Hipóteses de Emprego
Enviado: Qua Jul 04, 2012 10:46 am
OPERAÇÃO CRUZEIRO DO SUL
– Era para ser uma semana como outra qualquer.
Vinte e sete de agosto de 2013. Uma noite quente de inverno, por incrível que pareça no centro de comando do 5º/8º Gav. O Oficial da guarda já rendeu o segundo turno e o cmtde da unidade “plotou” todo o planejamento para as operações de voo da semana que vem, inclusive as do desfile de 7 de setembro. Seria uma semana movimentada, mas talvez não como prevera o planejamento do esquadrão. O sentimento de todos os membros era de tranquilidade e expectativa, já que os exercícios com a FAA, FACh, FAP, FAU e FAv seriam os primeiros do tipo envolvendo o MERCOSUL, e contando exclusivamente com unidades de helicópteros, e todos os esquadrões da FAB seriam representados no mesmo; seria mais uma grande oportunidade para se verificar e qualificar a operacionalidade do 8º Gav da força aérea brasileira. Mesmo sabedores de que não poderia contar com todos os 8 BH disponíveis no pátio, ainda assim o Cmte do esquadrão estava eufórico com o exercício, passando a semana inteira em reuniões preparatórias, organizando a burocracia e a parte logística da Base Aérea de Santa Maria.
Afinal de contas seriam nada menos do que 18 helicópteros só da FAB, entre transportadores, ataque e emprego geral, fora outras 10 aeronaves comprometidas com o evento vindo dos países vizinhos. Embora com alguns percalços, toda a programação e os planos estavam em dia e a comunicação entre as partes envolvidas era muito boa. Este exercício multinacional tinha tudo para dar certo e ficar marcado na história do esquadrão e da FAB, como o primeiro de muitos, alavancado a força a um patamar superior neste tipo de operação. Havia mesmo um certo orgulho de poder operar neste nível já que, a boca pequena, fruto de uma dada gozação, típica dos meios militares, o exercício já era chamado de “Cruzhelix I”, um aforisma da operação Cruzex, tradicional exercício da caça, e que já se tornara famosa na FAB e nas outras forças aéreas sul-americanas, e mesmo ao norte do equador.
Uma das coisas interessantes a se notar, era que embora os esquadrões de helicópteros da FAB já dispusessem há algum tempo de tipos mais modernos como os EC-725 Caracal e UH-60L BlackHawk, os mesmos ainda não estavam totalmente integrados no ambiente organizacional e operativo da força, principalmente aqueles primeiros, que operando a partir da Base Aérea de Belém, no 1º/8º Gav, contavam apenas três aeronaves, com tripulações e equipagens ainda na fase inicial de treinamento e adaptação com o tipo. Ainda que a FAB contasse com mais de trinta anos de operação dos Super Puma, do 3º/8º Gav, estes tipos novos eram bem diferentes de seus primos mais velhos e sua operação demandando um certo cuidado e zelo de parte dos Cmtes dos esquadrões, a fim de que sua introdução na força pudesse ser a menos problemática possível. Já os Blackhawks tiveram menos problemas de inserção na FAB, haja vista o modelo já ser conhecido do 7º/8º Gav, tendo os pilotos do “Pantera” recebido seu treinamento naquele esquadrão “fabiano” operacional na Amazônia. Esperava-se muito de ambos os modelos, principalmente no que competia à clássica, e sadia diga-se, rivalidade entre os esquadrões, com cada um defendendo “o seu helicóptero” como sendo “o melhor dentre o melhor das asas rotativas da FAB”.
Mas um evento inesperado, diria melhor, totalmente imprevisto, viria a clamar ao 8º Gav da Força Aérea Brasileira o chamamento do cumprimento da missão. Algo que a principio poderia soar um tanto que improvável, acabou por se tornar um desafio espetacular para os limitados, diria minguados, recursos da FAB, assim como um tremendo imbróglio diplomático para o governo brasileiro. E por pouco, muito pouco mesmo, quase não se torna uma tragédia de proporções dantescas, com seríssimas consequências tanto no campo militar como no humano. Mas tais quais os ventos sopram onde querem e aproam para onde bem entendem, sem podermos intervir em sua direção e velocidade, assim também os conflitos humanos irrompem sem a menor parcimônia. Esta com certeza foi a questão em voga, onde as possibilidades de prevenção e previsão do conflito em nada puderam antever e nem prevenir o mesmo. E o mais hilário da coisa toda, talvez seja o fato de que para muitos de nós o motivo deste “quase conflito” foi, ou ao menos deveria ser, um fator de união entre os povos. Mas convenhamos, em se tratando de argentinos e brasileiros, até mesmo uma disputa de bolinha de gude pode virar um incidente internacional. E parece que este foi o caso. Tudo por causa de uma partida de futebol. Ou quase...
