O futuro dos blindados Urutú do Exército Brasileiro
Por Paulo Roberto Bastos Jr.
No final do ano passado, o Exército Brasileiro (EB) criou um grupo de trabalho (GT) para propor linhas de ação para a desativação e transformação dos veículos blindados 6X6 EE-11 Urutú (VBTP), da extinta ENGESA e um dos seus principais objectivos é a utilização de 229 unidades (de 14 versões diferentes) ainda a cargo, quer para utilização como viatura especializada dentro da Força, quer como viatura blindada de apoio às forças de segurança pública, como já referido. Polícia do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) e Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN).
Independentemente do destino que esses veículos seguem, eles devem passar por um processo de revitalização, padronização e modernização para que possam cumprir com eficiência suas novas missões, e o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), organização militar subordinada à Diretoria de Fabricação (DF) ), com a ajuda de empresas privadas brasileiras, tem todas as condições para tanto.
Um VBTP 6x6 EE-11 Urutú, da versão M6 e modificado para missões GLO, do 15º RCMec(Es) em 2018 (Foto: EB)
Um pouco de história pós 2010
Em 2010, por meio do contrato de objetivos logísticos firmado entre a AGSP e o Comando Logístico (COLOG), no âmbito do Projeto Fênix, foi revitalizado um veículo Urutú modelo M6, e iniciada a manutenção nos veículos mais antigos, modelo M2, que foram adicionados ao Projeto Fênix, com vários de seus subsistemas atualizados e modificados.
Nos modelos mais antigos, o subsistema pneumático teve a substituição de válvulas eletropneumáticas por pneumáticas e o subsistema elétrico, com dupla tensão de 12/24 volts, foi modificado para uma única tensão de 24 volts, tornando-os equivalentes aos utilizados em os modelos mais antigos, novos (M5 e M6), com um total de 35 viaturas revitalizadas, 17 em 2010 e 18 em 2012.
Em 2012, cinco veículos Urutú, modelo M6, foram repatriados do Haiti da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), anteriormente revitalizados e modernizados, para serem recuperados dentro do Projeto Fênix.
O VBTP EE-11 Urutú M2, modernizado por Colombo na AGSP, é usado para treinar agentes de segurança pública no 16º BLog, em 2020 (Foto: Soldado M. Silva)
Em 2013, após concurso público vencido pela empresa Universal – Importação, Exportação e Comércio LTDA, foi desenvolvido um novo projeto de modernização do VBTP Urutú, produzindo um protótipo de veículo baseado no Modelo M2, cujo escopo principal foi a instalação de um motor montagem, transmissão com unidades de controle eletrônico, sendo escolhidos a Cummins da série ISBe de 220 HP de potência e a transmissão Allison 3000SP, concorrendo por mudanças significativas nos sistemas conectados ao trem de força, além de modificações no sistema de transmissão. A modernização incluiu também a instalação de freios a disco, a instalação do sistema de enchimento de pneus, a instalação de ar condicionado, além das já mencionadas modificações dos subsistemas pneumáticos e de energia elétrica.
Ainda em 2013, foram produzidos quatro veículos Urutú Ambulância na AGSP, sendo três montados a partir do modelo m2 monobloco e um do modelo M7, sendo este último proveniente de um lote da versão argamassa adquirida. da Engesa. A abrangência dos serviços de montagem dessas versões se refletiu na padronização com a mecânica utilizada nos modelos M6.
Ainda em relação ao histórico dos veículos do modelo Urutú M2, em 2014, foram inseridos 17 veículos para uma modificação mais ampla, para aproximá-los do modelo M6, sendo os principais:
Substituição do motor Mercedes-Benz OM 352 A, de 156 CV, por um OM 366, de 172 CV.
Substituição do câmbio Mercedes-Benz G3-36, manual, por um Allison MT643, automático.
Substituição da caixa de transferência.
Modificação de subsistemas pneumáticos e elétricos.
Instalação do sistema de freio a disco.
Instalação de sistema de ar condicionado.
