Brasileira é barrada na Espanha
Enviado: Qua Fev 20, 2008 7:28 pm
'Nunca tinha me sentido tão humilhada', diz estudante barrada na Europa
Patrícia Magalhães, de 23 anos, deveria participar de um congresso de Física.
Ela diz que ficou três dias presa no aeroporto de Madri e fala em preconceito.
CAROLINA ISKANDARIAN
Às vésperas de completar 24 anos, na próxima quinta-feira (21), a estudante Patrícia Camargo Magalhães quer esquecer os últimos dias de sua vida. Ela conta que passou três dias presa na Espanha, foi "devolvida" ao governo brasileiro e perdeu a chance de apresentar seu trabalho em um congresso internacional de Física. Segundo ela, as autoridades espanholas não aceitaram a documentação apresentada e não acreditaram que ela é uma pesquisadora.
"Nunca tinha me sentido tão humilhada. Senti na pele um preconceito que nunca senti em um país que eu achava ser desenvolvido. Eles são muito mais atrasados do que pensam. Estão na Idade Média", atacou Patrícia, em entrevista ao G1 nesta quarta-feira (20). Os problemas da jovem, que estuda na Universidade de São Paulo (USP) e já prepara sua dissertação de mestrado, começaram dia 10, quando ela chegou a Madri. A história foi publicada na edição desta quarta do jornal "Folha de S.Paulo".
No aeroporto, ela foi parada no setor de imigração. Depois de horas de espera e de entrevistas, descobriu que ficaria detida em uma sala do terminal. Mesmo carregando um tubo com dois pôsteres científicos com a identificação dela e da universidade. Durante os três dias em que passou no cômodo de aproximadamente 50 metros quadrados, ficou sem tomar banho, sem escovar os dentes e sem usar desodorante. Comia no chão por falta de lugar, conta. "Eles alegaram que eu não tinha toda a documentação pedida, como a reserva do hotel. Pediram o convite do congresso, meu extrato da conta bancária, meu cartão de crédito. Queriam até contar o meu dinheiro", afirmou.
No mesmo dia em que foi detida, Patrícia deveria embarcar para Lisboa, em Portugal, onde aconteceu o congresso que reuniu pesquisadores de todo o mundo. Ela havia escolhido o vôo para Madri por ser mais barato. Apesar de achar que foi vítima de preconceito por ser latino-americana, ela ainda não sabe ao certo o que motivou sua prisão na Europa.
"Juntou o fato de eu ser mulher, de eu não ter a documentação do hotel. Uma vez que caí no processo imigratório, não tem volta. Se você é latino-americana, independentemente de quem seja, é vista como uma pessoa inferior", disse ela, que chegou ao Brasil dia 12.
A estudante conta que ainda tentou argumentar, alegando que não queria migrar e trabalhar na Espanha, mas foi em vão. Reclamou ainda do abandono de que afirma ter sido vítima. "Eu me senti abandonada pelo governo brasileiro". Patrícia também lamentou ter perdido o congresso. O trabalho que apresentaria sobre amplitude de ressonâncias escalares estava sendo preparado havia um ano. "É uma frustração por ter sido um trabalho tão duro. Eu perdi muito porque ia poder conversar com outros pesquisadores da área, tirar dúvidas", contou a estudante.
O G1 não conseguiu localizar ninguém no Consulado da Espanha em São Paulo na tarde desta quarta-feira.
Um dos primeiros a tentar ajudar Patrícia foi o orientador dela, o professor titular Manoel Roberto Robilotta, do Instituto de Física da USP. De Lisboa, no congresso, ele soube do caso e ali mesmo enviou um fax ao consulado brasileiro em Madrid e à polícia espanhola. O hotel em que Patrícia ficaria hospedada fez o mesmo. Via fax, tentou avisar as autoridades de que se tratava de um engano. Segundo Robilotta, até o organizador do congresso mandou um e-mail para os policiais, conta ele. "Era tudo tão absurdo que achei que ela seria logo liberada", disse o professor.
Robilotta reclamou do descaso por parte da representação brasileira na Espanha. "É um descaso muito grande. É um absurdo tentar contatar um consulado em caso de emergência via fax e não houve nenhum contato de volta da parte deles", afirmou Robilotta, que lamentou pela sua aluna. "Esse congresso não vai ter mais. O jovem conhece e é conhecido. É uma iniciação na comunidade internacional e a Patrícia foi proibida de ir".
