Frações de Infantaria

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Re: Frações de Infantaria

#61 Mensagem por Clermont » Ter Ago 02, 2011 3:39 pm

MENOS TENENTES.

Por Carlton Meyer - G2Mil.com

A maior fraqueza dos elementos de combate terrestre das Forças Armadas dos Estados Unidos é a carência de experiência entre os oficiais servindo em companhias combatentes. Um século atrás, os regimentos, normalmente, lutavam como uma entidade única, em formação cerrada. Coronéis travavam a batalha, enquanto os sargentos, literalmente, mantinham os soldados "na linha". Sargentos-Ajudantes (Staff-Sergeants) carregavam um bastão (Staff) para espancar soldados que errassem o passo, enquanto oficiais subalternos ficavam ao redor e aprendiam. Isto mudou quando o poder de fogo emassado da Grande Guerra forçou os soldados a atacar em formação menos rígida, portanto capitães lideravam companhias e tenentes lideravam pelotões de forma independente. Isso não foi grande problema para as forças americanas, pois a maioria dos tenentes e capitães tinha mais de dez anos de experiência.

Entretanto, a maciça expansão das Forças Armadas americanas durante a Segunda Guerra Mundial acelerou as promoções. Novos oficiais com limitada experiência eram designados para liderarem pelotões e companhias em combate. Alguns oficiais se desempenharam bem, mas a maioria era bisonha e muitos provaram ser fracassos completos. Isto levou muitos praças a questionarem a sabedoria de designar oficiais bisonhos para liderarem frações de infantaria, quando experimentados sargentos estavam disponíveis. Este problema foi reconhecido, portanto, após a guerra, as Forças Armadas desenvolveram um sistema para adestrar grandes números de oficiais da reserva. Esta foi uma excelente solução até que o Congresso estabeleceu um sistema de carreira "para cima ou para fora", no qual oficiais eram rapidamente promovidos de acordo com um rígido esquema de tempo ou postos para fora. Como resultado, o desempenho de combate na Coréia e no Vietnam sofreu, enquanto novos oficiais começavam no escalão de companhia, mas então avançavam para posições de estado-maior, um par de anos depois da promoção.

Este sistema falhado ainda é utilizado hoje. Qualquer oficial (sem experiência anterior como praça) que pense ter sido um competente líder de pelotão quando era um tenente novo em folha, tem memória ruim ou um problema de ego. Oficiais são líderes melhores quando ganham experiência e maturidade. O Corpo de Fuzileiros Navais reconheceu isto, nos anos recentes, quando formou suas companhias de Segurança Antiterrorismo da Esquadra (FAST companies). Já que estas companhias operam independentemente, são comandadas por majores, com capitães no comando dos pelotões. Esta não é uma idéia nova; os comandantes de companhia no Exército britânico são majores, uma prática fortemente endossada por um dos mais experimentados guerreiros da América, o coronel David Hackworth em seu famoso livro, "About Face".

A idéia de designar um major para comandar companhias deveria ser expandida para todas as unidades combatentes. Um major servindo como comandante de companhia terá se graduado numa escola avançada, ganhado experiência mais ampla e lido mais livros e jornais profissionais. Como resultado, ele ganhará maior respeito de seus praças, e estará melhor preparado para lidar com oficiais dos escalões de retaguarda. Da mesma forma, um capitão é mais adequado para servir como subcomandante de companhia. Como resultado, os 1º tenentes, agora preenchendo as posições de subcomandantes, poderão permanecer como líderes de pelotão, assim aumentando sua experiência neste escalão.

