GBU-28/B - A História

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Slip Junior
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GBU-28/B - A História

#1 Mensagem por Slip Junior » Dom Fev 01, 2004 5:06 pm

Bom, estou lendo o livro Fighter Wing - A Guided Tour of an Air Force Combat Wing, do Tom Clancy, e quando li a história por trás da GBU-28/B, achei tão interessante que resolvi postar aqui. (OBS.: para quem conhece o livro, qualquer erro na tradução é culpa minha... :wink: )

Como o texto é meio grandinho, vou dividir em duas partes..

ai vai a parte 1...

A versão final da família Paveway III merece uma atenção especial. Ela é a famosa super bomba de penetração "Deep Throat" (Garganta Profunda) que foi usada na última noite da Tempestade no Deserto. Oficialmente designada GBU-28/B. Suas origens datam de agosto de 1990, quando o primeiro planejamento para a companha de ofensiva aérea contra o Iraque começaram. Conforme os estrategistas no que era chamado de Buraco Negro (Black Hole) começaram a observar os alvos estratégicos ao redor de Bagdá, eles notaram uma série de super protegidos bunkers de comando e controle (C2), tão bem construidos que existia dúvidas a respeito da habilidade das bombas BLU-109/B penetrar e destrui-lás. Com isso em mente, um pedido foi feito para que um estudo para o problema fosse feito na Divisão de Armamento Aéreo da USAF na Base Aérea de Eglin, na Flórida. Em Eglin, um silencioso estudo foi iniciado para solucionar os problemas associados com uma bomba de penetração melhorada. No grupo de estudo, liderado pelo Major Richard Wright, existia um engenheiro chamada Al Weimorts, que estava começando a fazer uns esquemas iniciais para uma bomba que pudesse cumprir os seus objetivos. E essa idéia permaneceu até que os primeiros resultados de danos da Tempestade no Deserto começaram a chegar. Em 21 de janeiro de 1991, estava claro que os bombas guiadas à laser baseadas na BLU-109/B não eram capazes de cumprir os seus objetivos. Tudo o que tinha sido feito com os bunkers grandes foi limpar a sua superficie, e nada mais. Pior, com a quantidade cada vez maior de outros bunkers de C2 iraquianos sendo destruidos, uma maior porcentagem de lideranças iraquianas começavam a buscar refugio nos grandes bunkers daonde continuavam a realizar suas operações. Isso tornou a destruição desses bunkers de grande prioridade, e a noticia chegou para o time em Eglins para encontrar logo um jeito de fazer isso rapidamente.

Dadas as ordens, a Texas Instruments (TI - responsável pelo desenvolvimento das LGB's Paveway), assim como o time responsável pela BLU-109/B na Lockheed, começaram a trabalhar em um numero de diferentes problemas ao mesmo tempo. Primeiro havia o problema da ogiva. Enquanto o design básico da BLU-109/B era ótimo, o que era necessário era algo maior - mais longo e pesado, com uma carga de explosivos maior. Também, uma vez que eles tinham que "modelar" um kit Paveway III naquilo, e tinham que manter uma capacidade dessa arma ser transportada e lançada de um F-111F ou F-15E, era necessário não ter um diâmetro maior que o da BLU-109/B. Isso resultou em uma longo, e superficial ogiva, com uma cavidade longa no interior, ou "garganta" para o preenchimento explosivo. Por causa a bomba ganhou o apelido de "garganta profunda".

Depois disso, para usinar e finalizar uma estrutura de aço maciço iria demorar meses, e o time em Eglin tinha dias. Por sorte, um engenheiro na fábrica da Lockheed aonde as BLU-109/B eram contruidas era um ex-soldado do US Army e se lembrou que havia um estoque de velhas peças de artilharia de 203mm abandonadas (literalmente) no Arsenal Letterkenny na Pensilvania. Feitas do mesmo material que as BLU-109/B, elas estavam lá esquecidas por já algum tempo. Em 1 de feveireiro de 1991, um grande numero daquelas peças foi enviada para o Arsenal do Exército Watervliet no estado de Nova Yor e torneadas de uma forma que ficaria conhecida como a "Super Penetradora" BLU-113/B. Eventualmente, aproximadamente 32 das BLU-113/B's foram construidas para ser integradas no que iria ser tornar a GBU-28/B. Vários testes inertes (não-explosivos) confirmavam a capacidade de cumprir o seu objetivo. Esses incluiram um teste em um trenó à foguete na Base Aérea de Holloman, Novo México, no qual ela penetrou 6.7 metros de uma estrutura de concreto reforçado, e manteve a sua rota por mais cerca de 1 milha (1,8 km) sem qualquer dano na BLU-113/B. Cada uma das novas bombas eventualmente pesaria em torno 2136 kg e tinham que ser carregadas à mão com 545 kgs de explosivo, e então integradas com os kits de guiagem da TI.

