Cuba, cubanos e o Embargo americano
Enviado: Dom Jan 27, 2008 8:44 pm
COMUNIZANDO COM FIDEL.
Por Fred Reed – 20 de dezembro de 2007 (originalmente em The American Conservative).
No malecón de Havana, a muralha marítima segue paralela à linha costeira, as ondas rolam e atingem o imprevisto obstáculo, mandando intensas explosões de brilhante spray branco, bem longe no ar, ocasionalmente molhando um pedestre desavisado. Através da auto-estrada que segue o malecón está um restaurante barato ao ar livre, o DiMar. Uma brisa constante do mar se despeja pelas mesas. Um tolerável coquetel de camarão, coberto de maionese, custa uns poucos mangos. Umas duas noites antes eu bebi uma cerva lá, vendo Cuba passar. Não era o que eu esperava.
Ao contrário de muitos turistas gringos, eu estava legalizado, tendo obtido uma licença do Departamento do Tesouro. Sem uma licença, viajar para Cuba é ilegal sob o Ato de Comércio Com o Inimigo de 1917. Por quê Cuba era minha inimiga não estava claro para mim. Nem para os cubanos.
Eu tinha, inadvertidamente negligenciado em contar para as autoridades que era jornalista – odeio quando isso acontece – portanto não estava em posição de fazer perguntas instigantes aos funcionários. Mas eu também não queria conversa mole de funcionário público. Eu queria andar por aí, pegar táxis e descer a costa, apenas olhar as coisas. E eu o fiz.
Eu fiquei satisfeito de encontrar a parte velha de Havana tanto charmosa quanto razoavelmente bem-conservada, especialmente em volta do convento de São Francisco. Esse último, naturalmente, agora é um museu, pois como Deus sabe, não devemos ter religiões, mas ele está em boa forma e inspira um ar de opressiva solenidade. Eu tentei imaginar a quietude nos tempos anteriores à motocicleta. As estreitas vias em volta estavam fechadas para carros, tornando agradável caminhar entre as lojas.
O país é pobre e desgastado e é, em si mesmo, um museu. Sentar no DiMar é como visitar os Anos 50. O embargo americano torna difícil conseguir carros novos, portanto muitos cubanos ainda dirigem carros de 1959, o ano da revolução, e de antes. Alguns exibem pinturas exuberantes e outros não. Foi notável observar as corridas da minha adolescência passar, planejando-as mentalmente como alguém faria em 1964 – Mercedes 54, Cadillac 57, Chevrolet 56 e por aí vai. Em volta de mim, outros compradores, cubanos de baixa-renda em todos as tonalidades não-brancas, riam e conversavam.
Eles são um povo alegre e hospitaleiro. Na minha chegada eles falavam um espanhol truncado, difícil de compreender – ”Como etáh uteh? Ma o menoh.” – mas eles fizerm um esforço nacional intenso para melhorar sua clareza e no meu quarto dia, já eram compreensíveis.
Cuba não se encaixa na sua sórdida imagem. Ela é, certamente uma ditadura, mesmo assim a presença policial é muito menor do aquela em Washington, e os tiras que eu vi não tinham interesse em mim. Ela não é arregimentada. Havana não se sente – digamos, oprimida – como Moscou se sentia durante os dias da União Soviética. A China de Mao ela não é.
A ilha, certamente não é perigosa para ninguém. Alguém falou que os únicos comunistas restando no mundo estavam em Cuba, Coréia do Norte e na faculdade de Harvard. Eu não sei se os professores de Harvard anseiam pela hegemonia mundial sem-Deus, embora a idéia não seja implausível, mas é absurdo colocar a Coréia do Norte e Cuba na mesma categoria. Pyongyang tem, ou quer, armas nucleares, e tem tanto um enorme exército visando a Coréia do Sul, e um hábito de testar mísseis balísticos de longo alcance. Cuba tem forças armadas pequenas e ninguém contra quem usá-las; de um ponto de vista americano, as forças armadas cubanas são tão apavorantes quanto o Luciano Huck com uma pistola d’agua. Cuba não tem arma nuclear alguma e nenhum sinal de querer ter. Ela não é um estado fora-da-lei. Ela é uma ilha deteriorada de pessoas agradáveis que precisam de mais dinheiro.
