Vejam só, estava dando uma olhadinha no site dos US Marines e achei o sumário da última edição da revista oficial da corporação deles, a Marine Gazette.
http://www.mca-marines.org/gazette/toc.html
Eles só disponibilizam umas amostras grátis dos artigos da revista. Entre os artigos que só podem ser lidos por assinantes da revista está o texto: Close Combat and Learning Infantry Tactics by Maj Brendan B. McBreen.
A coisa gozada está que eu já postei aqui, esse mesmo texto.
Viram só? Aqui no fórum "defesa brasil" vcs podem ler textos do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos sem pagar nem um dólar.
E, melhor ainda, em português.
É ou não é um luxo?:twisted:
“CLOSE COMBAT” E A APRENDIZAGEM DE TÁTICAS DE INFANTARIA.
Autoria do Major Brendan B. McBreen, Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.
Eu aprendi mais sobre táticas de infantaria de pequenas unidades a partir das simulações de “Close Combat” do que em mais de treze anos de experiência no Corpo de Fuzileiros Navais.
“Close Combat” é uma simulação de combate de computador produzida pela Atomic Games. O foco da simulação é o combate de infantaria ao nível de pequenas unidades. A série correntemente consiste de cinco versões: CC I – Omaha Beach; CC II – A Bridge Too a Far; CC III – The Russian Front; CC IV – Battle of the Bulge e CC V – Invasion Normandy. (1)
Eu sou um major de infantaria, com treze anos de serviço comissionado, sete anos com o 5o Regimento de Fuzileiros Navais, dois anos nas escolas, e três anos como oficial de treinamento de infantaria com o Laboratório de Guerra do Corpo de Fuzileiros Navais. Eu servi além-mar com o II Batalhão do 5o de Fuzileiros Navais, quatro vezes. Eu comandei dois pelotões e uma companhia de fuzileiros navais. Eu servi como oficial de operações de batalhão e de regimento. Eu sou um estudioso de táticas. Eu ensinei táticas de infantaria para sargentos e oficiais. Eu participei e liderei treinamentos de decisões táticas.
Nenhuma dessas atividades ou experiências de aprendizado podem igualar o eficiente e focalizado ensinamento tático que eu experimentei através da repetição de combates dos cenários de pequenas unidades em “Close Combat”.
“Close Combat” permite a um jogador lutar centenas de cenários, criar milhares de decisões táticas, experimentar com diferentes táticas, e aprender com seus erros. Eu seria um comandante de pelotão mais qualificado agora, do que era doze anos atrás. Graças aos combates simulados de “Close Combat”, eu internalizei significativas lições táticas de nível de pelotão de fuzileiros:
1) Assaltos longos sem apoio são mortíferos. Assalte por curtas distâncias, contra uma posição levemente armada, ou que tenha sido bem suprimida. Um único soldado inimigo pode destrur um GC atravessando 100 metros de campo aberto.
2) Uma aproximação longa sob cobertura é sempre melhor que uma rota curta e aberta. Seja cauteloso com rotas de aproximação que não possam ser cobertas por uma unidade de proteção.
3) Toda unidade precisa de obscurecimento. Fumaça salva vidas. Todo assalto e cada retirada deve usar fumaça.
4) Fogo e manobra são a chave da tática. Use a maioria de sua força para suprimir avassaladoramente o inimigo, e uma pequena unidade de assalto para cerrar, rapidamente, sobre o objetivo.
5) Tudo repousa na supressão. Fogo sem manobra é desperdício e não é decisivo (e manobra sem fogo é suicídio). Supressão eficiente é a base de todas as táticas de infantaria.
6) Unidades sem apoio mútuo estão condenadas. Unidades mutuamente apoiadas protegem uma à outra de serem fixadas ou assaltadas.
7) Morteiros são, inerentemente, imprecisos. Supressão de área NÃO é destruição. Projéteis são limitados, use-os bem. Não desperdiçe morteiros contra bunkers ou edifícios.
8 ) Concentre seu fogo. Controle de fogo assegura ação decisiva. Em contato, os homens irão dispersar seu fogo. Destruir alvos, em seqüencia, com fogo de ponto é mais eficiente que distribuir o fogo ineficazmente.
9) Toda escalão – GC, pelotão e companhia – precisa de capacidade antitanque, quando enfrentando blindados. Uma unidade de infantaria sem armamento antitanque orgânico ou tem de se retirar ou ser avassalada. A infantaria só pode enfrentar tanques em terreno fechado.
10) Para posições antitanque, setores de fogo estreitos e profundos, desenfiados em ambos os flancos, são os melhores. O melhor setor de fogo permite engajar somente um tanque por vez.
11) Posições defensivas são temporárias. Todas as unidades precisam de múltiplas posições e a habilidade de se retirar.
12) Para posições de metralhadoras, setores de fogo estreitos e profundos, desenfiados em ambos os flancos, são os melhores. Posições principais e sobressalentes separadas por proteção frontal são as melhores.
13) Cobertura é vital. Mova-se de uma posição coberta para outra. Boa cobertura é relativa a uma única posição inimiga. Posições inimigas com apoio mútuo podem superar sua cobertura.