– E tudo por causa de uma bola.
Tudo começou numa manhã de setembro quando a seleção brasileira de futebol desembarcou em Buenos Aires para uma partida amistosa com a seleção argentina, onde os ânimos, pelo menos de parte dos portenhos, não estavam nem um pouco amistosos, haja vista não só a população argentina estar às voltas com mais uma série de disputas político-sociais – tão características dos argentinos – como pela não tão bem engolida derrota para a seleção em jogo anterior no Brasil. Bom, nestes dias convulsionados portenhos, uma boa partida de futebol poderia ser uma boa válvula de escape para a política argentina tomar fôlego e respirar uma saída, em tempo, conveniente a todas as partes envolvidas. E parecia que a seleção brasileira de futebol poderia dar uma boa, senão ótima, motivação de unidade nacional aos políticos argentinos. Mas infelizmente, para nós, claro, o tiro da política argentina quase nos custou uma seleção, e a vida de centenas de patrícios. O que pensar se o Estado Maior Conjunto não tivesse tomado a iniciativa da ação, ante o tivergir do poder político nacional? A que teria levado esta situação onde o poder militar foi inesperada e inequivocamente instado a agir para a defesa de seus cidadãos ainda em que solo estrangeiro? Muitas podem ser as respostas, e outras tantas são na verdade as indagações, visto que, uma mera disputa futebolística quase ter virado um conflito armado internacional e, pior, teria assinalado na história recente do país uma quase tragicômica situação, da qual nenhum político quereria ter escrito em suas memórias, onde a vida de centenas de nacionais poderia ter sido perdida.
Mas graças à oportuna e incisiva atuação não só do 8º Gav, com o apoio da Aviação Naval e da Aviação do Exército, as ffaa’s brasileiras mais uma vez provaram seu valor e sua significância. Ao menos para a sociedade civil, que a olhos vistos, passado o clamor da hora, viu seus militares mais do que justificar não só a necessidade de se ter e dispor de ffaa’s bem equipadas e adestradas, mas trouxe – o que considero pessoalmente o mais importante – uma séria reflexão ao país do quão as instituições políticas nacionais na sua irresponsabilidade, negligência, fisiologismo político, comprometimento ideológico e leniência na questão da defesa nacional podem comprometer não só a preservação, mas até mesmo a proteção da vida e do patrimônio dos brasileiros.
Seis de setembro, véspera do dia da independência no Brasil. Noite escura e de tempo fechado em Buenos Aires. O jogo estava meio morno entre as duas seleções, com campo molhado e jogadores já bem cansados, mas muito bem dispostos a não deixar o “inimigo” aproveitar-se das condições de campo e do jogo. Tudo empatado em 1 x 1 e parecia encaminharmos para mais um empate em que todos ganhavam, apesar da fanática torcida portenha empurrar o time azul e branco pra frente até os últimos minutos. De repente numa jogada despretensiosa o juiz uruguaio marca um pênalti a favor do Brasil, e que apesar da confusão geral, do empurra-empurra de sempre, e da fúria da torcida, o pênalti é batido e o jogo termina com a vitória brasileira. Tudo parecia correr bem, até que a saída dos jogadores da seleção brasileira teve que ser providenciada pelo policiamento presente em campo, através de uma chuva de cadeiras, pedaços de ferro e tudo o mais que a torcida podia, ou conseguia, arremessar. Nada de “anormal” para um jugo entre rivais históricos. Da mesma forma, mais de uma centena de torcedores brasileiros, e imprensa também, tiveram que se refugiar atrás do policiamento dentro do estádio ante a fúria e revolta da torcida argentina. Passado cerca de hora e meia do fim da disputa, o ônibus as seleção canarinho ainda tentava sair do estádio, mas foi impedido novamente pela furiosa torcida argentina, agora já robustecida por diversas massas de manifestantes que resolveram fazer seu panelaço justamente nas proximidades do estádio.
