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A mentalidade do atraso

Enviado: Sex Mai 12, 2006 2:50 pm
por Koslova
A FAB montaria 100 aeronaves C-212 ou equivalente em um PAMA com vista na substituição do Bandeirante.

Se será isto mesmo? Como toda noticia sobre o tema, temos que esperar para ver, mas vamos supor que seja exatamente isto, 100 C-212 montados em um PAMA para substituir os Bandeirante.

Vamos fazer algumas reflexões sobre isto.

A quantidade de Bandeirante é adequada a FAB ou a FAB se adequou a quantidade de Bandeirante?

O Bandeirante foi comprado em grandes quantidades pela FAB em um momento onde era importantíssimo ajudar a industria nacional. O Bandeirante tem varias qualidades como aeronave, mas é inegável que ele só esteve presente na FAB em quantidade elevada por se tratar de um produto nacional em uma época onde a política era de desenvolvimento da industria nacional.

Em outros termos, não é o Bandeirante que é adequado as necessidades da FAB e sim o contrario, ela que se adequou as potencialidades da aeronave, procurando na medida do possível criar aplicações para ele. Nos ETA, nos esquadrões de patrulha marítima, nos esquadrões de calibração de equipamentos de auxilio ao vôo.

A aviação de transporte mudou no resto do mundo, porque não muda no Brasil?

Todos os paises com alguma doutrina militar consistente (e quero imaginar que o Brasil tenha alguma) mudou a sua aviação de transporte nos últimos 30 anos, especialmente nos últimos 15.

Os Americanos com a sua doutrina de poder militar Global hoje precisam de uma aviação de transporte não só capaz de cruzar o Atlântico e desembarcar reforços na Europa, desde o fim da guerra fria, a aviação estratégica de transporte americana tem se ser capaz de operar globalmente com a mesma eficiência que ela teria que ter nos cenários da OTAN até o final dos anos 80.

Na Rússia com o fim da URSS também houve profundas mudanças principalmente no orçamento e nas potencialidades das plataformas disponíveis, mesmo não tendo uma postura de potencia global, a Rússia tem bases aéreas separadas por até 7000Km, e vários lugares onde tem instalações militares só se chega de avião, é uma realidade bastante dura e especifica que estão tendo que enfrentar.

Na Europa, passou-se a pensar em ter aviação de transporte estratégica até 15 anos atrás a ênfase era tática.

No hemisfério sul, Chile, Austrália, mesmo que timidamente tem dado sinais de que desejam desenvolver uma aviação de transporte estratégica, mesmo que pequena.

O Brasil nos últimos 15 anos mudou profundamente seus cenários de necessidade de aviação estratégica, primeiro porque a geografia do conflito mudou, a ênfase não é mais no cone sul e sim na Amazônia, também a necessidade de integração nacional é outra, o Brasil hoje tem uma dimensão de infra estrutura e distribuição geográfica muito diferente dos anos românticos da FAB a 40 anos atrás.

Se o Brasil tem como política externa (pelo menos em retórica) o papel de potencia média militar, isto implica em presença de tropas de paz em outros paises, a exemplo do que já aconteceu em Angola, Haiti e poderia ter acontecido no Timor Leste se o pais não tivesse fugido aos apelos dos paises de língua portuguesa.



Também existem no Brasil diferentes necessidades táticas de missões de REVO do que existiam a 30 anos atrás.

Qual a visão de futuro da aviação de transporte da FAB?

Tivemos boas noticias como a compra dos C-295, a compra de C-130 de segunda mão, a modernização dos C-130. Mas isto foi apenas a manutenção da estrutura antiga que esta envelhecendo, se a FAB trocar 100 Bandeirante por 100 C-212, se continuar a comprar C-130 de segunda mão, ela vai rejuvenescer sua frota, mas em estrutura e doutrina será a mesma FAB de 30 anos atrás, o mundo mudou a sua aviação de transporte, o Brasil mudou as suas doutrinas militares e a FAB continuaria a mesma.


Montar aviões em um PAMA vale a pena?

Quando se vai fazer um trabalho de manufatura, um dos primeiros passos é o dimensionamento de mão de obra. Vamos montar digamos 10 aeronaves por ano dentro de um PAMA, cada aeronave consomem X horas homens (H.h), logo precisamos de Y , horas homens para cumprir a missão.

Hipótese 1.

O PAMA tem o numero de Horas x Homens disponíveis para cumprir a missão

Hipótese 2.

O PAMA tem necessidade de contratação de horas x homens para cumprir a missão.

Se a hipótese 1 for verdadeira, então temos ociosidade dentro do PAMA, não seria melhor reestruturar estas instalações ociosas para sobrar recursos para instalações de primeira linha como as bases aéreas que operam caças?

