P&D no Brasil

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Re: P&D no Brasil

#76 Mensagem por LeandroGCard » Qua Dez 11, 2013 4:06 pm

Bourne escreveu:Esta parte está errada.

O problema da falta de interesse de empresas colocarem o P&D como parte do negócio. O governo não ignora a diferença. Tanto que existe um monte de programas e pesquisas com o objetivo de incentivar a pesquisa aplicada por parte das empresas. O interessante é que muitas candidatas não aparecem para receber dinheiro, incetivo, planos, profissionais e outras coisa.
E este é justamente o erro do governo, achar que a pesquisa aplicada pode ser empurrada por incentivos fiscais ou subsídios de qualquer gênero, como se empresas fosse universidades que se tiverem verba saem correndo para arranjar pesquisadores para utilizá-la. O raciocínio nas empresas (em qualquer lugar do planeta) é o oposto, primeiramente é preciso vislumbrar a possibilidade de LUCROS com a eventual venda de um produto ou serviço que será desenvolvido, e DEPOIS se avalia a possibilidade de investir na pesquisa. Se nesta etapa houver dinheiro fácil isso pode facilitar a decisão, mas sem nem se chegou até aí pode colocar bilhões à disposição que nada vai acontecer. Como no Brasil as dificuldades de se ganhar dinheiro vendendo algo inovador são enormes se comparadas ao que existe no restante do mundo (nas nossas condições praticamente só os custos importam, pois são elevados demais por diversos motivos), estes programas de incentivo à pesquisa do governo simplesmente não tem campo para aplicação. No máximo vai aparecer algum empresário espertinho para pegar a verba, superfaturar os seus custos e embolsar a diferença.

A pesquisa nas universidades públicas, centros de pesquisa e qualidade dos pesquisadores sobe todo o ano. O problema é que as empresas não querem usar os profissionais treinados ao longo do processo e resultados. Devido a característica dos negócios por que eles não precisam de P&D.
Pelos motivos descritos acima e abaixo.

Em países desenvolvidos (Alemanha e Coreia, por exemplo) sai do treinamento como profissional altamente qualificado vai para iniciativa privada, participar de algum projeto realmente fazendo o que foi treinado, ou vida acadêmica. No Brasil a opção privada não existe para a maioria das áreas. A não ser que monte a sua pequena empresa e aproveita as oportunidades de programas setoriais e governamentais. Pior que conheço gente se deu bem assim. É claro que são tipos de companhias e lógicas empresariais muito diferentes das tradicionais.
Estes países primeiro garantem a competitividade de sua economia, através dos mecanismos mais diversos possíveis e imagináveis que incluem ambiente institucional competitivo (desburocratização, facilidades de crédito, energia e matérias primas baratas, infra-estrutura eficiente e etc...) desvalorização cambial, reservas de mercado, acordos comerciais, pressão política pura e simples, e etc... . DEPOIS as empresas se habituam a competir no mercado mundial contra os concorrentes mais diversos de todas as partes do mundo, e ENTÃO a pesquisa aplicada para melhoria contínua dos produtos e serviços passa a fazer parte do dia-à-dia do negócio. E SÓ AÍ surge a demanda por profissionais altamente capacitados necessários para conduzi-la.

É claro que no caso dos EUA e da Europa este processo começou há mais de 100 anos, então parece que eles nunca precisaram adotar algumas medidas (como por ex. a proteção do mercado interno) para viabilizar o seu início e que a demanda por pesquisadores sempre existiu, é algo natural nas sociedades. Mas se você olhar lá atrás verá que foi sempre foi necessário primeiro obter de alguma forma a competitividade nos mercados (nem que fosse tomando colônias à força), desde pelo menos o início do século XVIII. E os países que chegaram depois, como o Japão, a Coréia do Sul e agora a China e a Índia, todos passaram ou estão passando por estas mesmas fases.

Mas aqui se espera que aconteça o contrário, primeiro se formam os pesquisadores, depois esperam que surjam empresas para dar emprego a eles por motivo algum e aí que o setor industrial (e demais que dependam da inovação) de repente se tornem competitivos e passem a crescer de forma consistente, levando ao desenvolvimento social e econômico. E tudo isso independentemente das condições econômicas e institucionais do país, muito pelo contrário. Por exemplo, fazem-se coisas como aumentar os impostos das empresas já operando no limite da viabilidade para dar bolsas de pós-graduação a estudantes de ciências. E depois se atraem (basicamente com uma virtual reserva de mercado) empresas estrangeiras para montar aqui fábricas de automóveis ou outras bugigangas quaisquer, onde só se apertam parafusos de peças que vem prontas lá de fora, e espera-se que estas dêem empregos aos cientistas formados no MT ou em Cambridge :roll: .

Tá bom então, podem esperar sentados.


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Re: P&D no Brasil

#77 Mensagem por Bourne » Qua Dez 11, 2013 7:42 pm

Primeiro que não é bolsista por bondade do governo. É um funcionário que recebe subsidio para que a universidade funcione e não se torne o que as caça niqueis privadas são. Apesar da bolsar ser um micharia e ter opções extras bem melhores que precisa ser feito para se manter. Impactando na qualidade negativamente do ensino como um todo.

Segundo tem um artigo de Jorge Katz que mostra você está errado. Argumenta e ostra com dados que a industria brasileira até os anos 1970 caminhava para a internacionalização, transformando a importação de equipamentos e tecnologias em produtos de crescente valor e tecnologia agregada. Porém foi desmontado na crise dos anos 1980, completada com a abertura dos anos 1990s. Antes estava na frente ou mesmo patamar dos países do sudeste asiático.
The Dynamics of Technolological Learning during the Import-Substitution Period
and Recent Strucvtural Changes in the Industrial Sector of Argentina, Brazil and
Mexico, en Technology, Learning and Innovation. Experiences of Newly
Industrializing Economies, Cambridge University Press, año 2000.