14) Movimente-se por lanços. Um GC em contato precisa de imediato fogo de supressão por outro. A medida do sucesso é o número de unidades que podem colocar, imediatamente, fogo de supressão sobre o contato inimigo.
Bons líderes fuzileiros navais conhecem todas essas lições. Eles foram ensinados, eles leram, eles treinaram para realizá-las. Mas eu, e estes fuzileiros que lutamos “Close Combat”, conhecemos essas lições até a medula. Nós conhecemos a penalidade por erros, por uma má leitura da situação, por tomar decisões tarde demais. Centenas de nossos homens simulados morreram em assaltos malfeitos, posições pobremente desenhadas, e como resultado de inesperadas ações inimigas, para nos ensinar essas lições. Nós examinamos o terreno, checamos a linha-de-visada, posicionamos as unidades, e supervisionamos as unidades em contato com o inimigo tantas vezes que os princípios-chave táticos tornaram-se impregnados em nós, como uma segunda natureza.
Eu defendi três centenas de cruzamentos rodoviários. Não apenas o primeiro passo de colocar um esquema defensivo no papel, mas todo o caminho através da iniciação do combate, de retroceder para posições suplementares sob pressão, e algumas vezes sendo avassalado pelo inimigo, por ter falhado em proteger minhas posições de metralhadoras. Eu não posso, agora, caminhar por uma rua sem ver em minha mente o cruzamento ocupado: “Uma arma antitanque embasada nesta posição baixa com um campo de fogo oblíquo e bom desenfiamento, metralhadoras aqui e ali, um GC avançado com uma posição alternativa próximos aos canhões, um GC no canto para o caso de eles colocarem infantaria descendo essa viela.”
Os métodos históricos de ensinar táticas, caminhar pelo terreno, trabalhar através de exemplos nos manuais, jogos de decisão tática, e reais exercícios de campanha, são importantes e precisam ser feitos por todos os líderes. As escolas e unidades precisam focalizar em líderes reais, unidades reais e terreno real.
Para aumentar esse treinamente tático, entretanto, líderes precisam experimentar os caóticos desafios do combate centenas de vezes. Como um instrumento barato e fácil de usar para ensinar um líder fuzileiro as dinâmicas da tática, a simulação “Close Combat” é sem rival.
Repetição. Em ordem para compreender e identificar padrões, os fuzileiros precisam de centenas de exemplos simulados. Em ordem para internalizar lições, os fuzileiros precisam enfrentar um inimigo ativo e sofrer de seus próprios equívocos táticos. Através da repetição, as lições básicas se tornam tão bem conhecidas que as táticas avançadas e experimentações podem ser tentadas. Apenas com a experiência de combater através de centenas de posições inimigas pode um líder olhar para a fraqueza de uma dada posição e iniciar meios criativos de explorar tal fraqueza. Ler os sutis aspectos de uma situação tática é uma habilidade aprendida que exige bem mais prática do que é atualmente disponível fora de uma simulação.
Eficiente uso do tempo. Escolas e unidades programam tempo de treino. Bem mais tempo está, tipicamente, disponível para indivíduos em “brechas”. Fins de semana, noites, tempo de viagem, e tempo morto que pode ser usado para treinamento simulado individual. Esse tempo é, normalmente, mais abundante que o alocado para os ambientes de aprendizagem formal. Nas forças operativas, em especial, oportunidades para aprendizagem individualizada poderiam ser maximizadas.
Competição entre pares. Fuzileiros podem enfrentar uns aos outros em campos de batalha simulado. Essas experiências de aprendizagem tática, intensificadas pela rivalidade profissional, podem servir como catalizador para discussões doutrinárias, uma oportunidade para construir coesão de liderança, e uma chance para compara táticas e técnicas entre profissionais. A simulação de “Close Combat” é uma grande ferramenta quando em desdobramento, seja em navio, em exercício, ou no além-mar.
O Comando de Educação e Treinamento do Corpo de Fuzileiros Navais, em Quantico, está, atualmente, avaliando uma versão para os Fuzileiros Navais de “Close Combat” para uso em treinamento (2). “Close Combat” é uma valiosa ferramenta de ensino. Eu recomendo para todos os líderes fuzileiros interessados em aperfeiçoar suas habilidades táticas de pequenas unidades. Combata nos cenários. Combate seus pares. Combate para aprender a liderar.
Major McBreen é, atualmente, um estudante na Escola de Guerra Avançada.
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(1) Quem quiser pode conferir alguma coisa sobre o jogo, aqui mesmo no fórum em: http://www.defesabrasil.com/forum/viewtopic.php?t=402&start=0
(2) É a versão “Close Combat – Marines”, infelizmente não foi disponibilizada para civis. Mas, a partir dela, se desenvolveu uma versão para venda no mercado, chamada “Road to Baghdad”, retratando a recente invasão do Iraque. Deve estar à venda por esses dias, nos States. E, aqui no Brasil, logo estará nas mãos dos piratas.
Não que eu esteja recomendando compra de software pirata! Longe de mim! Eu sou um cidadão que obedece a todas as leis do software...
Coisa gozada
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