GUERRA DO PARAGUAI: Ações dos Corpos de Voluntários da Pátria

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GUERRA DO PARAGUAI: Ações dos Corpos de Voluntários da Pátria

#1 Mensagem por Poti » Ter Abr 21, 2020 3:53 pm

Prezados amigos,
li ultimamente bastante sobre relatos da guerra do Paraguai (Jourdan, Palleja, Dionísio Cerqueira, Taunay, Conde d'Eu, Osório, Centurión, Francisco Barbosa, Albuquerque Bello) assim como os livros do general Duarte e resolvi compartilhar com os amigos. Vou escrever aos poucos quando der tempo.
Os corpos de voluntários da pátria em combate

Com a invasão do Mato Grosso em dezembro de 1864 o Brasil se encontrou numa situação complicada. A constituição do Brasil impunha um limite para o tamanho do exército de cerca de 24000 homens. Ao mesmo tempo o exército era pequeno, muito pequeno. As fontes variam mas sempre estipulam que o exército imperial tinha de 14 a 18 mil homens. Destes, cerca de 10 000 (9900) estavam no sul participando da invasão do Uruguai de 1864 (a tomada de Paissandu a 2 de janeiro de 1865 foi o grande combate da invasão).O outros 4 a 8 mil homens estavam nas diferentes provinciais em posições burocráticas, de recrutamento, ensino, polícia e guarnecendo fortificações.
O Brasil ia fazer frente a um exército de cerca de 40 a 60 000 homens (se for preciso explicarei a razão de não crer nos 80 a 100 000 que encontramos em alguns locais).
Vários problemas jurídicos surgiram, a começar pela constituição. Em seguida, as guardas nacionais eram heteróclitas e dependiam muito de políticas locais nas províncias.
Só que havia um problema sério pois o Mato Grosso foi invadido e o Paraguai ameaçava atacar o Rio Grande do Sul para apoiar os blancos no Uruguai. Os 10 mil homens e a guarda nacional não seriam suficientes e era preciso com urgência enviar homens ao sul e Mato Grosso. No dia 7 de janeiro saiu o decreto que criava o arcabouço jurídico para que brasileiros fossem lutar sem necessariamente pertencer à guarda nacional ou ao exército, nasciam então os Corpos de Voluntários da Pátria. Vale ressaltar que tanto no RS quanto no Mato Grosso as unidades continuaram se chamando de guarda nacional já que foram convocadas antes de 7 de janeiro de 1865.
Cada província devia fornecer uma quantidade de homens previamente estipulada (baseada na quantidade de homens da guarda nacional, solteiros e não arrimos de família). Imediatamente em algumas cidades milhares de homens se portaram voluntários, notadamente no Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Na Bahia e no Rio de Janeiro (corte e província) foi preciso descartar muita gente já que não havia logística para fardar e armar tantas pessoas em tão pouco tempo. Outras províncias tiveram dificuldades em montar um corpo, por ter uma população pequena, estar distante da guerra, não haver apoio da presidência da província... A lista seria longa mas contingentes de todos os estados foram para a guerra. O General Duarte na sua coletânea sobre os CVP (corpos de Voluntários da P´tria) nos dá as estatísticas por província. Já na primeira leva de 1865 alguns homens foram levados à força, como em João Pessoa onde jovens que trabalhavam nas feiras foram levados à força. Enquanto isso em outras regiões como Ouricuri (PE) mais de 400 homens partiriam para a guerra. Em alguns textos a gente vê uma distinção entre corpos do Norte/nordeste e resto do país. Onde se diz que os corpos do norte/nordeste eram piores. Após ter lido os relatos dos combates de todos os corpos, devo dizer que houve bravura para todos os estados e creio que a distinção negativa veio do fato de que muitos corpos do norte/nordeste chegaram destruídos no sul.
Por exemplo, o primeiro corpo a sair de Belém do Pará sob comando de Albuquerque Belo com cerca de 600 homens chegou no sul do país com menos de 300. Grande parte morreu com uma epidemia de varíola surgida entre o Maranhão e Pernambuco. Os sobreviventes foram distribuídos em outros corpos. Gostaria de ressaltar que no desastre de Curupaiti, dos 40 brasileiros (de 9000) que subiram a trincheira e foram trucidados, havia homens do Pará, Bahia e Pernambuco. O segundo ponto explicativo para esta distinção a meu ver é que os batalhões que saíram mais cedo (principalmente da corte) saíram com um treinamento melhor, com proporção de oficiais do exército e um melhor esmero na questão logística. Até o fim da guerra o 1 CVP (que virou 23º) era considerado como equivalente aos batalhões de linha. Um dos primeiros corpos do Rio até foi de fato incorporado à linha e se tornou o 14º batalhão da guarda nacional do Rio de Janeiro.
Em 1864 um batalhão do exército era composto por 8 companhias de 100 homens. Os CVP por sua vez eram compostos na teoria por 8 companhias de 80 homens, cada companhia comandada por um capitão, tendo um tenente e dois alferes por companhia. A bandeira era portada em geral por um Alferes que tinha ao seu lado soldados de confiança. O comando ficando com um Major ou Tenente-Coronel que tinha um estado maior. O todo dava cerca de 700 homens mas muitos CVP saíram com cerca de 550.
O corpo de oficiais foi alvo de problemas já que muitos eram civis da guarda nacional sem o conhecimento necessário para treinar seus homens e comandar em tempos de guerra. As províncias nomeavam os comandantes e os oficiais, muitos deles gastando do próprio bolso para equipar seus homens. O coronel uruguaio Leon de Palleja descreve bem isso ao ver chegarem os CVP. Ele diz que muitos eram comandados por homens muito patriotas que vieram dos rincões do Brasil mas não tinham o conhecimento e a experiência para transformar aqueles homens em soldados.