Curriculo

http://www.econ.uchile.cl/uploads/cv/be ... cabdb8.pdf
O impulso fundamental da industrialização britânica foi a alteração social e necessidade de ganhar dinheiro com alguma coisa. Na Europa continental poder politico e militar. Na Alemanha foi brutal a intervenção do estado e elites para modernização do país e criação de uma estrutura industrial. Falar da possibilidade de ganho é fácil para o CEO, mas na mudança estrutural não manda nada.

Terceiro que a matriz contrata mestre e doutores brasileiros. Preferencialmente pelo estrangeiro ou seleciona internamente para ser mandado par outros unidades e incorporados a projetos. O pessoal que mexe com desenvolvimento jogos é assim. Veio a proposta, bem remunerada e foram embora. Inclusive tem uma legião trabalhando nos desenvolvedores canadenses.

Quarto se programas de inovação não servem para nada, a não ser beneficiar espertinhos. Mostre os erros e cite o nome dos espertinhos. Se é tudo lixo constitui uma tarefa muito fácil. Pode fechar os programas.

Aliás, se tem uma coisa que funciona na politica industrial, federação das industrias são a área de apoio a inovação de pequenos e médios negócios, conjunto com a área intencional. O resto é uma piada e defendem interesses não muito nobres dos barões da grande industria.

O quinto e maior erro é achar acreditar que esse "ambiente de negócio" favoreceu a industrialização de algum. Os EUA, Alemanha, França, União Soviética, Coreia e China eram (ou ainda são) um inferno da burocracia. Esse definição é coisa de 20 anos ou menos, propagado pela imprensa que não sabe nada.

E sinto que tem traços do Ha-Joon Chang no seu argumento. Esquece ele. O cara maquia a história e faz pregação ideológica para o grande público. Basicamente, cria um espantalhos obre o desenvolvimento, começa a bater nele e vender a ideia que é inovador. Porém não foi daquele jeito, a discussão sobre temas de desenvolvimento é profunda e dão resultados bem esquisitos.




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Re: P&D no Brasil

#78 Mensagem por LeandroGCard » Qua Dez 11, 2013 9:29 pm

Bourne escreveu:Primeiro que não é bolsista por bondade do governo. É um funcionário que recebe subsidio para que a universidade funcione e não se torne o que as caça niqueis privadas são. Apesar da bolsar ser um micharia e ter opções extras bem melhores que precisa ser feito para se manter. Impactando na qualidade negativamente do ensino como um todo.
Óbvio que não é bondade, governo não é instituição de caridade, toda iniciativa que toma tem (ou deveria ter, mas aí já é outra discussão) como objetivo obter algum benefício mais à frente para a sociedade e o país. A questão não é esta, e sim que tomar a iniciativa de bancar bolsistas no país e no exterior e ao mesmo tempo estrangular as empresas nacionais com os problemas que todos conhecemos não vai resolver nada, e isso os fatos estão mostrando, não preciso ser eu a dizer.

Segundo tem um artigo de Jorge Katz que mostra você está errado. Argumenta e ostra com dados que a industria brasileira até os anos 1970 caminhava para a internacionalização, transformando a importação de equipamentos e tecnologias em produtos de crescente valor e tecnologia agregada. Porém foi desmontado na crise dos anos 1980, completada com a abertura dos anos 1990s. Antes estava na frente ou mesmo patamar dos países do sudeste asiático.
Na verdade a história é até bem mais rica do que isso. Houve mais de um momento na história brasileira onde diferentes iniciativas voltadas ao desenvolvimento, movidas por diferentes agentes, deslancharam por certo tempo e até pareciam que iam resultar em alguma coisa permanente, mas no final por uma razão ou outra nunca duraram muito tempo. As iniciativas do Barão de Mauá (que por exemplo permitiram a construção no Brasil na década de 1850 de uma das mais poderosas marinhas do mundo), as indústrias fundadas por imigrantes europeus e seus descendentes da década de 1930 até o final da SGM (quando por exemplo várias empresas privadas brasileiras projetaram e construiram diversos modelos de aviões, que foram produzidos em séries de até várias centenas de exemplares muito antes que sequer se sonhasse com a Embraer), e é claro a tentativa do governo militar de novamente criar uma indústria nacional nas décadas de 1960 e 70, entre outras coisas com o programa de substituição de importações (que levou por exemplo ao boom da indústria bélica nacional com a Avibrás, a Engesa e a própria Embraer), todos estes ciclos existiram de fato. E acabaram.

Nenhum destes ensaios de desenvolvimento industrial teve continuidade, e hoje estamos novamente tendo que recomeçar, desta vez em um ambiente mundial mais competitivo do que nunca e com governantes que não tem a mínima idéia de como o setor industrial (e outros focados na inovação) realmente funciona. E o resultado está aí, a produção industrial caindo em plena época de praticamente pleno emprego e crescimento (ainda que modesto) da economia. Negar isso é querer discutir com a realidade.

O impulso fundamental da industrialização britânica foi a alteração social e necessidade de ganhar dinheiro com alguma coisa. Na Europa continental poder politico e militar. Na Alemanha foi brutal a intervenção do estado e elites para modernização do país e criação de uma estrutura industrial. Falar da possibilidade de ganho é fácil para o CEO, mas na mudança estrutural não manda nada.
Sempre acontecem alterações estruturais no início do processo de desenvolvimento industrial de qualquer país que se torna desenvolvido, pelos mais variados motivos, e aí ele passa de possuidor de uma ou outra empresa do setor a um pólo de criação de várias empresas dos mais diversos campos, crescendo rapidamente de forma sinérgica umas com as outras. É isso que falta no Brasil, as alterações estruturais que todos sabem quais são e o quanto são necessárias. Sem isso programas de formação de mão de obra ou de fomento à inovação são apenas iniciativas bonitinhas, nada mais do que isso.