Entretanto, a experiência ao nível do pelotão permanece um problema. Os oficiais precisam ganhar experiência em algum lugar, mas uma companhia de fuzileiros merece ter cinco tenentes "aprendendo a engatinhar"? Já que oficiais subalternos em demasia são produzidos para preencher um limitado número de posições de carreira no círculo de oficiais subalternos, sargentos-mestres
(equivalente a subtenente no Brasil, porém, sem as funções deste último dentro de uma subunidade brasileira) deveriam líderar pelotões de apoio ao combate. Por exemplo, um sargento-mestre com mais de vinte anos de experiência é mais adequado para liderar um pelotão de apoio de companhia de fuzileiros do que um "experiente" 1º tenente. Isto aceleraria a lenta cadência de promoções dos praças graduados combatentes e abriria opções de carreira. A oportunidade para a seleção para primeiro-sargento (hierarquicamente, a mesma graduação do sargento-mestre, e mais semelhante ao subtenente brasileiro, pois, nos Estados Unidos, o primeiro-sargento é o praça mais graduado dentro de uma subunidade) é extremamente limitada, portanto, excepcionais sargentos de infantaria são promovidos a sargento-mestre e se tornam "experientes" demais para servirerm em companhias de fuzileiros, enquanto outros são "ultrapassados" e postos para fora. Permitir aos sargentos-mestres tornarem-se líderes dos pelotões de apoio das companhias de fuzileiros reforçará o moral e o índice de retenção, tanto quanto a eficácia de combate.

Uma companhia de fuzileiros não deveria ser liderada por um capitão e cinco tenentes. Ela deveria ser liderada por um major, um capitão, três tenentes e um sargento-mestre, mais do que duplicando os anos de experiência em liderança. Isto não apenas reforçaria o poder de combate das companhias de fuzileiros, mas também dotaria jovens tenentes de experimentados professores. Basear-se em oficiais bisonhos para preencher posições de linha de frente nunca foi o planejado, mas permanece uma grande fraqueza que precisa ser corrigida.




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Re: Frações de Infantaria

#62 Mensagem por Moccelin » Ter Ago 02, 2011 4:49 pm

Interessante... Aqui no Brasil o comando de Pelotões é exclusivamente de tenentes e, eventualmente, de capitães no primeiro ano de capitão (antes de ir pra EsAO), e o comando de Cias são de Capitães, mas de toda a carreira militar (dentro dos 30 anos) 1/3 o cara fica como Capitão, e aí é onde o sistema Brasileiro se diferencia um pouco do Americano, onde o cara fica bem menos tempo como Capitão.

O problema apresentado também existe, afinal todos os comandos de nível pelotão costumam estar nas mãos de Aspirantes e Tenentes (tanto de AMAN quanto temporários) inexperientes (todos com menos de 4 anos de serviço).

Seria interessante um sistema assim implementado por aqui também, com Oficiais subalternos de EsSA (QAO, que atualmente só realizam serviços administrativos) assumindo Pelotões. Seria uma forma de aumentar a experiência nesses comandos e incentivar a carreira de Sargento do EB. Obvio que pra isso seria necessário modificar totalmente a carreira dos Sargentos de Arma, porque atualmente os Sargentos só chegam ao oficialato quando já estão mais velhos. Um sistema interessante é o de Oficial Especialista da FAB e de oficial CHO da PMMG, ambos um concurso interno para Sargentos chegarem ao Oficialato, na FAB eu não sei os pré-requisitos, mas na PMMG o cara tem que ter 15 anos de PM e ser, no mínimo, 2º Sargento e passam por um curso de 10 meses na APM. Esses oficiais comandam Pelotões PM, tiram serviço de CPCia, enfim, fazem tudo que os Aspirantes e Tenentes de Academia fazem. Só podem chegar a Capitão, e como Capitão, se não me engano, não podem assumir Cias, mas tirando isso fazem tudo que o oficial de Academia faz.

Já no EB o Sargento que já passou da idade pra tentar a AMAN só entra pro Oficialato mudando completamente de carreira, em concurso externo (QCO, QOS, etc), aí acontecem coisas como um QCO professor ou administrador com inúmeros cursos e estágios na área combatente que nunca mais serão usados, chegando ao extremo de caras com "a faca no triângulo" na gola e o Comandos ou Forças Especiais na manga!

Ah, uma coisa que eles não comentam nesse texto é a possibilidade de um praça/enlisted (mesmo um Soldado, Cabo ou Especialista) ser indicado para virar oficial sem restrições caso cumpra alguns pré-requisitos (não lembro quais são). Essa também é uma forma que poderia ser explorada, criar seleções internas para algumas vagas da Academia, ou mesmo um curso específico para 3º Sargentos virarem oficiais. Todas formas de ter um corpo de oficiais subalternos experientes, além de incentivar a carreira de Sargento de lambuja).




