Eficácia dos mísseis anti-navios

Assuntos em discussão: Marinha do Brasil e marinhas estrangeiras, forças de superfície e submarinas, aviação naval e tecnologia naval.

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Eficácia dos mísseis anti-navios

#1 Mensagem por Slip Junior » Seg Jun 02, 2003 7:22 pm

Estou criando esse tópico para que seja discutido a real eficácia dos mísseis anti-navios antigos, modernos e atuais quando enfrentando navios de guerra devidamente preparados. Bom, para começar gostaria que todos que soubessem algum relato de história real envolvendo os mesmos postassem tal história. No momento só me consigo me recordar dos ataques dos Super Etandards argentinos (armados com Exocets) a 2 navios britânicos (não consigo me recordar agora o nome dos mesmos, mas creio que tratavam-se de um porta-conteiners e uma fragata Type 23) durante o Conflito das Malvinas e do ataque efetuado por um Mirage F-1 iraquiano por engano a uma fragata americana. Em todos os casos, os navios atacados não fizeram uso de medidas defensivas ou simplesmente não a possuiam. Alguém mais poderia comentar mais sobre esses ataques ou relatar algum outro. Também gostaria de relatos sobre ataques onde navios de guerra se utilizaram de tal arma (pois no momento não consigo me recordar de nenhum).

Abraços




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#2 Mensagem por VICTOR » Ter Jun 03, 2003 9:01 am

Slip, o porta-contêiner era o Atlantic Conveyor. O texto abaixo é do fórum velho, postado por Guilherme.

O fim do Shefffield - 4 de maio de 1982

Texto de Elizabeth Koslova ( koslowa@yahoo.com )

O HMS Sheffield foi atingido por um AM-39 Exocet, no dia 4 de maio de 1982 durante o conflito das Falklands / Malvinas, vindo a afundar na manhã de 10 de maio enquanto era rebocado, sem tripulação, na direção das ilhas Georgia do Sul pelo HMS Yarmouth. Vinte e uma pessoas perderam a vida neste episódio que se tornou um ícone da guerra naval moderna.

A sorte do HMS Sheffield começou a ser decidida quando o John Woodward comandante da força tarefa britânica no Atlântico Sul se viu obrigado a deslocar alguns navios com melhor capacidade de defesa aérea para formar um cinturão de proteção antiaérea a cerca de 60 milhas a oeste do GT principal capitaneados pelos porta-aviões HMS Hermes e HMS Invencible. A medida tomada por Woodward foi motivada pela ausência de meios AEW embarcados nos porta aviões, de modo que o GT não fosse facilmente surpreendidos por um ataque a baixa altura da aviação Argentina aproveitando a curvatura terrestre que restringe a cobertura de qualquer radar baseado em terra ou em um navio.

A escolha das embarcações recaiu sobre os destroyers Type 42, navios de escolta AA, dotados de melhores meios de detecção e interceptação dentre os quais o míssil , Sea Dart, SAM de maior alcance naquele conflito. Dos 5 Type 42 que estiveram no atlântico sul, 3 navios estavam formando o cinturão AA avançado no GT naquele dia 4 de maio, HMS Glasgow e HMS Coventry alem do próprio o HMS Sheffield.

Os eventos do dia 4 de maio se iniciaram naquela madrugada, as 4:10 da manha hora local, quando um Neptune da aviação naval Argentina decolou de Rio Grande para uma missão de reconhecimento que assegura-se caminho livre para o vôo de três C-130 até as ilhas em um vôo de suprimento. No comando do Neptune estava o capitão de Corveta Ernesto Proni, o vôo de Proni e de sua tripulação previa uma circunaveção em volta das ilhas plotando todo o trafego naval no seu caminho.

Cerca de 2 horas depois da decolagem, já um pouco a leste das ilhas o Neptune plotam 3 contatos a cerca de 100Km a sudeste do avião, durante um período de 2 a 3 horas o avião argentino descrevia algumas órbitas circulares na sua região de busca, sem ser importunado por caças da Royal Navy baseados nos dois porta aviões, a estratégia de Proni era dissimular uma busca a sobreviventes do ARA Belgrano torpedeado 2 dias antes.