As alterações estruturais no Brasil poderiam vir de várias formas. Por exemplo, os protestos do meio deste ano podem retornar mais fortes e se transformar em uma verdadeira guerra civil de cujos escombros emerja uma nova ordem institucional. Ou, como sonham alguns, os militares ultrajados pela comissão da verdade (e com coisas como a acusação do assassinato de JK) podem dar um novo golpe, e reiniciar o ciclo desenvolvimentista das décadas de 1960 e 70, agora em novas bases e com mais experiência. Ou poderia simplesmente ser eleito um governo competente. Mas estou perdendo as esperanças de que eu venha a ver esta última alternativa no meu tempo de vida.

Terceiro que a matriz contrata mestre e doutores brasileiros. Preferencialmente pelo estrangeiro ou seleciona internamente para ser mandado par outros unidades e incorporados a projetos. O pessoal que mexe com desenvolvimento jogos é assim. Veio a proposta, bem remunerada e foram embora. Inclusive tem uma legião trabalhando nos desenvolvedores canadenses.
Exatamente o que eu estou dizendo. Formar especialistas excelentes não quer dizer absolutamente nada se não houver condições para as empresas daqui ganharem alguma coisa com as inovações que eles podem desenvolver, o que está hoje muito longe de acontecer (e fica cada vez mais distante). O máximo que se consegue é gastar o nosso dinheiro para formar mão de obra que irá ser muito útil para ajudar no desenvolvimento de OUTROS países :roll: (muito bom para quem pega a bolsa, mas e para nós que a pagamos com nossos impostos?). Muito mais eficiente seria por exemplo que NOSSAS empresas tivessem condições de ganhar dinheiro investindo em novos produtos e processos (hoje quase impossível pelos motivos que vivo mencionando) e depois FOSSEM LÁ FORA CONTRATAR OS ESTRANGEIROS BEM FORMADOS PARA DESENVOLVER INOVAÇÕES AQUI, que venderíamos no mundo inteiro. E isso não é nenhum sonho ou receita heterodoxa, leia sobre o início da era Meiji no Japão se quiser mais detalhes.

Quarto se programas de inovação não servem para nada, a não ser beneficiar espertinhos. Mostre os erros e cite o nome dos espertinhos. Se é tudo lixo constitui uma tarefa muito fácil. Pode fechar os programas.
Cara, conheço vários casos pessoalmente, mas não vou citá-los nominalmente porque dá até processo. Basta dizer que na empresa da qual fui sócio alguns tentaram fazer exatamente isso, e só não conseguiram porque o avaliador da FINEP não soube interpretar os termos técnicos da proposta apresentada junto ao órgão financiador, que negou o dinheiro (acabou fazendo o certo pelo motivo errado). Não é só no setor da educação que existe um monte de picaretas.

Mas este não é o ponto. O ponto é que criar programas de inovação e ao mesmo tempo manter a economia estrangulada como acontece hoje no Brasil é a mesma coisa que construir um excelente chassis de fórmula um, mas instalar nele um motor de fusca, pneus recauchutados, colocar gasolina batizada e depois querer ir para a pista disputar com a Ferrari, a McLaren e a Red Bull. Precisa ser algum gênio para adivinhar o resultado? E se sabemos o resultado, vamos investir no desenvolvimento do tal chassis pra quê?
Aliás, se tem uma coisa que funciona na politica industrial, federação das industrias são a área de apoio a inovação de pequenos e médios negócios, conjunto com a área intencional. O resto é uma piada e defendem interesses não muito nobres dos barões da grande industria.
Funcionariam, se houvesse a possibilidade das inovações realmente serem aproveitadas comercialmente pelas empresas. E a prova de que não podem é justamente o estado atual do nosso setor industrial, ou você discorda que ele esteja em crise sendo as mais penalizadas justamente as pequenas e médias empresas? É evidente que em um país com 200 milhões de habitantes e uma economia entre as dez maiores do planeta sempre se poderão apontar exceções, empresas que deram certo apesar de todos os problemas e conseguiram se firmar e crescer. Mas isso está muito longe de ser a regra, o mais comum é que elas simplesmente fechem após poucos anos de mercado, sejam compradas por multinacionais bem maiores ou simplesmente sobrevivam marginalmente, sem possibilidade de crescimento ao longo do tempo. Um ou outro contra-exemplo não vão nos transformar em um país desenvolvido.

O quinto e maior erro é achar acreditar que esse "ambiente de negócio" favoreceu a industrialização de algum. Os EUA, Alemanha, França, União Soviética, Coreia e China eram (ou ainda são) um inferno da burocracia. Esse definição é coisa de 20 anos ou menos, propagado pela imprensa que não sabe nada.
Eles podem até ter uma burocracia infernal, mas não tanto como a nossa. Você já ouviu falar de escritórios de contabilidade por lá rejeitarem clientes de porte do setor industrial por excesso de complicação da legislação? Pois aqui eu já vi até isso. E na empresa onde trabalho agora (que tem escritórios pelo mundo inteiro) o responsável pela área financeira já disse que se soubesse das complicações existentes no Brasil não teria montado um escritório aqui, teria continuado a trabalhar através de revendas mesmo ganhando menos dinheiro com isso.

E a burocracia é apenas UM dos inúmeros entraves às nossas atividades econômicas, mas nem de longe o único. Muitos e muitos outros fatores influenciam o ambiente de negócios, indo da própria tradição empresarial até o valor da moeda, passando por infra-estrutura, disponibilidade de insumos a custos competitivos, financiamento, garantia de acesso a mercados e etc... . Você sabe que os países que citou tomam muito cuidado com todas estas coisas e vão até a guerra por causa disso, e quando algum governo descuida de algum destes pontos a economia logo se ressente e eles tomam alguma atitude para devolver a competitividade às suas economias. A manutenção desta competitividade ao longo do tempo é que garante a possibilidade do desenvolvimento de uma cultura inovadora. E é isso que não temos por aqui.


Leandro G. Card

P.S.- Não faça a mínima idéia de quem seja este tal de Ha-Joon Chang. Quem é ele afinal?




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Re: P&D no Brasil

#79 Mensagem por LeandroGCard » Sex Dez 13, 2013 10:28 am

Oba!!!

