Poesia e literatura

Área para discussão de Assuntos Gerais e off-topics.

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
cassiosemasas
Sênior
Sênior
Mensagens: 2700
Registrado em: Qui Set 24, 2009 10:28 am
Agradeceram: 86 vezes

Re: Poesia e literatura

#16 Mensagem por cassiosemasas » Seg Abr 28, 2014 7:38 pm

rodrigo escreveu:Navio Negreiro - Castro Alves - Declamado por Paulo Autran

depois de ouvir me lembrei desse aqui!!! com fragmentos musicado.
Navio Negreiro.




...
Rodrigoiano
Sênior
Sênior
Mensagens: 3804
Registrado em: Qua Dez 03, 2008 12:34 am
Localização: Goiânia-GO
Agradeceram: 84 vezes

Re: Poesia e literatura

#17 Mensagem por Rodrigoiano » Ter Abr 29, 2014 1:19 am

Em homenagem às mães, que daqui a dois domingos comemoram seu dia (que na verdade é todo dia!)!

====================

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Carlos Drummond de Andrade




Rodrigoiano
Sênior
Sênior
Mensagens: 3804
Registrado em: Qua Dez 03, 2008 12:34 am
Localização: Goiânia-GO
Agradeceram: 84 vezes

Re: Poesia e literatura

#18 Mensagem por Rodrigoiano » Ter Abr 29, 2014 1:20 am

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas


Carlos Drummond de Andrade




Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#19 Mensagem por P44 » Seg Dez 10, 2018 8:18 am

Sweep away the letters lying by the door
Hide away those reoccurring tears once more
Everythings is silent, her room is void and sound
With every passing hour, time is letting her down

Telephone fragments lay scattered on the floor
No words to make it better
She's heard it all before

Staring in the mirror
At beauty come and gone
Bewildered and broken
She fades away alone

Left her burdened with years of sorrow
She'll take it to the grave
And lay the sadness to rest
Don't leave her flowers
Just leave her alone
She needs to find the answers
Far away from home

Don't stand in bitter judgment
At the truth she won't untie
Don't tell her not to suffer
Don't tell her not to cry

There's no absolution
As the blood still taints her hair
The scars might be invisible
But the wounds are still there

Left her burdened with years of misery
She'll take it to the grave
And lay the heartache to rest
Don't seek forgiveness
Just leave her to mend
She needs to find the answers
She needs to find the end

Along you came searching
Slowly rooting in her soul
Regained a sense of feeling
And the gift to make her whole

But she's giving in to shadows
As she draws the final line
Follow her into darkness
And embrace her till the end of time

Left her burdened with years of agony
She'll take it to the grave
And lay her fears to rest
Don't leave her stranded
But just leave her be
In time you'll know the answers
For she is me

She is me

(Lorelei- Leave Me)
(Heike Langhans)




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#20 Mensagem por P44 » Qua Dez 12, 2018 5:16 pm

Ghost
Lorelei

No reflection in the mirror
Or shadows on the wall
Have you seen me lately?
Can you see me at all?

This presence ever fading
As I drift to the shores
But I am not here
No,I'm not here anymore

Can you feel me in the distance
Calling you in
Well Here is my ending
And there, I begin
I'm never quite awake
And asleep I cannot stay
I'm coming ever closer
without you..

I am lost
I am a ghost
Whom I haunt
I cherish the most
There is no reason to feel alone
Where you rest your head is where I call home
Where is my home
I am a ghost
(Together we become paralyzed, we shun the world until the hurt dies)

Will you hear my haunting voice,
When you're standing in the rain
Will you feel me in your tears
When you let go of the pain
Will you keep me in your heart,
When you're tearing down the walls
Will you find me in the dark,
When you're afraid to lose it all

Without you I'm lost
I am a ghost
If I cannot I haunt
I suffer the most
There is no reason to feel alive
If I cannot hurt or bleed or die
Where is my home
I'm just a ghost
(Together we become paralyzed, we shun the world until the hurt dies)

Waking up the demons that you hide,
I'll never let you keep it all inside
So Pull me in and never let me go,
I'll sleep forever in your heart of woe
No need to fear another waking day
In blissful slumber we will slip away
Together we become paralyzed,
we shun the world until the hurt dies

ghosts don't cry...