Esses kits de guiagem foram uma história a parte. Naquela época, o time original de desenvolvimento da Paveway III tinha sido transferidos para outros setores na TI, e o mesmo tinha que ser reconstituido imediatamente. Murl Culp da Lockheed entrou em contato com a TI e discutiu a possibilidade de guiar a nova bomba com uma Unidade de Guiagem e Controle (GCU) derivada da Paveway III. Por sorte, Bob Peterson, um dos engenheiros da Paveway III, ainda estava na compania, e estava habilitado para rejuntar o suficiente do time original para tal empreitada. Em 12 de fevereiro, o time da TI/Lockheed estava em Eglin dando briefings sobre o conceito de guiagem para a Força Aérea.

Uma vez que o novo software de guiagem fosse finalizado, os maiores testes normalmente associados com o desenvolvimento de um novo GCU de Paveway deveriam ser realizados em dias em vez de anos. O problema chave era o acesso para o único tunel de vento na área de Dallas/Forth Worth capaz de realizar os testes necessarios para desenvolver e validar o novo software. De propriedade da LTV/Vought, ele estava totalmente agendado com outros projetos, e a segurança em torno da GBU-28/B resolveu fazer algo "especial" para forçar os donos a fornecer acesso para a TI. Então, a TI iria ter o uso somente da uma "janela aberta" na agenda do tunel, no fim de semana de 16/17 de fevereiro, apenas 4 dias a contar daquela data. É bom relembrar que no momento em que tudo isso acontecia, a TI, Lockheed e a USAF não tinham nenhum tipo de contrato assinado para esse projeto. O que eles tinahm feito até então tinha sido acertado apenas com apertos de mão e boa confiança, e a TI decidiu confiar naquilo quando eles agendaram os dias no tunel. Eles construiram um modelo em escala 1/4 para estabilizar a balistica do nova combinação BLU-113/B/Paveway III, que foi designada GBU-28/B.

Os testes no tunel foram completados nas primeiras horas do dia 18 de fevereiro e o esforço agora recaia inteiramente nos ombros da TI. Durante a próxima semana, eles trabalharam contra o relógio para produzir o software que permitiria a bomba se dirigir corretamente ao alvo. Assim como um pensamento posterior, a Força Aérea fez um pedido para os 2 primeiros kits no dia 19 de feveiro, e a GBU-28/B se tornou então um projeto oficial, financeiramente e contratualmente. 2 dias depois, no dia 21, um avião alugado pela TI carregado com 4 grupos de grandes aerofólios decolou de Love Field em Dallas com destino para Eglin. Esses seriam parte dos kits que foram enviados para a Base Aérea Taif na Arábia Saudita, onde o 48th TFW estava baseado. A decisão que havia sido feita era que o F-111F iria lançar as bombas, principalmente porque era uma aeronave muito mais madura do que os F-15E.


continua....




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#2 Mensagem por VICTOR » Dom Fev 01, 2004 5:32 pm

Muito legal o texto Slip, obrigado por dividi-lo consco! ;)

O que você está achando? Não li o Fighter Wing inteiro, apeans alguns pedaços, assim com os outros da série ("Armored Cav", "Marine", "Submarine" etc). A impressão que fiquei é de que os livros são fontes de informações muitos boas, porque o Clancy escreve muito bem.

O único ponto desfavorável é o tom pró-EUA um tanto exagerado (Clancy é da direita mais conservadora), às vezes chega a irritar. Mas pesando tudo, ainda acho uma leitura interessante para quem gosta do assunto.

Gostaria de saber sua opinião e de outros membros do fórum que porventura já tenham lido algum livro da série. ;)

abraço




Carlos Eduardo

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#3 Mensagem por Slip Junior » Dom Fev 01, 2004 5:47 pm

parte 2

No dia 22 de fevereiro, a TI foi chamada par produzir 2 kits extras dos kits de guiagem da GBU-28/B e enviá-los o mais rapido possível para Nellis, Nevada. A Força Aérea queria fazer um teste completo da nova bomba sendo lançada de um F-111F antes que ela fosse para combat no Iraque. A guerra terrestre no Iraque e no Kuwait estava há apenas algumas poucas horas de ser iniciada, e a Força Aérea queria ter certeza que o sistema funcionava.

Na manhã do dia 24 de fevereio, o teste final da nova bomba aconteceu. Uma bomba completamente integrada (com uma ogiva inerte; a carga explosiva não foi carregada) foi lançada de um F-111F em um alvo próxima a base de Nellis. Os resultados foram estonteantes! A GBU-28/B não tinha tão somente atingido o alvo como abriu um buraco de 30 metros de profundidade no meio do deserto (o solo duro de argila tem mais ou menos a mesma consistência do concreto!). As LGB's equipadas com a BLU-113/B penetraram tão profundamente o solo que não puderam ser recuperadas. Até hoje elas se encontram lá.

