Me parece extremamente arriscada a possibilidade de que a OMS realmente declare este surto de Ebola como ameaça mundial e imponha aos países afetados da África restrições que afetem a sua já frágil economia. Tudo o que não se precisa agora é de países inteiros sofrendo com um surto descontrolado de uma doença terrível como esta por absoluta falta de condições econômicas para combatê-la. Duvido muitíssimo que no caso da epidemia se espalhar descontroladamente nestas nações, com dezenas ou centenas de milhares de doentes, ela possa ser contida dentro de suas fronteiras por qualquer método além da cauterização dos territórios afetados com bombas nucleares .OMS pode declarar Ebola ameaça sanitária mundial
Jamil Chade – Correspondente estadão - 05 Agosto 2014
Só epidemia de pólio e gripe A receberam o mesmo tratamento; grupo de especialistas se reúne para tentar conter a proliferação.
GENEBRA - A Organização Mundial da Saúde (OMS) pode declarar o surto do vírus Ebola “ameaça sanitária internacional”, o que implicaria medidas de controle e restrições de viagem, além de verificações em aeroportos. A partir desta quarta-feira, 6, 15 especialistas de todo o mundo se reúnem em caráter de emergência para determinar até que ponto a proliferação no Oeste da África é um risco para a comunidade internacional e vão estudar medidas para freá-la.
Se o grupo de cientistas considerar que existe esse risco, as medidas serão anunciadas nesta sexta-feira, 8. Mas os governos no Oeste da África já se organizam para tentar impedir que haja uma declaração de restrição de viagens. Para países já fragilizados poderia representar colapso econômico. A OMS indica que 1,6 mil pessoas já foram afetadas pelo maior surto da doença, com 887 mortos.
Até hoje, apenas a epidemia de pólio e a gripe A foram alvo de uma declaração de emergência sanitária mundial. No ano passado, a OMS reuniu os especialistas em quatro ocasiões para avaliar a situação do coronavírus no Oriente Médio. Mas em nenhum momento chegou à conclusão de que seria uma emergência mundial.
Mesmo sem as medidas da OMS, o impacto já é real. Para a Guiné, país mais atingido, o Ebola deve reduzir a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,5% para 3,5% em 2014. Isso se a doença for freada. O comércio entre os países da região despencou e, no campo, agricultores estão abandonando as regiões mais afetadas pelo vírus.
Nesta terça-feira, 5, a British Airways anunciou que estava interrompendo voos para a Libéria e Serra Leoa pelo menos até o dia 31. O motivo seria “a situação de saúde pública”. “A segurança de nossos clientes, pilotos e funcionários é sempre nossa prioridade”, declarou. No domingo, a Emirates havia cancelado os voos para a região. Mineradoras como a London Mining e a African Minerals já retiraram da região parte dos funcionários e impuseram restrições de movimentos aos que ficaram. O valor das ações das duas empresas caiu em 60% desde janeiro.
Esperança. Diante de um cenário considerado como de “alto risco”, a esperança é o tratamento que está sendo dado a dois americanos infectados pelo vírus do Ebola. Ele receberam remédios experimentais que nem haviam sido aprovados para a aplicação em seres humanos. Mas os resultados são “positivos”. O ebola não tem cura e mata entre 50% e 70% dos infectados. Mas um produto desenvolvido com base na planta de tabaco poderia ser a solução.
A empresa Mapp Biopharmaceutical Inc. de um pequeno laboratório em San Diego com nove funcionários, havia testado o remédio ZMapp apenas em macacos. Mas, em uma tentativa de salvar dois americanos, o uso do produto foi autorizado. O primeiro paciente foi o médico Kent Brantly, contaminado na Libéria e transferido para os Estados Unidos. Nancy Writebol, uma enfermeira, também viveu a mesma situação.
Não existe uma comprovação ainda de que seja o tratamento que tenha salvo os dois americanos. Mas a esperança é de que o remédio possa pelo menos retardar o avanço do vírus que, em alguns casos, pode matar em questão de horas.
O caso, porém, tem levantado um debate sobre a ética de se utilizar um remédio sem aprovação das agências de regulação. Entre a comunidade científica, muitos ainda questionam também se não seria o caso de usar justamente em populações na África, as mais afetadas pela doença.
Uma vacina começará a ser testada em setembro. Mas só estaria à disposição no mercado no fim de 2015.
E isso sem falar na possibilidade do surgimento de variedades mutantes do vírus, com características que facilitem sua transmissão caso a população de vírus existente dentro de organismos humanos fique muito grande. Imagine uma ebola transmitida como a gripe ou a dengue .
Leandro G. Card