Comparações entre brasileiros, klingons, orcs e similares...
Enviado: Ter Out 28, 2014 7:20 pm
CINQÜENTA E UMA DIFERENÇAS ENTRE BRASILEIROS E RUSSOS.
Sasha Yakovleva (jornalista russa, crescida na Ucrânia e que vive no Brasil) - http://feijoadatchaikovsky.com.br - 12.06.13.
01) Reparei que no Brasil tem várias classes sociais. Classe média, classe baixa, classe alta, classe média baixa, classe média alta, classe média acima da média, classe de várias letras (a “C” é a mais famosa!) e por aí vai…. Na Rússia praticamente só tem uma classe. A maioria das pessoas, minha família inclusive, é classe média (o que aqui seria classe média-baixa). Lá também tem alguns ricos muitos ricos e pobres bem pobres, mas quase todo mundo é mais ou menos do mesmo nível social. No Brasil, os mais ricos parecem ser muito mais ricos que os riquíssimos russos. E os pobres brasileiros também parecem bem mais pobres do que os pobres na Rússia. O Brasil é muito desigual! E essa talvez seja a única coisa que realmente não gosto aqui.
02) A Rússia tem 10 milhões mulheres a mais do que homens. Como eu já falei, os homens morrem mais cedo devido ao álcool, acidentes e fumo. Justamente por isso, existe uma concorrência absurda entre mulheres para conseguir os homens que sobraram. Aquelas que não querem ‘as sobras’, procuram namorado/marido no exterior. Por causa dessa ‘desigualdade’ tão grande, algumas mulheres até têm mania de não confiar umas nas outras e não apresentar seus namorados/maridos para suas amigas solteiras. No Brasil, temos quase seis milhões mulheres a mais que homens e pelas minhas próprias percepções, posso dizer que a situação não chega ser tão desesperadora quanto na Rússia.
03) Percebi que no Brasil pouca gente tira o sapato quando entra na casa de alguém. Na Rússia, se você chamar 20 convidados para sua casa, todo mundo terá que tirar o sapato e colocar o tapochki, chinelinho feito para usar em casa. Normalmente os russos costumam ter vários pares de tapochki escondidos dentro do armário, para nenhum convidado ficar sem. Essa ‘tradição’ existe porque ter faxineira não é comum por lá. Muitas pessoas limpam a casa sozinhas e, por isso, não têm paciência de limpar a sujeira que vem da rua pelos pés dos outros.
04) Aqui no Brasil, eu vejo que muitas pessoas colocam nas árvores pedaços de frutas para os passarinhos comerem. Na Rússia, já que não tem tanta variedade de frutas, o que as pessoas penduram nas árvores para os pássaros comerem é… bacon!!! Acreditam nisso?
05) Russos vivem menos que os brasileiros. A expectativa de vida para homens no Brasil é mais ou menos 70 anos e para mulheres 76. Na Rússia, os homens vivem apenas 63 anos e mulheres raramente ultrapassam os 74. As razões que ajudam diminuir anos de vida no meu país são muito óbvias: bebida alcoólica e cigarro em excesso. Mesmo com a situação tão grave, o governo continua permitindo propaganda enganosa (na TV e nas revistas) que mostra pessoas bonitas e felizes fumando e bebendo.
06) Brasileiros sabem trabalhar em equipe e os russos, são mais individualistas. Observei isso pela quantidade de trabalho em grupo que estou fazendo na faculdade aqui no Brasil e também, pela importância de falar na entrevista de emprego sobre sua capacidade de trabalhar bem em equipe. Nos esportes é a mesma coisa. Os melhores jogadores de esportes de time (vôlei ou futebol) costumam ser brasileiros e os bons tenistas, nadadores, jogadores de xadrez na maioria das vezes são russos.
07) Tenho a impressão de que os brasileiros valorizam mais o amor romântico. Pelo menos é o que eu percebo conversando com minhas amigas de lá e daqui. No Brasil, a gente vive ouvindo: ‘o amor é essencial! Se você não gosta mais do cara, termine!’. Já na Rússia, minhas amigas, admitem que não amam os namorados. Dizem assim: ‘ah, eu me sinto segura ao lado dele’. Mas quando eu – brasileiramente – pergunto: ‘mas você o ama?’ elas ficam superconfusas, e eu chocada com o comodismo delas. Confesso que me identifico muito com os brasileiros, acredito no amor.
08) Percebi que aqui no Brasil tem muita gente tatuada. Tatuagem aqui tem a ver com estilo pessoal de cada um. Já na Rússia, tattoo é muito ligada a cultura das prisões. Ser tatuado lá muitas vezes significa ser ex-detento. Mesmo uma tatuagem bem fofinha pode ter uma interpretação ligada às prisões. O desenho de um gato com um laço, por exemplo, mostra que o cara é um prisioneiro experiente (passou várias vezes pela cadeia), já tatuar um tigre quer dizer que a pessoa tem ódio contra a polícia. Existe um código imenso e cada figura tem um sentido diferente. Pra não se arriscar a dizer o que não quer, a maioria dos russos evita tatuagens.
09) No Brasil, para chamar atenção de alguém na rua ou em restaurante, algumas pessoas fazem um barulho horrível – “psiu psiu”. Não tente repetir isso na Rússia, já que lá isso é um sinal de má educação e pode ser MUITO ofensivo mesmo (a ponto de gerar uma briga!). Os russos chamam os cachorros desse jeito, NUNCA as pessoas. Nem sei porque alguns brasileiros ainda usam essa tática extremamente deselegante.
10) O casamento russo também é MUITO diferente de um casamento brasileiro. Nós, russos, gostamos de festejar por dois dias (antigamente essa tradição se estendia por até uma semana) com vários jogos e brincadeiras organizadas pelo tamada (animador da festa). Percebi que num casório brasileiro, cada um se diverte por conta própria… O presente para os noivos na maioria das vezes, ou quase sempre, é dinheiro num envelope (e não é uma lista de presentes online como é aqui no Brasil). Uma vez, amiga minha me contou que depois da comemoração, ao invés de aproveitar a noite de núpcias ficou contando o dinheiro que ganhou dos convidados com o marido! Não consigo imaginar isso acontecendo no Brasil!