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Re: Frações de Infantaria

#63 Mensagem por Clermont » Ter Ago 02, 2011 5:23 pm

Moccelin escreveu:Seria interessante um sistema assim implementado por aqui também, com Oficiais subalternos de EsSA (QAO, que atualmente só realizam serviços administrativos) assumindo Pelotões. Seria uma forma de aumentar a experiência nesses comandos e incentivar a carreira de Sargento do EB. Obvio que pra isso seria necessário modificar totalmente a carreira dos Sargentos de Arma, porque atualmente os Sargentos só chegam ao oficialato quando já estão mais velhos.

(...)

ou mesmo um curso específico para 3º Sargentos virarem oficiais. Todas formas de ter um corpo de oficiais subalternos experientes, além de incentivar a carreira de Sargento de lambuja).
Em algum tópico perdido por aí, eu lembro do Guerra (quando ainda era "Sgt Guerra") ter comentado, esta questão, fazendo algumas restrições a ela.

Se a memória não me falha, ele dizia que isto não seria valorizar o corpo de sargentos, mas apenas os indivíduos que fossem promovidos a essas "espécies incompletas" de oficiais: auxiliares, complementares e coisas e tal.

O texto americano pede pela valorização do sargento, enquanto sargento, com a autorização legal para o exercício do comando de pelotões. No caso do texto, limitando-se às frações de apoio das companhias. Não através da promoção de um graduado ao posto de oficial, mas concedendo-lhe o direito de mando, mantendo a graduação de sargento.

É interessante lembrar como era a organização de uma companhia de fuzileiros do Exército alemão da Segunda Guerra Mundial. Enquanto a companhia americana (e brasileira da FEB) tinha, e continua tendo, um capitão e cinco tenentes, a companhia alemã tinha um capitão comandante; um 2º tenente (ou 1º tenente) comandante do 1º Pelotão de Fuzileiros, acumulando a função de subcomandante da companhia; dois sargentos veteranos, comandando os outros dois pelotões de fuzileiros da companhia. Ou seja, a companhia inteira só tinha dois oficiais, um capitão e um tenente. Realmente, não sei como se dava a evolução posterior da carreira dos oficiais alemães de infantaria, com tão poucas vagas básicas.

Eu já li que o soldado alemão se considerava feliz se fosse designado para o 1º Pelotão liderado pelo tenente. Ao que parece, os sargentos comandantes de pelotão eram considerados mais linhas-duras do que os oficiais.




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Re: Frações de Infantaria

#64 Mensagem por ZeRo4 » Ter Ago 02, 2011 6:17 pm

Clermont escreveu:
Moccelin escreveu:Seria interessante um sistema assim implementado por aqui também, com Oficiais subalternos de EsSA (QAO, que atualmente só realizam serviços administrativos) assumindo Pelotões. Seria uma forma de aumentar a experiência nesses comandos e incentivar a carreira de Sargento do EB. Obvio que pra isso seria necessário modificar totalmente a carreira dos Sargentos de Arma, porque atualmente os Sargentos só chegam ao oficialato quando já estão mais velhos.

(...)

ou mesmo um curso específico para 3º Sargentos virarem oficiais. Todas formas de ter um corpo de oficiais subalternos experientes, além de incentivar a carreira de Sargento de lambuja).
Em algum tópico perdido por aí, eu lembro do Guerra (quando ainda era "Sgt Guerra") ter comentado, esta questão, fazendo algumas restrições a ela.

Se a memória não me falha, ele dizia que isto não seria valorizar o corpo de sargentos, mas apenas os indivíduos que fossem promovidos a essas "espécies incompletas" de oficiais: auxiliares, complementares e coisas e tal.

O texto americano pede pela valorização do sargento, enquanto sargento, com a autorização legal para o exercício do comando de pelotões. No caso do texto, limitando-se às frações de apoio das companhias. Não através da promoção de um graduado ao posto de oficial, mas concedendo-lhe o direito de mando, mantendo a graduação de sargento.