Enquanto marcava o contato com os seus 3 alvos, assim como analisavam seus perfis de comportamento, a tripulação do Neptune emitia relatos ao continente sobre a existência dos contatos, dois Super Etendard(3-A-202 e 3-A-203) armados com um AM-39 Exocet cada, estavam sendo freneticamente preparados em Rio Grande, no seu comando partiriam o Capitão de Corveta Augusto Bedacarratz e o Tenente de Fragata Armando Mayora, eles seriam protagonistas de uma das mais famosas surtidas de combate da história da guerra aéreo-naval.

Na manhã por volta das 9:45 horário local, os dois caças decolaram de Rio Grande, cerca de 20 minutos depois foram abastecidos em vôo por um KC-130 seguindo para leste percorrendo os cerca de 400km que os separavam dos seus alvos. Assim que perceberam em seus RWR a presença de radares de busca dos navios ingleses na área os dois caças desceram a poucos metros acima da superfície do mar, recebendo informações do Neptune os dois pilotos subiram rapidamente a cerca de 2000 pés de modo a plotarem nos seus radares de bordo a marcação dos alvos que alimentaria o sistema de orientação dos Exocet, para a frustração dos dois pilotos, nenhum alvo foi achado, eles retornaram rapidamente a altura padrão de 15m sobre o mar, e cerca de 40km mais a frente repetiram a manobra, desta vez com sucesso conseguindo plotar 2 contados, os pilotos então aceleraram os seus caças a cerca de 500 nós, e quando estavam a cerca de 30km dos seus alvos lançaram os dois AM-39.

Os mísseis percorreram a distancia até o alvo em cerca de 104 segundos, vindo um deles a atingir o HMS Sheffield, a meia nau na altura da casa de maquinas, sem explodir, mas o incêndio causado pela queima do propelente resultante foi o suficiente para transformar em um inferno os momentos que se seguiram.

O mar estava calmo naquele momento, com ondas de pequena intensidade, isto permitiu aos pilotos argentinos escolherem uma altitude de impacto bem próxima a linha da água no navio. A colisão com o míssil a cerca de 2m de altura da linha da água destruiu muitos elementos de distribuição de eletricidade e outros elementos vitais para o navio. Bombas da água não funcionaram mais, escadas e outros itens de alumínio projetados para reduzirem o peso do navio acima do metacentro, deixaram de existir com o calor do incêndio, materiais inadequados presentes nas divisórias internas do navio potencializaram o incêndio e a toxidade da fumaça, muitos erros mínimos de projeto somados naquele momento atuaram contra a tripulação do HMS Sheffield que procurava lutar de toda forma contra o fogo, até que horas mais tarde, quando o calor subiu a tão ponto dentro dos paios dos mísseis Sea Dart tornando real a chance de detonação das suas ogivas, exatas 4 horas e meia depois do ataque o Capitão James "Sam" Salt deu ordens de abandonar a embarcação.

Que fatores contribuíram para o afundamento do mais sofisticado navio da RN naquele momento, porque apenas um dos Exocet disparados atingiu o seu alvo, o que afinal saiu errado?

Com a palavra o imediato do HMS Sheffield, Comandante Michael John Norman.

"Havia um problema de projeto nos Destroyers classe Type 42. Quando o navio transmitia suas mensagens via satélite empregando o sistema SCOT (sistema de transmissão de dados e voz via satélite da RN) todos os radares e sistemas de contra medidas estavam fora do ar. Quando os dois pilotos argentinos subiram para iluminar os alvos com seus radares foram captados pelo HMS Glasgow. No entanto o HMS Sheffield estava transmitindo naquele momento e não captou os sinais dos aviões argentinos. Apesar de estarmos em alerta de ataque eminente mas não iniciado".

O status "Air Raid Yellow" a que Norman se referia foi iniciado com a primeira subida dos dois caças a 2000 pés quando por alguns segundos seus radares Thompson CFS Agave foram ligados, isto chegou a gerar o acionamento de dois Sea Harrier no porta aviões Invencible para a interceptação dos intrusos, interceptação que acabou não acontecendo.

