que eram dos perigos da má administração.

Talvez fossem essas características pessoais, aliadas a um excelente caráter, a uma total honestidade e a uma natureza bondosa que tenham feito de d. Pedro II o homem mais bem talhado para ser o imperador do Brasil. Pois ele foi, sem dúvida, um bom governante e isto talvez tenha se devido exatamente às suas qualidades medianas: à falta de ambição e do gosto pela pompa necessariamente associada à posição que ocupava e à ausência dos sonhos de glória e de fama que impulsionaram seu pai.

Características que lhe faziam ver o lugar de imperador como "uma cruz que carrego por dever". Orientava sua vida por um estrito sentido de cumprimento de suas obrigações e por valores de humanidade. Em seu diário escreveu que amava sobretudo, nesta seqüência: a Deus, à humanidade, à Pátria, à família e, só por último, aos indivíduos. A humanidade vinha antes da Pátria.

Como imperador, d. Pedro II foi, antes de mais nada, um funcionário público exemplar que se dedicava quase exclusivamente ao serviço da nação. Como chefe de Estado, foi hábil para conservar todas as prerrogativas que lhe garantiam a constituição de 1824, agindo sempre dentro da lei. Que lhe era favorável. Herdara do avô a capacidade de se cercar de homens valiosos e de chamá-los e dispensá-los quando conviesse. Fez disso mesmo a base da estabilidade de seu reinado. Não é à toa que os grandes momentos de sua biografia coincidem com os grandes momentos da história brasileira na segunda metade do século 19.

O livro de José Murilo nos proporciona uma análise minuciosa dos atos e pensamentos de d. Pedro II sobre a questão escravocrata. Certamente, todo o esforço do imperador no sentido de fazer com que fossem aprovadas as leis do fim do tráfico, do ventre livre e dos sexagenários, enfrentando um parlamento em que tanto liberais como conservadores defendiam a escravidão, muito honram a sua memória. Ao lado disso, a permanente defesa da liberdade de imprensa - mesmo quando esta era usada contra ele e sua família, o que aconteceu muitas vezes - e seu trabalho incansável para tornar mais democráticas e funcionais as instituições representativas brasileiras bastam para erguê-lo acima dos brasileiros de seu tempo. Sua ação firme na Guerra do Paraguai, determinado que estava a deter o ditador que atacara e insultara seu país, proporcionou-lhe alguns dos poucos momentos de aclamação popular de seu reinado.

Em sua viagem aos EUA, a simplicidade de suas maneiras encantaram os americanos e ele recebeu do povo e da elite daquele país as homenagens que poucas vezes recebeu em seu próprio país. Não se podia querer mal a um imperador que se vestia com modéstia, conversava com o mesmo interesse com todas as pessoas e que distinguia e valorizava o talento e a inteligência. Como diz o autor, era apenas nas viagens internacionais que ele podia se dar ao luxo de ser apenas Pedro de Alcântara, um homem simples que amava as belas letras e a ciência e que gostava de visitar lugares novos, de assistir a conferências, aulas e espetáculos como um espectador comum. A maneira quase ascética como vivia na intimidade comprova seu desprendimento dos bens materiais.

D. Pedro II não enriqueceu no trono. Ao contrário, empobreceu.

É interessante comparar o seu destino, a maneira como ficou aqui no Brasil, criança pequena, com suas três irmãs também meninas e sem nenhum outro parente por perto, com o do filho de Maria Antonieta, o delfim, corrompido e massacrado pelos revolucionários. O nosso menino não teve amor de mãe, nem exemplo de pai para seguir, mas foi bem cuidado, bem-educado e se tornou um adulto cujos valores dizem bem dos que foram responsáveis por sua formação. Pelo menos em seus primeiros anos de vida, a pátria foi uma mãe gentil para o menino que, mesmo de longe, nunca deixou de amá-la e compreendê-la.

*Isabel Lustosa é historiadora da Casa de Rui Barbosa no Rio e autora de D. Pedro I - Um Herói sem Nenhum Caráter




Avatar do usuário
FCarvalho
Sênior
Sênior
Mensagens: 36274
Registrado em: Sex Mai 02, 2003 6:55 pm
Localização: Manaus
Agradeceram: 3137 vezes

Re: Que Deus salve o Imperador!

#43 Mensagem por FCarvalho » Sáb Nov 17, 2012 4:05 pm

Desculpem-me, mas apesar de ter lá algumas simpatias pelo sistema monárquico, e quiçá a andar sempre a descobrir fatos e atos aqui e alhures escondidos ou desvirtuados aos livros de história escolares, e mesmo acadêmicos, é preciso que se diga, que a monarquia brasileira em princípio nunca contou com o apoio direto popular, quando muito, indiferente as questões palacianas, e mais assoberbado com os dilemas da pobreza e deseducação do dia-a-dia; outrossim, e aquela só se apoiou na elite escravocrata reinante no país, à luz do tempo e as condições históricas reinantes à época, posto que não haveria como deixar de sê-lo.