Mais um programa de cooperação científica internacional para o Brasil entrar com toda pompa e circunstância para depois fingir de morto e passar vergonha diante do restante do mundo :roll: .
Brasil fará parte do maior laboratório de Física do mundo

Após processo de 3 anos, Cern autorizou adesão; País dará R$ 10 mi ao ano e terá abertura em licitações e treinamento

Jamil Chade, Correspondente / GENEBRA - O Estado de S.Paulo - 13 de dezembro de 2013

O Brasil vai fazer parte do maior laboratório de Física do mundo. Ontem, depois de três anos de um processo que parecia não ter mais fim, o Conselho Executivo do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern, na sigla em francês), deu a luz verde para que um tratado de adesão seja desenhado entre a entidade com sede em Genebra e Brasília, o que deve estar concluído em 2014. A iniciativa deve custar cerca de US$ 10 milhões por ano ao Brasil, mas abrirá as portas para licitações milionárias e formação de centenas de cientistas.
Empresas nacionais poderão participar de processos de licitação de peças e serviços - Divulgação
Divulgação
Empresas nacionais poderão participar de processos de licitação de peças e serviços

Há três anos, diplomatas brasileiros mediaram a assinatura de uma carta de intenções entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Cern, entidade que entrou para a história com a criação da web há duas décadas e com o maior acelerador de partículas do mundo que, neste ano, garantiu a confirmação da existência do bóson de Higgs.

Em 2010, o evento com o Brasil foi comemorado como o primeiro passo para a entrada do País no centro. Mas, desde então, houve atrasos. O então ministro da Ciência, Aloizio Mercadante, chegou a visitar Genebra e prometeu acelerar o processo. Em 2012, o Cern enviou uma missão para avaliar a situação do País. Há três meses, o diretor da instituição, Rolf Heuer, ironizou diante de uma pergunta do Estado sobre o assunto. "Você sabe o que é um buraco negro? É incompreensível a demora do Brasil em apresentar a documentação."

Nas últimas semanas, porém, o Brasil acelerou os trabalhos enviou a documentação exigida pelo Cern, o que envolvia um inventário da ciência no País e toda a capacidade de pesquisa existente. Ontem, o Conselho do Cern considerou que a documentação "atende aos critérios" para a adesão como membro associado. "O conselho chegou a um acordo de que o informe sobre o Brasil atende a todos os critérios", explicou ao Estado o porta-voz do laboratório, Arnaud Marsollier. Resta a finalização e assinatura do acordo, que deve ser em 2014.

Com o acordo, as empresas nacionais poderão participar de processos de licitação de peças e serviços que prometem movimentar milhões de dólares. Para Sergio Bertolucci, diretor de pesquisas do Cern e a pessoa encarregada de avaliar o Brasil para sua adesão, o País "tem um enorme potencial".

A adesão do Brasil foi aprovada pelo Cern como parte de um projeto de expansão da entidade para abrir suas portas aos países emergentes. Governos como o da Turquia e Coreia já foram convidados. Há dois meses, o Cern marcou a adesão oficial da Ucrânia e o governo russo decidiu retornar à entidade. Ontem, a entidade abriu suas portas oficialmente para Israel.
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Re: P&D no Brasil

#80 Mensagem por Sterrius » Sex Dez 13, 2013 11:25 am

Bem, resta torcer, ja que tb não seria nada bom não termos noticias de acordos do genero, significaria que o governo desistiu de vez.




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Re: P&D no Brasil

#81 Mensagem por LeandroGCard » Sex Dez 13, 2013 12:14 pm

Sterrius escreveu:Bem, resta torcer, ja que tb não seria nada bom não termos noticias de acordos do genero, significaria que o governo desistiu de vez.
Ou que aprendeu com seus erros, passou a ser responsável e só assumirá os compromissos que realmente pretende manter :wink: .

É o que eu esperaria, pois também não adianta fazer como tem feito e ficar atirando para todo lado mas depois não completar nada. O importante é ter consciência de que é preciso levar até o fim aquilo com o que se compromete. Se não tem a firme intenção de se esforçar para terminar alguma coisa, a atidude correta é nem assumir o compromisso para começar. Chega de situações como a ISS, o programa espacial, o observatório europeu e outras mais pelas quais já passamos :? .


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Re: P&D no Brasil

#82 Mensagem por Penguin » Ter Dez 17, 2013 9:59 am

CORREIO BRAZILIENSE, 17/12/2013

Mudanças globais
A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) e de seus componentes relativos a 2012 dos mais
de 200 países associados à Organização das Nações Unidas revela movimentos instigantes entre as
economias, especialmente confrontadas com o período anterior à grande crise do crédito que varreu o
mundo de meados de 2008 em diante.
De todos os componentes do PIB, o que mais foi alterado pela crise é o da indústria de
manufaturas, que engloba das cadeias produtivas do setor automotivo à produção de eletrodomésticos e
eletrônicos em geral, entre outras, com desdobramentos aparentemente permanentes: a consolidação da
China como maior potência industrial do mundo, a resistência da fatia relativa dos EUA, embora se
distanciando dos chineses, e a emergência dos países emergentes, mas não de todos e, sim,
especificamente, do Brasil, Índia, México e Indonésia.
Em dólar corrente, o PIB da manufatura da China avançou, em 2012, para US$ 2,55 trilhões,
alargando a diferença em relação aos EUA, cujo produto manufatureiro, de US$ 1,99 trilhão no ano
passado, perdeu em 2011 a liderança global para os chineses. Em terceiro no ranking global de
manufaturas vem o Japão, com produção de US$ 1,1 trilhão, seguido da Alemanha (US$ 686,5 bilhões)
e da Coréia do Sul — um país minúsculo, sem nenhuma riqueza natural, em guerra técnica com o irmão
no Norte, mas capaz de produzir US$ 316 bilhões.
A produção manufatureira dessas cinco potências industriais bateu em US$ 6,6 trilhões em 2012,
36% acima do nível de 2007, pré-crise global. Na sequência, na 6ª posição, está a Itália, com US$ 279,9
bilhões; Rússia em 7º lugar, com US$ 262,4 bilhões; Brasil em 8º, com produção manufatureira de US$
253,8 bilhões; a Índia (US$ 239,5 bilhões); e, fechando os 10 mais, a França, com US$ 233,1 bilhões.
Neste ranking, a manufatura da Coréia do Sul ultrapassou a Itália pela primeira vez, tornando-se a 5ª
maior do mundo, e a Índia pelo segundo ano consecutivo deixou a França para trás. A crise tem sido
particularmente perversa para a indústria na Europa, exceto para a Alemanha, e não só para o bloco que
adota o euro como moeda comum: na Inglaterra, origem da revolução industrial, ela perde relevância a
cada ano, com a produção reduzida a US$ 219 bilhões em 2012.