É interessante lembrar como era a organização de uma companhia de fuzileiros do Exército alemão da Segunda Guerra Mundial. Enquanto a companhia americana (e brasileira da FEB) tinha, e continua tendo, um capitão e cinco tenentes, a companhia alemã tinha um capitão comandante; um 2º tenente (ou 1º tenente) comandante do 1º Pelotão de Fuzileiros, acumulando a função de subcomandante da companhia; dois sargentos veteranos, comandando os outros dois pelotões de fuzileiros da companhia. Ou seja, a companhia inteira só tinha dois oficiais, um capitão e um tenente. Realmente, não sei como se dava a evolução posterior da carreira dos oficiais alemães de infantaria, com tão poucas vagas básicas.

Eu já li que o soldado alemão se considerava feliz se fosse designado para o 1º Pelotão liderado pelo tenente. Ao que parece, os sargentos comandantes de pelotão eram considerados mais linhas-duras do que os oficiais.
Alguns colegas falam muito disso aqui na PMERJ tbm! Não sei se pode ser aplicado a discussão (só disse pq o Mocellin falou da PMMG), porém o cargo de Sgt por aqui é mto pouco valorizado.




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Re: Frações de Infantaria

#65 Mensagem por Reginaldo Bacchi » Ter Ago 02, 2011 8:25 pm

No exército britânico a companhia/esquadrão é comandada por major desde a 1ª Guerra Mundial.

Isto não refrescou nada.

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Re: Frações de Infantaria

#66 Mensagem por Naval » Qua Ago 03, 2011 12:02 am

Clermont escreveu:
Moccelin escreveu:Seria interessante um sistema assim implementado por aqui também, com Oficiais subalternos de EsSA (QAO, que atualmente só realizam serviços administrativos) assumindo Pelotões. Seria uma forma de aumentar a experiência nesses comandos e incentivar a carreira de Sargento do EB. Obvio que pra isso seria necessário modificar totalmente a carreira dos Sargentos de Arma, porque atualmente os Sargentos só chegam ao oficialato quando já estão mais velhos.

(...)

ou mesmo um curso específico para 3º Sargentos virarem oficiais. Todas formas de ter um corpo de oficiais subalternos experientes, além de incentivar a carreira de Sargento de lambuja).
Em algum tópico perdido por aí, eu lembro do Guerra (quando ainda era "Sgt Guerra") ter comentado, esta questão, fazendo algumas restrições a ela.

Se a memória não me falha, ele dizia que isto não seria valorizar o corpo de sargentos, mas apenas os indivíduos que fossem promovidos a essas "espécies incompletas" de oficiais: auxiliares, complementares e coisas e tal.

O texto americano pede pela valorização do sargento, enquanto sargento, com a autorização legal para o exercício do comando de pelotões. No caso do texto, limitando-se às frações de apoio das companhias. Não através da promoção de um graduado ao posto de oficial, mas concedendo-lhe o direito de mando, mantendo a graduação de sargento.

É interessante lembrar como era a organização de uma companhia de fuzileiros do Exército alemão da Segunda Guerra Mundial. Enquanto a companhia americana (e brasileira da FEB) tinha, e continua tendo, um capitão e cinco tenentes, a companhia alemã tinha um capitão comandante; um 2º tenente (ou 1º tenente) comandante do 1º Pelotão de Fuzileiros, acumulando a função de subcomandante da companhia; dois sargentos veteranos, comandando os outros dois pelotões de fuzileiros da companhia. Ou seja, a companhia inteira só tinha dois oficiais, um capitão e um tenente. Realmente, não sei como se dava a evolução posterior da carreira dos oficiais alemães de infantaria, com tão poucas vagas básicas.

Eu já li que o soldado alemão se considerava feliz se fosse designado para o 1º Pelotão liderado pelo tenente. Ao que parece, os sargentos comandantes de pelotão eram considerados mais linhas-duras do que os oficiais.
Eu li uma vez, acho que até num destes posts do Clermont que, o grande êxito do Exercito Alemão se dava graças ao seu quadro de sargentos, extremamente profissionais e que não era raro estes assumirem as funções dos oficiais.

Abraços.




"A aplicação das leis é mais importante que a sua elaboração." (Thomas Jefferson)
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Re: Frações de Infantaria

#67 Mensagem por Moccelin » Qua Ago 03, 2011 9:39 am

É que eu pensei pragmaticamente (mais exatamente no salário).