Instalação do sistema remoto de abertura e fechamento da porta traseira.
Instalação do para-brisa.
Instalação de cintos de segurança.
Já em 2015 houve uma nova concurrência pública, desta vez vencido pela Columbus International LTDA, para a modernização de um Urutú, modelo M2, mas com a proposta de desenvolver um novo sistema de powertrain, que garanta maior capacidade operacional e logística, além de apresentando novas soluções para trazer o veículo aos níveis atuais.
Entre as soluções realizadas neste protótipo, além do recondicionamento total do veículo, estão:
O Urutú modernizado por Colombo na AGSP, convertido em blindado policial, durante sua entrega em 2022 (Fotos: Hélio Higuchi e AGSP)
Substituição do motor Mercedes-Benz OM 352 A de 156 cv por um motor Cummins-Benz OM 352 A de 260 cv (mas limitado a 220 cv), o que faz o veículo atingir 110 km/h.
Substituição do câmbio Mercedes-Benz G3-36, manual, por Allison, Série 3000, eletrônico, seis marchas.
Adaptação da caixa de transferência ENGESA ao novo motor.
Sistema de freio a tambor aprimorado para discos em seis rodas.
Este protótipo foi avaliado pelo Centro de Avaliação do Exército (CAEx), no "Campo de Provas Marambaia/1948", em cooperação técnica, e está atualmente em operação pelo 16º Batalhão Logístico (16º Blog) “Batalhão Tenente- General Napion”, de Brasília (DF), e participou do treinamento de agentes penitenciários do DEPEN e membros da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP).
Já em 2020, houve um novo concurso, também vencido pela empresa Columbus, para a conversão de mais um veículo Urutú M2, utilizando as modificações utilizadas no protótipo anterior, mas convertido em veículo policial, para utilização em atividades de garantia da lei e ordem (GLO) e operações urbanas.
Vários novos implementos foram incluídos neste veículo, tais como:
Instalação de uma lâmina frontal para remoção de obstáculos ("limpadores de trilhos"), acionamento hidráulico.
Sistema de abertura de porta assistido por sistema pneumático.
Instalação de um moderno sistema gerador de ar comprimido para abrir portas e encher pneus automaticamente em caso de furo.
Instalação de sistema de ar condicionado.
As obras tiveram início em 23 de março de 2021 e o veículo foi entregue em fevereiro deste ano, onde aguarda a decisão do COLOG para sua unidade de destino no AGSP.
Conclusão
Com as entregas do VBTP 6X6 Guaraní para as unidades mecanizadas de Cavalaria do EB, o Urutú vem perdendo sua função principal, que é o transporte e apoio ao Grupo de Combate Mecanizado, o que resultará em sua desativação. No entanto, por ainda serem veículos eficientes e de fácil manutenção, se devidamente modernizados, podem continuar prestando um bom serviço, como é feito em vários exércitos ao redor do mundo, podendo ser utilizados como veículo especializado (como ambulância ). , comando e controle, etc.) dentro da Força.
No entanto, o Urutú, um dos marcos da indústria bélica brasileira, adquirido pelo EB, o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil e exportado para 11 países (e reexportado para quase uma dúzia), ainda pode ser mais útil nas forças de segurança pública do Brasil (desde que preparadas logisticamente), servindo como veículo tático policial para unidades especializadas.
Surgindo como uma opção de aquisição de baixo custo, com todo o seu ciclo de manutenção dominado no país, seja por iniciativas AGSP ou por soluções apresentadas por empresas nacionais, provavelmente veremos estes veículos icónicos, cujo projeto começou há mais de 50 anos, a operar em Brasil há muito tempo, mas com um "novo uniforme".
Observação
Pucará Defensa agradece al General de Brigada Tales Eduardo Areco Villela, Director de Manufactura del Ejército, al Arsenal de Guerra de São Paulo ya los ingenieros Odilon Lobo de Andrade Neto y Ricardo Furlan, de Columbus, por enviar la información técnica e histórica que hizo posible este artigo.
Fonte: Pucara Defense 30 mar 2022