O HMS Glasgow captou em seus sistemas de guerra eletrônica o desenrolar do ataque, lançando foguetes de chaft e tomando melhor posição para oferecer um alvo de menor centróide para o míssil, isto ocorre posicionando a proa ou a popa na direção provável de aproximação, avisado pelo HMS Glasgow, o HMS Coventry também lançou seus foguetes chaft, esta ação acreditam os ingleses desviou um dos dois Exocet, o outro atingiu o HMS Sheffield, que permaneceu passivo.



O HMS Sheffield não foi o único navio afundado por um Exocet no conflito, o HMS Atlantic Conveyor no dia 25 de maio foi a segunda e ultima vitima do míssil francês nas Malvinas, tão pouco foi o único Type 42 afundado, os outros dois navios que protagonizaram o episódio de 4 de maio também sofreram ataque posteriores, em 12 de maio o HMS Glasgow foi atravessado por uma bomba lançada por caças argentinos que passou reto sem explodir causando danos de menores gravidades, já o HMS Coventry não teve a mesma sorte em 25 de maio, 3 bombas lançadas pela aviação Argentina o atingiram colocando o navio a pique 40 minutos depois.

O dia 4 de maio de 1982 mudou muita coisa na guerra naval, era a primeira vez que um Exocet era disparado em combate, era a primeira vez que uma grande marinha de guerra, que tinha tecnologia e doutrina para se contrapor a este tipo de ameaça, era vitima de uma arma que mais uma vez se provara letal, o míssil antinavio.

Notas da Autora:

* O sistema Scot (Ship borne Communications Terminal) fabricado pela antiga Matra Marconi Space, começou a ser desenvolvido no inicio de 19 70, se tornou operacional em 1974, unindo mais de 9 marinhas da OTAN em torno de um sistema único de comunicações por satélite flexível e modular.

* O AM-39 pesa no lançamento 670Kg, dos quais 198Kg aproximadamente corresponde ao propelente. No momento do impacto o míssil, na estimativa da autora, existiam cerca de 74Kg de combustivel. Um grão propelente de base dupla (nitroglicerina e nitrocelulose) que deflagou o incendio de forma catastrófica.

* Cinco anos mais tarde do afundamento do HMS Sheffield , em 17 de maio de 1987, a fragata USS Stark seria atingida por engano, por dois AM-39 disparados por um caça iraquiano. Assim como no ataque ao navio inglês, um dos mísseis não explodiu, apresentando mal funcionamento de sua cabeça de guerra. O outro Exocet explodiu, ao todo 37 pessoas morreram. O navio americano, apesar do menor tamanho (3605ton de deslocamento x 4250ton do HMS Sheddield) e tendo recebido o impacto de dois AM-39, sendo que um detonou sua ogiva de 165Kg, não afundou sendo reparada integralmente. Claro que a baixa intensidade de ondas no Golfo Pérsico em relação ao Atlântico Sul é uma variavel importante para contar corretamente a história, mas a maneira como as avarias do HMS Sheffield influenciaram nos eventos que culminaram com o afundamento do navio, deram a Royal Navy uma sólida base de estudos para futuros projetos.

* O jammer presente a bordo do HMS Sheffield era o modelo "Type 670/675 " estado da arte naquele momento para a Royal Navy. O navio não reagiu eletrônicamente ao buscador do míssil. Em casos onde houve reação ao míssil por meio de contra medidas eletrônicas se obteve exito em desvia-lo do alvo. O HMS Atlantic Conveyor afundado em 25 de maio, foi vitima de um Exocet desviado por ação ECM de outros navios do Grupo Tarefa, sem meios eletrônicos de proteção, ou qualquer sistema CIWS que pudesse abater o míssil.

Retirado de: http://www.defesa1.kit.net/sheffield.htm




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#3 Mensagem por César » Qui Jun 05, 2003 8:55 pm

Olá Slip e Victor! :D :wink:

Acho esse um tema interessante. Bem, vou transcrever um texto pequeno que aparece no meu simulador de vôo sobre o Míssil anti-navio Harpoon. Esse trecho descreve uma combate real empregando misseis anti-navio:

"Os primeiros tiros de harpoon em combate real aconteceram em 1986, no Golfo de Sidra, contra navios Líbios. Pelo menos 2 navios foram destruídos. Em 1988, navios de guerra Iranianos e Americanos trocaram tiros de harpoon. 4 dos 5 mísseis americanos acharam seu alvo, afundando 1 navio Iraniano. Todos os mísseis inimigos foram perdidos devido a jameamento. Mais tarde, um outro navio do Irã foi afundado por um Harpoon lançado do ar.