11) Russos amam gatos e os brasileiros preferem cachorros. Quase toda casa russa tem um gato, símbolo de aconchego e paz. O gato é tão admirado na Rússia que existe até uma tradição: na hora de se mudar para uma casa nova, você deixa um gatinho pisar no chão primeiro para ‘abençoar’ o lugar. Algumas pessoas que não têm gato e estão de mudança podem tranquilamente alugar um gato por algumas horas nas agências especializadas.
12) Brasileiro adora beijar e abraçar amigos e os estranhos também. Aprendi aqui este costume e, quando me apresentam alguém desconhecido, eu dou um beijo no rosto, e na hora de falar tchau – outro beijo (e às vezes abraço). Os russos não fazem isso. Amigas muito próximas até se cumprimentam com um beijo na bochecha de vez em quando, mas quem se conhece mais ou menos ou acabou de se conhecer, nunca. Alias, você jamais deve beijar o rosto do namorado da sua amiga! Uma vez, quando fui passear em Moscou, uma amiga me apresentou o namorado e eu “com meu jeito brasileiro” dei um beijo na bochecha dele. Ela ficou chocada com a minha “liberdade”. A justificativa que eu dei foi: “Desculpa… É que no Brasil isso é normal!” Ai, que chatice desses gringos, né?
13) No Brasil as pessoas com deficiência estão em todo lugar, nas escolas e nos mais diferentes empregos. Na Russa eu só vi cadeirante pedindo esmola. É que lá crianças que usam cadeira de rodas não pode frequentar as escolas regulares e adultos cadeirantes dificilmente têm permissão pra trabalhar. As coisas estão mudando por lá, tem muitos protestos sobre isso. Mas sinto que no Brasil a inclusão de pessoas com alguma deficiência é infinitamente maior. Na Rússia eles nem saem direito às ruas, têm pais que até são contra que crianças cadeirantes estudem com seus filhos ”normais”. Um absurdo! Foi aqui no Brasil que fiz, pela primeira vez, uma amiga cadeirante. É a Fabi, que trabalha comigo na GLOSS – e que me ensinou muita coisa sobre como é viver sob rodas.
14) Os russos são muito emocionais, os brasileiros não. Sei que a lenda diz bem o oposto, mas pelo que observo não é assim. Os russos não são frios e tranquilos como os brasileiros pensam. Pelo contrário, são muito emotivos, principalmente no que envolve emoções negativas. Eles choram, gritam, batem portas, quebram louças por qualquer motivo. Já os brasileiros, que tem fama de serem emocionais, eu penso que não são tanto assim. Brasileiro demonstra muita emoção boa (carinho, amor, saudade) mas reprimem as emoções ruins (raiva, revolta, ódio). Eu acho que os brasileiros são, na verdade, muito controlados emocionalmente. Nunca vi um brasileiro dar um piti histérico como um russo dá num restaurante porque o prato não veio como esperado.
15) Uma vez, no Brasil, recebi um buque de flores e ao contá-las tomei um susto. Era um número par! Na Rússia, duas, quatro ou oito flores você só entrega nos velórios. E uma quantidade ímpar, você leva aos aniversários, casamentos ou encontros românticos. Isso vem da antiga tradição russa de associar números par com tranquilidade, paz e morte e números ímpar com agitação, movimento e vida. Antigamente, na Rússia, também se colocava apenas duas flores nos túmulos de soldados. Uma para o falecido e outra para Deus. Essa tradição permaneceu até os dias modernos.
16) Algumas pessoas no Brasil são supersticiosas mas isso não é nada quando comparamos com os russos. Na Rússia, você não pode colocar chave ou dinheiro na mesa, jogar lixo fora depois do pôr do sol e andar com um sapato só dentro de casa. Não pode também cortar cabelo sozinho – alguém vai morrer -, não pode balançar o pé embaixo da mesa – isso atrai maldição -, e nem assobiar no ambiente fechado – significa que vai perder dinheiro. Ah, algumas pessoas russas também praticam a magia do dia a dia – simoron. A ideia é fazer pedidos para o universo através de rituais bobos, como, por exemplo, jogar calcinha vermelha no lustre.
17) Juro, a primeira vez que eu vi algo chamado ‘pizza doce’ foi no Brasil. Me surpreendi com a variedade de pizzas de chocolate, doce de leite e frutas. Quando morava na Rússia pensava que pizza era sempre uma comida salgada, mas estou vendo que no Brasil as pessoas gostam de inovar. Hoje, também acho que não existe melhor sobremesa do que uma fatia de pizza de chocolate com morango!
18) Na Rússia, todo mundo admira o tão criticado, no Brasil, Paulo Coelho. Lembro que uma vez a minha amiga russa falou que mencionou na entrevista de emprego que é fã do Paulo Coelho e isso foi o ponto positivo para ela ser contratada. Os russos, o consideram um filósofo de pensamentos profundos. Percebi que no Brasil já é meio vergonha admitir que você leu algum um livro dele.
19) Mulheres russas se vestem de uma maneira muito sexy (saias curtas, calças justíssimas, decotões, salto alto) não só para sair a noite, mas também para ir a faculdade ou ao trabalho. Isso na Rússia é considerado normal, até meio chique. No Brasil, eu percebi que também têm muitas mulheres que se vestem desse jeito, mas parece que o julgamento é bem maior. Uma mulher de vestido curtinho e salto alto aqui é chamada de piriguete. Acredito que os russos são mais tranquilos com isso, ninguém fica olhando ou comentando. Cada um cuida da sua vida, se veste do jeito que quiser. Já os brasileiros são meio hipócritas neste sentido.
20) Na Rússia TODOS os filmes que passam na TV ou no cinema são dublados. Eu fico impressionada com a habilidade dos brasileiros de assistir com toda a concentração do mundo o filme em uma língua estrangeira e, ao mesmo tempo, conseguir prestar atenção na legenda. Mesmo com minha experiência de quatro anos no Brasil, ainda não me acostumei com isso. Vivo perdendo o contexto porque ou eu leio os diálogos e perco as imagens ou presto atenção nas cenas, mas não sei o que eles estão falando.
21) Os russos (homens!) sempre pagam a conta, mesmo quando são só amigos das mulheres da mesa. Minhas amigas russas chamam isso de cavalheirismo, mas pra mim soa muito mais como machismo. Lá a mulher se oferecer para dividir é considerado uma ofensa pelo cara. Se ele propor rachar a conta, elas também acham absurdo. Inclusive existem restaurantes que entregam cardápio sem preço pras mulheres e com preço pros homens. Sei que no Brasil tem lugares que é meio assim. Mas com as pessoas que eu convivo aqui todas consideram super normal a mulher pagar sua própria comida. E eu também acho muito mais justo assim.