– Era para ser uma semana como outra qualquer.
Vinte e sete de agosto de 2013. Uma noite quente de inverno, por incrível que pareça no centro de comando do 5º/8º Gav. O Oficial da guarda já rendeu o segundo turno e o cmtde da unidade “plotou” todo o planejamento para as operações de voo da semana que vem, inclusive as do desfile de 7 de setembro. Seria uma semana movimentada, mas talvez não como prevera o planejamento do esquadrão. O sentimento de todos os membros era de tranquilidade e expectativa, já que os exercícios com a FAA, FACh, FAP, FAU e FAv seriam os primeiros do tipo envolvendo o MERCOSUL, e contando exclusivamente com unidades de helicópteros, e todos os esquadrões da FAB seriam representados no mesmo; seria mais uma grande oportunidade para se verificar e qualificar a operacionalidade do 8º Gav da força aérea brasileira. Mesmo sabedores de que não poderia contar com todos os 8 BH disponíveis no pátio, ainda assim o Cmte do esquadrão estava eufórico com o exercício, passando a semana inteira em reuniões preparatórias, organizando a burocracia e a parte logística da Base Aérea de Santa Maria.
Afinal de contas seriam nada menos do que 18 helicópteros só da FAB, entre transportadores, ataque e emprego geral, fora outras 10 aeronaves comprometidas com o evento vindo dos países vizinhos. Embora com alguns percalços, toda a programação e os planos estavam em dia e a comunicação entre as partes envolvidas era muito boa. Este exercício multinacional tinha tudo para dar certo e ficar marcado na história do esquadrão e da FAB, como o primeiro de muitos, alavancado a força a um patamar superior neste tipo de operação. Havia mesmo um certo orgulho de poder operar neste nível já que, a boca pequena, fruto de uma dada gozação, típica dos meios militares, o exercício já era chamado de “Cruzhelix I”, um aforisma da operação Cruzex, tradicional exercício da caça, e que já se tornara famosa na FAB e nas outras forças aéreas sul-americanas, e mesmo ao norte do equador.
Uma das coisas interessantes a se notar, era que embora os esquadrões de helicópteros da FAB já dispusessem há algum tempo de tipos mais modernos como os EC-725 Caracal e UH-60L BlackHawk, os mesmos ainda não estavam totalmente integrados no ambiente organizacional e operativo da força, principalmente aqueles primeiros, que operando a partir da Base Aérea de Belém, no 1º/8º Gav, contavam apenas três aeronaves, com tripulações e equipagens ainda na fase inicial de treinamento e adaptação com o tipo. Ainda que a FAB contasse com mais de trinta anos de operação dos Super Puma, do 3º/8º Gav, estes tipos novos eram bem diferentes de seus primos mais velhos e sua operação demandando um certo cuidado e zelo de parte dos Cmtes dos esquadrões, a fim de que sua introdução na força pudesse ser a menos problemática possível. Já os Blackhawks tiveram menos problemas de inserção na FAB, haja vista o modelo já ser conhecido do 7º/8º Gav, tendo os pilotos do “Pantera” recebido seu treinamento naquele esquadrão “fabiano” operacional na Amazônia. Esperava-se muito de ambos os modelos, principalmente no que competia à clássica, e sadia diga-se, rivalidade entre os esquadrões, com cada um defendendo “o seu helicóptero” como sendo “o melhor dentre o melhor das asas rotativas da FAB”.
Mas um evento inesperado, diria melhor, totalmente imprevisto, viria a clamar ao 8º Gav da Força Aérea Brasileira o chamamento do cumprimento da missão. Algo que a principio poderia soar um tanto que improvável, acabou por se tornar um desafio espetacular para os limitados, diria minguados, recursos da FAB, assim como um tremendo imbróglio diplomático para o governo brasileiro. E por pouco, muito pouco mesmo, quase não se torna uma tragédia de proporções dantescas, com seríssimas consequências tanto no campo militar como no humano. Mas tais quais os ventos sopram onde querem e aproam para onde bem entendem, sem podermos intervir em sua direção e velocidade, assim também os conflitos humanos irrompem sem a menor parcimônia. Esta com certeza foi a questão em voga, onde as possibilidades de prevenção e previsão do conflito em nada puderam antever e nem prevenir o mesmo. E o mais hilário da coisa toda, talvez seja o fato de que para muitos de nós o motivo deste “quase conflito” foi, ou ao menos deveria ser, um fator de união entre os povos. Mas convenhamos, em se tratando de argentinos e brasileiros, até mesmo uma disputa de bolinha de gude pode virar um incidente internacional. E parece que este foi o caso. Tudo por causa de uma partida de futebol. Ou quase...