Abraço a todos! :wink:

César




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#4 Mensagem por César » Qui Jun 05, 2003 9:00 pm

Já que estamos falando de mísseis anti-navio, achei interessante falar um pouco da defesa contra esses mísseis. Aí vai um link que faz uma análise sobre isso, retirado do site do Prick(http://www.infomarmb.hpg.com.br)

http://www.infomarmb.hpg.ig.com.br/defe ... missil.htm

Comentem.. :)

Abraço!

César




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#5 Mensagem por VICTOR » Qui Jun 05, 2003 11:11 pm

Boa, César! :)

Interessante leitura! Principalmente os comentários sobre a utilidade ou não de um canhão como CIWS, e as novidades nessas área.

Valeu!




Carlos Eduardo

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#6 Mensagem por VICTOR » Qui Jun 05, 2003 11:20 pm

ATAQUE AO USS STARK NA GUERRA IRÃ-IRAQUE, 1987, POR MIRAGE F.1

Peço desculpas pela tradução apressada. Este texto é do ACIG, as respostas são do Tom Cooper (95%) e Adrian “Avon”, no tópico “Tanker War, Attack on USS Stark (FFG-31), 1987”
http://www.acig.org/phpBB/viewtopic.php ... forum=13&2

1. USS Stark (FFG-31) foi atingido por dois Exocets, mas quantos explodiram, um ou dois?

O navio foi atingido definitivamente por dois AM.39s, sendo que o segundo - que bateu quase exatamente o mesmo lugar que o primeiro - detonou e abriu um enorme rombo na estrutura do navio, perfurando mesmo o casco no outro lado - o direito - do navio (este buraco - relativamente pequeno - é geralmente pouco comentado).

2. Por que o Phalanx CIWS não foi usado para defender o navio quando nos últimos momentos era certo que era um ataque real? O mesmo para jammers?

Quando o primeiro míssil (disparado de uma distância de menos de 18km) foi finalmente detectado, era tarde demais para ativar o Phalanx ou as outras contramedidas. Há muitas razões para isto, as mais importantes seguem.

Primeiramente, os oficiais comandantes do USS Stark ignoraram o fato de que três dias antes, os iraquianos atacaram também o destroyer USS Coontz (DDG-40), cujo capitão reagiu rapidamente e espantou os pilotos de dois Mirages ao ilumina-los com o radar de controle de fogo e ameaçar abrir fogo (assim como fugiam da combinação AWG-9/AIM-54s dos Tomcats iranianos, os iraquianos estavam também fugindo do SAM RIM-66/Standard e de seus radares de controle de fogo). Ninguém na USS Stark teve a idéia de iluminar o iraquiano com seu equipamento de controle de fogo (antes que os Exocets estivessem sido disparados).

Depois, a tripulação do USS Stark não foi capaz de reconhecer o ataque como sendo real. O Mirage não estava voando diretamente na direção deles, mas com ao menos 15° de desvio. Os radares não detectaram o lançamento de dois Exocets, e o ESM não poderia dizer algo similar, porque o radar Agave não necessita de travamento (lock-on) no alvo a fim fornecer o buscador de um AM.39 com os dados de aquisição de alvo.

Este foi o primeiro encontro com a ameaça “cinza” (armas ocidentais operadas por países hostis). O radar do Mirage F.1 foi detectado mas registrado como não-hostil. O mesmo aconteceu quando o radar de aquisição final (mono-pulso) detectou a fragata: nenhum alarme soou. Isso se aplica também às ECM. Após a Guerra Irã-Iraque, o software foi mudado, para que qualquer sinal de radar mono-pulso ative automaticamente o CIWS, chaff e ECM (há apenas um uso para radares mono-pulso: guiagem final de mísseis).