22) Brasileiros não são pontuais, nem um pouco. Percebo isso quando chamo alguém para uma festa. Muitos convidados furam e atrasam horrores. Na Rússia, isso não acontece. Se você confirmou a presença, você CONFIRMOU MESMO. Atraso de mais de 20 minutos pode magoar a pessoa que te convidou. Ah, e na Rússia, se você está esperando alguém na rua ou num café, cinco minutos também é um atraso, tá?
23) Acho muito curioso que os nomes brasileiros podem ser escritos de vários jeitos diferentes. Aqui conheci "Felipes" e "Fillippes", "Anas" e "Annas", "Veronicas" e "Veronykas"… Na Rússia, só existe uma versão para cada nome e seria impossível registrar seu filho de maneira diferente (substituindo ou acrescentando algumas letras).
24) Quando cheguei no Brasil me surpreendi com o quanto os insetos daqui são diferentes dos seus “irmãos” russos. A traça, não sabe voar, vive dentro de uma casca estranha e fica grudada na parede ou num livro. Já a barata brasileira é um monstro que voa! Na Rússia é ao contrário: a traça sabe voar e a barata (que é beem pequenininha) e só fica no chão. Quando eu era criança meu pai meu levou numa feira de bichos exóticos e lá eu conheci (e peguei!) numa baratona brasileira. E nem tive nojo, achei um bicho bem curioso. Hoje tenho pavor! Pavor!
25) Percebi que os brasileiros colocam cinto de segurança SEMPRE, mesmo quando a distancia é curta. Na Rússia, raramente vi alguém usando cinto. Uma vez, quando voltei a Rússia de férias, fui fazer uma viagem de mini-van de Moscou para uma outra cidade. Sentei do lado do motorista e logo coloquei o cinto. Mas ele mandou eu tirar na hora. Falou que se a polícia me visse de cinto, ia mandar parar a van achando que algo estava errado – não acreditando que alguém estaria sendo tão correto assim apenas por boa vontade.
26) Aqui no Brasil é muito difícil comprar uma arma de brinquedo. Parece que nenhuma loja de brinquedos pode vender. Mas dizem que é bem fácil comprar uma arma de VERDADE. Na Rússia é muito comum as crianças brincarem com armas bem parecidas com as reais. Só que é MUITO difícil um russo ter uma arma de verdade em casa, pois lá é proibido e ninguém consegue mesmo comprar.
27) Os brasileiros tratam animais domésticos como filhos. E existe um mercado gigante de roupinhas, chuquinhas, gravatinhas, sapatinhos… Na Rússia, tudo isso é bobagem. Animal continua sendo apenas um animal. Outra coisa que me surpreende aqui é que você pode entrar com cachorro em muitos lugares e até em shopping. Na Rússia você não entra com cachorro em lugar nenhum!
28) Nas feiras do Brasil, você pode apertar e até provar as frutas. Fico impressionada com a gentileza dos feirantes brasileiros que estão sempre oferecendo um pedaço. Na Rússia, tenho medo de ser xingada quando tento escolher alguma fruta como se faz aqui. A última vez que estive em Moscou a vendedora me mandou pegar o primeiro cacho de uva que estava na frente, ficou muito irritada porque eu estava escolhendo. Pode?
29) É bom ser aniversariante no Brasil! Você sai com seus amigos e cada um paga a própria conta. Ou você chama para comemorar em casa e pode falar pra cada um levar bebida. Na Rússia, o aniversariante PAGA TUDO, entrada para balada e a comanda de todos os convidados. Imagina o desespero de ver seus amigos pedindo os drinks mais chiques pra você pagar no final. Por outro lado, em troca, você recebe presentes caros lá, como joias e perfumes. Mesmo assim, eu acho sem graça e meio forçado. Prefiro o jeito brasileiro de dividir os custos da diversão.
30) Sempre que me vê pelo skype, minha mãe me diz que eu estou gorda. Tento explicar pra ela que, no Brasil, sou magra, muuuito magra (tenho 1,63 e 52kg). As mulheres que fazem mais sucesso aqui são do tipo “filé”, como vocês dizem. Mas na Rússia é ao contrário… Lembro uma vez que o namorado da minha irmã me mostrou numa revista masculina uma menina magrelíssima com costelas pra fora e falou: “Isso que é sexy!”. Acho que nenhum homem brasileiro falaria isso.
31) No Brasil tem rodizio de tudo, carne, pizza, comida japonesa – já vi até rodizio de escondidinho! Rodizio é uma coisa muito louca, você vai lá e COME, COME até passar mal. Eu já fui a vários! Na Rússia não existe isso. Lá tem uma coisa chamada buffet – um tipo de self-service em que você paga valor único – mesmo assim é muito raro de encontrar.
32) Brasileiro quando come algo quer dividir com todo mundo que está por perto. Já aconteceu de eu estar num ponto de ônibus e uma mulher abrir um chocolate e virar pra mim e oferecer. Eu fico espantada com isso! Quando é um biscoito que você pode tirar um do pacote até que tudo bem, mas uma maçã babada eu ACHO DEMAIS. Percebo que isso é mais um traço da “cordialidade” do brasileiro, mas às vezes é engraçado. Hoje em dia eu aprendi a oferecer também tudo o que estou comendo.
33) No Brasil, por causa dos impostos, os carros são muito caros. Mesmo assim, quase todo brasileiro FAZ DE TUDO para comprar um automóvel – ou mais de um, por família. Fico imaginando como seria se os carros fossem mais baratos aqui, como são na Rússia…
34) Brasileiro adora parcelar as dívidas. Compram coisas em muitas e muitas prestações. Na Rússia, quase não existe cartão de crédito. E quem tem, só pode comprar a vista com ele. Por isso as pessoas lá andam com pacotes imensos de dinheiro na bolsa. Minha mãe comprou um apartamento a vista – com malas de notas guardadas durante anos embaixo do colchão.