Nem câmbio detém a China
Em dólar de 2005, o ranking da manufatura tem algumas mudanças. Os EUA continuam em 1º
lugar, com produção de US$ 1,8 trilhão em 2012 (2,4% abaixo da de 2007), e a China vem em 2º, com
US$ 1,6 trilhão (65,5% acima do nível pré-crise). A esse ritmo, também vai passar a manufatura dos EUA
com o PIB industrial medido em moeda constante.
Até o 6º lugar não há mudança em relação à lista com base no dólar corrente. Mas em 7º vem
Inglaterra, depois França, Índia, México e só então o Brasil, na 11º posição e produção de US$ 147,4
bilhões — 1% superior ao valor manufaturado em 2007. E a Rússia cai para 12º. EUA, China, Japão,
Alemanha e Coréia do Sul totalizam, na métrica das manufaturas calculadas pelo dólar de 2005, US$ 5,4
trilhões — ou 13% mais que a produção registrada em 2007.

Nossa indústria é caseira
A análise comparada da indústria manufatureira do Brasil vis-à-vis à dos cinco grandes não
confirma o cenário de desindustrialização denunciado por alguns economistas. A produção cresceu
26,8% em seis anos desde 2007 em dólar corrente (contra +36% dos cinco grandes), e 1% em moeda
constante de 2005 (+13%, em média, entre os maiores).
Em termos de participação em moeda corrente sobre a produção dos cinco grandes, a fatia
brasileira passou de 4,1% em 2007 para 5,9% em 2012. E, em dólar de 2005, saltou de 0,31% para
2,7%. Como viés, nunca houve retração em relação à produção manufatureira total da China, EUA,
Japão, Alemanha e Coréia do Sul. A indústria no Brasil cresceu, embora em velocidade menor. O câmbio
valorizado na maior parte do tempo desde 2007 explica um bom pedaço do descompasso.

Alijado da globalização
Parece claro que a manufatura no país perdeu relevância global não bem quanto à escala de
produção, mas pela falta de competitividade para se integrar às cadeias produtivas no mundo. Isso
significa o alijamento das operações brasileiras como plataforma de exportação das multinacionais — as
empresas dominantes do segmento de bens de consumo duráveis. Não há mais produção completa num
único país.
O iPhone, por exemplo, é montado na China com partes importadas de uma dezena da países e
reexportado para o resto do mundo, sobretudo aos EUA, matriz da Apple, que abocanha cerca de 40%
do preço final. Na China, ficam 7% desse valor. Algo assim está em curso no Brasil, mas com a indústria
operando como importadora, além de dependente tecnológica. Não é desindustrialização, mas também
não é saudável.

Nome do jogo é tecnologia
A produção industrial nos EUA perde terreno frente à concorrência da China, mas não está
morta. O destaque industrial norte-americano está na elevada produtividade de suas empresas. Segundo
o professor Mark Perry, da Universidade de Michigan, a China emprega de 100 a 110 milhões de
operários em suas operações fabris, contra apenas 12 milhões nos EUA. Isso significa que um operário
nos EUA produziu o equivalente a US$ 166 mil em 2012. Um operário chinês, US$ 26 mil.
A produtividade no chão de fábrica nos EUA, portanto, foi mais de seis vezes acima da chinesa.
Essa diferença tende a crescer, já que o salário-hora tem aumentado na China mais que nos EUA,
embora a partir de uma base extremamente baixa, levando as empresas chinesas a acelerar a
automação de suas fábricas e a buscar desenvolvimento tecnológico por via orgânica ou por meio de
aquisições nos EUA e na Europa. Trata-se de uma corrida da qual temos sido expectadores.




Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
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Re: P&D no Brasil

#83 Mensagem por LeandroGCard » Ter Dez 17, 2013 11:09 am

Penguin escreveu:Nome do jogo é tecnologia
A produção industrial nos EUA perde terreno frente à concorrência da China, mas não está
morta. O destaque industrial norte-americano está na elevada produtividade de suas empresas. Segundo
o professor Mark Perry, da Universidade de Michigan, a China emprega de 100 a 110 milhões de
operários em suas operações fabris, contra apenas 12 milhões nos EUA. Isso significa que um operário
nos EUA produziu o equivalente a US$ 166 mil em 2012. Um operário chinês, US$ 26 mil.
A produtividade no chão de fábrica nos EUA, portanto, foi mais de seis vezes acima da chinesa.
Essa diferença tende a crescer, já que o salário-hora tem aumentado na China mais que nos EUA,
embora a partir de uma base extremamente baixa, levando as empresas chinesas a acelerar a
automação de suas fábricas e a buscar desenvolvimento tecnológico por via orgânica ou por meio de
aquisições nos EUA e na Europa. Trata-se de uma corrida da qual temos sido expectadores.
Com relação a este ponto da produtividade existe uma questão que é pouco compreendida pela maioria dos analistas e sequer aparece nos artigos como este. Vejam que o texto acima mesmo torna sinônimos empresa industrial e chão de fábrica, e dá a entender que a maior produtividade da indústria americana se comparada à chinesa (6 vezes maior) se deveria a uma eventual maior automação ou outro fator qualquer que influenciasse a capacidade de produção de suas linhas de fabricação ou montagem. Mas na verdade não é isso o que acontece. O principal fator da maior produtividade dos empregados das indústrias americanas é justamente o fato uma grande parte deles NÃO TRABALHAR NA LINHA DE PRODUÇÃO E SIM NO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA, criando novos produtos e tecnologias.