Se a hipótese 2 for verdadeira, vamos abrir concurso publico para contratar pessoal, para um trabalho de 6, 7, 10 anos e depois tê-los ligados da FAB até a aposentadoria?

Em um momento onde TODAS as forças aéreas do mundo estão enxugando suas atividades para poder focar a operação de sistemas de armas cada dia mais caros, vale a pena criarmos empregos em atividades secundarias como montar kits de aviões de transporte leve?

Quando a FAB alega que não tem recursos para coisas básicas como deslocar um esquadrão de A-1 na Amazônia vale a pena inchar a sua estrutura de manutenção com atividades desta natureza?

Quanto se pode utilizar os PAMA como fabrica?

Quando a Embraer rejeitou o programa P-3BR (e ela tem todo o direito de rejeitar), a FAB poderia ter partido para uma solução caseira. Os P-3BR poderia sofrer modernização estrutural dentro de um PAMA, (eventualmente na VEM), a MB desenvolveu e integrou um sistema de controle tático (SINCONTA), bem como nacionalizou e desenvolveu um sistema MAGE, empresas como a EMGEPRON e a ATECH tem experiência em integração tão boa quanto a espanhola que esta fazendo o trabalho.

Se fosse para este projeto demorar uma década como esta demorando, ele poderia sim ter sido feito no Brasil com alguma participação realmente importante de empresas brasileiras, se foram dados 326 milhões de dólares a EADS para realizar este trabalho, tenho certeza que ele poderia ser feito no Brasil sem a Embraer.


Quando a Embraer elevou a proposta do M-2000BR a níveis exorbitantes e a guerra de desinformação chegou ao seu ponto mais elevado no programa FX, quando tínhamos a visão de que qualquer negocio no FX politicamente só seria viável com a participação da EMBRAER que se intitulava a única alternativa nacional, a FAB poderia sim escolher o Gripen, SU-35, F-16, o melhor que lhe convinha, e montá-los dentro de um PAMA em uma negociação direta governo-governo, isto anularia qualquer argumento de “pro-nacionalista” do Lobby da Embraer, porque o negocio estaria sendo realizado pela única instituição 100% nacional naquele momento, ou seja a própria FAB, seria uma oportunidade única para escolher a aeronave tecnicamente adequada sem interferência política.

Em resumo, sim montar algumas aeronaves em um PAMA pode ser uma boa opção, mas isto só quando a FAB estivesse tratando de uma compra estratégica, como instrumento de pressão sobre fornecedores, o que não é nem de longe o caso da compra de aeronaves como o C-212 ou equivalente.


Pode a FAB querer desenvolver uma alternativa de fornecimento de aeronaves que não a Embraer?

Pode, se ela achar que é fundamental, sim, que vá em frente.

Industria aeroespacial em nenhum pais do mundo é “boazinha” ao que o governo solicita. Nos EUA a Lockheed tem uma influencia enorme dentro do Pentágono, pela Lockheed (e pelas outras empresas também), os preços seriam sendo os maiores possíveis, os prazos e mais generosos e as quantidades a serem encomendadas as maiores. Pela Dassault na França, pena BAE Systens na Inglaterra, a lógica seria a mesma. A Embraer é claro, quer vender mais caro e em maiores quantidades, é a regra do jogo.

O que muda no Brasil em relação a outros paises?

Primeiro, o orçamento de defesa. A Lockheed não pode publicamente constranger e criar campanhas de desinformação contra o Pentágono como a Embraer fez com a FAB por uma simples razão, a Lockheed não sobrevive sem o Pentágono, já a Embraer hoje pode tranqüilamente sobreviver sem encomendas do governo, embora por mais que a Embraer possa não admitir ela só pode lançar um produto de defesa se a FAB financiar, como fez com o R-99 e com o AT-29.

Em outros termos. Hoje a Embraer pode se dar ao luxo de pressionar a FAB sem sofrer uma contrapressão a altura. A criatura se tornou maior que o criador.

A melhor solução seria portanto, criar alternativas de fornecimento onde o orçamento não permite nem a manutenção de uma fabrica ou seria a redefinição das relações entre FAB e Embraer onde ambas são culpadas pela degradação da relação?

Montar, fabricar, projetar, 3 coisas completamente diferentes.

Vamos imaginar que seja isto mesmo, a FAB fez um planejamento estratégico e decidiu que sim, é fundamental desenvolver outra linha de produção no Brasil para aeronaves.

A montagem de células de um C-212 (ou modelo similar) em um PAMA tecnologicamente é um estagio na qual o Brasil já se encontrava a quase 40 anos, ou seja, tecnicamente não agrega nada ao que já sabemos.