D'outra forma, é preciso vislumbrar também que uma eventual volta à monarquia, em nada alteraria o caráter democrático das relações institucionais e menos ainda sociais.

É possível ao meu ver, se manter no Brasil uma monarquia constitucional sem a necessidade de indicações de titularidades e brevetários a quem quer que seja. E menos ainda de categorizar-se pessoas e ou instituições em vista da coroa imperial.

Na verdade, penso ser hoje muitíssimo interessante a idéia de se dispor de um quarto poder moderador, visto a inabilidade/irresponsabilidade de nossos políticos em defender interesses outros que não os próprios, ao invés do público. Uma personagem como o imperador seria de interesse público, para mediar as idiossincrasias dos poderes ora constituídos, visto que o mesmo exerceria, observado os limites da lei, e com a devida imparcialidade e moralidade pedidas e nunca obedecidas, esta mediação das disputas ideológicas e pessoais do governo sem sofrer com possíveis pressões, e preocupações, de cunho temporal e eleitoral.

Enfim, alguém de caráter ilibado e formado(a) para a real defesa dos interesses públicos, e aparte das sofreguidões da disputa mesquinha pelo poder, tão características do nosso tempo e congresso.

Bem que se poderia pensar na proposta. Ao povo, nada muda, visto que o carnaval, a cerveja e o futebol continuariam aí reinando sobre a plebe. E outros monarcas não quereriam. Como o país, que não é só samba, futebol e cerveja precisa de governo, nada mais sensato de que outro monarca menos aludido aqueles fraquezas da moral e temperança nacional para dirigir e fomentar os insistentes e chatos assuntos sérios que se fazem necessários dirimir à nação.

Monarquia no Brasil, ao menos deste ponto de vista, não seria pior do que a nossa despretensiosa república, que se diz democrática e se pretende agora popular.

abs.




Um mal é um mal. Menor, maior, médio, tanto faz… As proporções são convencionadas e as fronteiras, imprecisas. Não sou um santo eremita e não pratiquei apenas o bem ao longo de minha vida. Mas, se me couber escolher entre dois males, prefiro abster-me por completo da escolha.
A. Sapkowski
Avatar do usuário
Boss
Sênior
Sênior
Mensagens: 4136
Registrado em: Ter Ago 10, 2010 11:26 pm
Agradeceram: 356 vezes

Re: Que Deus salve o Imperador!

#44 Mensagem por Boss » Sáb Nov 17, 2012 6:20 pm

O Brasil era mais democrático como Império do que durante a maior parte da República.

O 15 de Novembro é um dia desprezível.

Não defendo a volta da monarquia porque é algo sem sentido, só defendo que não deveria ter acabado, pelo menos não daquele jeito.

O país não era uma Suíça, mas Dom Pedro II eu posso dizer que foi o melhor governante que o Brasil teve. Não porque foi a oitava maravilha do mundo, mas o nível dos demais não era/é grande coisa.

Dar um golpe e expulsar um homem que fez bastante pelo País como ele, até mesmo nas questões externas, é uma vergonha.

Deodoro e Floriano pra mim são lixos.




REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Avatar do usuário
Bourne
Sênior
Sênior
Mensagens: 21087
Registrado em: Dom Nov 04, 2007 11:23 pm
Localização: Campina Grande do Sul
Agradeceram: 21 vezes

Re: Que Deus salve o Imperador!

#45 Mensagem por Bourne » Sáb Nov 17, 2012 8:31 pm

Isso é América!!! Não existe imperador. Se fosse a Rússia teria adoecido junto com a família real e sumido. Alguns indícios indicam uso de chumbo. Depois virado tema das histórias da Disney. :mrgreen:

Sinto pelo tópico que os DBistas são simpáticos ao sistema parlamentarista em relação ao atual presidencialista. Não precisa de imperador para isso. Pode eleger um presidente que é quase a rainha da Inglaterra. Enquanto quem manda é o primeiro ministra. É um sistema bem comum no mundo.

Por exemplo, alguém lembra quem é o Presidente Alemão?

Na época do império o brasil eram um grande aliado britânico e entusiasta da posição subserviente na organização econômica e política mundial. O motivo era que representava as elites agrário-exportadoras. Depois se livraram dele. Começou mudar, mas não muito. O país mudou quando Getúlio Vargas derrubou a república velha em encontrou o caos mundial. O país mudou muito nos últimos 100 anos. Acreditem.

Para mim a questão é refinar o modelo e ajustar para melhor funcionamento. Como qualquer país desenvolvido fez e faz. Sem mudanças radicais que parecem mudar, mas não mudam nada. Podem piorar a estrutura de funcionamento.




Responder