Osório, que comandou o exército em 1865 até julho de 1866 (dias antes das batalhas de boqueirão/sauce) foi retirando os ineptos e inserido oficiais do exército. Alguns desses civis se cobriram de glória, como o médico, Dr. Pinheiro Guimarães que comandou de forma heróica o 4 CVP em Tuiuti (300 homens entraram em combate no pior setor, seguraram a linha em formação perdendo mais de 200 homens).
Vale contar um causo contado por Dionísio Cerqueira, em Montevideo chega um comandante de corpo da corte com uma carta do ministro da guerra destinado à Osório. A carta diz que ele deveria ter tratamento especial. Osório ao ler a carta, com seu bom humor de costume, diz que ele terá tratamento especial até pegar o próximo navio para o Rio de Janeiro.
Em suma, os corpos tinham muita heterogeneidade, tal qual o nosso país. Alguns eram compostos por homens que no fervor do momento desejavam lutar. Outros compostos por policiais jovens e voluntários (ou não) para a frente. Já outros corpos eram compostos por inimigos políticos, escravos libertos etc. Para ser mais preciso, é até possível dizer que muitos corpos eram compostos por uma mescla de todos esses casos. Existem muitas dissertações e teses de doutorado sobre as composições dos corpos, li várias e elas seguem nessas linhas.

