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A VERDADE DO 25 ABRIL DE 1974
Enviado: Dom Mai 01, 2005 4:21 pm
por mpina41
Caros amigos, vou iniciar aqui um novo tópico que tentará repôr a verdade sobre o que se passaou abordo da Fragata Almirante Gago Coutinho, no dia da revolução portuguesa.
Abre este assunto pelo interesse que tenho visto demonstrado em vários locais e porque inexplicavelmente a verdade ainda não está colocada.
Tenho em meu poder vários documentos de depoimentos em Tribunal Militar no Processo que posteriormente foi aberto.
Tenho fotos e muita coisa que considero muito improtante, para esclaerecimento sobre o assunto.
Esses documentos serão aqui tornados públicos, consoante o interesse demonstrado pelos leitores.
Assim abrirei este tópico com o relato do que vi, ouvi e senti a bordo desse navio.
este assunto é para mim (e não só) muito querido e importante, por isso parto para o seu ínicio esperançado em que seja um êxito, mas só o será, se vocês mostrarem interessados...
M.Pina
Enviado: Dom Mai 01, 2005 7:37 pm
por JLRC
Amigo MPina
Ainda duvida do nosso interesse? Eu, em particular, interesso-me por tudo o que diz respeito ao dia 25 de Abril, pois na altura estava a cumprir o serviço militar em Moçambique, na ZOT (Zona Operacional de Tete) e só soube do golpe militar no dia 26, embora desconfiasse que tinha acontecido qualquer coisa. Depois poderei contar como as coisas se passaram na minha zona.
Avance MPina
Enviado: Dom Mai 01, 2005 8:17 pm
por Slip Junior
Também pode contar comigo como leitor e interessado nesse assunto do qual sei tão pouco (bom, eu não era sequer nascido na época, além disso não sou português).
Obs.: uma ajudinha com a foto. M Pina, para postar a foto, clique na opção "Get links" na página onde a mesma está hospedada e depois copie o conteúdo no primeiro campo (opção "Hotlink your image on forums and message boards. Use second link if first link fails.") e cole na sua mensagem.
Abraços
Enviado: Seg Mai 02, 2005 4:22 am
por P44
Amigo mPina,
Avançe, estamos consigo!!!!!

Enviado: Ter Mai 03, 2005 8:27 am
por JNSA
Vamos, lá, amigo mpina, está tudo à espera...
Esta matéria é extremamente interessante, pois relaciona-se com um dos mais importantes acontecimentos do século XX, em Portugal. Tudo o que possa ajudar a perceber melhor o que se passou, será bem vindo.
Enviado: Ter Mai 03, 2005 9:08 am
por Rui Elias Maltez
Força, M-Pina.
Esperamos por novidades.
P.S.
Já vi que como eu, não se dá bem com o Image-Shack.
Tente o meu caminho, que é mais simples.
Enviado: Ter Mai 03, 2005 11:36 am
por Sniper
Avante M-pina!
fiquei interessado pois assim como o Slip eu nem era nascido na época e o pouco que conheço vem de algns livros scolares!
Abraços!
Enviado: Ter Mai 03, 2005 8:06 pm
por Paisano
MPina,
A Revolução dos Cravos foi um acontecimento muito importante e que gerou reflexos até aqui no Brasil e você foi uma testemunha privilegiada do que ocorreu em Portugal em 1974.
Um abraço.
CAP. 1 O DIA
Enviado: Dom Mai 08, 2005 3:47 pm
por mpina41
esta descrição será realizada em factos verídicos mas também em pormenores pessoais, que eu senti, ouvi e vi...
A Gago Coutinho, encontrava-se na base do alfeite mas às ordens da STAVAVFORTLANT - força onde estava incorporoda- e com partida nesse dia 25 de Abril de 1974, rumo ao mediterraneo, com escala na cidade de Napóles...
1-
Alguns elementos da guarnição (os que viviam na grande Lisboa) chegaram a bordo na última vedeta, cerca da meia noite, isto aconteceu, porque a saída da Gago estava marcada para o fim da manhã, já que a força da NATO, estava dividida em duas e nós pertencíamos à segunda força.
Esses mesmos elementos deram-nos informação que "algo havia em Lisboa" pois o movimento militar era fora do vulgar! Não valorizamos muito esse ponto, pois que pouco tempo atrás - 11 Março de 74- tinha havido uma golpe abortado, que nos obrigou a regressar ao navio interrompendo um fim de semana e como todos sabemos nada aconteceu...
2-
Entretanto, a guarnição estava já a trabalhar sob as ordens da Nato, o que significa que estavamos a postos como a navegar e prontos a partir.