Economicamente é difícil acreditar que criar uma linha de montagem no Brasil para um pequeno numero de celular seja vantajoso em relação a linha de montagem já pronta na Espanha.
A industria aeronáutica brasileira só atingiu o seu status de referencia mundial porque dominou todo o ciclo de gestação da aeronave, pré projeto, projeto, desenvolvimento e homologação, este projeto tecnicamente alem não agregar nada tecnologicamente não permite efetivamente a criação de alternativa alguma a Embraer.

Como criar um novo fornecedor de aeronaves no Brasil?

Se a FAB quiser fazer isto, não deve reinventar a roda, precisa conversar com empresas como a Aeromot e a Avibras e encomendar projetos que cumpram todo o ciclo de gestação da aeronave e não apenas a montagem.

Uma alternativa seria encomendar um projeto para o substituto do T-25 por exemplo.

Embora hoje forças aéreas modernas enxergam em aeronaves de treinamento primário e transporte leve, uma espécie de “commoditie” aeronáutico, sem importância estratégica alguma.

Em Israel aeronaves de treinamento primário são de propriedade privada.
Nos EUA os treinadores são de projeto externo licenciados para empresas locais. (T-45 e T-6)

Qual deveria ser a linha de ação?

Hoje o desenvolvimento de aeronaves militares empresa seja o ideal é uma empreitada para poucos paises, quem não tem recursos para ter uma plataforma nacional, tem procurado criar uma política de capacidade de integração e customização dos sistemas de armas.

Israel, África do Sul, Irã,, cada um ao seu modo tem procurado criar capacidade local de integração e manutenção de seus sistemas de armas, na minha visão, o futuro da FAB esta mais dentro da Mectron, Emgepron e Atech do que dentro da Embraer ou de qualquer empresa ou política de montagem ou fabricação de aeronaves no Brasil, principalmente aeronaves sem aplicação de primeira linha como os C-212 ou equivalentes.

Infelizmente o que vemos hoje é a manutenção de uma mentalidade de 30,.40 anos atrás, que sim, foi importante ao seu tempo, mas que hoje é um mero reflexo do nosso atraso em doutrina e mentalidade.

Encerraria com uma historia que um Almirante da MB me contou anos atrás. Dizia ele que visitando a academia da marinha italiana ele notou que tinham muitos quadros na parece de navios italianos indo a pique na época da II Guerra Mundial, curioso com aquilo, perguntou ao seu cicerone o porque das gravuras de seus próprios navios afundando, o colega italiano explicou:

Isto é para que jamais esqueçamos os nossos erros cometidos no passado

Sugiro a FAB a mesma política de autocritica.

Enviado: Sex Mai 12, 2006 3:57 pm
por WalterGaudério
Sra. Elizabeth Koslowa, boa tarde.

É um prazer "reencontra-la" aqui no DB.

Sua crítica é dura como geralmente são as críticas uteis.
E infelizmente sou obrigado a concordar integralmente com elas.


Walter Suddensk

Re: A mentalidade do atraso

Enviado: Sex Mai 12, 2006 5:08 pm
por otaolive
Olá Koslova, gostaria de arguir com você em alguns pontos.

A quantidade de Bandeirante é adequada a FAB ou a FAB se adequou a quantidade de Bandeirante?


Qual seria a quantidade ideal para a FAB hoje? Independente do que foi feito no passado, hoje o Bandeirante é usado de várias formas como você mesmo disse. A FAB pensa em construir os 100 aeronaves para todos os propósitos (Patrulha, calibraçao, transporte leve) ou somente para transporte? Se formos pensar em padronização e em logística, esse número não é tão elevado.
Eu não possuo os números exatos de Bandeirantes hoje para cada função que ele realiza, mas acredito se for feito uma "auditoria" esse número não cairia para menos de 70, sem considerar que planejam(pelo menos é o que falam) que o Brasil seja um ponto exportador para outros países da AL.

A aviação de transporte mudou no resto do mundo, porque não muda no Brasil?


Até entendo a sua colocação, mas essa notícia acho que é para atender mais as necessidades internas da FAB do que ser usada para projeção no exterior. Para esta função deveria ser usado os C130, ou os C295.
Talvez se devesse investir mais na compra de C130, C295 ou até mesmo A400M, mas será que isso seria viável?
Teríamos mais aviões de transporte de porte maior mas seria efetivo usá-los para tarefas que hoje o Bandeirante realiza, tipo na Amazônia?

Qual a visão de futuro da aviação de transporte da FAB?


Acho que a FAB hoje peca por não pensar, como você citou, na aviação de transporte como sendo o Brasil uma potência militar média, em como dar apoio necessário para as missões de paz. Tirando isso acho que é adequada a aviação de transporte na FAB.

Montar aviões em um PAMA vale a pena?