Nos EUA não é difícil um E-6 (Staff Sargeant, um enlisted bem experiente) com salário maior que um O-1 (2nd Lieutenant, um Oficial recém chegado), o "Pay Grade" é desligado da escala hierárquica, já aqui no Brasil não, as duas listas (pagamente e hierarquia) são atadas. E dentro do princípio da isonomia (que faz parte da administração pública) não poderia um Sargento experiente receber o mesmo nível de comando de um Oficial recém chegado da Academia/CPOR/NPOR recebendo bem menos!!! Aqui um Sub-Tenente com 30 anos de serviço recebe apenas um pouco a mais que um Aspirante e menos que um 2º Tenente.

Eu não acredito em valorização profissional sem a respectiva remuneração. Você poderia permitir a um Sargento receber um comando de Batalhão, se ele não receber um soldo equivalente à responsabilidade estará apenas "sugando" mais.

Dito isso, restam duas opções, colocar uma estrela no ombro de um Sargento de alguma forma, ou criar toda uma nova estrutura de comando atrelada à adequação salarial.




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Re: Frações de Infantaria

#68 Mensagem por Túlio » Qua Ago 03, 2011 10:16 am

Isso de distorção salarial é entrave em TODAS as carreiras públicas no Brasil, não apenas a Militar. Se meu posto é mais graduado então eu devo saber mais do que os outros, ser mais capaz e naturalmente ser melhor remunerado. Deve, ao menos até certo ponto, ser reflexo do Bacharelismo Ibérico mencionado por Sérgio Buarque de Hollanda em seu Raízes do Brasil (recomendo!). O FATO é que nem sempre o mais graduado é realmente o mais capaz ou sabe mais do que os menos graduados...

Uma das saídas encontradas é pagar um plus por cursos e especializações (acessíveis também aos mais graduados, claro) para Servidores Militares e FGs para Servidores Civis (estas independentes de qualquer curso ou especialização, apenas alguma veleidade/preferência/necessidade política). Neste último ponto falo do que SEI, por exemplo, pela Lei um índio para ser Diretor/Administrador de Estabelecimento Prisional tem de ser AP de classe mais alta (C,D,E) e ter curso superior. Pois tá assim de Diretor que não é nem uma kôza nem tem a outra. A Lei? Ora, a lei...

Para terem idéia do vespeiro que é isso de soldo, lembro de um baita rolo que deu na BM uns anos atrás quando, sei lá eu por quê, os Tenentes estavam ganhando mais que os Capitães. Quase deram um golpe de estado no Governador, foi um escarcéu dos infernos até se 'resolver' a questão (aumentaram o vencimento de todo mundo com posto acima de Tenente)...




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Re: Frações de Infantaria

#69 Mensagem por ZeRo4 » Dom Ago 07, 2011 11:54 am

UPPPP no tópico!!! em épocas de tópicos tão chatos não podemos deixar este cair!!! continueeemmmm falando! Moccelin, Clermont, Túlio... vmo q vmo!




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Re: Frações de Infantaria

#70 Mensagem por Elias RS » Dom Ago 07, 2011 9:55 pm

Moccelin escreveu:É que eu pensei pragmaticamente (mais exatamente no salário).

Nos EUA não é difícil um E-6 (Staff Sargeant, um enlisted bem experiente) com salário maior que um O-1 (2nd Lieutenant, um Oficial recém chegado), o "Pay Grade" é desligado da escala hierárquica, já aqui no Brasil não, as duas listas (pagamente e hierarquia) são atadas. E dentro do princípio da isonomia (que faz parte da administração pública) não poderia um Sargento experiente receber o mesmo nível de comando de um Oficial recém chegado da Academia/CPOR/NPOR recebendo bem menos!!! Aqui um Sub-Tenente com 30 anos de serviço recebe apenas um pouco a mais que um Aspirante e menos que um 2º Tenente.

Eu não acredito em valorização profissional sem a respectiva remuneração. Você poderia permitir a um Sargento receber um comando de Batalhão, se ele não receber um soldo equivalente à responsabilidade estará apenas "sugando" mais.

Dito isso, restam duas opções, colocar uma estrela no ombro de um Sargento de alguma forma, ou criar toda uma nova estrutura de comando atrelada à adequação salarial.