São Borja, Bituí e flotilha do Uruguai, os primeiros combates

Quando o exército Paraguaio passou para a ofensiva com os mais de 20 000 homens de Robles descendo o rio Paraná e tomando Corrientes e 10-12000 de Estigarribia descendo pelo rio Uruguai. Estigarribia dividiu sua coluna com 7 mil homens entrando no território brasileiro por São Borja, o restante ficou do lado argentido do Rio Uruguai. O comando deste setor da fronteira estava nas mãos do já idoso David Canabarro que só tinha cavalaria da guarda nacional. O 1ºCVP (RJ) já tinha chegado no RS e ao mando de Menna Barreto teve um combate retardatório. Eles obrigaram os paraguaios a atravessar o rio, da argentina para o Brasil, com cautela o que deu tempo para os civis fugirem com seus pertences (e gado). Floriano Peixoto que comandava uma ala (4 companhias) fez uma carga a baioneta, a primeira da guerra, e fez os paraguaios recuarem neste fatídico início de junho de 1865. Floriano Peixoto comandou uma guerrilha no rio, onde atacava as canoas paraguaias que iam e viam entre a coluna de estigarribia no Brasil e a de Duarte na Argentina. Em Bituí a guarda nacional rio-grandense com o 1ºCVP atacaram a retaguarda de Estigarribia que “deu mole” e se desgarrou do grosso. Em seguida Estigarribia caiu na ratoeira de Uuruguaiana, onde não houve combate de grande vulto. E Jataí, na Argentina, Duarte foi destroçado, sem participação dos CVP.

Primeiro grande combate: ilha da redenção

Em abril de 1866 o primeiro corpo do exército estava, com os exércitos argentinos e uruguaios, na frente do Paraguai, disposto a invadir o país de Lopez. Havia um forte que era uma pedra no sapato da esquadra e limitava as opções de desembarque, era o forte de Itapirú. Osório mandou o corpo de engenheiros montar uma bateria de artilharia num banco de areia frente ao forte. A bateria foi construída e passou a trocar diariamente tiros com as baterias paraguaias. Segundo Paranhos eram 50 tiros por dia. A proteção da bateria ficou com parte do 14 de linha (rio de Janeiro) e com o 7ºCVP de São Paulo do tenente-Coronel Pacca, ao todo 900 homens de infantaria, engenharia e artilharia sob o comando de Villagrán Cabrita.

Às 4h30 da manhã, 200 canoas com 1200 homens atravessaram o rio Paraná e desembarcaram no banco de areia. Os piquetes avançados travaram luta corpo a corpo e o 14 de infantaria e o 7 CVP colocaram 1 ou 2 companhia cada um em atiradores (à frente da linha para fustigar os paraguaios). Estes após o recuo dos nossos piquetes (que lutaram bravamente) avançaram em ordem para tomar as trincheiras (fluminenses no flanco esquerdo brasileiro e paulistas no direito). Não se sabe bem de quem saiu a ordem, se de Cabrita ou do comandante do 14 de linha ou 7 CVP, o fato é que a corneta deu o toque de preparar as baionetas, em seguida deu toque de carga. Homens do 14 de linha e 7 CVP avançaram para matar a ferro frio e em ordem. Os paraguaios não sustentaram e viraram as costas e a matança começou, muitas vezes corpo a corpo. A marinha travou a possibilidade de retorno das canoas e muitos paraguaios não conseguiram fugir e morreram furados pelas baionetas ou afogados. Menos de 200 paraguaios de salvaram. Leon de Palleja no seu diário relata como todos festejaram a vitória, foi o primeiro grande feito dos CVP.
Rafael Wolter (Poti)




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Re: GUERRA DO PARAGUAI: Ações dos Corpos de Voluntários da Pátria