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#21 Mensagem por P44 » Seg Jan 07, 2019 4:25 pm

Estou cansado, pá
Cansado e parado por dentro
Sem vontade de escolher um rumo
Sem vontade de fugir
Sem vontade de ficar
Parei por dentro de mim
Olho à volta e desconheço o sítio
As pessoas, a fala, os movimentos
A tristeza perfilada por horários
Este odor miserável que nos envolve
Como se nada acontecesse
E tudo corresse nos eixos.
Estou cansado destes filhos da puta que vejo passar
Idiotas convencidos
Que um dia um voto lançou pela TV
E se acham a desempenhar uma tarefa magnífica.
Com requinte de filhos da puta
Sabem justificar a corrupção
O deserto das ideias
Os projectos avulso para coisa nenhuma
A sua gentil reforma e as regalias
Esses idiotas que se sentam frente-a-frente no ecrã
À hora do jantar para vomitar
O escabeche de um bolo de palavras sem sentido
Filhos da puta porque se eternizam
Se levam a sério
E nos esmigalham o crânio com as suas banalidades:
O sôtor, vai-me desculpar
O que eu quero é mandá-los cagar
Para um campo de refugiados qualquer
Vê-los de Marlboro entre os dedos a passear o esqueleto
Entre os esqueletos
Naquela mistura de cheiros e cólicas que sufoca
Apenas e só -- sufoca.

Estou cansado
Cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente
Com ferrete
Obediente
Obediente.

Estou cansado de viver neste mesmo pequeno país que devoram
Escudados pelas desculpas mais miseráveis
Este charco bafiento onde eles pastam
Gordos que engordam
Ricos que amealham sem parar
Idiotas que gritam
Paneleiros que se agitam de dedo no ar
Filhos da puta a dar a dar
Enquanto dá a teta da vaca do Estado
Nada sabem de história
Nada sabem porque nada lêem além
Da primeira página da Bola
O Notícias a correr
E o Expresso, porque sim!
Nada sabem das ideias do homem
Da democracia
Atenas e Roma
Os Tribunos e as portas abertas
E a ética e o diálogo que inventaram o governo do povo pelo povo
Apenas guardam o circo e amansam as feras
Dão de comer à família até à diarreia
Aceitam a absolvição
E lavam as manápulas na água benta da convivência sã
Desde que todos se sustentem na sustentação do sistema
Contratualizem (oh neologismo) o gado miúdo
Enfatizem o discurso da culpa alheia
Pela esquizofrenia politicamente correcta:
Quando gritam, até parece que se levam a sério
Mas ao fundo, na sacristia de São Bento
O guião escrito é seguido pelas sombras vigentes.

Estou cansado
Cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente
Com ferrete
Obediente
Obediente.

Estou farto de abrir a porta de casa e nada estoirar como na televisão
Não era lá longe, era aqui mesmo
Barricadas, armas, pedradas, convulsão
Nada, não há nada
Os borregos, as ovelhas e os cabrões seguem no carreiro
Cmo se nada lhes tocasse -- e não toca
A não ser quando o cinto aperta
Mas em vez da guerra
Fazem contas para manter a fachada:
Ah carneirada, vossos mandantes conhecem-vos pela coragem e pela devoção na gritaria do futebol a três cores
Pelas vitórias morais de quem voa baixinho
E assume discursos inflamados sem tutano.

Estou cansado
Cansado da rotina
Desta mentira que é a vida
Servida respeitosamente
Com ferrete
Obediente
Obediente.

Estou cansado, pá
Sem arte, sem génio, cansado:
Aqui presente está a ementa e o somatório erróneo do desempenho de uma nação
Um abismo prometido
Camuflado por discursos panfletários:
Morte aos velhos!
Morte aos fracos!
Morte a quem exija decência na causa pública!
Morte a quem lhes chama filhos da puta!
- E essa mãe já morreu de sífilis à porta de um hospital.
Mataram os sonhos
Prenderam o luxo das ideias livres
Empanturraram a juventude de teclados para a felicidade
E as famílias de consumo & consumo
Até ao prometido AVC
Que resolve todas as prestações:
Quem casa com um banco vive divinamente feliz
E tem assistência no divórcio a uma taxa moderada pela putibor.
Estou cansado, pá
Da surdez e da surdina
Desta alegria por porra nenhuma
Medida pelo sorriso de vitória do idiota do lado
Quando te entala na fila e passa à frente
É a glória única de muita gente
Uma vida inteira...

Eleitos, cuidem da oratória...

(António Manuel Ribeiro)

* Baseado no poema "Vernáculo" do livro "O Momento a Seguir", edição Sete Caminhos (2006) -- contém expressões do português vernáculo.

Tema incluído no álbum "A Minha Geração" (2013) - editado em 24/06/2013.




