SSBNS - A PROLIFERAÇÃO NO PACÍFICO

Assuntos em discussão: Marinha do Brasil e marinhas estrangeiras, forças de superfície e submarinas, aviação naval e tecnologia naval.

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
jambockrs
Sênior
Sênior
Mensagens: 2617
Registrado em: Sex Jun 10, 2005 1:45 am
Localização: Porto Alegre/RS
Agradeceram: 180 vezes

SSBNS - A PROLIFERAÇÃO NO PACÍFICO

#1 Mensagem por jambockrs » Qui Ago 21, 2014 9:50 pm

Meus prezados:
SSBNS - A PROLIFERAÇÃO NO PACÍFICO
Tornou-se lugar comum lamentar a corrida armamentista que acontece na região da Ásia-Pacífico.
Por Peter Dombrowski - The Interpreter
Tradução, adaptação e edição - Nicholle Murmel

A Modernização Militar da China ao longo dos últimos 20 anos ajudou a exacerbar as tensões políticas e preocupações no Japão, Índia, Estados Unidos e Rússia. A busca contínua da Coreia do Norte por armas nucleares e sistemas de lançamento de mísseis também mantém a atmosfera exaltada no nordeste da asiático. O subcontinente indiano abriga duas potências atômicas que já travaram quatro guerras nos últimos 65 anos. Muitos países das regiões litorâneas da Ásia adotaram programas sérios de reaparelhamento, e estrategistas vêem por toda a região a proliferação de todo tipo de mísseis - sistemas anti-acesso, aeorespaciais e plataformas navais, entre outros.

NOTA - Siglas usadas para identificar os tipos de submarinos.

SSBN - Ship Submersible Ballistic missile Nuclear powered - Submarino nuclear lançador de mísseis balísticos
SSGN - Ship Submersible Guided missile Nuclear powered - Submarino Nuclear Lançador de Mísseis de Cruzeiro.
SSN - Ship Submersible Nuclear Powered Attack - Submarino de ataque propulsão nuclear
SSK - Ship Submersible Convetional Powered Attack - Submarino de ataque propulsão convencional

Mas os programas regionais de modernização, especialmente o desenvolvimento de submarinos - de propulsão nuclear ou convencionais - com armas atômicas representam uma preocupação em particular.

China e Índia estão comprometidas com a produção de sistemas de lançamento e armas com maior alcance, precisão e componentes que as tornem mais letais e, assim, mais ameaçadoras para potenciais adversários. Enquanto isso, o Paquistão busca um programa para adquirir de Pequim submarinos mais capazes. Por enquanto, outras nações não se manifestaram contra a aspiração paquistanesa relativamente distante de ter submarinos armados com mísseis balísticos, mas alguns analistas sugerem que um míssil de cruzeiro com carga útil atômica é uma possibilidade bastante real. E dado o histórico do Paquistão em proliferação atômica ao longo das últimas décadas, esse temor é bem plausível.

Com exceção talvez dos Estados Unidos, outras potências fora da região indo-pacífica - por exemplo a Rússia - também se engajaram fortemente em modernização estratégica. Não esqueçamos que Moscou é uma potência na região por conta de sua Frota do Pacífico, equipada com a nova classe Borei de SSBNs, que vêm armados com mísseis Bulava. Bem ou mal, Washington está investindo em pesquisa e desenvolvimento preliminar de um submarino substituto para a classe Ohio - atualmente o braço naval da tríade atômica americana. A atualização estratégica dos EUA não é um catalizador na dinâmica regional do Pacífico, mas enquanto o país atua como pivô na Ásia, a capacidade do seu arsenal atômico e convencional permanece importante

A proliferação de SSBNs na região da Ásia-Pacífico pode ser resumida na seguinte tabela:
Imagem

Este artigo breve não pretende fazer um levantamento das rivalidades regionais. Uma análise completa precisaria de um olhar mais próximo a todas as dimensões do poder militar e do impacto das forças americanas na área. Mas uma leitura rápida da tabela acima permite observar uma região que pode em breve ser tomada por uma corrida armamentista a todo vapor.
Os prognósticos de estabilidade e paz a longo prazo - leia-se estabilidade estratégica, redução das crises e menos brechas para acidentes e falhas de entendimento que levem a conflitos - dependem, em parte, de agir antes cedo do que tarde para frear desdobramentos que possam causar instabilidade.
No momento, programas regionais de desenvolvimento e aquisição de SSBNs não são tão avançados, e o número de plataformas e armamentos não é tão grande que as medidas adequadas não possam evitar uma corrida bélica.