Cuba é cara. Comparar os preços das coisas é difícil – deliberadamente talvez, alguém poderia suspeitar – devido um peculiar jogo que o governo faz com as moedas. Cuba tem duas, a moeda nacional, que um visitante quase nunca vê, e o CUC que parece existir para turistas empobrecidos. Um visitante tem de converter seu dinheiro para CUCs. Se você troca dólares, o governo passa a mão em vinte porcento do topo e, então troca o restante a $1,08 por CUC. Se você troca pesos mexicanos, o que eu fiz, o índice é de 13,3 pelos por CUC quando o dólar era trocado por cerca de 11 pesos. Visitantes tem de comprar coisas por CUCs, que o vendedor, então tem de trocar pela moeda nacional a um índice de... Por aí se vê. Ninguém parece certo sobre o quanto cada coisa realmente custa.
A ilha podia usar algum investimento. Embora eu tenha encontrado vizinhanças com casas modernas de boa aparência, ditas pelo motorista de táxi pertencerem aos funcionários do governo e empregados de firmas estrangeiras, o resto da cidade precisa de pintura, reparos, e novas calçadas. Incontáveis casas, outrora elegantes com pórticos de colunas e janelas altas estão, agora descoloridas e desabando.
Por quê os comunistas imaginam a si mesmos como revolucionários é um mistério. Onde quer que eles tomem o poder num país, ele chega a um beco sem saída e senta vendo os outros países passarem. Eu não acho que o comunismo gere pobreza; antes ele a encontra e a preserva. Ele, certamente fez isso aqui. Cuba parece firmemente ancorada em 1959. Quanto disso vêm do embargo – “El Bloqueo” como o chamam os cubanos – e quanto do comunismo, eu não sei. Ninguém sabe. Isso é conveniente para Castro, já que ele pode jogar a culpa de qualquer coisa sobre os Estados Unidos. E o faz.
Curiosamente, o insubstituível apoio de Fidel está em Washington. Ao longo das auto-estradas, através do malecón de Havana, em pequenas vilas de aparência mediterrânea descendo a costa qualquer um vê cartazes do tipo, “Quarenta e três horas do bloqueio poderiam pagar por uma nova escola.” Ou por tantas locomotivas, ou completar as auto-estradas nacionais, ou isto ou aquilo. Como se chega esses números, eu não sei, mas isso não importa. De certo modo, os cartazes não são propaganda mas, simplesmente chamam a atenção para um fato: o embargo prejudica pessoas, que desejam empregos, dólares dos turistas e bens de consumo. Elas estão perfeitamente cientes do por quê não tem isso: o embargo americano. Isso pode ou não ser totalmente verdadeiro, mas tem uma verossimilhança convincente. Isso faz Fidel parecer bom. Ele está resistindo aos bastardos que nos estão tentando estrangular.
O quão resolutamente comunista é o povo cubano? Isso é apenas uma impressão, mas eu diria, “Muito pouco, se tanto (“Not at all, if that much.).” Abstrações terminando em “ismo” são hobbies para pessoas que tem tempo para elas. Todo mundo com quem falei queria mais dinheiro – um emprego melhor, comida melhor, roupas melhores, uma oportunidade para levar a esposa para jantar fora. Depois dessas coisas, mais liberdade.
Como um exemplo do uso do embargo por Castro para se manter no poder, considere a Internet. As pessoas com as quais falei já tinham ouvido falar dela, é claro, mas tinham pouca idéia do que se tratava e nenhum acesso a ela. Ela pode ser encontrada em hotéis e, aparentemente nas áreas turísticas, embora eu não tenha visto um só cybercafé do tipo que é encontrado a cada vinte metros em todos os países de terceiro-mundo que eu conheço. Por quê nenhuma Internet? Os cubanos, universalmente dizem que o embargo dos EUA impede Cuba de ter acesso. Isso me atingiu como uma improbabilidade. E era.