Para mim, que sou leigo, não vale!
Foram muito bem colocadas as suas hipóteses

Quanto se pode utilizar os PAMA como fabrica?


Não entendi quando você fala de compra estratégica. No mesmo modo não teríamos o problema que você citou anteriormente, em questões de pessoal por exemplo?
Uma compra estratégica seria maior de 100 aeronaves e seu ciclo duraria mais que 10-15 anos?

O que muda no Brasil em relação a outros paises?


Acho que devíamos ter outra opção além da Embraer aqui no Brasil. Não digo uma fábrica "completa", mas outra que possa fazer a montagem e integração dos sistemas. A Avibrás por exemplo.
Acho que isso é uma questão comercial antes de ser uma questão aeronáutica...Se não existe concorrência, os preços sobem e o consumidor fica a mercê do produtor.

Montar, fabricar, projetar, 3 coisas completamente diferentes.


Como disse acima acho que deveria existir outra opção além da Embraer, não necessariamente uma fábrica completa.

Qual deveria ser a linha de ação?


Como você citou a integração e manutenção/desenvolvimento dos sitemas de armas são coisas que a FAB, (e o EB, e a MB) deveria se preocupar mais.
Devemos ter opções também. Deixar tudo com a Embraer é termos um monopólio e ficar sujeito aos falsos nacionalismos.
Os EUA sempre tiveram vários fornecedores(Lockheed, Northrop, Grumam, etc). Hoje com a nova ordem econômica, os EUA, se não me engano tem pelo menos dois grandes conglomerados, a Lockheed e a Boeing. Mas mesmo assim, são dois fornecedores, há uma escolha.
Pode se argumentar que a Lockheed é mais especializada na área militar e a Boeing na civil, mas se uma ficar com "muita marra", sempre se pode ir para outra.

Enviado: Sex Mai 12, 2006 5:16 pm
por A-29
Koslova,

Interessante o raciocínio que vc colocou aqui. Concordo plenamente em não ser inteligente por parte da FAB querer ela mesma produzir os aviões. Gostei muito do termo "commoditie aeronáutica", bastante espirituoso e plenamente aplicável ao substituto do Bandeirante. É sobre esse conceito que gostaria de tecer alguns comentários.

A commoditie em si não traz ganho tecnológico nenhum, como vc bem nos colocou. Afinal de contas, é um produto que pode ser encontrado mais ou menos com as mesas características em vários produtores por um preço mais ou menos parecido. Terá mais sucesso em sua produção aquele que for mais eficiente e tiver menores custos. No entanto, o fato de não trazer ganho tecnológico não significa que a commoditie não possa trazer ganhos econômicos e estratégicos.

Pois bem, justamente por causa disso me é difícil entender por que adquirir uma aeronave tão simples quando um trasporte leve que seja construída fora do país. Oras, se ele é praticamente como uma commoditie, seu custo se produzido aqui será muito semelhante ao custo se produzido lá fora. Restaria confiar na competência da engenharia aeronáutica nacional para produzir tal commoditie com eficiência superior à encontrada lá fora.

Pois se a Embraer não se interessa em produzir o substituto do Bandeirante, que se use essa encomenda para aquilo que ela serviria na maior parte dos países desenvolvidos: incentivar a indústria nacional. Uma encomenda de 100 aeronaves do porte de um Casa 212 não traria efeito nenhum à Embraer, nem financeiro nem tecnológico. Mas se a mesma encomenda for entregue a outra empresa nacional, isso realmente pode significar a consolidação de um novo "player" nacional no mercado aeronáutico, ao menos no mercado de aeronaves de baixa tecnologia, no mercado de "commodities aeronáuticas", sejam elas civis ou militares.

Esse novo player poderia também, com a encomenda de um substituto para o T-25 (que, afinal de contas, não vai durar para sempre), enveredar para o mercado de monomotores à pistão ou mesmo turbohélices. Esse é um mercado importante de aeronaves de baixa tecnologia, bastante grande no Brasil e infelizmente abastecido quase que unicamente com modelos importados.

Em suma, mesmo o substituto do Bandeirante sendo uma mera commoditie, considero crucial que ele seja produzido aqui, pois embora não traga ganho tecnológico, traz ganhos econômicos (lucro na mais pura concepção do termo) e estratégicos (independência em relação ao fornecedor externo, economia de divisas e possibilidade de exportação).

O Brasil tem mercado interno que justifique um fabricante de aeronaves de baixa tecnologia, o qual poderia se tornar base exportadora a partir dos ganhos de escala obtidos com o mercado interno.

A substituição dos Bandeirantes é a chance para que se dê um "empurrãozinho" para o surgimento desse fabricante.

