A História dos calçados militares.
Durante toda história os calçados foram mudando para atender a necessidade de seus usuários, seja essa necessidade para o mercado civil, ou para a clientela militar.
Para se ter uma ideia, a evolução dos calçados militares começou lá dos tempos antigos quando as tropas militares marchavam com seus escudos.
Um dos antigos calçados militares gregos. "Sim senhores, sandálias, naquela época com o uso de lutas corporais a necessidade de rapidez e mobilidade era grande, e também o uso das botas antigas feitas de pele de animais esquentava muito, não se existia a tecnologia necessária para fazer calçados leves e respiráveis"
Avançando um pouco na história, os calçados militares atuais começaram sua evolução a partir das botas de canos muito altos usadas pelos exércitos e senhores desde os anos 1670 até bem recentemente "2º Guerra Mundial"
Calçado usado na guerra civil americana.
Essas botas ofereciam grande proteção contra o clima, uma ótima proteção aos tornozelos, e dificilmente ficavam molhadas devido aos canos extremamente altos que chegavam próximo aos joelhos dos militares, em contra partida muitas vezes os canos ficavam soltos devido ao uso, o material na bota inteira era muito pouco maleável o que dificultava a movimentação natural das articulações dos pés e pernas.
O calçado assim continuou a ser utilizado sofrendo de poucas a nenhuma alteração ao longo dos anos, sendo usado por muitos exércitos que ainda se mantinham na visão clássica do uniforme militar.
Calçados militares usados na primeira guerra mundial
Muitas vezes os calçados eram cobertos por tecido da cor do uniforme para ajudar na camuflagem.
Como mostra a imagem de um homem trajado com uniforme militar americano de 1916 "Replica"
A partir daqui, muitas coisas foram sendo implementadas e foi se percebendo que os militares precisavam de um calçado mais leve,resistente e que permitisse uma boa mobilidade.
Os britânicos tiveram a ideia de pegar as botas que todo homem usava diariamente, e adicionar polainas que fossem resistentes o suficiente para aguentar as atividades militares.
Os americanos não ficaram para trás, e logo adotaram a mesma ideia, porém pesquisaram um calçado melhor e mais resistente para suas tropas especiais "PQDT's"
A seguir a foto da solução do boot normal com polainas dos americanos.
E a seguir imagem dos boots de salto.
De inicio se teve a ideia de que os marines deveriam utilizar os mesmos calçados que os paraquedistas, porém ao se observar os ambientes que os marines normalmente seriam empregados, preferiu-se manter o uso dos boots com polainas devido a mobilidade, pois correr com um boot todo de couro em areia de praia, subindo morros debaixo de tiro pesado se mostraria dificultoso.
Pós segunda guerra os marinheiros em okinawa já utilizavam o que se tornara o calçado padrão militar "Quem diria, eram os boots de salto"
Porém novamente a queixa da mobilidade fez os marines estudarem um calçado novo que pudesse garantir melhor a mobilidade de seus militares, que pudesse permitisse a transpiração e respiração do pé, esse se tornaria avô do atual design de calçados militares, pegando a ideia dos boots com polaina por cima, e fazendo a polaina o cano do calçado, e não apenas um acessório a se usar por cima
Conheçam o boot okinawa "Demorei alguns meses cavando por ai em fóruns militares para descobrir essa"
A partir dai, nos anos sub-sequentes e nos conflitos que ocorreram em terrenos que eram muito alagados, com muita incidência de selvas e terrenos trabalhosos, que as forças armadas americanas começaram a melhorar o design do boot okinawa e surgiu o Jungle boot, que estreou durante a guerra do Vietnam, e passaria a ser o design padrão da maioria dos boots militares no mundo todo.
A partir do design okinawa se percebeu a necessidade de utilizar um faixa de couro na cadarceira, e cadarços que corressem o cano inteiro, acabando com a necessidade de utilizar cintas nos calçados militares, acabando com custo e tornando menos dificultoso o processo.