Na ZDNet, um respeitável website lidando com assuntos eletrônicos, eu mais tarde encontrei um relato de uma conferência da ONU em Atenas, na qual o funcionário cubano foi perguntado sobre qual a porcentagem de cubanos tendo acesso à net. Ele se esquivou, freneticamente da questão. ZDNet cita Bill Woodcock, um engenheiro de redes e diretor de pesquisas da Packet Clearing House, como se segue:
“Zero porcento dos cubanos estão conectados à Internet. O governo cubano opera uma companhia telefônica oficial, que mantém um Web cache. Os cubanos que desejarem utilizar a Internet navegam pelo Web cache governamental (browse the government Web cache). Eles não tem acesso irrestrito à Internet: (http://news.zdnet.com/2100-9588_22-6131854.html)
E se o tivessem, o governo iria ter um bocado a se explicar.
Também da ZDNet: “Um relatório publicado no mês passado pelos Repórteres Sem Fronteira diz, “é proibido comprar qualquer equipamento de computador sem expressa permissão das autoridades,” e spyware “instalado em todos os cafés da Internt, automaticamente detectam conteúdo banido.” A lei dos Estados Unidos isenta equipamento e serviços de telecomunicações do embargo comercial.”
O governo cubano está mentindo, quem teria pensado numa coisa dessas, mas pode culpar o embargo pela falta de acesso. Washington, com efeito ajuda Castro em manter a censura.
Cuba tem o que são chamados “cocotáxis”. Esses são coisas esféricas de plástico amarelo como parte de uma casca de coco presa a uma motocicleta, fornecendo transporte para dois. Tendo contratado um cocotaxi por um dia, eu fiquei conhecendo o motorista razoavelmente bem, ao ponto de ser convidado para sua casa para uns comes-e-bebes. Sua esposa tinha acabado de ter uma filha e ele não cabia em si de orgulho de ambas. Seu entendimento de economia era de que as coisas eram ruins, tinham sido piores mas estavam, lentamente ficando melhores. Ainda assim, ele disse, os impostos eram altos e ele tinha de comprar gasolina em CUCs, o que a fazia mais dispendiosa. Coisas como computadores estavam fora do alcance, e ele e sua esposa não podiam se permitir restaurantes. Tinha ele muitos passageiros gringos, perguntei. Não, não muitos. Ele queria que mais viessem. Ele estava cansado de ser pobre.
Eu não estou certo do por quê seria do interesse nacional dos Estados Unidos fazer um taxista e sua família viverem na base do peixe com arroz. Eu não me sinto, notavelmente mais seguro ao ouvir sobre isso.
Um embargo faz sentido quando ele faz sentido, mas não faz sentido quando não faz sentido. Cuba não é mais a ponta-de-lança da União Soviética; na verdade, de acordo com muitos observadores, nem existe mais uma União Soviética. Nós parecemos estar procedendo por pura vingança contra Castro. Fidel, um repreensível ditador freelance, acabou com Batista, nosso repreensível ditador. Nós queremos ficar quites.
Mas Castro não é Cuba. O CIA Fact Book diz que Cuba tem 11.394.043 cidadãos. Um deles é Castro, e 11.394.042 não são. Muitos americanos dizem que Castro é mau e, portanto temos de embargá-lo. Uma pessoa, com certeza, o embargo não prejudica que é Castro. Alguém acha que ele anda comendo menos por causa dele?
Ah, mas há os emigrados cubanos em Miami. Tanto da política externa americana parece determinada pela política interna, por uma certa truculência infantil, e pela ignorância de como agem as pessoas. O embargo não conseguiu nada de qualquer utilidade durante 50 anos. Claramente a coisa a ser feita é mantê-lo por outros cinqüenta. Os “cubanos” em Miami exigem isso.
Nós estamos sujeitados a uma considerável desinformação no que concerne a ilha. Os emigrados cubanos no sul da Flórida pintam Cuba como um buraco do inferno. Ela não é. Eu tenho vistos buracos do inferno. Mesmo antes de vir para Cuba, eu tinha desenvolvido uma visão sombria dos pseudo-cubanos de Miami. Só por uma coisa, eu tinha ido a Miami e simplesmente não gostei deles. Eles são arrogantes, e rudes com os anglos se não, realmente hostis. Eu me vi querendo perguntar, “Mas que país vocês pensam que esse é, afinal de contas?” mas a resposta era óbvia.