Enviado: Sex Mai 12, 2006 6:00 pm
por Koslova
A-29 escreveu: A substituição dos Bandeirantes é a chance para que se dê um "empurrãozinho" para o surgimento desse fabricante.



A questão não é criar mais um fabricante para concorrer com a Embraer, e com isto termos competição no mercado de aeronaves para a FAB, querando o "monopolio" da empresa de SJC.

Primeiro que qualquer "empresa alternativa" levaria décadas para chegar aos pés da Embraer em capacidade técnica e poder de fogo politico.

Segundo porque o volume de negócios entre a FAB e o suposto mercado doméstico de defesa formado pela Embraer já é ridiculamente baixo para a propria Embraer, o que dira para a Embraer + Empresa concorrente.

Terceiro, que mesmo que tudo isto desse certo, tivessemos a Embraer e a Avibras brigando para fornecer um bimotor de 2Ton de capacidade de carga para a FAB, hoje a grande fraqueza industrial não é as plataforma e sim os sistemas e processos associados a ela.

Quarto, que temos, MAA-1B, MAR-1, A-DARTER, MSS.1.2, MSA- 1, Sistemas Inerciais, radares, data link e mais uma duzia de projetos em maior ou menor escala de desenvolvimento e estes sim são importantes, são estratégicos.

Desenvolver um treinador para concorrer com o Pilan, montar o C-212 no Brasil ou ná Espanha é uma coisa que fazia sentido a 30 anos atrás, acabar o MAR-1, desenvolver os radares que irão sustituir os mais de 70 radares do CINDACTA a partir de 2015, criar um sistema de defesa AA com alguma tecnologia propria, isto sim é estratégico.

Enviado: Sex Mai 12, 2006 6:22 pm
por The Baaz
Koslova escreveu:
A-29 escreveu: A substituição dos Bandeirantes é a chance para que se dê um "empurrãozinho" para o surgimento desse fabricante.



A questão não é criar mais um fabricante para concorrer com a Embraer, e com isto termos competição no mercado de aeronaves para a FAB, querando o "monopolio" da empresa de SJC.

Primeiro que qualquer "empresa alternativa" levaria décadas para chegar aos pés da Embraer em capacidade técnica e poder de fogo politico.

Segundo porque o volume de negócios entre a FAB e o suposto mercado doméstico de defesa formado pela Embraer já é ridiculamente baixo para a propria Embraer, o que dira para a Embraer + Empresa concorrente.

Terceiro, que mesmo que tudo isto desse certo, tivessemos a Embraer e a Avibras brigando para fornecer um bimotor de 2Ton de capacidade de carga para a FAB, hoje a grande fraqueza industrial não é as plataforma e sim os sistemas e processos associados a ela.

Quarto, que temos, MAA-1B, MAR-1, A-DARTER, MSS.1.2, MSA- 1, Sistemas Inerciais, radares, data link e mais uma duzia de projetos em maior ou menor escala de desenvolvimento e estes sim são importantes, são estratégicos.

Desenvolver um treinador para concorrer com o Pilan, montar o C-212 no Brasil ou ná Espanha é uma coisa que fazia sentido a 30 anos atrás, acabar o MAR-1, desenvolver os radares que irão sustituir os mais de 70 radares do CINDACTA a partir de 2015, criar um sistema de defesa AA com alguma tecnologia propria, isto sim é estratégico.


Concordo em gênero número e grau com você.

Re: A mentalidade do atraso

Enviado: Sex Mai 12, 2006 6:25 pm
por Koslova
Qual seria a quantidade ideal para a FAB hoje?


Ola

Eu realmente não tenho a minima intensão de calcular a quantidade ideal de Bandeirante para a FAB, acredito que não tenho nem competencia para isto.

A resposta pode ser duas:


Primeira hipotese.

A solução ideal é aquela que substitua todos os Bandeirante, mantendo o mesmo numero de esquadrões, cumprindo o mesmo numero de missões e o mesmo perfil. (Substituição 1:1)

Segunda hipotese.

Se substitui os Bandeirante em uma relação significativamente menor que 1:1

Se alguem decide pela segunda hipotese, havera a pergunta? Mas e as missões que somente um grande numero de Bandeirante podem realizar?

Esta pergunta tem que ser substituida por outra pergunta, está sim importante:

E as missões que nós deixamos de realizar, porque temos um volume enorme de pessoas e celulas limitadas?

Em outros termos, em todo processo existem perdas, não existe mundo ideal, mas existem premissas importantes, e uma delas é que a FAB hoje tem 700 celulas e uma fração enorme delas passa a maior parte do tempo indisponivel.

Temos que ter menos celulas, menos gente, e maior disponibilidade.