35) Para o brasileiro “FAMÍLIA é tudo”, e é bem assim que dizem. Mesmo quando a pessoa se casa – ou seja, forma uma nova família – ela continua considerando este “tudo” como o seu pai e a sua mãe. Isso é muito diferente dos russos. Fico impressionada com a quantidade de amigos brasileiros que eu vejo terminarem seus relacionamentos porque a família não aprovou o parceiro e se intrometeu.
36) No Brasil, os adultos se comportam meio como crianças quando estão perto dos pais. No início eu estranhava muito, parecia algo exagerado. A primeira vez que vi minha sogra chamando meu namorado de “filhote” (ele tem 30 anos!) e ele chamando o pai de “papai” levei um susto. Pensei: “nossa, mas ele parecia um cara tão maduro…”. Depois descobri que este CARINHO entre pais e filhos, no Brasil, é supernormal. E eu acabei me influenciando. Quando fui visitar a minha mãe a primeira vez, depois que já morava aqui, eu dei um abraço bem apertado nela. Ela se emocionou e disse que nunca tinha sido abraçada daquele jeito por ninguém.
37) Percebi que os brasileiros (as brasileiras, principalmente) adoram ir ao médico. Aqui no Brasil quem tem plano de saúde vai ao médico até sem estar doente. Nunca imaginei que existiria uma coisa chamada check-up. Mesmo a faxineira que vai lá em casa e que usa o SUS está sempre fazendo consultas e exames. Os russos não acreditam nos médicos, e com certa razão, já que muitos compraram seus diplomas.
38) O brasileiro pensa que mora no país mais CORRUPTO do mundo. Mas, na Rússia, acontecem coisas piores. Lá é comum um estudante universitário oferecer propina para o professor lhe dar uma nota alta. Eu estudo numa faculdade brasileira e ralo bastante e fico noites sem dormir para conseguir boas notas. Não imagino um aluno brasileiro tirando da carteira 100 reais para conseguir uma nota 10 na prova.
39) No Brasil, o chá preto é uma água colorida e sem gosto. Lá na Rússia, ele tem um sabor bem forte e delicioso. Os russos tem todo um ritual para tomar chá. Você convida as pessoas para sua casa, coloca na mesa um samovar (um bule de chá gigante de metal), xícaras lindas e docinhos. Para os brasileiros, tomar um chá é uma coisa qualquer.
40) No Brasil, “vamos tomar um café?” significa um convite para uma pausa no trabalho mesmo que ninguém tome um café. Na Rússia, nessa situação, todo mundo fala “vamos fumar?” mesmo que ninguém acenda um cigarro. Acho que o hábito de fumar é tão comum entre os russos quanto tomar um CAFEZINHO entre os brasileiros.
41) Quando me mudei pro Brasil comecei logo a planejar visitar todos os estados, mas quando sai pedindo dicas para os brasileiros, não deu muito certo. Conheci muitos brasileiros que já foram pra Argentina, Miami, Paris e até um que conheceu a Sibéria. Mas me parece que poucos conhecem os principais pontos turísticos do próprio país – que é cheio de lugares que são como o paraíso.
42) No Brasil, todo mundo se chama por apelido. Tenho três chefes: Silvinha, Rafa e Tati e jamais imaginaria chamá-los pelo nome completo. Isso aqui soaria até meio agressivo. Na Rússia, por questão de respeito e extrema hierarquia, é preciso dizer o nome da pessoa seguido pelo primeiro sobrenome (que é o nome do pai + o final ovna/evna, para mulher ou ovitch/evitch, pra homem). Sempre!
43) Suco e salada de frutas, no Brasil, são sempre naturais. Quando mudei pra cá eu ainda pedia “uma salada de frutas natural, por favor”. Até que me toquei de que não precisava falar a palavra “natural”. Na Rússia é importante destacar a palavra “natural” para não receber suco de caixinha e salada de frutas em CONSERVA (eca!).
44) O Brasil tem a maior parada gay do mundo. Na Rússia, a parada gay foi proibida por 100 anos (que número medieval é esse?). Em todas as grandes cidades do Brasil têm baladas gays conhecidas. Na Rússia, elas existem, mas são bem clandestinas, já que a repressão aos gays é muito forte no país. Um russo gay pode ter que se manter socialmente no armário a vida inteira – sob o risco de não arrumar emprego.
45) Violência contra a mulher existe na Rússia e existe no Brasil. Mas aqui tem a Lei "Maria da Penha" e uma maior consciência sobre a importância de proteger as mulheres contra a violência doméstica. Já na Rússia, não adianta nada uma mulher ligar para a polícia pra dizer que é espancada e ameaçada pelo marido. Isso simplesmente não é considerado crime lá.
46) No Brasil as pessoas dão abraço em qualquer um e por qualquer motivo. Semana passada teve um dia em que eu estava muito sensível (sou de peixes gente! rs) e comecei a chorar no elevador da minha faculdade. Uma mulher do meu lado, que eu não conheço, virou perguntando o que tinha acontecido. Respondi que não era nada e pensei que ela ia me ignorar como qualquer um na Rússia faria. Mas não, ela me abraçou muito forte e me desejou boa sorte. Outras vezes, quando sai chorando na rua (adoro!), no Brasil, sempre apareceu alguém perguntando como poderia me ajudar. Na Rússia, o povo normalmente finge que não vê.
47) Os brasileiros dizem constantemente “põe na conta”. Mesmo quando você não conhece o vendedor é normal ouvir dele um “depois você me paga” quando você não tem todo o valor de um produto na hora da compra. Amo como aqui as pessoas confiam uma nas outras!
48) Brasileiro ama contar que pagou baratinho por uma coisa que era caríssima. Na Rússia é o contrário – todo mundo gosta de gabar que pagou muito por algo qualquer! Acho bizarro, prefiro o jeito brasileiro.
49) No Brasil as pessoas ADORAM gato e cachorro vira-lata. Eu mesma aqui adotei dois gatos vira-latinhas. Na Rússia o destino de um gato ou cachorro sem raça é a rua. Lá as pessoas compram animais caros e na raça da moda. Não faz sentido para os russos adotar animais abandonados e sem grife.
50) O dinheiro no Brasil tem imagens de animais invés de líderes políticos. Fiquei encantada! Tem tartaruga, onça, peixinho garoupa, arara, beija flor, garça e até mico leão dourado!
51) Fio dental é considerado uma coisa típica do Brasil. Mas quando vim morar aqui descobri que, na verdade, as brasileiras usam calcinhas meio termo, nem grandes e nem minúsculas. Já na Rússia, com aquele frio todo, TODAS as garotas usam SÓ calcinha fio dental.