Na maioria esmagadora das empresas americanas a matriz (instalada no país) concentra a pesquisa e o desenvolvimento de produtos, empregando cientistas, engenheiros e projetistas que possuem alto nível de formação, experiência de anos ou décadas e recebem salários elevados para criar os novos produtos e tecnologias que formarão a base do patrimônio real da empresa (aquilo que só ela domina e pode fazer). Já as linhas de produção ou são relativamente pequenas em relação ao valor agregado em cada produto (por exemplo nas indústria aeronáutica e de equipamentos mais sofisticados), ou são simplesmente terceirizadas, geralmente para outros países como o México, a Malásia, o Brasil... e a própria China.

É nestes outros países menos avançados que se concentra a produção em si dos bens de menor valor agregado ou de consumo de massa, com os trabalhadores da produção necessitando de formação bem inferior e recebendo salários muito menores que os da matriz pois o serviço que fazem vale muito menos (vejam no artigo os dados sobre a distribuição dos ganhos por país relativos ao Iphone). Por isso sua produtividade aparece bem menor nas estatísticas, mas isso não é porque eles produzem menos por hora trabalhada do que faria um americano (ou europeu ocidental), independentemente do equipamento que utilize cada um (na verdade a razão principal da adoção de equipamentos de produção mais sofisticados não tem a ver com o aumento da produtividade em si em relação ao investimento aplicado ou os custos, mas sim com o da qualidade dos produtos finais).

Assim, o que países como a Coréia ou agora a própria China fazem para aumentar sua produtividade geral no setor industrial não é treinar mais e pagar melhor aos seus "peões" de fábrica, ou equipá-los com equipamentos sofisticados (ou ainda substituí-los por robôs e sistemas automáticos de todo tipo), mas sim dar condições (e todo o apoio que puderem) para que suas empresas locais passem a contar com departamentos de pesquisa e desenvolvimento maiores e mais avançados, que criem e lancem no mercado a maior quantidade possível de novos produtos. Isso sim é que aumenta a produtividade dos seus setores industriais.

Já aqui no Brasil o pessoal acha que aumentar a produtividade é colocar mais máquinas e robôs na fábrica que produzirá justamente os produtos projetados e desenvolvidos lá fora... . Adivinhem porque nosso setor industrial patina enquanto os dos outros crescem muito mais rápido e gerando muito maiores impactos sociais :roll: .


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Re: P&D no Brasil

#84 Mensagem por Sterrius » Ter Dez 17, 2013 2:05 pm

agora como mudar a mentalidade, pq estamos falando aqui de um processo que começou e não tem hora pra parar. Que medidas daria pra fazer nos próximos 10 anos que teriam os resultados esperados nos 50?

È o tipo de grande pergunta que me intriga pq não consigo achar uma resposta simples pra isso. E na verdade só vejo é resistência pois estão apegados ao sistema atual. Melhor do que ser puramente agrícola mas é basicamente admitir que seremos o 2º escalão ad eternum enquanto isso não mudar.




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Re: P&D no Brasil

#85 Mensagem por LeandroGCard » Ter Dez 17, 2013 4:03 pm

Sterrius escreveu:agora como mudar a mentalidade, pq estamos falando aqui de um processo que começou e não tem hora pra parar. Que medidas daria pra fazer nos próximos 10 anos que teriam os resultados esperados nos 50?

È o tipo de grande pergunta que me intriga pq não consigo achar uma resposta simples pra isso. E na verdade só vejo é resistência pois estão apegados ao sistema atual. Melhor do que ser puramente agrícola mas é basicamente admitir que seremos o 2º escalão ad eternum enquanto isso não mudar.
A solução já foi encontrada por diversos países em diferentes épocas, da Alemanha após a unificação (não a da queda do muro, mas a de Bismarck no século IXX) à China atual, passando pelo Japão na era Meiji e pela Coréia do Sul nas décadas de 70, 80 e 90 e etc... .

A solução passa por tornar a economia do país competitiva (independentemente das necessidades apenas relativas ao balanço de pagamentos, este é um ponto muito importante) e inseri-la no contexto mundial, para garantir duas condições básicas ao desenvolvimento industrial sustentado: A escala de produção e a necessidade de superar a concorrência. Todos os países de porte razoável que se tornaram desenvolvidos economicamente (não vamos falar de casos específicos como Mônaco, Kuwait ou Luxemburgo, pequenos o suficiente para viver de apenas uns poucos setores de suas economias, que se tornam especializadas) passaram por estas duas etapas no seu setor industrial, primeiro criaram uma base capaz de andar com as próprias pernas, com a disponibilização dos recursos e insumos industriais básicos (infra-estrutura, energia, matérias primas, pessoal especializado) e depois expôs esta base à concorrência internacional (não necessariamente via comércio, URSS e o Japão até a SGM o fizeram através de conflitos militares).

O problema do Brasil é que nem o nosso governo e nem a nossa sociedade percebem a importância destes dois passos serem coordenados. Vivemos pendendo de extremo para o outro (só para citar exemplos mais recentes, do programa de substituição de importações do regime militar à abertura comercial dos governos Collor e FHC) sem que ambas a fases sejam encadeadas de forma deliberada e planejada. As coisas simplesmente vão acontecendo em função da "moda", das afinidades ideológicas e dos interesses pessoais do momento, e consequentemente voltamos sempre à estaca zero e nunca chegamos a lugar nenhum.