#2 Mensagem por Poti » Qui Mai 28, 2020 11:08 am

A combatividade dos corpos de voluntários: Tuyuti 1

No início havia uma grande desconfiança por parte do alto escalão de oficiais em relação aos voluntários da pátria (VP). O Coronel Albuquerque Bello (comandou um CVP de Ouro Preto) em seu diário descreve que notava que Osório não gostava dos VP. No livro sobre o brigadeiro Pinheiro Guimarães (comandou o 4° CVP do RJ e terminou comandando uma brigada) seu filho traz o ressentimento que seu pai tinha com o não reconhecimento por parte de Osório aos VP. Na mensagem anterior descrevi como Pacca liderou os paulistas na ilha da redenção, encontrei um jornal de 1866 onde Pacca retornava ao Brasil criticando onão reconhecimento de Osório pelo feito de seus homens.
Ao pisar no Paraguai Osório foi à frente das tropas e quase foi encurralado 2 km acima de Passo da Pátria. Ao ser questionado pelo governo por ter se arriscado, ele respondeu que comandava civis e tinha que dar o exemplo.
O fato é que ao pisar no Paraguai Osório não sabia se podia ou não confiar em parte do seu exército. Ele tinha razões para duvidar da capacidade desses homens, eram civis recém-chegados e comandados por civis. Osório se irritava pelo fato de que oficiais que deveriam instruir a tropa, precisavam ser instruídos. Leon Palleja que comandou o batalhão Flórida do exército oriental comenta que os VP eram compostos por milhares de patriotas, ele achava bonito a forma como esses civis, muitos oficiais das melhores famílias das provincias do Brasil, tinham ido até o Paraguai. Mas ele achava que patriotismo só não ganha guerra, era preciso transformar esses homens em soldados, pois ainda eram bisonhos.

Após os primeiros combates em Paso da Pátria e o combate de Estero Bellaco (a vanguarda de Flores foi atacada) os exércitos aliados acamparam no talvez único ponto seco da região, Tuiuti (lamaçal branco). O local era "seco" mas havia banhados por todos os lados. Uma floresta de palmeiras e o estero neembucu se situavam a leste, o Estero Bellaco sul (um banhado entre os rios Paraná e Paraguai) ficava a sul, o oeste era tomado pelo potreiro e lagoa pires e o norte pelo estero bellaco norte. Havia banhados em todos os pontos cardeais, a oeste e norte havia também uma densa mata onde os paraguaios construíram uma série de trincheiras (islã carapá, punta naró, boquerón...). Mais tarde construirimos nossa própria trincheira, a linha negra, mas isso é para outro dia. Se alguém desejar os mapas, tenho os do Jourdan, Whigham e outros.
Não narrarei aqui a batalha que foi descrita por muitos de seus participantes, contarei somente combates de alguns CVP. Considero que a segunda batalha de Tuiuti (novembro 1867) foi a batalha dos baianos pois três CVP dessa província lutaram feito diabos. A primeira batalha s, de 24 de maio de 1866, foi dos fluminense pois viu dois corpos fluminenses se encontrarem na pior posição possível. O ataque paraguaio foi extremamente forte à esquerda do centro (comandada por Diaz) e pela nossa retaguarda à extrema esquerda (comandada por Barrios). A aleatoriedade fez com que dois CVP do Rio ficassem em posições extremamente expostas, o 6 CVP comandado po rAgnelo Valente e o 4 comandado por Pinheiro Guimarães.
Quando o ataque à nossa centro-esquerda estava no auge, o Brigadeiro Sampaio que já havia feito as unidades de sua divisão encouraçada formarem linhas fez suas unidades retrocederem em ordem. Ele buscava evitar que sua divisão fosse cercada, ao mesmo tempo não podia deixar que os paraguaios desbaratassem sua divisão, se isso ocorresse a batalha seria perdida. Com calma e frieza ele motivava os diferentes batalhões, por vezes ordenava cargas para afastar um pouco os paraguaios enquanto recuavam. Mas a topografia do terreno fez com que fosse impossível que todos recuassem em linha, uma unidade a esquerda ficaria separada por um banhado. Era o 6º CVP de fluminenses sob comando de Valente. Dionísio Cerqueira relata com maestria o que viu, o ¨CVP recuava em linha e ordem, com o inimigo o seguindo. Por razões óbvias, é mais fácil avançar em ordem comparativamente a retroceder em ordem, o que fez com que minuto após minuto a distância entre os paraguaios e os fluminenses diminuía. Dionísio Cerqueira vê Valente se esticar em seu cavalo, durante 4-5 segundos, avaliando a situação, ele chama o corneteiro e diz algo. A corneta fez soar o toque que todos compreenderam, era a ordem para parar. Um segundo toque seguiu o primeiro, Valente mandou sua unidade avançar para entrar em choque com os paraguaios. Deu para ouvir o grito daqueles 500 homens que fizeram um grande UUUHAAAAAAA e gritaram viva o Brasil e o Imperador. E a massa azul começou a avançar, houve o toque para preparar as baionetas, o combate seria a ferro frio. As massas azuis e vermelhas se aproximavam, Agnelo fez aumentar a cadência das passadas e o temível choque ocorreu. Quanto tempo durou? 20 segundos? 2 minutos? É impossível dizer mas homens se furavam e os paraguaios viraram as costas e fugiram. Alguns brasileiros saiam da linha 10-20m perseguindo paraguaios e os furando por trás. Todos à direita uivavam e aplaudiam, o 6° CVP lutou e lutou bem.
Mais a sul o 4 CVP ficou em situação crítica, deve que fechar a retaguarda do acampamento. Netto com seus riograndenses (prefiro esse termo ao atual) fez uma defesa heróica do setor, talvez por ter sido farrapo isso tenha sido esquecido? Mas tanto Pinheiro Guimarães (do 4 CVP) quanto Palleja ressaltam que os homens de Netto foram para o abate, entenderam que era um ataque pela retaguarda e que Osório precisava de tempo para trazer as reservas e lutaram feito leões. O 4 CVP é uma unidade que estava ali e tomou o ataque da cavalaria paraguaia em cheio. Dizem (seu filho, o conde D’Eu, Dionísio Cerqueira) que era um dos melhores CVP, o fato é que formaram o quadrado extremamente rápido. A cavalaria de Netto com seus 200 cavalos atacou aquela massa 5 vezes mais numerosa. O 4 CVP conseguiu ir para um ponto mais protegido e fez frente a 3 batalhões paraguaios durante boa parte da batalha de Tuiuti. Em nenhum momento os cariocas enfraqueceram, ficaram em linha trocando tiro, carregaram a baioneta algumas vezes quando os paraguaios se aproximavam. No fim dos 400 homens, somente 120 estavam em estado de combater, dos 28 oficiais 26 estavam mortos ou feridos (inclusive o Pinheiro Guimarães). É um feito digno das melhores unidades do século 19, perder 75% de seus homens e continuar em linha combatendo sem enfraquecer. Osório foi brilhante em Tuiuti, usou as reservas com sabedoria e levou auxílio para o 4 CVP e o tirou da frente. Na segunda parte da batalha os brasileiros já jogaram os paraguaios para as matas, o acampamento estava salvo, o exército paraguaio destroçado.
Queria aqui contar como Albuquerque Bello comandou os mineiros ou até a batalha de Estero Bellaco mas a postagem ficaria longa e em geral nos interessamos mais por novas tecnologias que pela nossa história militar. Mas o fato é que Tuiuti foi o combate que deu confiança ao exército, seus voluntários lutavam com galhardia. A confiança do exército ficará abalada em curupaiti, mas não por causa da combatividade de seus homens e sim por uma desconfiança acerca da estratégia de guerra. Mas são outros 500.
Rafael Wolter (Poti)