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#22 Mensagem por P44 » Sex Jan 25, 2019 8:10 am

The Holographic Principle - A Profound Understanding of Reality
Epica

Discemus gubernaculum esse movendum
Quod verum putaver am esse particulam
Pro viribus agendum est
Vim totam adhibebimus
Ad haec nos paremus

Our brave soul is crying
Our soul is lost
Our brave is dying
Our soul is lost
We don't know how we can

Decode this anagram
We have lost our true selves
Within this hologram
Nothing is what it seems

Our soul is lost
We challenge illusions
Created by us all
Cube sphere

Wipe all the dust from your eyes
Burn your lies
Dare to trash your own paradise
Doubt your eyes

We challenge illusions
Created by us all
Learn to trust your senses deep within
And see with all the beauty of your soul

Shine down all your precious light on me
I'll wake you in reality again
Be free of fear
Open up your heart, make a whole new start

Free from the past
Your future is convertible
Now embrace the Holographic Principle
Only you is what you'll be

All you are is what you see
On the other side it's me
If you turn around
You'll see I am here

Only you is what you'll be
Now break out and we'll be free
Leave dubiety behind and dive into eternal light
Merge with all the energy around

Immerse yourself in seas of futile wishes
Do not try to judge your universe
Let purity reverse your sacred curse
Be free of fear

Open up your heart, make a whole new star
Free from the past
Your demons seem invincible
Now embrace the Holographic Principle

Only you is what you'll be
All you are is what you see
On the other side it's me
If you turn around

You'll see I am here
Only you is what you'll be
Now break out and we'll be free
Leave dubiety behind and dive into eternal light

You become what you focus on
Don't shift the blame to the world
It will raise vexation
It can cause your death and our defeat

Run from illusions
Reality, it is a choice
Be sure to choose well
Run from delusions
Go to the root, find out who you are

You become what you're aiming at
Don't shift the blame to the world
It will raise resentment
Check your ego, lose your hologram
Your illusion

Feeds your eyes
This deception
Writes your life
Your truth's a lie

Watch for illusions
Rapacity, an empty shell
That suits no one well
Watch for delusions
Let life just rain all its sparks on you

Venenum invasit sanguinem et venas
Iniectum damnosis cogitatis tuis
Non morbum transferunt in te res humanae
Sed pavor, internus te infirmat prorsus

Your illusion
Lies in ruins
This deception
Won't survive
Take back control

Discemus gubernaculum esse movendum
Ad haec nos paremus tota vi
Discemus gubernaculum esse movendum
Quod verum putaveram esse particulam
Pro viribus agendum est

Autores de la canción: Coen J Janssen / Isaac Delahaye / Simone J M Simons / Markus H J Mark Jansen / Sascha Paeth / Joost Van Den Broek / Robertus H D Van Der Loo / Arien Van Weesenbeek

Letra de The Holographic Principle - A Profound Understanding of Reality © Kobalt Music Publishing Ltd.




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#23 Mensagem por P44 » Sex Jul 19, 2019 3:29 am

[4. Love]

I see a slow, simple youngster by a busy street,
With a begging bowl in his shaking hand.
Trying to smile but hurting infinitely. Nobody notices.
I do, but walk by.

An old man gets naked and kisses a model-doll in his attic
It's half-light and he's in tears.
When he finally comes his eyes are cascading.

I see a beaten dog in a pungent alley. He tries to bite me.
All pride has left his wild drooling eyes.
I wish I had my leg to spare.

A mother visits her son, smiles to him through the bars.
She's never loved him more.

An obese girl enters an elevator with me.
All dressed up fancy, a green butterfly on her neck.
Terribly sweeet perfume deafens me.
She's going to dinner alone.
That makes her even more beautiful.

I see a model's face on a brick wall.
A statue of porcelain perfection beside a violent city kill.
A city that worships flesh.

The first thing I ever heard, was a wandering
Man telling his story
It was you, the grass under my bare feet,
The campfire in the dead of night,
The heavenly black of sky and sea.

It was us,
Roaming the rainy roads, combing the guilded beaches.
Waking up to a new gallery of wonders every morn,
Bathing in places no-one's seen before,
Shipwrecked on some matt-painted island,
Clad in nothing but the surf - beauty's finest robe.

Beyond all mortality we are, swinging in the breath of nature,
In early air of the dawn of life,
A sight to silence the heavens.

I want to travel where life travels,
Following it's permanent lead.
Where the air tastes like snow music,
Where grass smells like fresh-born Eden,
I would pass no man, no stranger, no tragedy or rapture,
I would bathe in a world of sensation,
Love, goodness and simplicity.