Agora mesmo estamos em um ponto assim, onde muitos clamam pela maior abertura e integração da economia (veja como a imprensa reclama da não participação do Brasil em acordos de comércio bilateral), e outros falam da necessidade de aumentar a eficiência de nossa economia (redução do custo-Brasil, das despesas governamentais e etc...), mas sem planos de médio-longo para que as duas coisas sejam executadas na sequência e no timming adequados. E sem estes planos os sucessivos governos não tomam ações nem em um sentido e nem no outro, apenas vão levando os problemas mais urgentyes que surgem no dia-a-dia. E enquanto isso a economia do país afunda no marasmo e é ultrapassada pela de outras nações que fazem os seus deveres de casa sem esperar que governos e/ou empresários estrangeiros venham resolver os problemas internos abrindo seus mercados só por serem bonzinhos e trazendo suas empresas por pena do nosso sofrido povo :roll: .

Dá para listar uma série enormes de ações adequadas à nossa realidade e ao momento histórico do mundo e que poderíamos tomar para colocar o país no rumo do desenvolvimento, mas sabemos que nada disso será feito nem pelo governo atual e nem pelos que se colocam como candidatos a substituí-lo. E assim vamos ficando cada vez mais velhos e cada vez com menos esperança de ver as coisas melhorarem para os brasileiros. Uma pena, um país com tanto potencial simplesmente desperdiçado... :cry: .


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Re: P&D no Brasil

#86 Mensagem por Sterrius » Ter Dez 17, 2013 6:57 pm

Eu diria que parte dessa falta de visão de medio/longo prazo se da muito a mudanças forçadas de poder.

Toda vez que o poder cai, tudo é apagado e repensado do 0. E isso exige anos que são perdidos refazendo o que ja existe.

Apesar de eu ver o poder atual travado, eu vejo ao menos uma tentativa de destravar. E essa que seria realmente minha questão, como destravar a ideia e coloca-la na pratica.




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Re: P&D no Brasil

#87 Mensagem por Grifon » Ter Jan 21, 2014 9:56 am

Editorial: Remediação nuclear

Pelo menos uma década: eis o tempo necessário para o Estado brasileiro pôr em prática a solução para sua dependência de fornecimento externo de radiofármacos, compostos radiativos que estão na base da medicina nuclear.

O desfecho virá com o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Se o licenciamento ambiental das novas instalações em Iperó (SP) for aprovado pelo Ibama nos próximos meses, como previsto, até 2018 ou 2019 o país se tornaria autossuficiente na área –mas são comuns os atrasos nesse processo.

A decisão de construir o RMB veio após a crise de 2009 no abastecimento do molibdênio-99. Trata-se da matéria-prima para a produção do tecnécio-99, principal radiofármaco usado no Brasil, sobretudo em exames de cintilografia (diagnóstico por imagens).

O produto era importado da empresa canadense MDS Nordion, que suspendeu de forma abrupta o fornecimento após avarias em seu reator. Foi preciso fazer importações emergenciais da Argentina, que no entanto supriam só um terço da demanda nacional.

O RMB, orçado em mais de R$ 1 bilhão, está no final da corrida de obstáculos do licenciamento.

O estudo e o relatório de impacto ambiental foram aceitos pelo Ibama em setembro. Em outubro houve três audiências públicas sobre os documentos. Falta a licença prévia de instalação, com a qual podem iniciar-se as obras civis do complexo, que ficará ao lado do Centro Experimental de Aramar, da Marinha, onde se desenvolve o projeto de reator para o submarino de propulsão nuclear brasileiro.

Se não houver tropeços no licenciamento ambiental nem no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI, que poderá ser incluído na reforma eleitoral do gabinete da presidente Dilma Rousseff), as obras de terraplenagem se iniciarão ainda neste ano.

A informação foi dada ao jornal "Valor Econômico" por Luiz Antonio Elias, secretário-executivo do MCTI. Ele anunciou também a contratação do projeto executivo do RMB, para conclusão em meados de 2015, ao qual se seguirá a licitação para construir o reator. Se a obra começar em 2016, parece duvidoso, porém, que seja concluída até 2018, expectativa do governo.

O mercado internacional prevê justamente para 2016 nova crise no fornecimento de molibdênio –tema de reunião técnica marcada para hoje em Paris, da qual participam a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear. Ou seja, mesmo que tudo dê certo com o RMB, ele já viria tarde.

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/20 ... lear.shtml




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Re: P&D no Brasil

#88 Mensagem por LeandroGCard » Ter Jan 28, 2014 1:40 pm

Canso de repetir: Pesquisa e desenvolvimento na iniciativa privada dependem de necessidades mercadológicas, e não de incentivos. Se produzir bens industriais no país não vale à pena por uma série de outras questões, porque alguém em sã consciência iria investir em pesquisas para desenvolver novos produtos ou processos, mesmo tendo incentivos fiscais para isso?

E o fisco tem mais é que fiscalizar bastante isso sim, esta história de querer declarar qualquer aquisição de equipamento novo como investimento em P&D para reduzir imposto é uma tentação muito forte para empresas que entre outras coisas estão enfrentando cada vez maiores problemas de caixa por perda de competitividade. Inovar na contabilidade é muito mais fácil que na tecnologia, e o próprio governo é quem dá o maior exemplo disso :roll: .

E vamos ficando cada vez mais para trás com relação ao restante do mundo, com todas as implicações que isso tem na economia e na sociedade :cry: .
Mesmo com subsídio do governo, total de investimentos em inovação recua

Apesar de mais empresas declararem despesas com pesquisa e desenvolvimento, volume contemplado com incentivos da Lei do Bem caiu 22% de 2011 para 2012, último dado disponível; para especialista, burocracia explica a baixa adesão

João Villaverde - O Estado de S.Paulo - 28 de janeiro de 2014

BRASÍLIA - Os investimentos em inovação feitos pelas grandes empresas caminham na contramão de todo o discurso federal, que busca dar maior competitividade à economia. De acordo com balanço divulgado sobre o desempenho da Lei do Bem, um conjunto de 787 empresas declararam investimentos de R$ 5,3 bilhões em 2012, obtendo benefício fiscal sobre essas despesas.

O dado, vendido pelo governo como avanço, já que mais empresas declararam despesas com inovação, aponta uma marcha à ré, no entanto: o total de investimentos contemplados com os incentivos da Lei do Bem despencou 22% entre 2011 e 2012. A queda tem sido drástica: em 2008, o total de investimentos declarados foi de R$ 8,8 bilhões.