3-
Surpreendentemente...eram 07,00 horas o Imediato mandou tocar à faina para partirmos (antes do nosso horário previsto, disseram que o facto de sermos conhecedores da barra e como havia muitos navios estrangeiros que não a conheciam, deveriamos sair antes e na frente da formação para lhes indicarmos o caminho). O meu posto era de operador de rádio, no cnetro de informações e combate (CIC) centro nevrálgico do navio.
[u]ESTA ORDEM FOI FUNDAMENTAL PARA TUDO O QUE DEPOIS ACONTECEU A BORDO,isto porque;
Viemos a ter conhecimento posterior, que era planeado pelo movimento revoltoso de se dirigirem a bordo e nos colocarem ao corrente de toda a situação. Mas como a partida foi antecipada isso não aconteceu e partimos sem nada saber - de concrecto...
4-
Digo de concrecto, pois ao passarmos frente ao Terreiro do Paço, víamos perfeitamente os tanques do exército em movimento, passamos a escutar a RÁDIO CLUBE PORTUGÛES, PARA NOS MANTERMOS INFORMADOS MINIMAMENTE.
5-
Passando sob a ponte Salazar (agora 25 de Abril) na frente da formação -recebemos ordens- pela rádio (eu) para o navio abandonar a formação e se posicionar em frente ao Terreiro do Paço.
Estas ordens são provinientes do Estado Maior da Armada (EMA) e foram o primeiro foco de tensão a bordo - entre Imediato Caldeira dos Santos e o Comandante Seixas Louça - pois para abandonarmos a formações, deveriamos receber Ordens da STAVAVFORLANT.
Ganhou o comandante e voltamos para trás...
6-
O imediato, chamou a atenção do comandante para o facto de a Marinha ter um compromisso de neutralidade para com o movimento.
O Comandante ouviu e nada decidiu!
7-
De novo na rádio é recebida (eu) nova comunicação, agora do Vice-chefe do E.M.A. - Contra-Almirante Jaime Lopes
que dá ordem de disparar sobre os tanques rebeldes posicionados no Terreiro do Paço.
Há testemunhas (fora do navio, estavam em serviço no E.M.A.) desta ordem, posteriormente negada...
O Comandante chama a atenção para o facto de termos muitos cacilheiros (barcos de transporte de passageiros por perto) e haver muita gente (civis) no Terreiro do Paço.
8-
O Comandante manda municiar as peças com munições de alto-explosivo.
Mas o Imediato ordena ao Chefe de artilharia (1º tenente Dores de Sousa) que não municie as peças e coloque as peças em elevação,a zero graus, em sinal de paz...
Começava aqui toda a "guerra" a bordo...
9-
As munições de exercícico, são colocadas nos contentores verticais (tenho fotos) o cComadante é informado que não temos munições de alto-explosivo nem dde salvas.
10-
O Comandante dá Ordens ao chefe de artilharia...textualmente
"vá lá baixo e dê dois tirinhos para o ar"
11-
O 1º Ten. Dores de Sousa recusa cumprir a ordem de tiros de salva (que não tinhamos).
O Imediato chama o Comandante ao lado e em privado informa-o que se abrisse-mos fogo mesmo para o ar, o simples facto de os estilhaços cairem no Tejo, seria um caos na navegação e nas forças do Terreiro do Paço.
12-
Entretanto, quer no Terreiro do Paço, quer no forte de Almada e junto ao Cristo-Rei, estavam tanques prontos a disparar sobre o navio mal este abrisse fogo.
Eram cerca das 09,00 horas...
Consideramos que o Comandante estava numa situação díficil, pois por um lado ele não acreditava no Movimento e via a sua carreira num beco sem saída recordando-se do Movimento de 11 de Março...
O Imediato deu-lhe conhecimento que estava por dentro da situação da revoluçaõ e que a dirigir essa revolução, estava um amigo do Comandante o Alm. Victor Crespo e aconselhou o comandante a entrar em conctato com ele!
O que o comandante não fez...
13-
De novo via rádio... O Imediato,foi chamado pelo Alm. Almada Contreiras, tendo este informado que o navio era a única força militar que continuava fiel ao regime.É ordenado que o navio saia a barra do Tejo, com as peças em elevação a zero graus.
14-
O Imediato informa que o navio está controlado pela guarnição e que não oferece perigo algum!
[i][b]De registar que durante este tempo todo, o navio continua em navegação em frente ao Terreiro do Paço - nunca tendo parado...
De seguida - o Imediato - dirige-se ao Comandante para o informar disto!
a "Guerra a bordo aumenta de tensão"...