(While violated and imprisoned by technology)

The thought of my family's graves was the only moment
I used to experience true love
That love remains infintie,
As I'll never be the man my father is.

How can you "just be yourself"
When you don't know who you are?
Stop saying "I know how you feel"
How could anyone know how another feels?

Who am I to judge a priest, beggar,
Whore, politician, wrongdoer?
I am, you are, all of them already.

Dear child, stop working, go play
Forget every rule
There's no fear in a dream!

"Is there a village inside this snowflake?"
- a child asked me.
"What's the colour of our lullaby?"

I've never been so close to truth as then,
I touched it's silver lining!

Death is the winner in any war,
Nothing noble in dying for your religion,
For your country,
For ideology, for faith,
For another man. Yes!

Paper is dead without words,
Ink idle without a poem,
All the world dead without stories.
Without love and disarming beauty.

Careless, realism costs souls.

Ever seen the Lord smile?
All the care for the world made Beautiful a sad man?
Why do we still carry a device of torture around our necks?
Oh, how rotten your pre-apocalypse is,
All you bible-black fools living over nightmare ground.

I see all those empty cradles and wonder
If man will never change.

I, too, wish to be a decent manboy, but all I am
Is smoke and mirrors.
Still given everything, may I be deserving.

And there forever remains that change from G to E minor.

Nightwish - A song of Myself




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#24 Mensagem por P44 » Ter Out 29, 2019 7:54 am





Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#25 Mensagem por P44 » Sex Nov 08, 2019 7:31 am





Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
delmar
Sênior
Sênior
Mensagens: 5233
Registrado em: Qui Jun 16, 2005 10:24 pm
Localização: porto alegre
Agradeceram: 501 vezes

Re: Poesia e literatura

#26 Mensagem por delmar » Sex Nov 08, 2019 9:59 am

Poeminho do contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão....
Eu passarinho.

Mário Quintana




Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
Avatar do usuário
Marcelo Ponciano
Sênior
Sênior
Mensagens: 1264
Registrado em: Seg Abr 30, 2018 4:14 pm
Localização: Brasília-DF
Agradeceram: 557 vezes

Re: Poesia e literatura

#27 Mensagem por Marcelo Ponciano » Sex Nov 08, 2019 10:58 am

O ÚLTIMO TANGO NAS MALVINAS

Os homens amam a guerra. Por isso
se armam festivos em coro e cores
para o dúbio esporte da morte.

Amam e não disfarçam.
alardeiam esse amor nas praças,
criam manuais e escolas,
alçando bandeiras e recolhendo caixões,
entoando slogans e sepultando canções.

Os homens amam a guerra. Mas não a amam
só com a coragem do atleta
e a empáfia militar, mas com a piedosa
voz do sacerdote, que antes do combate
serve a hóstia da morte.

Foi assim na Criméia e Tróia,
na Eritréia e Angola,
na Mongólia e Argélia,
na Sibéria e agora.

Os homens amam a guerra
e mal suportam a paz.

Os homens amam a guerra,
portanto,
não há perigo de paz.

Os homens amam a guerra, profana
ou santa, tanto faz.

Os homens têm a guerra como amante,
embora esposem a paz.

E que arroubos, Meu Deus! Nesse encontro voraz
que prazeres! que uivos! que ais!
que sublimes perversões urdidas
na mortalha de lençóis, lambuzando
a cama ou campo de batalha.

Durante séculos pensei
que a guerra fosse o desvio
e a paz a rota. Enganei me. São paralelas,
margens de um mesmo rio, a mão e a luva,
o pé e a bota. Mais que gêmeas,
são xifópagas, par e ímpar , sorte e azar.
São o ouroboro _ cobra circular
eternamente a nos devorar.

A guerra não é um entreato.
É parte do espetáculo. E não é tragédia apenas,
é comédia, real ou popular,
é algo melhor que circo:
_ é onde o alegre trapezista
vestido de kamikase
salta sem rede e suporte,
e o contorcionista se parte
no kamasutra da morte.

A guerra não é o avesso da paz.
É seu berço e seio complementar.
E o horror não é o inverso do belo
_ é seu par. Os homens Amam o belo,
mas gostam do horror na arte. O horror
não é escuro, é a contraparte da luz.

Lucífer e Lusbel, brilha como Gabriel
e o terror seduz.
Nada mais sedutor
que Cristo morto na cruz.

Portanto, a guerra não é só missa
que oficia o padre, ciência
que alucina o sábio, esporte
que fascina o forte. A guerra é arte.
E com o ardor dos vanguardistas
freqüentamos a bienal do horror
e inauguramos a Bauhaus da morte.