Concordo com você Moccelin, os salários não deveriam ser hierarquizados. Nas FA brasileiras não se valoriza a experiência como o fazem outras FAs mais atualizadas. Ainda usamos o sistema arcaico do início do século passado...
E assim um aspira recem saído de um NPOR, ganha mais que um Sub Ten com mais de 20 anos de experiência. Isso para não falar que o Sub Ten já tem uma estrutura bem mais pesada para sustentar do que um piá de 20 anos...
Abss
Elias

PS: No USArmy, existem mais graduações de "sargento" tornando a progressão da carreira mais dinâmica do a nossa...




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Re: Frações de Infantaria

#71 Mensagem por Moccelin » Seg Ago 08, 2011 9:51 am

Na verdade não. Lá temos os Sargeants, Staff Sargeants, Sargeant Fist Class e Master Sargeant, assim como nossos 1º, 2º, 3º e Sub-Tenenete...

O First Sargeant nada mais é do que um Master Sargeant numa função/responsabilidade específica (tanto que é um E-8 como o Master Sargent), já os vários Sargeant Majors são tudo a mesma graduação, com o nome variando apenas pelo nível de comando a que serve (Batalhão, Brigadas, até o USArmy como um todo), e mesmo assim são específicas de uma pequena parcela que faz o curso de Sargeant Major e eles são os enlisted de apoio do comandante, e sua missão principal é defender as necessidades dos praças ante o comando e funções cerimoniais.

Então do ponto de vista de graduações de sargentos existem 4 (E-5 a E-8), que empatam com o nosso sistema 3º Sgt a ST, aí pro "fim de carreira" existe o QAO aqui (que faz parte da carreira de Sargento mas vira Oficial), e o Sargeant Major lá (nesse caso as tarefas são beeem diferentes), logo não existem diferenças significativas de quantas promoções o cara pode ter.

A diferença primordial é que lá todo sargento (combatente) foi recruta, já aqui o cara pode entrar no quadro de sargentos diretamente via EsSA e outra coisa interessante de se notar é que lá a carreira de Sargento não é estável como aqui (pra falar a verdade nem a de Oficial), e isso cria um problema aqui que não existe lá: como gerenciar 30 de promoções pra 70... 80% de uma turma de EsSA??? P.S.: Estou chutando esse número, pode ser mais, pode ser menos.

Mas voltando à questão da valorização da carreira. Lá o problema maior é a falta de experiência nos comandos, e a solução pensada pelo autor do artigo é dar comandos nível pelotão para Sargentos, provavelmente a E-7 (Sargeant First Class) pra não ser um cara já muito velho mas ser um cara com comprovada experimentação (o que no USArmy é quase sinônimo de combate efetivo). Outro problema Americano é o fato de se perder os melhores sargentos para o meio civil pela questão da falta de dinamicidade da carreira (muito tempo sem promoções para o cara realmente bom)... No meio civil temos diversas formas de "promoção", e analisando qualquer esquema hierárquico de empresas vemos que existem bem mais "postos". E aqui é bom lembrar, estamos falando do cara bom, experiente, enfim, o cara que é promovido, e que QUER ser valorizado (traduzindo: promovido). Daí essa solução resolveria vários problemas.

Já aqui o problema é outro, pouco se fala de falta de experiência por parte do oficialato subalterno e provavelmente o motivo seja que não existe forma de quantificar essa inexperiência na prática (ninguém morre, logo não existe forma de se quantificar isso), o Coronel que acha que tem o rei na Barriga, que é o fodão, e que qualquer um abaixo dele é lixo provavelment foi um Cadete assim, e isso é perpetuado por conta dos erros raramente resultarem em merdas grandes (como logo no início da carreira jogar o pelotão numa situação péssima em combate). Nossos oficiais combatentes são formados de forma totalmente distinta, assim como nossos sargentos, mas mantém-se o problema da valorização do praça de carreira. Os oficiais são promovidos 3 vezes em menos de 5 anos (Aspirante [1] 2º Tenente [2] 1º Tenente [3] Capitão), após isso vem um tempo grande como Capitão, mas a valorização vem na forma de cursos, mudanças de comando, fazer parte do Estado Maior, mais cursos, e assim vai, depois vem mais uma promoção pra major e outra pra Tenente Coronel... E aqui chegamos ao "piso promocional pra oficiais realmente ruins" (nunca ví alguém completar os 30 anos e não ter chegado nem a TCel), mas sendo mediano o cara já chega a Coronel com 30.