Percebeu-se também a necessidade de uma faixa de sustentação nos tornozelos para garantir mais suporte para os tornozelos dos militares para diminuir o numero de torções, naquele momento foi uma boa mudança, porém mais a frente se perceberia que não foi suficiente.
Esse design continuou a ser utilizado mundo a fora, e foi utilizado também em áreas que um leigo não imaginaria seu uso, afinal o nome do calçado diz "Boot de selva"
Aqui imagens da guerra do golfo.
Jungle boot sendo utilizado tanto nas versões de cano de lona "Cordura" preta quanto na verde.
Já durante seu uso no deserto, que possui um solo de areia mais empedrada, que solta com maior facilidade sob os pés dos militares, se percebeu que os pequenos problemas do Jungle boot se tornaram maiores.
E então veio sua primeira grande revisão no design desde sua criação, que buscou sanar os seguintes problemas:
-A faixa sobre o tornozelo, não oferecia tanta proteção contra torções.
-Cor preta se destacava muito independente dos ambientes utilizados.
-O material refletia nos óculos de visão noturna.
-O solado precisava ser de um material que aguentasse melhor contaminantes como petróleo.
Com isso surgiu a versão Desert "Deserto" do jungle boot.
As mudanças foram:
-Solado adequado que resiste a contaminantes que podem corroer o material.
-A faixa sobre o tornozelo recebeu reforço.
-Uso de presilhas de amarração rápida.
-Nylon do cano reforçado para acolchoar melhor, e impedir a entrada de contaminantes, porém permite respiração normal do pé do usuário.
-Troca do material pelo camurça, que não reflete os óculos de visão noturna.
-Uso de uma cor neutra que pudesse camuflar bem com o ambiente.
Mais lá para frente se percebeu as seguintes coisas coisa:
-O pé devido as articulações do tornozelo possui 2 movimentos naturais.
O movimento interno, acontece quando o pé movimenta em direção a perna, fazemos isso em antecipação a pisada, para amortecer, fazendo o movimento natural de rolagem do tornozelo.
E o movimento externo, que é quando o pé movimenta-se para baixo fazendo durante a passada, o que faz com que a pessoa fique momentaneamente na ponta dos pés.
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Percebeu-se que os coturnos de selva permite o movimento de rolagem responsável por esses dois movimentos naturais ocorram, por que a parte de trás da perna ligeiramente acima do tornozelo esta livre sem o couro comprimindo, isso ocorre graças ao cano de nylon.
Porém percebeu-se que devido a forma que o jungle boot cobre os pés, isso permite que ocorra a entorse do tornozelo, algo que era muito difícil de ocorrer nos boots de salto.
"Nota a área contornada de vermelho e rabiscada representa a área livre, que permite que o tornozelo escape e cause a entorse. PS: não deu para colorir completamente por isso esta apenas rabiscado."
Aqui o que é a entorse.
Com isso o USMC começou novas pesquisas, sobre como unir a proteção dada aos pés, pelos boots de salto, que firmam bem o pé do usuário "impedindo que o pé fique livre dentro do calçado o que causaria : Hematoma nos dedos e unhas, levando a queda da unha. Bolhas e calos, levando muitos militares a ficarem com os pés ensanguentados e ardendo no fim de uma marcha muito longa."
E como manter a liberdade de movimento, leveza, capacidade de transpirar e de manter o calçado arejado que é do jungle boot.
Com isso por volta de 2005 o USMC oficializou esse estudo tornando o novo design resultante o military especification que é mantido até hoje.
Isso marcado em vermelho é a área exposta, que é apenas o suficiente para garantir total liberdade de movimento, leveza e transpiração, além de manter o calçado bem arejado, enquanto mantém o pé do usuário firme dentro do calçado impedindo a entorse, os hematomas, bolhas e calos.
Por: Ckrauslo