Sasha Yakovleva (jornalista russa, crescida na Ucrânia e que vive no Brasil) - http://feijoadatchaikovsky.com.br - 12.06.13.
01) Reparei que no Brasil tem várias classes sociais. Classe média, classe baixa, classe alta, classe média baixa, classe média alta, classe média acima da média, classe de várias letras (a “C” é a mais famosa!) e por aí vai…. Na Rússia praticamente só tem uma classe. A maioria das pessoas, minha família inclusive, é classe média (o que aqui seria classe média-baixa). Lá também tem alguns ricos muitos ricos e pobres bem pobres, mas quase todo mundo é mais ou menos do mesmo nível social. No Brasil, os mais ricos parecem ser muito mais ricos que os riquíssimos russos. E os pobres brasileiros também parecem bem mais pobres do que os pobres na Rússia. O Brasil é muito desigual! E essa talvez seja a única coisa que realmente não gosto aqui.
02) A Rússia tem 10 milhões mulheres a mais do que homens. Como eu já falei, os homens morrem mais cedo devido ao álcool, acidentes e fumo. Justamente por isso, existe uma concorrência absurda entre mulheres para conseguir os homens que sobraram. Aquelas que não querem ‘as sobras’, procuram namorado/marido no exterior. Por causa dessa ‘desigualdade’ tão grande, algumas mulheres até têm mania de não confiar umas nas outras e não apresentar seus namorados/maridos para suas amigas solteiras. No Brasil, temos quase seis milhões mulheres a mais que homens e pelas minhas próprias percepções, posso dizer que a situação não chega ser tão desesperadora quanto na Rússia.
03) Percebi que no Brasil pouca gente tira o sapato quando entra na casa de alguém. Na Rússia, se você chamar 20 convidados para sua casa, todo mundo terá que tirar o sapato e colocar o tapochki, chinelinho feito para usar em casa. Normalmente os russos costumam ter vários pares de tapochki escondidos dentro do armário, para nenhum convidado ficar sem. Essa ‘tradição’ existe porque ter faxineira não é comum por lá. Muitas pessoas limpam a casa sozinhas e, por isso, não têm paciência de limpar a sujeira que vem da rua pelos pés dos outros.
04) Aqui no Brasil, eu vejo que muitas pessoas colocam nas árvores pedaços de frutas para os passarinhos comerem. Na Rússia, já que não tem tanta variedade de frutas, o que as pessoas penduram nas árvores para os pássaros comerem é… bacon!!! Acreditam nisso?
05) Russos vivem menos que os brasileiros. A expectativa de vida para homens no Brasil é mais ou menos 70 anos e para mulheres 76. Na Rússia, os homens vivem apenas 63 anos e mulheres raramente ultrapassam os 74. As razões que ajudam diminuir anos de vida no meu país são muito óbvias: bebida alcoólica e cigarro em excesso. Mesmo com a situação tão grave, o governo continua permitindo propaganda enganosa (na TV e nas revistas) que mostra pessoas bonitas e felizes fumando e bebendo.
06) Brasileiros sabem trabalhar em equipe e os russos, são mais individualistas. Observei isso pela quantidade de trabalho em grupo que estou fazendo na faculdade aqui no Brasil e também, pela importância de falar na entrevista de emprego sobre sua capacidade de trabalhar bem em equipe. Nos esportes é a mesma coisa. Os melhores jogadores de esportes de time (vôlei ou futebol) costumam ser brasileiros e os bons tenistas, nadadores, jogadores de xadrez na maioria das vezes são russos.
07) Tenho a impressão de que os brasileiros valorizam mais o amor romântico. Pelo menos é o que eu percebo conversando com minhas amigas de lá e daqui. No Brasil, a gente vive ouvindo: ‘o amor é essencial! Se você não gosta mais do cara, termine!’. Já na Rússia, minhas amigas, admitem que não amam os namorados. Dizem assim: ‘ah, eu me sinto segura ao lado dele’. Mas quando eu – brasileiramente – pergunto: ‘mas você o ama?’ elas ficam superconfusas, e eu chocada com o comodismo delas. Confesso que me identifico muito com os brasileiros, acredito no amor.
08) Percebi que aqui no Brasil tem muita gente tatuada. Tatuagem aqui tem a ver com estilo pessoal de cada um. Já na Rússia, tattoo é muito ligada a cultura das prisões. Ser tatuado lá muitas vezes significa ser ex-detento. Mesmo uma tatuagem bem fofinha pode ter uma interpretação ligada às prisões. O desenho de um gato com um laço, por exemplo, mostra que o cara é um prisioneiro experiente (passou várias vezes pela cadeia), já tatuar um tigre quer dizer que a pessoa tem ódio contra a polícia. Existe um código imenso e cada figura tem um sentido diferente. Pra não se arriscar a dizer o que não quer, a maioria dos russos evita tatuagens.
09) No Brasil, para chamar atenção de alguém na rua ou em restaurante, algumas pessoas fazem um barulho horrível – “psiu psiu”. Não tente repetir isso na Rússia, já que lá isso é um sinal de má educação e pode ser MUITO ofensivo mesmo (a ponto de gerar uma briga!). Os russos chamam os cachorros desse jeito, NUNCA as pessoas. Nem sei porque alguns brasileiros ainda usam essa tática extremamente deselegante.
10) O casamento russo também é MUITO diferente de um casamento brasileiro. Nós, russos, gostamos de festejar por dois dias (antigamente essa tradição se estendia por até uma semana) com vários jogos e brincadeiras organizadas pelo tamada (animador da festa). Percebi que num casório brasileiro, cada um se diverte por conta própria… O presente para os noivos na maioria das vezes, ou quase sempre, é dinheiro num envelope (e não é uma lista de presentes online como é aqui no Brasil). Uma vez, amiga minha me contou que depois da comemoração, ao invés de aproveitar a noite de núpcias ficou contando o dinheiro que ganhou dos convidados com o marido! Não consigo imaginar isso acontecendo no Brasil!
11) Russos amam gatos e os brasileiros preferem cachorros. Quase toda casa russa tem um gato, símbolo de aconchego e paz. O gato é tão admirado na Rússia que existe até uma tradição: na hora de se mudar para uma casa nova, você deixa um gatinho pisar no chão primeiro para ‘abençoar’ o lugar. Algumas pessoas que não têm gato e estão de mudança podem tranquilamente alugar um gato por algumas horas nas agências especializadas.