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Re: GUERRA DO PARAGUAI: Ações dos Corpos de Voluntários da Pátria

#3 Mensagem por Túlio » Sáb Out 10, 2020 11:34 pm

Uns detalhes:

:arrow: O FDP do Netto era (e é) detestado por aqui (checar nos CTGs, tem no mundo todo, somos os tugas que não perderam OS TOMATES :twisted: ) por aproveitar a ausência do chefe (Bento Gonçalves, então preso no Rio) para transformar o que era o normal, Gaúcho matando Gaúcho pelas diferenças politiqueiras dos estancieiros, em uma guerra civil SEPARATISTA e ainda por cima REPUBLICANA, e logo onde todo mundo era MONARQUISTA e fiel a D. Pedro;

:arrow: Não vejo razão para fazer diferença entre GAÚCHO e RIOGRANDENSE: Gaúcho adora ser e dizer que é (eu mesmo), já "riograndense" ( [057] ) no máximo tolera ser chamado de MAXIXTX MIXÓGINX e por pouco tempo, depois rasga a calcinha e arrebenta a alça do sutiã. [003]

:arrow: Ainda sobre o viado do Netto, era uma baita guerreiro mas até o Felipe Neto (deve ser parente delx :mrgreen: ) saberia governar melhor do que ele. O véio Canabarro - e fez muita josta, incluindo o COVARDE massacre dos Lanceiros Negros - o botou na linha, mas já era tarde, viramos (até hoje) uns merdas de fujões.