E mais, ao apoiarem o embargo eles estão cientes de que estão infligindo graves sofrimentos sobre onze milhões de seus supostos compatriotas porque estão danados com Fidel. Isso é desprezível. Eles querem que os EUA vão atrás, para eles, de suas posses que Castro confiscou ao chegar ao poder. Dada a corrupção e criminalidade correndo soltas sob Batista, seria interessante perguntar como eles conseguiram suas propriedades. Para tentar consegui-las de volta eles estão perfeitamente prontos para condenar a população da ilha a outros cinqüenta anos vivendo de peixe e arroz. Mas que patriotas.
Eu digo “pseudo-cubanos” e “supostos compatriotas cubanos”. É bom observar que 1959 foi há 48 anos atrás. A grande maioria desses alegados cubanos nasceu aqui, nunca esteve em Cuba e não iriam viver lá se pudessem. Eles são gringos, americanos. Eles são, também um importante bloco eleitoral num estado crucial para a presidência. Como tão freqüentemente na política externa, o jogo político interno atropela o interesse nacional e o pensamento coerente.
Vivendo como eu vivo no México, talvez eu tenha um ângulo melhor de visão sobre questões latino-americanas do que os isolados ideológicos em Washington. Para o mundo abaixo de Laredo, Cuba é um heróico pequeno país sendo atormentado pelos Estados Unidos mas sem ceder. Eu não estou certo se essa não é a opinião do mundo inteiro, exceto pela América. Lembrem-se de que muito da Latinidade acredita que os problemas econômicos da América do Sul provém da exploração americana. Não provém. Considerável fé é exigida para se acreditar que a Bolívia se transformaria no Japão se apenas os Estados Unidos parassem de oprimí-la. Mas crenças, não fatos determinam o comportamento.
Os argumentos americanos contra a ilha não carregam muito peso numa região que vê as coisas através de olhos latino-americanos. Por exemplo, pelos padrões regionais Cuba não é terrivelmente pobre. Ela não sofre a carnificina da Guatemala e El Salvador. Por cinqüenta anos ela tem sido politicamente estável. Dada a experiência dos latino-americanos com ditadura, corrupção e violência, o governo de Cuba não parece ruim.
Os americanos, talvez devido a Guerra Fria, tendem a pensar que comunismo é comunismo, tudo farinha do mesmo saco. Não tanto assim. No índice superior do horrível você tem Stalin, Pol Pot e Mao, genuínos loucos de entusiasmos genocidas. A dinastia da Coréia do Norte corre em segundo.
Castro não é nem louco e nem genocida. Um ditador, sim. Um tedioso saco-de-vento, sim. Repressor da dissidência, sim – mas disposição para reprimir a dissenção não significa que haja uma grande quantidade de dissidência para reprimir. Tanto quanto diz respeito aos cubanos (eu quero dizer cubanos de verdade, a espécie que vive em Cuba, não a variedade fajuta em Miami), o problema não é Castro. É a hostilidade de Washington. Castro podia terminar o embargo se rendendo, isso é certo. Washington podia terminar com ele, terminando-o, e provavelmente terminando com Castro ao mesmo tempo.
Enquanto eu estava na ilha, a ONU votou 184 contra 4 para recomendar que os Estados Unidos findassem o embargo. Nessa votação a América teve o apoio das seguintes grandes potências: Israel, Ilhas Palau e Ilhas Marshall. Vários cubanos, espontaneamente me falaram da votação, sorrindo triunfantemente. Intrigado, eu resolvi falar sobre a votação com as pessoas com quem encontrava. Todas sabiam dela – a televisão governamental se assegurou disso – e sorriam amplamente sobre o que elas viam como uma vitória de Cuba sobre Bush.
Se esta ilha é instável, ansiando por Fider morrer para que ela possa se revoltar e virar um apêndice dos Estados Unidos, eu sou Sofia Loren.