12) Brasileiro adora beijar e abraçar amigos e os estranhos também. Aprendi aqui este costume e, quando me apresentam alguém desconhecido, eu dou um beijo no rosto, e na hora de falar tchau – outro beijo (e às vezes abraço). Os russos não fazem isso. Amigas muito próximas até se cumprimentam com um beijo na bochecha de vez em quando, mas quem se conhece mais ou menos ou acabou de se conhecer, nunca. Alias, você jamais deve beijar o rosto do namorado da sua amiga! Uma vez, quando fui passear em Moscou, uma amiga me apresentou o namorado e eu “com meu jeito brasileiro” dei um beijo na bochecha dele. Ela ficou chocada com a minha “liberdade”. A justificativa que eu dei foi: “Desculpa… É que no Brasil isso é normal!” Ai, que chatice desses gringos, né?
13) No Brasil as pessoas com deficiência estão em todo lugar, nas escolas e nos mais diferentes empregos. Na Russa eu só vi cadeirante pedindo esmola. É que lá crianças que usam cadeira de rodas não pode frequentar as escolas regulares e adultos cadeirantes dificilmente têm permissão pra trabalhar. As coisas estão mudando por lá, tem muitos protestos sobre isso. Mas sinto que no Brasil a inclusão de pessoas com alguma deficiência é infinitamente maior. Na Rússia eles nem saem direito às ruas, têm pais que até são contra que crianças cadeirantes estudem com seus filhos ”normais”. Um absurdo! Foi aqui no Brasil que fiz, pela primeira vez, uma amiga cadeirante. É a Fabi, que trabalha comigo na GLOSS – e que me ensinou muita coisa sobre como é viver sob rodas.
14) Os russos são muito emocionais, os brasileiros não. Sei que a lenda diz bem o oposto, mas pelo que observo não é assim. Os russos não são frios e tranquilos como os brasileiros pensam. Pelo contrário, são muito emotivos, principalmente no que envolve emoções negativas. Eles choram, gritam, batem portas, quebram louças por qualquer motivo. Já os brasileiros, que tem fama de serem emocionais, eu penso que não são tanto assim. Brasileiro demonstra muita emoção boa (carinho, amor, saudade) mas reprimem as emoções ruins (raiva, revolta, ódio). Eu acho que os brasileiros são, na verdade, muito controlados emocionalmente. Nunca vi um brasileiro dar um piti histérico como um russo dá num restaurante porque o prato não veio como esperado.
15) Uma vez, no Brasil, recebi um buque de flores e ao contá-las tomei um susto. Era um número par! Na Rússia, duas, quatro ou oito flores você só entrega nos velórios. E uma quantidade ímpar, você leva aos aniversários, casamentos ou encontros românticos. Isso vem da antiga tradição russa de associar números par com tranquilidade, paz e morte e números ímpar com agitação, movimento e vida. Antigamente, na Rússia, também se colocava apenas duas flores nos túmulos de soldados. Uma para o falecido e outra para Deus. Essa tradição permaneceu até os dias modernos.
16) Algumas pessoas no Brasil são supersticiosas mas isso não é nada quando comparamos com os russos. Na Rússia, você não pode colocar chave ou dinheiro na mesa, jogar lixo fora depois do pôr do sol e andar com um sapato só dentro de casa. Não pode também cortar cabelo sozinho – alguém vai morrer -, não pode balançar o pé embaixo da mesa – isso atrai maldição -, e nem assobiar no ambiente fechado – significa que vai perder dinheiro. Ah, algumas pessoas russas também praticam a magia do dia a dia – simoron. A ideia é fazer pedidos para o universo através de rituais bobos, como, por exemplo, jogar calcinha vermelha no lustre.
17) Juro, a primeira vez que eu vi algo chamado ‘pizza doce’ foi no Brasil. Me surpreendi com a variedade de pizzas de chocolate, doce de leite e frutas. Quando morava na Rússia pensava que pizza era sempre uma comida salgada, mas estou vendo que no Brasil as pessoas gostam de inovar. Hoje, também acho que não existe melhor sobremesa do que uma fatia de pizza de chocolate com morango!
18) Na Rússia, todo mundo admira o tão criticado, no Brasil, Paulo Coelho. Lembro que uma vez a minha amiga russa falou que mencionou na entrevista de emprego que é fã do Paulo Coelho e isso foi o ponto positivo para ela ser contratada. Os russos, o consideram um filósofo de pensamentos profundos. Percebi que no Brasil já é meio vergonha admitir que você leu algum um livro dele.
19) Mulheres russas se vestem de uma maneira muito sexy (saias curtas, calças justíssimas, decotões, salto alto) não só para sair a noite, mas também para ir a faculdade ou ao trabalho. Isso na Rússia é considerado normal, até meio chique. No Brasil, eu percebi que também têm muitas mulheres que se vestem desse jeito, mas parece que o julgamento é bem maior. Uma mulher de vestido curtinho e salto alto aqui é chamada de piriguete. Acredito que os russos são mais tranquilos com isso, ninguém fica olhando ou comentando. Cada um cuida da sua vida, se veste do jeito que quiser. Já os brasileiros são meio hipócritas neste sentido.
20) Na Rússia TODOS os filmes que passam na TV ou no cinema são dublados. Eu fico impressionada com a habilidade dos brasileiros de assistir com toda a concentração do mundo o filme em uma língua estrangeira e, ao mesmo tempo, conseguir prestar atenção na legenda. Mesmo com minha experiência de quatro anos no Brasil, ainda não me acostumei com isso. Vivo perdendo o contexto porque ou eu leio os diálogos e perco as imagens ou presto atenção nas cenas, mas não sei o que eles estão falando.
21) Os russos (homens!) sempre pagam a conta, mesmo quando são só amigos das mulheres da mesa. Minhas amigas russas chamam isso de cavalheirismo, mas pra mim soa muito mais como machismo. Lá a mulher se oferecer para dividir é considerado uma ofensa pelo cara. Se ele propor rachar a conta, elas também acham absurdo. Inclusive existem restaurantes que entregam cardápio sem preço pras mulheres e com preço pros homens. Sei que no Brasil tem lugares que é meio assim. Mas com as pessoas que eu convivo aqui todas consideram super normal a mulher pagar sua própria comida. E eu também acho muito mais justo assim.