O número crescente de submarinos com mísseis balísticos pode até preservar a dissuasão mútua e, assim, a estabilidade. Contudo, mais navios do tipo nas já abarrotadas do Pacífico podem dar mais brechas para acidentes, acasos ou mal-entendidos.

Acidentes com submarinos não são novidade: a tragédia nacional de um navio e tripulação perdidos pode rapidamente se tornar uma crise regional ou mesmo global caso o reator ou as armas nucleares apresentem problemas.
Operações com esse tipo de embarcação em águas movimentadas tabém aumentam a possibilidade de que um país entre em crise com outro, com resultados imprevisíveis.
As tecnologias ainda em desenvolvimento para comando e controle, além de inteligência, vigilância e reconhecimento, ainda têm um longo caminho a percorrer - basta lembrar do quanto os EUA e a União Soviética demoraram para desenvolver seus respectivos sistemas.

Indo além, poucos comentam acerca do desafio de garantir a confiabilidade política e profissional das tripulações. Ainda que potências nucleares consolidadas atualmente não dêem tanto peso à confiabilidade do pessoal envolvido, esse elemento foi crucial em um passado não muito distante.
E os SSBNs e mísseis balísticos não são o único aspecto preocupante da guerra submarina e da questão nuclear - frotas de superfície, medidas de minagem e contraminagem e guerra antissubmarina também elevam o risco de incidentes no mar, e o potencial para uma crise atômica.
Analistas renomados estão apreensivos com a possibilidade de a próxima etapa da corrida armamentista na Ásia-Pacífico envolver ainda mais sumbarinos armados com mísseis de cruzeiros lançados do mar.
Três vezes “não”
Caso os atores regionais - não apenas os países buscando adquirir SSBNs, mas outros agentes de interesse - desacelerem o desenvolvimento e compra de armamentos, estabilizando a corrida de dissuasão marítima, deverão entender a situação como ela é. Uma corrida armamentista nuclear no Pacífico:
- Não é uma questão apenas local ou regional.
- Não é apenas uma questão militar.
- Não é assunto apenas das Marinhas de Guerra.

Uma escalada armamentista no mar é um problema global com implicações de longo alcance em termos de proliferação nuclear, modernização de armamentos convencionais, e das possibilidades de controle sobre esses armamentos.
A simples existência desses sistemas torna mais possível que um certo “tabu atômico” seja quebrado. Uma disputa submarina é algo profundamente político, pois afeta rivalidades geopolíticas entre grandes potências locais, isso sem mencionar estruturas de aliança e padrões regionais de governância.

Para todas as forças militares na área, essa corrida nuclear não é assunto só das Marinhas: SSBNs têm repercussões grandes e pequenas em operações conjuntas e combinadas, e apagam fronteiras importantes entre sistemas convencionais e nucleares.
É preocupante que haja, no geral, um progresso assimétrico entre o desenvolvimento de sistemas de armas e o de protocolos de controle e comando (C2), segurança internacional ISR), treinamento e prontidão, e de uma doutrina necessária para empregar mecanismos de dissuasão marítima de forma segura e confiável.

Apesar de uma postura mais prudente por parte da Índia, China e outros atores regionais ser capaz de aliviar a ansiedade, pode não ser o bastante para aqueles que priorizam a estabilidade regional.
No fim das contas, ainda que seja fora de moda advogar em favor do controle de armamentos, especialmente de componentes navais, estrategistas e políticos precisam ter em mente as palavras de Thomas Schelling, e Morton Halpering no livro Strategy and Arms Control, de 1961: “o atributo essencial do controle de armamentos é a percepção do interesse comum, da chance de reciprocidade e cooperação mesmo entre inimigos potenciais sob o ponto de vista militar”.
Fonte: Defesanet 21 de Agosto, 2014 - 14:00 ( Brasília )




Um abraço e até mais...
Cláudio Severino da Silva
claudioseverinodasilva41@gmail.com
Responder