Já pro praça, só a promoção de 3º pra 2º leva uma vida, o que leva os bons a cogitarem sair do EB no dia que adentram aos portões da EsSA, e se o cara não pensa assim logo no dia que entra, antes de ser promovido a 2º com certeza já vai estar pensando! Mas aqui o mercado não costuma absorver essa mão de obra (muito valorizada para cargos de chefia de produção nos EUA), alguém pode me dizer. Mas temos os concursos! E de repente vemos o Sargento bom e com experiência saindo do EB pra inúmeros outros concursos, alguns deles salarialmente similares. E aí adeus sargentos experientes.

E vem a pergunta: como valorizar essa carreira para os bons sargentos permanecerem? Eu imaginava uma solução como a da FAB, com os Oficiais Especialistas, ou a PMMG com os CHO, mas pela ótica do Guerra, que é bem mais apto a falar sobre o assunto do que eu, assim estaria-se valorizando o Oficialato, não o praça de carreira, mas como fazer então? Existem muitos bons sargentos que poderiam passar em outros concursos mas ficam no EB por amor à farda, mas torcer para apenas o amor à farda é, no mínimo, perigoso, principalmente se a idéia for intensificar missões no exterior a ponto de as tropas não serem formadas apenas por voluntários.

Pra mim parece que o EB estagnou nessa visão de que é impossível o Brasil entrar em guerra, que ser Sargento é um cargo público como outro qualquer, logo não há necessidade de experiência nos níveis subalternos de comando e a situação de 5 tenentes com menos de 5 anos de experiência no comando de todos os Pelotões de uma Cia já são o suficiente, e que perder sargentos experientes não é um problema grave, e isso até que é válido... Até o "alarme" tocar!




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Re: Frações de Infantaria

#72 Mensagem por Clermont » Seg Ago 08, 2011 11:37 am

Mensagem altamente instrutiva, esta do Moccelin, para a gente como nós, que pouco sabe das tecnicalidades internas das Forças Armadas.
Moccelin escreveu:A diferença primordial é que lá todo sargento (combatente) foi recruta, já aqui o cara pode entrar no quadro de sargentos diretamente via EsSA
Aliás, também para o Exército alemão da Segunda Guerra uma coisa assim seria completamente imcompreensível: um civil que se tornasse sargento após um curso de especialização. No Exército americano esse sistema brasileiro parece ter sido utilizado, apenas uma vez, durante a Guerra do Vietnam, quando havia falta de pessoal. Os sargentos assim formados eram conhecidos como "Shake n' Bake", que era uma marca de ração para galinhas...

Por falar nisso, aqui mesmo, no Brasil, nós temos o exemplo do Corpo de Fuzileiros, onde todos os sargentos combatentes, necessariamente, se voluntariaram como praças. Eu já li um sargento fuzileiro naval questionando o preparo profissional dos 50 % de civis (ao que parece, os outros 50 % são de soldados e cabos) que se tornam sargentos do Exército, embora reconhecendo que muitos destes se tornam grandes profissionais.
(...) e a solução pensada pelo autor do artigo é dar comandos nível pelotão para Sargentos, provavelmente a E-7 (Sargeant First Class) pra não ser um cara já muito velho mas ser um cara com comprovada experimentação (o que no USArmy é quase sinônimo de combate efetivo).
Na verdade, ele sugere um E-8 (Master-Sergeant) para esta função. O Sergeant-First Class sempre é Adjunto de Pelotão. Assim, a companhia teria dois E-8: o First-Sergeant e um Master-Sergeant, com o primeiro continuando a ser o superior hierárquico de todos os praças da companhia, devido a sua função.