22) Brasileiros não são pontuais, nem um pouco. Percebo isso quando chamo alguém para uma festa. Muitos convidados furam e atrasam horrores. Na Rússia, isso não acontece. Se você confirmou a presença, você CONFIRMOU MESMO. Atraso de mais de 20 minutos pode magoar a pessoa que te convidou. Ah, e na Rússia, se você está esperando alguém na rua ou num café, cinco minutos também é um atraso, tá?
23) Acho muito curioso que os nomes brasileiros podem ser escritos de vários jeitos diferentes. Aqui conheci "Felipes" e "Fillippes", "Anas" e "Annas", "Veronicas" e "Veronykas"… Na Rússia, só existe uma versão para cada nome e seria impossível registrar seu filho de maneira diferente (substituindo ou acrescentando algumas letras).
24) Quando cheguei no Brasil me surpreendi com o quanto os insetos daqui são diferentes dos seus “irmãos” russos. A traça, não sabe voar, vive dentro de uma casca estranha e fica grudada na parede ou num livro. Já a barata brasileira é um monstro que voa! Na Rússia é ao contrário: a traça sabe voar e a barata (que é beem pequenininha) e só fica no chão. Quando eu era criança meu pai meu levou numa feira de bichos exóticos e lá eu conheci (e peguei!) numa baratona brasileira. E nem tive nojo, achei um bicho bem curioso. Hoje tenho pavor! Pavor!
25) Percebi que os brasileiros colocam cinto de segurança SEMPRE, mesmo quando a distancia é curta. Na Rússia, raramente vi alguém usando cinto. Uma vez, quando voltei a Rússia de férias, fui fazer uma viagem de mini-van de Moscou para uma outra cidade. Sentei do lado do motorista e logo coloquei o cinto. Mas ele mandou eu tirar na hora. Falou que se a polícia me visse de cinto, ia mandar parar a van achando que algo estava errado – não acreditando que alguém estaria sendo tão correto assim apenas por boa vontade.
26) Aqui no Brasil é muito difícil comprar uma arma de brinquedo. Parece que nenhuma loja de brinquedos pode vender. Mas dizem que é bem fácil comprar uma arma de VERDADE. Na Rússia é muito comum as crianças brincarem com armas bem parecidas com as reais. Só que é MUITO difícil um russo ter uma arma de verdade em casa, pois lá é proibido e ninguém consegue mesmo comprar.
27) Os brasileiros tratam animais domésticos como filhos. E existe um mercado gigante de roupinhas, chuquinhas, gravatinhas, sapatinhos… Na Rússia, tudo isso é bobagem. Animal continua sendo apenas um animal. Outra coisa que me surpreende aqui é que você pode entrar com cachorro em muitos lugares e até em shopping. Na Rússia você não entra com cachorro em lugar nenhum!
28) Nas feiras do Brasil, você pode apertar e até provar as frutas. Fico impressionada com a gentileza dos feirantes brasileiros que estão sempre oferecendo um pedaço. Na Rússia, tenho medo de ser xingada quando tento escolher alguma fruta como se faz aqui. A última vez que estive em Moscou a vendedora me mandou pegar o primeiro cacho de uva que estava na frente, ficou muito irritada porque eu estava escolhendo. Pode?
29) É bom ser aniversariante no Brasil! Você sai com seus amigos e cada um paga a própria conta. Ou você chama para comemorar em casa e pode falar pra cada um levar bebida. Na Rússia, o aniversariante PAGA TUDO, entrada para balada e a comanda de todos os convidados. Imagina o desespero de ver seus amigos pedindo os drinks mais chiques pra você pagar no final. Por outro lado, em troca, você recebe presentes caros lá, como joias e perfumes. Mesmo assim, eu acho sem graça e meio forçado. Prefiro o jeito brasileiro de dividir os custos da diversão.
30) Sempre que me vê pelo skype, minha mãe me diz que eu estou gorda. Tento explicar pra ela que, no Brasil, sou magra, muuuito magra (tenho 1,63 e 52kg). As mulheres que fazem mais sucesso aqui são do tipo “filé”, como vocês dizem. Mas na Rússia é ao contrário… Lembro uma vez que o namorado da minha irmã me mostrou numa revista masculina uma menina magrelíssima com costelas pra fora e falou: “Isso que é sexy!”. Acho que nenhum homem brasileiro falaria isso.
31) No Brasil tem rodizio de tudo, carne, pizza, comida japonesa – já vi até rodizio de escondidinho! Rodizio é uma coisa muito louca, você vai lá e COME, COME até passar mal. Eu já fui a vários! Na Rússia não existe isso. Lá tem uma coisa chamada buffet – um tipo de self-service em que você paga valor único – mesmo assim é muito raro de encontrar.
32) Brasileiro quando come algo quer dividir com todo mundo que está por perto. Já aconteceu de eu estar num ponto de ônibus e uma mulher abrir um chocolate e virar pra mim e oferecer. Eu fico espantada com isso! Quando é um biscoito que você pode tirar um do pacote até que tudo bem, mas uma maçã babada eu ACHO DEMAIS. Percebo que isso é mais um traço da “cordialidade” do brasileiro, mas às vezes é engraçado. Hoje em dia eu aprendi a oferecer também tudo o que estou comendo.
33) No Brasil, por causa dos impostos, os carros são muito caros. Mesmo assim, quase todo brasileiro FAZ DE TUDO para comprar um automóvel – ou mais de um, por família. Fico imaginando como seria se os carros fossem mais baratos aqui, como são na Rússia…
34) Brasileiro adora parcelar as dívidas. Compram coisas em muitas e muitas prestações. Na Rússia, quase não existe cartão de crédito. E quem tem, só pode comprar a vista com ele. Por isso as pessoas lá andam com pacotes imensos de dinheiro na bolsa. Minha mãe comprou um apartamento a vista – com malas de notas guardadas durante anos embaixo do colchão.
35) Para o brasileiro “FAMÍLIA é tudo”, e é bem assim que dizem. Mesmo quando a pessoa se casa – ou seja, forma uma nova família – ela continua considerando este “tudo” como o seu pai e a sua mãe. Isso é muito diferente dos russos. Fico impressionada com a quantidade de amigos brasileiros que eu vejo terminarem seus relacionamentos porque a família não aprovou o parceiro e se intrometeu.