Por isso, em cima da carniça não há urubu,
chacais abutres,hienas.
Há lindas garças de alumínio, serenas
num eletrônico balé.

Talvez fosse a dança da morte, patética.
Não é. É apenas outra lição de estética.
Daí que os soldados modernos
são como médico e engenheiro
e nenhum ministro de guerra
usa roupa de açougueiro.

Guerra é guerra
dizia o invasor violento
violentando a freira no convento.
Guerra é guerra
dizia a estátua do almirante
com a sua boca de cimento.
Guerra é guerra
dizemos no radar
degustando o inimigo
ao norte do paladar.

Não é preciso disfarçar
o amor à guerra, com história de amor à Pátria
e defesa do lar. Amamos a guerra
e a paz, em bigamia exemplar.
Eu, poeta moderno ou o eterno Baudelaire,
eu e você, hypocrite lecteur,
mon semblabe, mon frère.
Queremos a batalha, aviões em chamas,
navios afundando, o espetacular confronto .

De manhã abrimos vísceras de peixes
com a ponta das baionetas
e ao som da culinária trombeta
enfiamos adagas em nossos porcos
e requintamos de medalha
os mortos sobre a mesa.

Se possível, a carne limpa, sem sangue.
Que o míssil silente lançado a distância
não respingue em nossa roupa.
Mas se for preciso um banho de sangue
como dizia Terêncio: Sou humano
e nada do que é humano me é estranho.

A morte e a guerra
não mais me pegam ao acaso.
escrevo sua dupla efígie na pedra
como se o dado de minha sorte
já não rolasse ao azar.
Como se passasse do branco
ao preto e ao branco retornasse
sem nunca me sombrear.
Que venha a guerra. Cruel. Total.
O atômico clarim e a gênese do fim.
Cauto, como convém aos sábios,
primeiro bradarei contra esse fato.

Mas, voraz como convém à espécie,
ao ver que invadem meus quintais,
das folhas da bananeira inventarei
a ideológica bandeira e explodirei
o corpo do inimigo antes que ataque.
E se ele não atirar nem viver, aproveito
seu descuido de homem fraco, invado sua casa
realizando minha fome milenar de canibal
rugindo sob a máscara de homem.

Terrível é o teu discurso, poeta!
escuto alguém falar.
Terrível o foi elaborar.
Agora me sinto livre.
A morte e a guerra
já não me podem alarmar.
Como Édipo perplexo
decifrei as em minhas vísceras
antes que a dúbia esfinge
pudesse me devorar.

Nem cínico nem triste. Animal
humano, vou em marcha, danças, preces
para o grande carnaval.
Soldado, penitente, poeta,
a paz e a guerra, a vida e a morte
me aguardem
num atômico funeral.

Acabará a espécie humana sobre a Terra?
Não. Hão de sobrar um novo Adão e Eva
a refazer o amor, e dois irmãos:
Caim e Abel
a reinventar a guerra.

Affonso Romano de Sant’Anna

Esse é um dos poemas mais impactantes que conheço.




Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar. (MONTESQUIEU. O Espírito das Leis. Livro XI, Cap. VI)
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#28 Mensagem por P44 » Qui Nov 14, 2019 9:28 am





Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#29 Mensagem por P44 » Sáb Nov 16, 2019 9:17 am

Dante's Prayer by Loreena McKennit.

Lyrics:
When the dark wood fell before me
And all the paths were overgrown
When the priests of pride say there is no other way
I tilled the sorrows of stone

I did not believe because I could not see
Though you came to me in the night
When the dawn seemed forever lost
You showed me your love in the light of the stars

Cast your eyes on the ocean
Cast your soul to the sea
When the dark night seems endless
Please remember me

Then the mountain rose before me
By the deep well of desire
From the fountain of forgiveness
Beyond the ice and fire

Cast your eyes on the ocean
Cast your soul to the sea
When the dark night seems endless
Please remember me

Though we share this humble path, alone
How fragile is the heart
Oh give these clay feet wings to fly
To touch the face of the stars

Breathe life into this feeble heart
Lift this mortal veil of fear
Take these crumbled hopes, etched with tears
We'll rise above these earthly cares

Cast your eyes on the ocean
Cast your soul to the sea
When the dark night seems endless
Please remember me
Please remember me




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54732
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2300 vezes

Re: Poesia e literatura

#30 Mensagem por P44 » Qua Nov 27, 2019 5:49 am





Triste sina ter nascido português 👎
Responder