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Re: Frações de Infantaria

#73 Mensagem por ZeRo4 » Seg Ago 08, 2011 2:07 pm

Moccelin escreveu:E vem a pergunta: como valorizar essa carreira para os bons sargentos permanecerem? Eu imaginava uma solução como a da FAB, com os Oficiais Especialistas, ou a PMMG com os CHO, mas pela ótica do Guerra, que é bem mais apto a falar sobre o assunto do que eu, assim estaria-se valorizando o Oficialato, não o praça de carreira, mas como fazer então? Existem muitos bons sargentos que poderiam passar em outros concursos mas ficam no EB por amor à farda, mas torcer para apenas o amor à farda é, no mínimo, perigoso, principalmente se a idéia for intensificar missões no exterior a ponto de as tropas não serem formadas apenas por voluntários.
Moccelin, explique por favor como funciona o quadro da FAB e esstal CHO ai da PMMG!

No caso do EB qual a diferença SALARIAL, mesmo que haja certa hierarquia, entre um SGT e um OF?

Apenas a questão salarial é relevante? Digo isso porque aqui no RJ, normalmente, na PMERJ o SGT deveria ser levado mais a sério. A gente encontra alguns SGT como comandantes de GAT... mas tbm encontramos muitos SGT fazendo trabalho de Sd e Cb... já vi SGT até mesmo no POG!




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Re: Frações de Infantaria

#74 Mensagem por Moccelin » Seg Ago 08, 2011 2:49 pm

O Oficial Especialista é um Sargento Especialista da Aeronáutica (na verdade todos os Sargentos da Aeronáutica são Especialistas) com pelo menos 10 anos de formado que passa em concurso interno e cursa o Curso de Formação de Oficiais Especialistas no CIAAR lá em Belo Horizonte, sendo declarado 2º Tenente após o curso. O Quadro existe pra preencher as vagas de comando em funções onde um Oficial Subalterno de AFA não faria um bom serviço por simplesmente desconhece-lo (manutenção de aeronaves, armamento, controle de tráfego aéreo, etc), ao contrário de um Sargento já experiente. Se não me engano depois de formado o Oficial Especialista pode chegar até a Major, mas isso eu não tenho certeza absoluta. Obviamente ele preenche comandos de Oficiais Especialistas, como uma torre de controle de tráfego aéreo, uma oficina, etc.

Já na PMMG o Oficial do Quadro Auxiliar de Oficiais é um Sargento que preenche os pré-requisitos (não lembro exatamente, mas se não me engano é ser pelo menos 2º Sargento e ter mais de 15 anos de serviço na PMMG), passa no concurso interno e frequenta o Curso de Habilitação ao Oficialato (CHO, com duração de 1 ano) na Academia de Policia Militar (lá eles são equiparados ao último ano da Academia, que no meu tempo era o 4º e atualmente é o 3º). Igual ao Oficial Especialista o CHO se forma 2º Tenente, mas só pode chegar até a Capitão (pelo menos no meu tempo, pode ter mudado). Esse oficial exerce exatamente as mesmas funções do oficial de Academia sem aperfeiçoamento (comando de Pelotão, Comando de Policiamento da Companhia, etc), e normalmente fazem bem, afinal tem muita experiência, ao contrário do oficial subalterno de Academia que chega cru.

Se não me engano ambos exigem que o Sargento tenha feito curso superior.

Já no EB não existe isso, o cara simplesmente é promovido de Sub-Tenente pra 2º Tenente, podendo chegar até a Capitão (se não me engano quem não tem curso superior não é promovido a Tenente).

Sobre a diferença salarial não sei te dizer valores exatos, mas vamos resumir assim: eu, caso tivesse me formado na AMAN em 2009, como previsto, estaria ganhando mais que meu pai, com 30 anos de EB (Sub-Tenente R-1), mesmo contando os cursos, tempo de serviço (não contou toda a carreira, já que as regras mudaram) e outros adicionais que ele tem.




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Re: Frações de Infantaria

#75 Mensagem por ZeRo4 » Seg Ago 08, 2011 3:03 pm

Não entendi muito bem a questão da FAB. Tenho uma amiga da época de escola que cursou o CIAAR, mas acho que ela não era SGT... se formou como tenente já.

Acho que de todas as idéias apresentadas aqui, a melhor maneira de valorizar os Sgts seria um modelo mais próximo do Alemão em conjunto come melhores salários então?




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