36) No Brasil, os adultos se comportam meio como crianças quando estão perto dos pais. No início eu estranhava muito, parecia algo exagerado. A primeira vez que vi minha sogra chamando meu namorado de “filhote” (ele tem 30 anos!) e ele chamando o pai de “papai” levei um susto. Pensei: “nossa, mas ele parecia um cara tão maduro…”. Depois descobri que este CARINHO entre pais e filhos, no Brasil, é supernormal. E eu acabei me influenciando. Quando fui visitar a minha mãe a primeira vez, depois que já morava aqui, eu dei um abraço bem apertado nela. Ela se emocionou e disse que nunca tinha sido abraçada daquele jeito por ninguém.
37) Percebi que os brasileiros (as brasileiras, principalmente) adoram ir ao médico. Aqui no Brasil quem tem plano de saúde vai ao médico até sem estar doente. Nunca imaginei que existiria uma coisa chamada check-up. Mesmo a faxineira que vai lá em casa e que usa o SUS está sempre fazendo consultas e exames. Os russos não acreditam nos médicos, e com certa razão, já que muitos compraram seus diplomas.
38) O brasileiro pensa que mora no país mais CORRUPTO do mundo. Mas, na Rússia, acontecem coisas piores. Lá é comum um estudante universitário oferecer propina para o professor lhe dar uma nota alta. Eu estudo numa faculdade brasileira e ralo bastante e fico noites sem dormir para conseguir boas notas. Não imagino um aluno brasileiro tirando da carteira 100 reais para conseguir uma nota 10 na prova.
39) No Brasil, o chá preto é uma água colorida e sem gosto. Lá na Rússia, ele tem um sabor bem forte e delicioso. Os russos tem todo um ritual para tomar chá. Você convida as pessoas para sua casa, coloca na mesa um samovar (um bule de chá gigante de metal), xícaras lindas e docinhos. Para os brasileiros, tomar um chá é uma coisa qualquer.
40) No Brasil, “vamos tomar um café?” significa um convite para uma pausa no trabalho mesmo que ninguém tome um café. Na Rússia, nessa situação, todo mundo fala “vamos fumar?” mesmo que ninguém acenda um cigarro. Acho que o hábito de fumar é tão comum entre os russos quanto tomar um CAFEZINHO entre os brasileiros.
41) Quando me mudei pro Brasil comecei logo a planejar visitar todos os estados, mas quando sai pedindo dicas para os brasileiros, não deu muito certo. Conheci muitos brasileiros que já foram pra Argentina, Miami, Paris e até um que conheceu a Sibéria. Mas me parece que poucos conhecem os principais pontos turísticos do próprio país – que é cheio de lugares que são como o paraíso.
42) No Brasil, todo mundo se chama por apelido. Tenho três chefes: Silvinha, Rafa e Tati e jamais imaginaria chamá-los pelo nome completo. Isso aqui soaria até meio agressivo. Na Rússia, por questão de respeito e extrema hierarquia, é preciso dizer o nome da pessoa seguido pelo primeiro sobrenome (que é o nome do pai + o final ovna/evna, para mulher ou ovitch/evitch, pra homem). Sempre!
43) Suco e salada de frutas, no Brasil, são sempre naturais. Quando mudei pra cá eu ainda pedia “uma salada de frutas natural, por favor”. Até que me toquei de que não precisava falar a palavra “natural”. Na Rússia é importante destacar a palavra “natural” para não receber suco de caixinha e salada de frutas em CONSERVA (eca!).
44) O Brasil tem a maior parada gay do mundo. Na Rússia, a parada gay foi proibida por 100 anos (que número medieval é esse?). Em todas as grandes cidades do Brasil têm baladas gays conhecidas. Na Rússia, elas existem, mas são bem clandestinas, já que a repressão aos gays é muito forte no país. Um russo gay pode ter que se manter socialmente no armário a vida inteira – sob o risco de não arrumar emprego.
45) Violência contra a mulher existe na Rússia e existe no Brasil. Mas aqui tem a Lei "Maria da Penha" e uma maior consciência sobre a importância de proteger as mulheres contra a violência doméstica. Já na Rússia, não adianta nada uma mulher ligar para a polícia pra dizer que é espancada e ameaçada pelo marido. Isso simplesmente não é considerado crime lá.
46) No Brasil as pessoas dão abraço em qualquer um e por qualquer motivo. Semana passada teve um dia em que eu estava muito sensível (sou de peixes gente! rs) e comecei a chorar no elevador da minha faculdade. Uma mulher do meu lado, que eu não conheço, virou perguntando o que tinha acontecido. Respondi que não era nada e pensei que ela ia me ignorar como qualquer um na Rússia faria. Mas não, ela me abraçou muito forte e me desejou boa sorte. Outras vezes, quando sai chorando na rua (adoro!), no Brasil, sempre apareceu alguém perguntando como poderia me ajudar. Na Rússia, o povo normalmente finge que não vê.
47) Os brasileiros dizem constantemente “põe na conta”. Mesmo quando você não conhece o vendedor é normal ouvir dele um “depois você me paga” quando você não tem todo o valor de um produto na hora da compra. Amo como aqui as pessoas confiam uma nas outras!
48) Brasileiro ama contar que pagou baratinho por uma coisa que era caríssima. Na Rússia é o contrário – todo mundo gosta de gabar que pagou muito por algo qualquer! Acho bizarro, prefiro o jeito brasileiro.
49) No Brasil as pessoas ADORAM gato e cachorro vira-lata. Eu mesma aqui adotei dois gatos vira-latinhas. Na Rússia o destino de um gato ou cachorro sem raça é a rua. Lá as pessoas compram animais caros e na raça da moda. Não faz sentido para os russos adotar animais abandonados e sem grife.
50) O dinheiro no Brasil tem imagens de animais invés de líderes políticos. Fiquei encantada! Tem tartaruga, onça, peixinho garoupa, arara, beija flor, garça e até mico leão dourado!
51) Fio dental é considerado uma coisa típica do Brasil. Mas quando vim morar aqui descobri que, na verdade, as brasileiras usam calcinhas meio termo, nem grandes e nem minúsculas. Já na Rússia, com aquele frio todo, TODAS as garotas usam SÓ calcinha fio dental.