– E tudo por causa de uma bola.
Tudo começou numa manhã de setembro quando a seleção brasileira de futebol desembarcou em Buenos Aires para uma partida amistosa com a seleção argentina, onde os ânimos, pelo menos de parte dos portenhos, não estavam nem um pouco amistosos, haja vista não só a população argentina estar às voltas com mais uma série de disputas político-sociais – tão características dos argentinos – como pela não tão bem engolida derrota para a seleção em jogo anterior no Brasil. Bom, nestes dias convulsionados portenhos, uma boa partida de futebol poderia ser uma boa válvula de escape para a política argentina tomar fôlego e respirar uma saída, em tempo, conveniente a todas as partes envolvidas. E parecia que a seleção brasileira de futebol poderia dar uma boa, senão ótima, motivação de unidade nacional aos políticos argentinos. Mas infelizmente, para nós, claro, o tiro da política argentina quase nos custou uma seleção, e a vida de centenas de patrícios. O que pensar se o Estado Maior Conjunto não tivesse tomado a iniciativa da ação, ante o tivergir do poder político nacional? A que teria levado esta situação onde o poder militar foi inesperada e inequivocamente instado a agir para a defesa de seus cidadãos ainda em que solo estrangeiro? Muitas podem ser as respostas, e outras tantas são na verdade as indagações, visto que, uma mera disputa futebolística quase ter virado um conflito armado internacional e, pior, teria assinalado na história recente do país uma quase tragicômica situação, da qual nenhum político quereria ter escrito em suas memórias, onde a vida de centenas de nacionais poderia ter sido perdida.
Mas graças à oportuna e incisiva atuação não só do 8º Gav, com o apoio da Aviação Naval e da Aviação do Exército, as ffaa’s brasileiras mais uma vez provaram seu valor e sua significância. Ao menos para a sociedade civil, que a olhos vistos, passado o clamor da hora, viu seus militares mais do que justificar não só a necessidade de se ter e dispor de ffaa’s bem equipadas e adestradas, mas trouxe – o que considero pessoalmente o mais importante – uma séria reflexão ao país do quão as instituições políticas nacionais na sua irresponsabilidade, negligência, fisiologismo político, comprometimento ideológico e leniência na questão da defesa nacional podem comprometer não só a preservação, mas até mesmo a proteção da vida e do patrimônio dos brasileiros.
Seis de setembro, véspera do dia da independência no Brasil. Noite escura e de tempo fechado em Buenos Aires. O jogo estava meio morno entre as duas seleções, com campo molhado e jogadores já bem cansados, mas muito bem dispostos a não deixar o “inimigo” aproveitar-se das condições de campo e do jogo. Tudo empatado em 1 x 1 e parecia encaminharmos para mais um empate em que todos ganhavam, apesar da fanática torcida portenha empurrar o time azul e branco pra frente até os últimos minutos. De repente numa jogada despretensiosa o juiz uruguaio marca um pênalti a favor do Brasil, e que apesar da confusão geral, do empurra-empurra de sempre, e da fúria da torcida, o pênalti é batido e o jogo termina com a vitória brasileira. Tudo parecia correr bem, até que a saída dos jogadores da seleção brasileira teve que ser providenciada pelo policiamento presente em campo, através de uma chuva de cadeiras, pedaços de ferro e tudo o mais que a torcida podia, ou conseguia, arremessar. Nada de “anormal” para um jugo entre rivais históricos. Da mesma forma, mais de uma centena de torcedores brasileiros, e imprensa também, tiveram que se refugiar atrás do policiamento dentro do estádio ante a fúria e revolta da torcida argentina. Passado cerca de hora e meia do fim da disputa, o ônibus as seleção canarinho ainda tentava sair do estádio, mas foi impedido novamente pela furiosa torcida argentina, agora já robustecida por diversas massas de manifestantes que resolveram fazer seu panelaço justamente nas proximidades do estádio.