3. A USS Stark era parte de um grupo maior de navios ou estava sozinha?

Na hora do ataque (na noite de 17 maio, 1987), à exceção de seus radares de vigilância aérea, nenhum armamento da USS Stark estava ativo. O navio estava sozinho, a uns 80nm NE de Bahrein, e o navio norte-americano mais próximo estava a 35nm. O Mirage aproximou-se "ao longo" da costa saudita e girou então para o leste - para a USS Stark. O comandante da Stark, capitão Brindel, advertiu duas vezes o piloto por rádio, e esperava que ele viraria e iria embora. Em vez disso, o iraquiano aproximou-se e disparou os dois Exocets.

4. Se fosse parte de um grupo, havia algum navio com sistema Aegis?

Na época, não havia nenhum vaso armado com Aegis em todo o Golfo, não só na área. O principal motivo era que naquela época a USN só tinha três navios equipados com Aegis, e todos eram cruzadores da classe CG-47 (Ticonderoga, Yorktown, Vincennes). Nenhum deles estava disponível para operações naquela area, e a USn só poderia mandar algum deles para o Golfo em meados de 1988.

5. Quantas aeronaves iraquianas foram usadas para o ataque? Ouviu-se que era somente um solitário Mirage F1 EQ5 armado (não-usualmente, inesperadamente) com dois Exocets.

Somente um mirage F.1EQ-5 esteve envolvido, carregando dois Exocets (um sob cada asa), e um tanque de combustível 2.200l over-sized sob a linha central. O mirage F.1EQ-5 poderia carregar dois Exocets, mas os iraquianos nunca tinham feito aquilo antes. Esta era uma missão experimental para ver se era praticável enviar um Mirage solitário em uma missão noturna, armado com os dois mísseis, em vez de enviar dois Mirages. Não era praticável: era problemático voar o avião com uma carga tão pesada, e o piloto voltou cansado como o diabo. Nada similar foi tentado outra vez.

Se a USS Sstark fosse danificada de uma maneira similar quando envolvida em seu trabalho real - isto é, escoltar mercantes no Atlântico em uma guerra contra a URSS - ela seria perdida. Essa conclusão é resultado definitivo de diversas entrevistas com sua tripulação. Os danos eram tão severos, que os mares mais pesados do Atlântico não perdoariam. Entretanto, aqueles eram dias consideravelmente quietos no Golfo Pérsico.

A fim de esclarecer quanto ao número de Exocets e se explodiram ou não e onde, estão aqui os fragmentos do relatório oficial no ataque à USS Stark, “Investigação Formal sobre as Circunstâncias Relativas ao ataque à USS Stark (FFG 31) em 17 maio 1987" (não-confidencial, com todos os comentários técnicos sobre o sistema e os regras de engajamento suprimidos, naturalmente).

Seção de controle de danos, indica:

"2,3 (U) o primeiro míssil entrou pelo lado direito do navio no frame 110 mas não explodiu. Os pedaços do míssil atravessaram o navio e criaram um furo no casco à esquerda, saindo 20' à frente do frame 172. A ogiva foi encontrada na segunda plataforma no frame 171. O segundo míssil entrou no navio na posição mais ou menos idêntica como o primeiro míssil e explodiu aproximadamente três pés dentro do casco do navio"

"2,8 (U) o primeiro míssil foi mais destrutivo do que o segundo míssil (detonado) porque penetrou mais profundamente no navio. A ogiva do segundo míssil detonou pouco para dentro do casco e exalou parte de energia térmica para fora (exterior) do navio."

Ao contrário do HMS Sheffield, a USS Stark tinha mais de um extintor gerador de espuma. O Sheffield tinha apenas um gerador, que foi destruído pelo míssil. Apesar disso, a tripulação da Stark todos concordam que ela afundaria se o estrago fosse no Atlântico e não no Golfo.