15-
O Comandante recebe o Imediato aos insultos (era seu hábito) e exonera-o do Posto de Imediato!
De novo dá ordem de fogo, agora sobre o Terreiro do Paço...
de novo a sua ordem não é cumprida...
16-
O Comandante chama os Oficiais mais antigos e nomeia-os para o Posto de Imediato, mas os nomeados (primeiro o 1º Ten. Varela Castelo - meu chefe de comunicações e em seguida o 1º Ten. Telles Palhinha).
Entretanto, saio de serviço - e do meio da acção- e venho para o convés dar conhecimento aos elementos da guarnição do que se passa...
17-
Começa a ganhar força entre todos que ninguém quer fazer fogo sobre Lisboa e dicidimos que se o Comandante exonberou o Imediato, tendo este os Oficiais do seu lado, então que o Imediato tome conta do navio NÓS ESTAMOS COM ELE.
18-
O 1º Ten. Almeida Moura, ouve esta conversa e informa o Imediato desta posição da guarnição...
Num acto de humanismo o Imdiato manda reunir a guarnição no refeitório das praças e faz um resumo da situação, dando liberdade de expressão a todos...
NESSE MOMENTO DEIXAMOS DE SER MILITARES E PASSAMOS A SER APENAS HOMENS
Responderam dois ou três elementos e eu por minha parte disse textualmente...
" OS MEUS PAIS ESTÃO NO PORTO, LOGO SE DISPARARMOS NÃO MORREM1 MAS SE ELES ESTIVESSEM ALI (T. Paoço, já cheio de civis) TERIAM QUE ME MATAR PARA EU COLOABORAR"
O Imediato, perguntou. Todos pensam assim?
A Resposta foi.
Sim!
19-
O Imediato informou que iria tomar conta do navio, conjuntamente com os seus Oficiais, mas que não se iria prender o Comandante... Iríamos fundear frente ao Terreiro, continuariamos a respeitar o Comandante como tal, só não cumprindo ordens de fogo...
20-
Eram cerca das 12,30/13,00 horas o navio fundeou frente ao Terreiro do Paço.
Continua... já de seguida!
[/i][/b][/u]
CAP. 2- A VERDADE DO 25 ABRIL DE 1974
Enviado: Dom Mai 08, 2005 4:17 pm
por mpina41
21-
Pelas 13,20 horas o Comandante manda reuinir os Oficiais
- com o navio fundeado, no mar da palha e não em frente ao Terreiro do Paço, como por erro deixei escrito,- ( o mar da Palha é uma parte mais larga do estuário do Tejo, praticamente em frente ao Terreiro do Paço, entre a base, o Barreiro e Lisboa)
e solicitou o mapa trimestral de munições e artificios - para confirmar o que tinha dito os Imediato e o Chefe de Artilharia, sobre as munições.
Posteriormente interroga os Oficiais (um a um) menos o Imediato (para ele estava exonerado) começando pelo mais moderno e pergunta se mantêm a sua posição de não abrirem fogo...
Tendo este confirmado a sua posição1
ESTES DADOS FORAM POR MIM RECOLHIDOS, ALGUNS NESSE MESMO DIA OUTROS DURANTES ANOS QUE FIZ DE INVESTIGAÇÃO - REPITO QUE TENHO DOCUMNETOS QUE COMPROVAM ESTAS AFIRMAÇÕES
22-
Como resultado o Comandante informa que considera COMO INSUBURDINAÇÃO DOS OFICIAIS NO NAVIO.E DECLAROU TEXTUALMENTE
" [b]Que nenhum dos oficiais se deveria esquecer da posição tomada, pois ele não esqueceria a dele"
23-
No convés continuavamos todos meio desonrientados e lembro-me que o meu amigo Oliveira (Mar CM) conhecido por Bronson, que me perguntou o que fazer.
Eu respondi-lhe.
Vai dormir que logo à noite já tudo está resolvido! Se acordares estás vivo se não acordares é porque perdemos!
O Bronson foi dormir...
24-
Pelas 16,00 horas os navios Canadianos os últimos a sair, abandonavam Lisboa, quando no ar se levantou uma grande poeira e pelos céus subiram numerosos pombos... eram os primeiros tiros que se ouviram junto ao Carmo.
Passado algum tempo o governo rendia-se o Presidente da Republica entregava-se ao M.F. A.
A revolução estava ganha!
25-
Cerca das 20,00 horas, três rebocadores vieram buscar o nosso navio e coloca-lo na base do Alfeite.
Todos julgavamos ir ser recebidos com hérois, mas tal não aconteceu... antes pelo contrário.