Patrícia Magalhães, de 23 anos, deveria participar de um congresso de Física.
Ela diz que ficou três dias presa no aeroporto de Madri e fala em preconceito.
CAROLINA ISKANDARIAN
Às vésperas de completar 24 anos, na próxima quinta-feira (21), a estudante Patrícia Camargo Magalhães quer esquecer os últimos dias de sua vida. Ela conta que passou três dias presa na Espanha, foi "devolvida" ao governo brasileiro e perdeu a chance de apresentar seu trabalho em um congresso internacional de Física. Segundo ela, as autoridades espanholas não aceitaram a documentação apresentada e não acreditaram que ela é uma pesquisadora.
"Nunca tinha me sentido tão humilhada. Senti na pele um preconceito que nunca senti em um país que eu achava ser desenvolvido. Eles são muito mais atrasados do que pensam. Estão na Idade Média", atacou Patrícia, em entrevista ao G1 nesta quarta-feira (20). Os problemas da jovem, que estuda na Universidade de São Paulo (USP) e já prepara sua dissertação de mestrado, começaram dia 10, quando ela chegou a Madri. A história foi publicada na edição desta quarta do jornal "Folha de S.Paulo".
No aeroporto, ela foi parada no setor de imigração. Depois de horas de espera e de entrevistas, descobriu que ficaria detida em uma sala do terminal. Mesmo carregando um tubo com dois pôsteres científicos com a identificação dela e da universidade. Durante os três dias em que passou no cômodo de aproximadamente 50 metros quadrados, ficou sem tomar banho, sem escovar os dentes e sem usar desodorante. Comia no chão por falta de lugar, conta. "Eles alegaram que eu não tinha toda a documentação pedida, como a reserva do hotel. Pediram o convite do congresso, meu extrato da conta bancária, meu cartão de crédito. Queriam até contar o meu dinheiro", afirmou.
No mesmo dia em que foi detida, Patrícia deveria embarcar para Lisboa, em Portugal, onde aconteceu o congresso que reuniu pesquisadores de todo o mundo. Ela havia escolhido o vôo para Madri por ser mais barato. Apesar de achar que foi vítima de preconceito por ser latino-americana, ela ainda não sabe ao certo o que motivou sua prisão na Europa.
"Juntou o fato de eu ser mulher, de eu não ter a documentação do hotel. Uma vez que caí no processo imigratório, não tem volta. Se você é latino-americana, independentemente de quem seja, é vista como uma pessoa inferior", disse ela, que chegou ao Brasil dia 12.
A estudante conta que ainda tentou argumentar, alegando que não queria migrar e trabalhar na Espanha, mas foi em vão. Reclamou ainda do abandono de que afirma ter sido vítima. "Eu me senti abandonada pelo governo brasileiro". Patrícia também lamentou ter perdido o congresso. O trabalho que apresentaria sobre amplitude de ressonâncias escalares estava sendo preparado havia um ano. "É uma frustração por ter sido um trabalho tão duro. Eu perdi muito porque ia poder conversar com outros pesquisadores da área, tirar dúvidas", contou a estudante.
O G1 não conseguiu localizar ninguém no Consulado da Espanha em São Paulo na tarde desta quarta-feira.
Um dos primeiros a tentar ajudar Patrícia foi o orientador dela, o professor titular Manoel Roberto Robilotta, do Instituto de Física da USP. De Lisboa, no congresso, ele soube do caso e ali mesmo enviou um fax ao consulado brasileiro em Madrid e à polícia espanhola. O hotel em que Patrícia ficaria hospedada fez o mesmo. Via fax, tentou avisar as autoridades de que se tratava de um engano. Segundo Robilotta, até o organizador do congresso mandou um e-mail para os policiais, conta ele. "Era tudo tão absurdo que achei que ela seria logo liberada", disse o professor.
Robilotta reclamou do descaso por parte da representação brasileira na Espanha. "É um descaso muito grande. É um absurdo tentar contatar um consulado em caso de emergência via fax e não houve nenhum contato de volta da parte deles", afirmou Robilotta, que lamentou pela sua aluna. "Esse congresso não vai ter mais. O jovem conhece e é conhecido. É uma iniciação na comunidade internacional e a Patrícia foi proibida de ir".