Eu costumo brincar que existe uma diferença entre a FAB e a IAF

No Brasil cadete cara voa T-25, depois T-27, depois T-29 depois AT-26 ai sim pode entrar em um esquadrão de caça de primeira linha, onde voa ou AMX ou F-5 ou Mirage. Treina com otimos aviões e voa com péssimos caças

Em Israel o cara voava (até bem pouco tempo atrás) Piper Cub depois Folga Magister, ai ia pra primeira linha voando A-4 e depois F-15 / F16, Kfir, F-4.

Moral da história, os melhores pilotos do mundo treinam com os piores aviões de treinamento do mundo, isto é irônico mas é verdade e retrata uma lição importante.

Em uma força aerea temos que ter um sistema de armas que seja a referencia em torno da qual a força é orientada, em Israel são os F-16/ F-15, no resto nunca se trabalha idealmente, sempre com soluções de custo beneficio, se você olhar nos EUA o treinamento da USAF também é feito com plataformas que não são as ideais.

Se alguem argumentar que somos um pais abençoado por Deus e bonito por natureza e que o foco da FAB deveria ser transporte e não combate, (não vou entrar nem no cerne desta questão), eu diria, que mesmo privilegiando o transporte, a FAB precisa escolher as suas aeronaves de referencia neste segmento. Não é possivel que comprando C-130 de segunda mão, mantendo os KC-137 a décadas e sem um plano de substituição, uma força vá focar a aquisição de dezenas de celulas de uma aeronave de relativa desimportancia estratégica.

Os Bandeirante deixariam um buraco? Sem duvida que sim, mas a reformulação da força tamparia outros, estes sim importantes.[/b]

Enviado: Sex Mai 12, 2006 7:06 pm
por Carlos Mathias
Isso tudo é pressão em cima da EMBRAER. Depois da sacanagem do FX, os caras devem estar querendo dar uma sacaneada na franco-brasileira. Apenas isso, não tem nada de ganho tecnológico e etc, até porque como já foi dito, este avião não tem nada de alto valor estratégico. Se a FAB e o governo não tivessem e/ou continuassem cedendo aos caprichos da franco-brasileira, não estaríamos hoje na posição ridícula de termos que pensar em qual poderá ser o inimigo, no caso da questão Bolívia esquentar mais. A Venezuela hoje com seus F-16, continua à frente e causa preocupação em caso de conflito. Enquanto isso, estamos recebendo dois(pqp, dois) aviões completamente obsoletos e pessimamente armados por ano por quase uma década à fio. Ou seja, o destino e vontade da EMBRAER hoje está acima da defesa efetiva do país.

Enviado: Sex Mai 12, 2006 7:57 pm
por thelmo rodrigues
[quote="Carlos Mathias"]Isso tudo é pressão em cima da EMBRAER. Depois da sacanagem do FX, os caras devem estar querendo dar uma sacaneada na franco-brasileira. Apenas isso, não tem nada de ganho tecnológico e etc, até porque como já foi dito, este avião não tem nada de alto valor estratégico. Se a FAB e o governo não tivessem e/ou continuassem cedendo aos caprichos da franco-brasileira, não estaríamos hoje na posição ridícula de termos que pensar em qual poderá ser o inimigo, no caso da questão Bolívia esquentar mais. A Venezuela hoje com seus F-16, continua à frente e causa preocupação em caso de conflito. Enquanto isso, estamos recebendo dois(pqp, dois) aviões completamente obsoletos e pessimamente armados por ano por quase uma década à fio. Ou seja, o destino e vontade da EMBRAER hoje está acima da defesa efetiva do país.[/quote]

É verdade! E sabe por quê? Veja o peso dela nas exportações e na imagem do país no exterior.

Enviado: Sex Mai 12, 2006 8:07 pm
por Carlos Mathias
Nem que fosse tudo, não se pode prescindir a defesa do país por empresa nenhuma. Agora, estamos diante de uma situação em que temos(?) um monte de velharia e precisamos medir os passos. Isso é ridículo para um país do tamanho do nosso. Meu Brasil não merece isso não meu caro colega, não mesmo, seja por causa EMFRAER ou seja por outra empresa qualquer. Nenhum benefício à EMFRAER vale a vegonha que estamos passando agora. Temos que ficar nos preocupando com países que não tem nem 10% do nosso PIB. Isso prá mim é uma putaria, putaria.

Enviado: Sex Mai 12, 2006 9:16 pm
por thelmo rodrigues
Koslova escreveu:
A-29 escreveu: A substituição dos Bandeirantes é a chance para que se dê um "empurrãozinho" para o surgimento desse fabricante.



A questão não é criar mais um fabricante para concorrer com a Embraer, e com isto termos competição no mercado de aeronaves para a FAB, querando o "monopolio" da empresa de SJC.