O problema de Exocets que não detonavam era grande na Guerra Irã-Iraque (estima-se que 1/3 dos Exocet falhavam em detonar quando atingiam o alvo)

Um AWACS da USAF detectou o Mirage que atacou a USS Stark logo quando ela decolou da Base Aérea Shoaibah, às 20:30h, quase uma hora antes do ataque. Ele acompanhou pelo radar o trajeto do Mirage enquanto ele rumava sul pelo Golfo. O Mirage não foi interceptado simplesmente porque as forças norte-americanas na área não estavam autorizadas a impedir os iraquianos de atacar navios mercantes estrangeiros no Golfo (isto não seria do interesse da administração dos EUA naquele momento).

Algumas fontes com conexões com a Dassault dizem que não um Mirage F.1EQ-5 foi usado, mas sim um dos três Falcon 50 equipados com radar Agave que os franceses tinham entregue ao Iraque para treinamento dos pilotos de Mirage F.1EQ-5 em navegação e uso de Exocets. As mesmas fontes alegam que estes Falcon 50s teriam voado a maioria das missões anti-navio iraquianas, e que a USN não admitiria que foi atingida por uma aeronave desse tipo, porque seria um vexame. Esses Falcon 50 (que por sinal acabaram todos no Irã, na Guerra de 1991) eram mesmo capazes de levar dois Exocets. Mas não há confirmações para essa versão, e as declarações do piloto iraquiano apontam para algo diferente disso. Além do mais, o Irã derrubou tantos Mirage F.1EQ-5 (e mesmo um Super Etendard), que de maneira alguma três Falcon 50 poderiam ter voado mais de 50% da dos ataques anti-navio iraquianos naquela guerra.




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#7 Mensagem por Slip Junior » Sex Jun 06, 2003 4:57 pm

Victor, excelentes os textos que vc postou. Valeu! :wink:
César nunca tinha ouvido falar sobre esses confrontos que vc narrou de navios (e aeronaves) americanos x navios aeronaves iranianos. Vc (ou alguma outra pessoa) teria mais informações sobre os mesmos?!

Abraços




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#8 Mensagem por César » Sex Jun 06, 2003 11:53 pm

Fala Slip! :)

Bem cara, eu também desconhecia esse confronto(assim como não sabia desse ataque de MirageIV ao USS Stark). Na área de referência bibliográfica do jogo(onde eu peguei essa informação) não existe maiores detalhes.

Também gostaria de pedir pra quem tem mais informações desse combate, que esclareça-nos por favor :wink:

Abraço a todos.




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#9 Mensagem por VICTOR » Sáb Jun 07, 2003 1:24 pm

O uso de Harpoons contra os líbios é provável, já que os EUA e a Líbia ficaram vários anos se engalfinhando. Já esse episódio EUA/Irã eu não conheço também. Vou dar uma olhada por aí.
abraço! :)




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#10 Mensagem por VICTOR » Sáb Jun 07, 2003 2:18 pm

Aqui vai o relato do primeiro uso do Harpoon em combate, por A-6E Intruders e pelo cruzador USS Yorktown; tirado de Tom Cooper, ACIG, tópico “US vs. Libya, 1980-1989”.