Depois de esse único "evento" (como os testes são as vezes chamados), a TI programou 2 GCU's de GBU-28/B (designado WSU-36A/B), e os enviaram para Eglin na segunda-feira, 25 de fevereiro. Esses foram combinados com 2 grupos de aerofólios (OBS do Slip: são tipo pequenas asas dobráveis... grosseiramente, são como asas de geometria variável, do F-14, por exemplo), alojadas em um pallet com um par de BLU-113/B, e carregadas para dentro de um C-141B StarLifter da USAF, e voadas para Taif no dia 27 de fevereiro. Uma vez que a seção planar da BSU-84/B era grande demais para ser carregadas e lançadas de um F-111F, e uma bomba planadora não era necessaria (a GBU-28/B deveria ser lançada a grande altitude), uma versão modificada do grupo de aletas traseiras da GBU-28/B foi desenvolvido para ser instalado na nova bomba. Cobridas com assinaturas e mensagens de todas pessoas que haviam tocado as mãos nela durante o programa, elas eram 2 das armas mais singulares até então construidas.

Apenas 5 horas depois que foram descarregadas em Taif, as duas bombas foram carregadas em um par de F-111F do 48th TFW, e suas tripulações foram "briefadas" para destruir um alvo muito especial naquela noite. Por algum tempo, um bunker conhecido como Taji #2 tinha sido monitorado de perto por elementos da inteligência norte-americana. Localizado na Base Aéra al-Taji, aproximadamente 27 kms ao noroeste de Bagdá, ele já havia sido atingido não menos que 3 vezes por F-117As com GBU-27/B's durante a guerra. Nas palavras do General Horner, elas haviam somente "escavado o jardim de rosas". Depois disso, várias estimativas tinham sugirido que grandes autoridades nacionais do Iraque, incluindo Saddam Hussein, estariam liderando a guerra daquele bunker. À menos de 12 horas do cesar-fogo planejada, marcado para as 8 horas local da próxima manhâ, CENTAF ordenou para atingir o bunker com as bombas. Cada F-111F foi carregado com uma GBU-28/B sobre uma asa e um única GBU-24A/B sobre a outra, para balanço. Mesmo assim, enquanto eles taxiavam para a posição de decolagem, os F-111F inclinavam para um lado por causa da falta de balanço de peso.

Na noite de 27/28 de fevereiro de 19991, os dois F-111F decolaram e se diregiram para o norte para o aeroporto a noroeste de Bagda. Os aviões fizeam suas corridas e lançaram suas bombas. Eles miraram em um tunel de ventilação no topo do bunker, e pelo menos uma das bombas atingiu seu alvo. Penetrando o denso concreto reforçado ela detonou no coração do bunker. Os resultos foram apavorantes. Todas as 6 portas blindadas tiveram suas dobradiças fundidas; então um enorme clarão de chamas e destroços voou pelos ares. Qualquer um dentro estava claramente morto, apesar de até esse dia não se saiba quem estava lá. Apesar de não ter sido confirmado, acredita-se que um numero de experientes civis e militares iraquianos pereceu na destruição do Taji #2. Mas é certo que a GBU-28/B fez o seu trabalho exatamente como pedido; era um sucesso imensuravel.

Com a guerra vencida, o programa de reação-rápida se transformou em uma procuração da USAF mais normal. Aproximadamente 28 sets de BLU-113/Bs e kits GBU-28/B foram produzidos para que um programa de teste propriamente dito pudesse ser conduzido. E algumas unidades adicionais foram mantidas na reserva para uso em combate, se a necessidade aparecer. Em adição, a Força Aérea tinha contratado a TI para uma encomenda adicional de 100 kits de guiagem GBU-28/Bs; e uma firma na Pensilvania está torneando 100 novas BLU-113/B. A idéia é prover as autoridades de comando dos EUA de uma opção não-nuclear para atingir alvos dificeis como bunkers de comando e silos de misseis com munições de precisão que não gerem muito dano colateral.


Espero que tenham gostado...

Abraços




César
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#4 Mensagem por César » Seg Fev 02, 2004 2:02 pm

Maneiro!!!! :D

legal mesmo. Valeu Slip :wink:

Esse livro, é vendido aqui no Brasil(de preferência em português)?

Bem, abraço a todos :)

César




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#5 Mensagem por Slip Junior » Seg Fev 02, 2004 4:06 pm

VICTOR,

Desculpe por não ter respondido... simplesmente não tinha percibo a sua mensagem qdo postei.
Bom, eu estou gostando bastante do livro (o primeiro da série que eu compro). Quanto a sua acusação dos tom "pró-USA" dos livros, eu concordo mas até gosto... a maioria dos sites brasileiros tem um tom muito "pró-Russia" e "anti-USA" e assim dá para fazer um "balanceada" na minha opinião.


César,

Esses livros não são tão dificeis de serem encontrados aqui no Brasil; esse eu encontrei em uma banca no aeroporto de Natal. Mas infelizmente, acho os livros não-ficticios do Tom Clancy ainda não estão disponiveis em português.

Abraços




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#6 Mensagem por Lauro Melo » Sex Jan 28, 2005 5:22 pm

Nesta época não estava por aqui, mas a tempo, outro ótimo artigo traduzido de nosso amigo Slip.
Valeu pelo belo trabalho.




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#7 Mensagem por Sniper » Sáb Jan 29, 2005 10:53 am

Muito bom Slip! Parabéns! :D




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