Primeiro que qualquer "empresa alternativa" levaria décadas para chegar aos pés da Embraer em capacidade técnica e poder de fogo politico.

Segundo porque o volume de negócios entre a FAB e o suposto mercado doméstico de defesa formado pela Embraer já é ridiculamente baixo para a propria Embraer, o que dira para a Embraer + Empresa concorrente.

Terceiro, que mesmo que tudo isto desse certo, tivessemos a Embraer e a Avibras brigando para fornecer um bimotor de 2Ton de capacidade de carga para a FAB, hoje a grande fraqueza industrial não é as plataforma e sim os sistemas e processos associados a ela.

Quarto, que temos, MAA-1B, MAR-1, A-DARTER, MSS.1.2, MSA- 1, Sistemas Inerciais, radares, data link e mais uma duzia de projetos em maior ou menor escala de desenvolvimento e estes sim são importantes, são estratégicos.

Desenvolver um treinador para concorrer com o Pilan, montar o C-212 no Brasil ou ná Espanha é uma coisa que fazia sentido a 30 anos atrás, acabar o MAR-1, desenvolver os radares que irão sustituir os mais de 70 radares do CINDACTA a partir de 2015, criar um sistema de defesa AA com alguma tecnologia propria, isto sim é estratégico.


Dra. Koslova,

A senhora ainda trabalha em projetos ou empresas de tecnologia?

Enviado: Sex Mai 12, 2006 9:24 pm
por thelmo rodrigues
Carlos Mathias escreveu:Nem que fosse tudo, não se pode prescindir a defesa do país por empresa nenhuma. Agora, estamos diante de uma situação em que temos(?) um monte de velharia e precisamos medir os passos. Isso é ridículo para um país do tamanho do nosso. Meu Brasil não merece isso não meu caro colega, não mesmo, seja por causa EMFRAER ou seja por outra empresa qualquer. Nenhum benefício à EMFRAER vale a vegonha que estamos passando agora. Temos que ficar nos preocupando com países que não tem nem 10% do nosso PIB. Isso prá mim é uma putaria, putaria.


Não estou defendendo a atual situação das coisas! Apenas disse o por que da influência da Embraer.Estou de acordo com vc! Agora veio essa crise com o Palhaço Imorales e, se o Brasil tivesse estacionado um esquadrão de caças-bombardeiros em Campo Grande ou Cuiabá (só para intimidar), talvez o indio duas-caras refletisse mais antes de fazer a lambança que fez. Não sou contra a nacionalização do gás, a Bolívia é um país paupérrimo e o seu povo sofre muito. Sou contra: a forma arbitrária e truculenta como foi feita a nacionalização, a expropriação dos ativos da Petrobras , a possível não indenização e a agressividade dele para com o Brasil.

Abraços

Enviado: Sex Mai 12, 2006 10:59 pm
por talharim
A FAB realmente parou no tempo.Vive na década de 60 e não quer sair de lá.

A FAB ainda acha que sua função primária é prover apoio logístico aos EUA................por isso a FAB prioriza a sua aviação de transporte em detrimento de sua aviação de caça.(precisam avisar aos vovôs brigadeirecos que a guerra fria já acabou)

100 C-212 para a FAB ? Só podem estar de brincadeira ! 20 já estariam de ótimo tamanho.Sou totalmente contra a FAB servir de transportadora de outros ministérios.

Mas se acabar com os ETAs como acomodar tanto brigadeireco que vão ficar sem seu "prestígio" sem "sua base para comandar" ?

E pelamordedeus,se o Brasil pretende bancar a potência militar e começar a enviar forças de paz para tudo quanto é canto do mundo precisamos de uma aviação de transporte estratégica ! Nem que sejam 1 Galaxy e 2 Globemaster ! Mas temos que ter alguma coisa !!!

Enviado: Sáb Mai 13, 2006 12:11 pm
por interregnum
talharim escreveu:por isso a FAB prioriza a sua aviação de transporte em detrimento de sua aviação de caça.(precisam avisar aos vovôs brigadeirecos que a guerra fria já acabou)


Correto, veja c295 novos, c212 novos. Mirages velhos e F5 recauchutados.

E os vizinhos se armando. Será que teríamos como fazer frente a uma Venezuela? Talvez sim. Será que teríamos como fazer frente a uma Venezuela e algum outro país como Peru juntos? É uma possibilidade de conflito, pelo menos até as eleições lá se concluírem. Quando se pensa estrategicamente tem que se levar em conta todas as possibilidades.

A meu ver a indefinição doutrinária das nossas FA foi um grande erro estratégico responsável por muita coisa. É inadmissível que grandes entidades que estejam a pensar o Brasil militarmente como a ESG tivessem vivido anos em um universo paralelo de sonhos.