A operação Prairie Fire tinha sido planejada pelo Pentágono já em outubro de 1985. O plano dessa operação era simples: esperava-se que as operações da USN no golfo de Sidra provavelmente causariam algum tipo da reação da Líbia, que então poderia ser encarada como "provocação", dando motivo para os EUA contra-atacarem. A tarefa adicional era conseguir mais dados sobre o sistema SA-5. As primeiras operações ao longo da costa líbia foram voadas já em fevereiro de 1986, e durante os seguintes 32 dias, os caças da USN penetraram continuamente ao sul do espaço aéreo da "linha da morte", declarada por Khadaffi. Esta linha conectava Benghasi e Tripoli, e marcava as águas e o espaço aéreo declarados como líbios; o líder líbio ameaçava derrubar ou destruir todo navio ou avião dos EUA que se deslocassem ao sul da linha. Em uma perseguição a um MiG-25PD em 25 de março e 1986, um Tomcat aparentemente cruzou a "linha da morte", chegando a uns 40km da costa líbia (ainda fora das águas territoriais) e este foi o momento em que os primeiros SA-5s foram disparados. Logo após, dois SA-5s adicionais foram disparados, mas ambos foram jameados por um EA-6B, que nesse meio tempo começou a apoiar os Tomcats. Nenhum avião foi derrubado (nem mesmo o MiG-25PD).
Em todo o caso, em torno das 19:00h, o CVW-17 começou a lançar o primeiro contra-ataque, despachando diversos A-7Es do VA-83, armados com AGM-88A HARM, e um número de A-6Es do VA-85 armados com AGM-84 Harpoon e Rockeye, e ao menos dois EA-6B o VAQ-132. Os primeiros a atacar foram - em torno de 19:26h - dois A-6Es do VA-55, que encontrou um barco rápido de mísseis Combatante-II líbio. O barco foi incapacitado primeiramente por um único AGM-84, e destruído então pelo outro Intruder, que o explodiu com uma CBU Rockeye. Uns 40 minutos mais tarde, ao menos dois F-14As do VF-102, acompanhados por F/A-18s, de A-7Es, e de EA-6Bs, que permaneciam a baixa altitude, aproximaram-se do sítio de SA-5 perto de Sidra, causando sua ativação e disparo. Assim que o radar foi ativado, os Corsairs lançaram diversos HARM, e então a formação inteira se distanciou. Não se sabe se algum dos HARM acertou, mas subseqüentemente, os Intruders do VA-85 e VA-55 tiveram um espaço livre para atacar diversos outros barcos líbios.
Em torno de 21:55h, dois A-6Es do VA-55 atacaram uma corveta classe Nanuchka que se dirigia para o cruzador USS Yorktown. A corveta foi atingida por um único AGM-84A, e incendiou-se violentamente (foi depois rebocada para Benghasi). Simultaneamente, o USS Yorktown disparou dois Harpoons e incapacitou um outro barco Combatante II. (...)
Às 07:30h da manhã seguinte, finalmente, uma outra corveta líbia classe Nanuchka foi interceptada por A-6Es do VA-55s, e explodida por CBUs Rockeye, lançada por um Intruder que se aproximou em uma altitude de apenas 30m. O navio foi posto fora de ação imediatamente, e afundado subseqüentemente por um AGM-84 disparado por um A-6E do VA-85, a uma distância de 25km. Embora este ataque fosse voado dentro do alcance dos SA-5s, os líbios não responderam, também porque a maioria dos aviões norte-americanos voaram em altitudes menores que 50 metros. A Operação Prairie Fire foi terminada às 08:30h, momento em que os líbios haviam perdido duas embarcações Combatante II e uma corveta Nanuchka, enquanto outra Nanuchka foi posta fora de ação. Os americanos acreditavam também ter destruído dois radares Squaire Pair, e diversos outros sistemas de controle de fogo de SAM, pricipalmente Fansongs, usados para a orientação de SA-2. Embora os aviões voassem mais perto, os navios da USN nunca aproximaram-se a mais perto que 74km da costa da Líbia.
http://www.acig.org/phpBB/viewtopic.php ... &forum=8&1
http://www.globalsecurity.org/military/ ... vfa-34.htm.




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#11 Mensagem por César » Sáb Jun 07, 2003 6:57 pm

Excelentes textos Victor! :wink: Parabéns! :D

Não sei ao certo do porquê do ataque a Líbia em 1986(aparentemente, foi uma retaliação a decisão de Muamar Khadaffi em abrigar um terrorista acusado de um atentado na Itália). Somente uma aeronave aeronave americana foi atingida(e não derubada) pelos Líbios, um F-111 foi atingido por um ZSU-23-4.

Em 1986(ou 1981, não tenho certeza) os americanos também derrubaram 2 Su-22 Líbios que ficaram loucos e atacaram 2 F-14 Tomcat(porque para atacar 2 F-14 partindo de 2 Su-22, só pode ser loucura dos pilotos).

Abraço a todos.




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#12 Mensagem por VICTOR » Dom Jun 22, 2003 9:51 am

Oi pessoal!