OBRIGADO POR NADA, NETTO DE MERDA!


PS.: no aguardo da continuação do tópico, e com um detalhe meio divertido: como moro ao lado do Parque Osório, onde além de seus restos mortais há sua casa, a visitei e devo dizer que, com meus míseros 1,75m, teria que dormir dobrado na cama dele e sem esposa, o que ele tinha. Creio que era tampinha mas nem a pau que arrumaria briga com ele, era FODÃO o tigre véio... [003] [003] [003] [003]




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Re: GUERRA DO PARAGUAI: Ações dos Corpos de Voluntários da Pátria

#4 Mensagem por delmar » Dom Out 11, 2020 9:03 pm

Ao menos aqui, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, os corpos de voluntários eram formados só em pequena parte por voluntários. A maior parte dos integrantes eram recrutados nos presídios onde prometiam anistia para quem se alistasse, por redadas na zona de prostituição pegando peões desocupados e cafetões em geral, pelos escravos fugitivos encontrados e por fim qualquer individuo pobre e sem ocupação pego pela patrulha recrutadora. O mesmo ocorria na região espanhola do prata, com o recrutamento dos chamados "blandengues", muito bem narrado no poema épico Martim Fierro, onde o dito é recrutado desta maneira.




Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
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Re: GUERRA DO PARAGUAI: Ações dos Corpos de Voluntários da Pátria

#5 Mensagem por J.Ricardo » Ter Out 13, 2020 3:56 pm

Não conhecia a história dos Lanceiros Negros, o desfecho me lembrou o tratamento dado pela Argentina aos negros de seu país, foram praticamente dizimados sendo enviados para a Guerra do Paraguai praticamente sem preparo algum, foram bucha de canhão na guerra, enquanto os que ficaram em seu país, foram dizimados por pestes e doenças sem nenhum auxílio do governo...




Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
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Re: GUERRA DO PARAGUAI: Ações dos Corpos de Voluntários da Pátria

#6 Mensagem por Poti » Ter Out 13, 2020 7:44 pm

delmar escreveu: Dom Out 11, 2020 9:03 pm Ao menos aqui, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, os corpos de voluntários eram formados só em pequena parte por voluntários. A maior parte dos integrantes eram recrutados nos presídios onde prometiam anistia para quem se alistasse, por redadas na zona de prostituição pegando peões desocupados e cafetões em geral, pelos escravos fugitivos encontrados e por fim qualquer individuo pobre e sem ocupação pego pela patrulha recrutadora. O mesmo ocorria na região espanhola do prata, com o recrutamento dos chamados "blandengues", muito bem narrado no poema épico Martim Fierro, onde o dito é recrutado desta maneira.
Amigo, o RS teve pouquíssimos corpos de voluntários (creio que 2 ou 3) a maior parte dos riograndenses lutou nos corpos provisórios de cavalaria com recrutamento via a guarda nacional

Há muitos trabalhos acadêmicos sobre o recrutamento, de fato houve recrutamento obrigatório (como em toda guerra), muitos se voluntariaram (principalmente no início), escravos foram doados e outros (cerca de 50% do total) foram para o Paraguai via guarda nacional.