A história já mostrou inúmeras vezes como nosso continente é instável e volúvel e como nossas democracias se transformam no oposto da noite pro dia.

Durante anos eles propagaram a conversa que não haveria possibilidade de conflito na américa do sul e apontaram indiretamente uma invasão da amazônia pelos EUA.

Acho que eles estavam escolhendo o inimigo que poderiam custear, como forma de não admitirem o desprezo com que são tratados politicamente. Pra enfrentar os EUA ou qualquer outra grande potência no meio da selva é mais barato do que enfrentar um país de mesmo nível tecnológico em uma guerra convencional.

Hoje com o episódio da Bolívia e Venezuela ficou claro que essa estória de amigos é muito relativa. O que vale é interesse nacional. Tivemos uma derrota diplomática muito grande que o Itamaraty atual não admite e que foi o fim do projeto de liderança e integração. Então se havia possibilidade de quebra desse consenso sulamericano, e havia por que foi quebrado, e não identificamos isso cometemos um erro grave.

Acho que cometemos o erro de acreditarmos em nossa própria retórica e as FA, cometeram o erro de não terem feito planos contingenciais.

Achamos muito engraçada toda a retórica anti-EUA e anti-capitalista do Chavez e nos surpreendemos quando ele a coloca em prática. Também esquecemos que nossos interesses também estavam sendo atacados indiretamente por que bem ou mal fazemos parte do mercado e temos interesses comerciais com os EUA.

Enviado: Sáb Mai 13, 2006 1:38 pm
por thelmo rodrigues
interregnum escreveu:
talharim escreveu:por isso a FAB prioriza a sua aviação de transporte em detrimento de sua aviação de caça.(precisam avisar aos vovôs brigadeirecos que a guerra fria já acabou)


Correto, veja c295 novos, c212 novos. Mirages velhos e F5 recauchutados.

E os vizinhos se armando. Será que teríamos como fazer frente a uma Venezuela? Talvez sim. Será que teríamos como fazer frente a uma Venezuela e algum outro país como Peru juntos? É uma possibilidade de conflito, pelo menos até as eleições lá se concluírem. Quando se pensa estrategicamente tem que se levar em conta todas as possibilidades.

A meu ver a indefinição doutrinária das nossas FA foi um grande erro estratégico responsável por muita coisa. É inadmissível que grandes entidades que estejam a pensar o Brasil militarmente como a ESG tivessem vivido anos em um universo paralelo de sonhos.

A história já mostrou inúmeras vezes como nosso continente é instável e volúvel e como nossas democracias se transformam no oposto da noite pro dia.

Durante anos eles propagaram a conversa que não haveria possibilidade de conflito na américa do sul e apontaram indiretamente uma invasão da amazônia pelos EUA.

Acho que eles estavam escolhendo o inimigo que poderiam custear, como forma de não admitirem o desprezo com que são tratados politicamente. Pra enfrentar os EUA ou qualquer outra grande potência no meio da selva é mais barato do que enfrentar um país de mesmo nível tecnológico em uma guerra convencional.

Hoje com o episódio da Bolívia e Venezuela ficou claro que essa estória de amigos é muito relativa. O que vale é interesse nacional. Tivemos uma derrota diplomática muito grande que o Itamaraty atual não admite e que foi o fim do projeto de liderança e integração. Então se havia possibilidade de quebra desse consenso sulamericano, e havia por que foi quebrado, e não identificamos isso cometemos um erro grave.

Acho que cometemos o erro de acreditarmos em nossa própria retórica e as FA, cometeram o erro de não terem feito planos contingenciais.

Achamos muito engraçada toda a retórica anti-EUA e anti-capitalista do Chavez e nos surpreendemos quando ele a coloca em prática. Também esquecemos que nossos interesses também estavam sendo atacados indiretamente por que bem ou mal fazemos parte do mercado e temos interesses comerciais com os EUA.


NOSSOS COMANDANTES MILITARES DEVEM LEVAR EM CONSIDERAÇÃO TODOS ESSES POSSÍVEIS CENÁRIOS, POSSÍVEIS CONFRONTOS, ETC. MAS, NOSSOS POLÍTICOS E A IMPRENSA ACHAM QUE QUE NUNCA PRECISAREMOS DE NOSSAS FA'S PORQUE A ÚLTIMA VEZ QUE EMPUNHAMOS ARMAS FOI EM 1944, APÓS O TORPEDEAMENTO DE INÚMEROS NAVIOS. E SE O POVO NÃO TIVESSE SAÍDO ÀS RUAS... SEI NÃO. BOM, APÓS A POEIRA BAIXAR TUDO VOLTARÁ AO NORMAL. COMO DIRIA MINHA AVÓ: TUDO COMO D'ANTES NO QUARTEL DE ABRANTES.