Achei as informações sobre o confronto EUA x Irã em 1988, quando os dois lados dispararam Harpoons. Foi durante a Operação Praying Mantis, em que os EUA agiram após encontrar minas em áreas internacionais do golfo, e bate exatamente com o que o César relatou. Depois eu coloco a história comleta aqui. Por enquanto, dá pra clicar nestes dois links, sobre Praying Mantis e Irã-Iraque:
GlobalSecurity
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#13 Mensagem por LEO » Dom Jun 22, 2003 12:00 pm

Olá pessoal,

Só pra dar uma informação sobre qual foi o primeiro missil anti-navio disparado com a destruição de um alvo. Este aconteceu em 1967 durante o conflito entre israelenses, egipcios e sirios. O disparo, acontecido em 21 de Outubro de de 1967, foi responsavel pelo primeiro disparo com exito de um missil anti-navio. O alvo foi o Destroyer israelense Eliat, que foi atingido por um missil SS-N-2 Styx disparado por um barco egipcio. Foram no total 3 disparos contra o Eliat, que resultou na destruição do navio. No entanto, no restante do conflito, 52 Styx foram lançados pelos sirios e egipcios, sendo que nenhum obteve exito.

Pronto...


Abraços




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#14 Mensagem por VICTOR » Seg Jun 23, 2003 9:44 am

Exato, Leo, e o Styx também apareceu no Yom Kippur e em uns ataques chineses a embarcações sul-vietnamitas (neste caso, a cópia chinesa do Styx, chamada Silkworm). Esses e outros dados estão em uma AFM de 2001 que eu tenho, depois eu posto o resto aqui. É uma reportagem muito interessante, especificamente sobre mísseis anti-navio, e tem uma parte "Operational Use" que encaixa bem com este tópico.




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#15 Mensagem por VICTOR » Ter Jun 24, 2003 3:34 pm

Aqui vai o relato que prometi do confronto EUA x Irã com Harpoon:

Operação Praying Mantis
Em 14 de abril de 1988, sentinelas a bordo do USS Samuel B. Roberts (FFG 58) avistaram três minas que flutuavam aproximadamente a meia milha do navio. Vinte minutos após avistar a primeira mina, enquanto o USS Samuel B. Roberts estava recuando para fora do campo minado, atingiu uma mina submersa que quase rasgou o navio ao meio. Trabalhando intensamente por sete horas, a tripulação estabilizou o navio. O USS Samuel B. Roberts foi enviado de volta aos Estados Unidos para reparo.

Três dias após a explosão da mina, a Força-Tarefa Conjunta para o Oriente Médio (JTFME) executou a resposta americana -- Operação Praying Mantis. Durante um período de dois dias, as unidades da Marinha (USN), do Corpo de Fuzileiros Navais (USMC), do Exército (USAr) e da Força Aérea (USAF):
- destruíram duas plataformas de petróleo que estavam sendo usadas pelo Irã para coordenar ataques a navios mercantes,
- afundaram ou destruíram três navios de guerra iranianos, e
- neutralizaram ao menos seis barcos ligeiros iranianos.

Operando em conjunto com o USS Wainwright (CG 28) e USS Bagley (FF 1069), o USS Simpson (FFG-56) foi designadopara o ataque à plataforma de petróleo iraniana em Sirri, e atacou a plataforma com obuses. Em resposta, barco rápido de patrulha (FPB) da Marinha Iraniana Joshan aproximou-se dos três navios norte-americanos. Quando o Joshan foi advertido para afastar-se, respondeu disparando um míssil Harpoon BGM-84A contra o grupo. O USS Simpson foi o primeiro navio a retornar fogo, acertando o Joshan com o primeiro de quatro mísseis que foram disparados com sucesso por ele naquele dia. Depois de incapacitado pelo fogo do míssil, foi afundado pelos canhões.

http://www.globalsecurity.org/military/ ... mantis.htm

Comentários de Tom Cooper (ACIG), sobre o mesmo fato:
“Durante a Operação Praying Mantis, o IRINS Joshan disparou um BGM-84A Harpoon contra o USS Wainwright, errando por pouco(o míssil passou a 15 metros do cruzador, provavelmente devido às ECM)."
"Sobre a fragata Vosper Mk.5 afundada em 1988 (Operação Praying Mantis, que por sinal acabou tornando-se a maior batalha naval lutada pela USN desde 1945): o nome da fragata era IRINS Sahana"

http://www.acig.org/phpBB/viewtopic.php ... 2&forum=13




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