Pela Lei do Bem, as grandes empresas, que recolhem impostos sobre o lucro real, conseguem obter descontos tributários do Imposto de Renda (IR) e da Contribuição sobre Lucro Líquido (CSLL) quando declaram ao governo gastos com pesquisa e desenvolvimento (P&D), além da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) quando adquirem máquinas e equipamentos voltados para P&D e inovação.

De 2006, quando a Lei do Bem foi criada, até 2012, a renúncia fiscal total do governo foi pouco superior a R$ 7 bilhões, sendo R$ 1,1 bilhão apenas em 2012, o dado mais recente.

Péssimo timing. Para o especialista Valter Pieracciani, sócio da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas, o quadro é "gravíssimo", uma vez que as empresas estão colocando o pé no freio da inovação justamente quando ela se faz mais necessária - quando há desaceleração econômica -, ao mesmo tempo em que a Receita Federal tem sido cada vez mais rígida na análise dos investimentos. Cabe ao Fisco verificar se o investimento em P&D registrado pelas empresas no governo pode receber os benefícios fiscais previstos pela Lei do Bem.

"Há problemas com a Receita, que restringe o tipo de investimento que pode ser incluído na Lei do Bem, para diminuir a renúncia fiscal", disse Pieracciani, que apontou para a baixa adesão das grandes empresas brasileiras à inovação. "Apenas 787 empresas, em todo o ano de 2012, conseguiram benefício fiscal oriundo do investimento em P&D", afirmou o especialista. "É preciso ser mais incisivo na política de inovação e também reduzir a burocracia da Receita, que pensa apenas em engordar os cofres do governo."

Cultura. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, Álvaro Prata, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o governo trabalha para que o número de companhias aumente - o volume de investimentos aumentará como consequência. "Claro que queremos ter grandes acúmulos de investimentos em P&D, mas neste momento de construção da cultura inovadora no País nosso objetivo é dar mais capilaridade aos instrumentos de apoio", disse Prata.

O secretário afirmou que o volume de investimentos registrados em 2012, de R$ 5,3 bilhões, "não é desprezível", mas que "certamente" aumentou em 2013. "Teremos uma chance de ouro neste ano que começa para impulsionar a inovação, seja com o amadurecimento da política que temos conduzido há quatro anos, seja pela própria Embrapii, que deve engatar em 2014", disse o secretário, em referência à Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, criada em 2013 para incrementar a relação entre as universidades e centros tecnológicos e as empresas privadas.

Sobre o excesso de burocracia da Receita em avaliar os investimentos declarados em P&D e, assim, reduzir a renúncia fiscal, Prata afirmou apenas que o Fisco "se preocupa em restringir aquela despesa declarada pela empresa para aquela diretamente ligada a P&D, enquanto muitas vezes a empresa declara que a compra de qualquer máquina e equipamento já seria inovação."
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Re: P&D no Brasil

#89 Mensagem por Pedro Gilberto » Qua Fev 05, 2014 8:19 pm

Nunca vamos nos cansar de dizer BZ para MB.... 8-]
Pesquisa da Marinha sobre agente bioquímico natural é patenteada nos EUA

Brasília, 03/02/2014 – Pesquisa desenvolvida pela Marinha do Brasil sobre tintas marítimas anti-incrustantes teve patente aprovada nos Estados Unidos. O projeto, conduzido pelo Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), consiste no uso de um agente biocida isento de metais nas tinturas utilizadas em estruturas submersas e flutuantes. O estudo foi feito em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Fluminense (UFF).

Imagem

A pesquisa, iniciada em 2004 no Instituto de Química da UFRJ, alcançou êxito ao sintetizar o agente biocida a partir de matéria-prima natural, nacional e de baixo custo: um subproduto do refino de óleo de soja. O agente poderá ser utilizado em escala industrial em revestimentos e tintas subaquáticas, protegendo contra os efeitos danosos da bioincrustração em cascos de embarcações, boias, plataformas de petróleo e dutos submersos.

Para o comandante William Romão Batista, engenheiro e pesquisador da Marinha, a obtenção da patente concretiza um ciclo de pesquisas em produtos naturais anti-incrustantes desenvolvidos pelo IEAPM. “Este é o grande passo para termos, no futuro, disponível no mercado, tintas para cascos de navios e plataformas de petróleo, com eficaz ação anti-incrustante e isentas de substâncias nocivas ao meio ambiente marinho”, avaliou o comandante.

De acordo com Romão Batista, por ser um produto natural, isento de elementos metálicos e com ação bactericida e algicida (contra algas), o agente biocida poderá também ser utilizado nas áreas médica, agrícola e pecuária.

A pesquisa

A bioincrustação marinha é resultado do processo natural de colonização e crescimento de micro e macro-organismos sobre superfícies submersas, ocasionando problemas logísticos e prejuízos econômicos, como o entupimento de canalizações, podendo comprometer estruturas de plataformas, pilares e tubulações.

O produto desenvolvido pelo IEAPM da Marinha foi testado experimentalmente durante oito meses em placas metálicas submersas pela empresa brasileira International Tintas S.A. A tinta anti-incrustante demostrou alta resistência e durabilidade, com uma vida útil maior que as tintas marítimas comercializadas atualmente – que gira entre seis meses e dois anos

Já tramita no IEAPM o pedido de uma nova patente junto à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha, que deverá ser enviado ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

Esta nova patente está relacionada à evolução da síntese e da característica físico-química do biocida inicialmente sintetizado. O objetivo dos pesquisadores é fechar parcerias com indústrias interessadas na produção do agente.

Foto: IEAPM / MB
Assessoria de Comunicação Social (Ascom)
Ministério da Defesa
61 3312-4070

http://defesa.gov.br/index.php/ultimas- ... da-nos-eua
[]´s




"O homem erra quando se convence de ver as coisas como não são. O maior erro ainda é quando se persuade de que não as viu, tendo de fato visto." Alexandre Dumas
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