Portugal Ameaça recorrer à OTAN ou aos EUA
Enviado: Sex Jun 02, 2006 3:14 pm
Braço de ferro entre Portugal e a Austrália
A Austrália enviou, esta sexta-feira, uma missão a Lisboa para discutir o comando das forças em Timor-Leste, mas Portugal reiterou que não aceita subordinar a GNR ao comando de militares estrangeiros, afirmou o chefe da diplomacia portuguesa, Freitas do Amaral.
Numa conferência de imprensa, em Lisboa, Freitas do Amaral deixou clara a posição de Portugal e assumiu publicamente as divergências com a Austrália.
«Portugal não aceitou, não aceita nem aceitará nunca que a GNR fique subordinada ao comando operacional de um militar estrangeiro», disse Freitas do Amaral, adiantando que esta orientação «é inegociável».
Freitas do Amaral admitiu mesmo recorrer à mediação da OTAN ou dos Estados Unidos para resolver este conflito com as autoridades australianas.
Numa «reunião realizada hoje de manhã neste Ministério, com uma missão australiana enviada para o efeito, ficou bem esclarecida a nossa posição, que não é de modo nenhum contra a Austrália, pois seria a mesmo com qualquer outro país», acrescentou o ministro dos Negócios Estrangeiros português.
A principal questão é de soberania: «Portugal tem mais de oito séculos e meio de independência nacional e não aceita que forças militares suas sejam comandadas por militares estrangeiros», a menos que se trate da «situação única» de uma força formada e assumida como força da ONU.
Segundo explicou, a missão australiana, composta por um general e por um segundo elemento, foi enviada a Lisboa para esclarecimentos sobre a adenda ao acordo entre Portugal e Timor-Leste, assinada quinta-feira, estipulando que a GNR tem um comando próprio, independentemente de quaisquer outros acordos celebrados com países terceiros.
«O pretexto da reunião era discutir aspectos técnicos de coordenação das forças no terreno, mas rapidamente se percebeu que o problema era de facto uma tentativa de nos convencer a aceitar o comando unificado nas mãos do general australiano», adiantou.
Participaram nessa reunião, do lado português, a directora- geral dos Assuntos Multilaterais do MNE, embaixadora Margarida Figueiredo, e oficiais da GNR.
Questionado sobre se o envio da GNR esteve alguma vez em causa, devido aos atrasos na partida, Freitas do Amaral afirmou: «Enquanto esperávamos (pela assinatura da adenda) ponderámos todas as hipóteses».
A este propósito, Freitas do Amaral referiu nomeadamente a possibilidade de «demorar o envio da GNR», «enviar a força portuguesa para uma localidade próxima e aguardar» ou «mantê-la acantonada até à resolução» do problema.
Todavia, segundo o ministro, chegou-se à conclusão, ainda antes da assinatura da adenda, que politicamente não era adequado, nem perante a opinião pública portuguesa, nem sobretudo, perante o povo timorense, que aguarda ansiosamente a chegada da GNR, adiar ou suspender o envio da GNR e a chegada da GNR a território timorense.