Abaixo informação retirada do Financial Times para contribuir no debate;
Boicote de eleitor deve dar vitória fácil a Chávez
Prevendo uma derrota acachapante, oposição retira candidaturas
Andy Webb-Vidal
Em Caracas
Centenas de observadores internacionais se espalharão neste final de semana pela Venezuela para fiscalizar os centros de votação durante a eleição legislativa deste domingo (04/12). Mas eles provavelmente terão pela frente uma tarefa solitária. Em algumas áreas é esperado o comparecimento de apenas alguns punhados de eleitores durante todo o dia. Em outras, os observadores poderão não encontrar um único eleitor.
"Esqueçam, eu não votarei", afirma Daniela Montoya, assistente de vendas de San Antonio de Los Altos, uma cidade próxima à capital, Caracas. "Não adianta votar, porque as autoridades eleitorais fraudarão os resultados".
As eleições para a escolha de 165 membros da Assembléia Nacional, que possui uma única casa parlamentar, parecem prontas para dar início a uma nova fase no redemoinho político que gira em torno do presidente populista Hugo Chávez.
Cinco dos maiores partidos oposicionistas retiraram os seus candidatos da disputa nesta semana, alegando que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) é incapaz de garantir que o voto seja secreto.
"Considerando a natureza deste terremoto político, não podemos pedir o seu voto de forma responsável sem termos a capacidade de defendê-lo", anunciou Gerardo Blyde, líder do partido Primero Justicia.
Autoridades do governo dizem que os opositores se retiraram da disputa como parte de um esforço desesperado de última hora para criar um impacto político, porque eles inevitavelmente perderiam.
Fortalecido por um grande aumento dos gastos governamentais, Chavez viu os seus índices de aprovação popular ultrapassarem os 50%, segundo recentes pesquisas de opinião.
"Eles sabiam que seriam derrotados", disse José Vicente Rangel, o vice-presidente. "Tudo bem. Eles que vão para o inferno".
A retirada das candidaturas é inusual , já que a iniciativa se segue a uma decisão do CNE de não utilizar as polêmicas máquinas de impressões digitais para identificarem os eleitores. Oficialmente, o objetivo das máquinas é garantir que os eleitores não votem duas vezes, mas, na semana passada, especialistas técnicos de um grupo oposicionista divulgaram um estudo no qual afirmam ter demonstrado que as máquinas eletrônicas são capazes de registrar a seqüência de votos. Segundo eles, essa seqüência pode ser comparada à ordem dos eleitores gravada pelas máquinas de impressões digitais a fim determinar qual foi o voto de cada eleitor.
Dados eletrônicos do governo, que detalham as preferências políticas da maioria das pessoas registradas nas eleições, presumivelmente compiladas durante o referendo do ano passado, foram vazados recentemente para a imprensa.
Mas a retirada das máquinas de impressões digitais pela CNE, uma decisão recomendada pelos 400 observadores internacionais da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Européia (UE), parece ter tido o efeito de reduzir ainda mais a confiança entre os eleitores, em vez de aumentá-la.
"É difícil fiscalizar uma eleição na qual quase ninguém votará", afirmou um diplomata estrangeiro em Caracas.
O boicote dos partidos de oposição à eleição significará que a abstenção poderá chegar a 80%, segundo alguns analistas. Isso, por sua vez, permitiria que os aliados de Chavez obtivessem uma maioria mais ampla do que a esperada.
José Vicente Carrasquero, um analista político em Caracas, prevê que o governo obterá uma maioria de mais de dois terços.
"Sob essas circunstâncias, segundo as quais praticamente todos os adversários desapareceram, o governo sofreria uma derrota caso não obtivesse pelo menos 90% dos votos. Mas seria uma vitória de Pirro", diz Carrasquero.
Uma maioria formada por mais de dois terços no parlamento permitiria ao governo implementar reformas da constituição, tais como a remoção de um limite de vezes que o presidente pode ser reeleito. Alguns oponentes temem que isso faria de Chávez um presidente vitalício.
O comentarista político Teodoro Petkoff afirma: "Chávez terminará obtendo uma Assembléia Nacional no estilo soviético ou cubano, dominada por um partido único".
Um fim da representação nos órgãos formais do governo poderia estimular um movimento de oposição mais radical.
Mas Luis Vicente León, diretor da companhia de pesquisas de opinião pública Datanalisis, diz que a oposição terminará mais desmoralizada que antes, já que terá perdido a pouca influência que lhe resta.
Os partidos de oposição controlarão apenas um punhado de municípios em toda a Venezuela.
Não parece haver clima entre a população para sair às ruas em protesto, como em 2002, durante a organização de um golpe que depôs Chávez por um breve período.
"Esse é o pior cenário possível. Eles perderão os poucos parlamentares que têm", adverte León. "Isso é realmente uma catástrofe para a oposição".