26-
depois de atracarmos e sem ordens de sair do navio, depositamos as nossas atenções na TV, para ssabermos o que tinha contecido. Fomos surpreendidos pela participação de Rosa Coutinho, no Movimento revoltoso, pois ele tinha navegado connosco e era Comandante da Pereira da Silva - fragata irmã da Gago- logo sabia tudo sobre o navio (onde estavam as munições e logo onde deveria ser atacada.
27-
Na manhâ de 26 de Abril, o Comandante saiu do navio e na ponte o Imediato e o Oficial de serviço, prestaram-lhes Honras Militares...
[/b]
NOTA:
espero agora que me sejam colocadas questões para fazermos a continuação deste tema, fornecendo eu documentos sobre o Inquérito, as tomadas de posições os julgamentos, as mentiras e as consequências, etc...
A verdade do 25 de abril de l974
Enviado: Dom Mai 08, 2005 5:41 pm
por carsm1
Imagino como foi a guerra,entre comandante e imediato.Já vi uma.;Só que por motivo fútil.Briga de cachorro grande,como se falava no meu tempo de marinha .
E a moral da tripulação vendo isto?Abaixo de zero,acuada,pela gravidade da situação.
Nao tenho direito,como brasileiro,de me meter,nos seus assuntos,mas posso falar, que meu pai veio de Jancido e minha mae~, de Travanca,fugindo(praticamente)do regime,que caiu por terra no dia 25 de abril .Na época, eu tinha 22 anos,mas recordo perfeitamente,que o bom vinho portugues,¨rolou¨à vontade,na minha casa.
Enviado: Seg Mai 09, 2005 5:20 am
por P44
Amigo MPina
Permita-me que o Saúde, como um
LIBERTADOR DE PORTUGAL do jugo fascista, ao qual infelizmente tantos ainda recordam com "nostalgia"!!!

Enviado: Seg Mai 09, 2005 7:23 am
por Rui Elias Maltez
Amigo M-Pina:
Após a golpada do 16 de Março, nas Caldas da Rainha, golpe pouco preparado, por um grupo de Spinolistas e que foi fracasssado, porque não havia articulação com outras unidades militares, qual era o sentimento do militar comum nos quarteis?
De que o regime estava para cair, ou não se falava nisso?
Gostaria de conhecer o sentimento geral do pessoal da tropa, e no seu caso, da Marinha.
______________
Outra coisa:
Apesar de no 25 de Abril de 1974, a FAP e a Marinha estarem neutrais, o assalto à sede da PIDE foi efectuado por militares da Marinha.
Como foi isso?
Obrigado.
RESPOSTAS A QUESTÕES
Enviado: Seg Mai 09, 2005 2:52 pm
por mpina41
Agradeço a V/atenção para o assunto e acho curioso que me coloquem questões que eu não tinha sequer equacionado.
Por que quero manter esta tema sobre o mais rigoroso possível, respondo do seguinte modo:
1. Nas questões colocadas pelo Raul Neto as duas primeiras são muito bem colocadas e para ser rigoroso, vou colocar as questões ao Imediato Caldeira dos Santos, via mail a resposta dele será depois fornecida.
2. Quanto à terceira questão - dou-lhe os meus parabéns- acredita que nunca tinha pensado nela?
Eu sou por norma um "gajo de convicções" e quando acredito em algo vou para a frente sem medir as consequência, sou do tipo "só se morre uma vez!.
mas vou tentar ser rigoroso na resposta
Nós sentiamos que a revolução estava ganha. Só nós a podiamos fazer abortar!
Relembro que a GNR ainda não se tinha definido, esperando alguma acção que alterasse o estado das coisas
Deste modo era para nós uma situação em que estaríamos sempre do lado dos vencedores!
Se o golpe abortasse, teria sido por causa da Gago... logo a guarnição seria formada por hérois, somente o Imediato estaria em muitos maus lençois...
Como não actuamos rebeldemente falando, deveriamos ter sido considerados também hérois, mas a verdade é que alguém teve medo desta tomada de posição...
Para mim duas verdades levo para o túmulo... Ajudamos a salvar o 25 de Abril! E o Imediato Caldeira dos Santos foi directamente o salvador da revolução... pode doer a muitos ouvir isto, mas... ninguém o poderá negar! SEJA ELE QUEM FÔR.
Sabiam que este homem foi posteriormente condecorado! Mas... ninguém quis estar ligado à condecoração e assim ENVIARAM A CONDECORAÇÃO POR CORREIO!!! Quando no dia 10 de Junho até eunucos são condecorados.
Triste este país que assim trata quem o defende...