Meu tataravô por exemplo lutou e não entrava em nenhum desses casos, ele era policial em Niterói e foi enviado (como os policiais de Porto Alegre) com 500 outros que formaram o 12º corpo de voluntários da pátria. Infelizmente perdemos perdemos a medalha dele pela participação na batalha de Riachuelo.
Esse assunto de recrutamento é um dos mais estudados atualmente com várias teses e dissertações interessantes que mostram que nem era tão preto nem tão branco. Em suma, havia muitas formas de recrutamento.




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Re: GUERRA DO PARAGUAI: Ações dos Corpos de Voluntários da Pátria

#7 Mensagem por Poti » Ter Out 13, 2020 7:52 pm

Túlio escreveu: Sáb Out 10, 2020 11:34 pm
Uns detalhes:

:arrow: O FDP do Netto era (e é) detestado por aqui (checar nos CTGs, tem no mundo todo, somos os tugas que não perderam OS TOMATES :twisted: ) por aproveitar a ausência do chefe (Bento Gonçalves, então preso no Rio) para transformar o que era o normal, Gaúcho matando Gaúcho pelas diferenças politiqueiras dos estancieiros, em uma guerra civil SEPARATISTA e ainda por cima REPUBLICANA, e logo onde todo mundo era MONARQUISTA e fiel a D. Pedro;

:arrow: Não vejo razão para fazer diferença entre GAÚCHO e RIOGRANDENSE: Gaúcho adora ser e dizer que é (eu mesmo), já "riograndense" ( [057] ) no máximo tolera ser chamado de MAXIXTX MIXÓGINX e por pouco tempo, depois rasga a calcinha e arrebenta a alça do sutiã. [003]

:arrow: Ainda sobre o viado do Netto, era uma baita guerreiro mas até o Felipe Neto (deve ser parente delx :mrgreen: ) saberia governar melhor do que ele. O véio Canabarro - e fez muita josta, incluindo o COVARDE massacre dos Lanceiros Negros - o botou na linha, mas já era tarde, viramos (até hoje) uns merdas de fujões.

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PS.: no aguardo da continuação do tópico, e com um detalhe meio divertido: como moro ao lado do Parque Osório, onde além de seus restos mortais há sua casa, a visitei e devo dizer que, com meus míseros 1,75m, teria que dormir dobrado na cama dele e sem esposa, o que ele tinha. Creio que era tampinha mas nem a pau que arrumaria briga com ele, era FODÃO o tigre véio... [003] [003] [003] [003]
Interessante essa visão do Netto, achava que era idolatrado por essas bandas.
A participação dele na entrada do Brasil na guerra é ainda insuficientemente discutida. Netto vivia no Uruguai e era aliado aos colorados que se rebelaram contra os Blancos que governavam o país. Netto usou sua influência política no RS para que o governo imperial defendesse "estancieiros brasileiros que estavam sendo roubados e mortos no Uruguai". Essa parte nunca me convenceu totalmente e sempre me pareceu que brasileiros, como Netto, se meteram na guerra civil, logo também sofriam as consequências... O fato é que a influenciou foi marcante e um emissário foi enviado do Rio de Janeiro para Montevideo pedindo a cabeça do governo uruguaio que não cedeu às exigências.
Esse Netto parecia ser bem complicado. Seus homens não lutavam com a bandeira do Brasil e sim a farroupilha... Quando tiver tempo narrarei com mais detalhes o flanco esquerdo brasileiro em Tuiuti onde lutaram os homens de Netto e alguns batalhões de infantaria que foram dizimados (4 CVP, 6 CVP, 4 de infantaria...).




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Re: GUERRA DO PARAGUAI: Ações dos Corpos de Voluntários da Pátria

#8 Mensagem por Fab-Wan » Qua Out 14, 2020 10:11 am

Poti escreveu: Ter Out 13, 2020 7:52 pm Quando tiver tempo narrarei com mais detalhes o flanco esquerdo brasileiro em Tuiuti onde lutaram os homens de Netto e alguns batalhões de infantaria que foram dizimados (4 CVP, 6 CVP, 4 de infantaria...).
Aguardamos ansiosos! :D




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