Eu passei várias horas caminhando através das favelas de Havana. Estas são extensas e feias. Semelhante a muito da cidade, elas parecem ter sido construídas cinqüenta anos atrás e nunca terem sofrido manutenção. Ruas comerciais tem os pilares usuais, com freqüência em cores pastel agora cobertas com fuligem, o reboco caindo em placas. Nas ruas laterias, bueiros ficam abertos. Algumas vezes água, provavelmente esgoto, corre pelo pavimento. Eu não vi nada sugerindo fome, nenhuma desnutrição africana, mas essas pessoas, claramente tem pouco. Repetidas vezes, eu vislumbrei pelas portas e vi escadarias obscenamente desgastadas subindo mergulhando na escuridão. Pessoas cansadas espiavam das janelas.
Locais similares existem nos subúrbios de Detroit e em Washington DC, onde edifícios abandonados são comuns, onde projetos habitacionais inteiros tiveram suas janelas tijoladas para impedir que se tornassem galerias de picadas para gente com agulhas. As favelas da América são demarcadas por raça, mas em Cuba não são. Eu não encontrei hostilidade alguma. Em quatro horas eu não ganhei nem um olhar mal-encarado. Em Detroit eu teria durado cinco minutos. Mas essas pessoas não vão conseguir nada, vivendo, procriando e morrendo com nada para mostrar. É uma coisa podre fazer isso com eles sem uma razão muito boa. E não há razão alguma. Isso não nos livra de Fidel.
As armadilhas do socialismo panfletário estão por toda parte em Cuba. Cartazes nos muros dizem “Venceremos” e “Patria o Muere” e outras coisas excitantes. A adolescência é dura de morrer em toda parte. Um pôster mostra imagens de Bush, Hitler e alguém que talvez queira indicar Cheney (parecia, mas não podia ser John Lennon) com anotações aritméticas: Bush mais qualquer coisa igual a Hitler. O rosto de Che Guevara aparece interminavelmente, o Cristo comunista, olha de cima para baixo, contemplando bravamente um paraíso socialista que não se encaixa na camiseta. Eu vi prateleiras oferecendo treze diferentes fotos de Che. Se ele tivesse cicatrizes graves de acne e orelhas gozadas, não teria importância alguma para o socialismo, mas ele dá uma boa camiseta.
A imprensa é, sem dúvida controlada. A seção política de uma livraria que eu vi, consistia de talvez uma dúzia de livros sobre (ai-ai) Che, o resto sendo não muito melhor. Confusamente, havia um par de livros sobre administração de negócios. A televisão é carregada de afirmações de patriotismo socialista. Em particular há canais sobre a China, que Cuba parece considerar como comunista (quando foi a última vez que você ouviu falar de uma economia comunista crescendo a dez porcento, ou tanto?) e da Venezuela. Hugo Chavez, claramente e considerado como um grande homem.
Próximo ao fim da aventura eu voltei para o DiMar para comunizar com o vento e as ondas explodindo e ponderar sobre o que eu tinha visto. Os cubanos fazem uma boa cerveja (Bucanero). Eu tenho de reconhecer, e enquanto maionese com camarão possa não ser aconselhável, ela funcionou.
Eu queria separar o que eu sabia sobre Cuba daquilo que eu suspeitava, para, desta forma, evitar a armadilha da especialização instantânea. Algumas coisas eu não sabia. Um buraco do inferno? Não. Ameaça para qualquer um? Não. Perigo para a estabilidade internacional? Não. Precisando ser embargada? Não. Ditadura? Sim. Aderente da Carta de Direitos? Não.
O quão mau era Fidel? Realmente, não sei. Admiradores e detratores são amplamente ideológicos. Comparado com Thomas Jefferson ele não parece bom (embora eu não ache que Castro tenha escravos). Comparado com outros ditadores que os Estados Unidos tem instalado ou apoiado – Somoza, Trujillo, o Xá, Pinochet, Saddam Hussein e por aí vai – fica parelho.
Mas, não obstante o quão repugnante Castro possa ser, a questão prática é se o embargo é do interesse da América. Se os Estados Unidos ainda são fortes o bastante que não importe o que o mundo pensa, então o embargo, embora desnecessário, não importa (exceto em termos morais, o que não conta). Mas enquanto o país trava guerras contra o mundo muçulmano, tenta conter a China (isso vai funcionar), empurra a Rússia para os braços da China, e tenta intimidar a América do Sul, tudo isso de uma vez só, talvez fosse melhor aperfeiçoar as relações da América com este hemisfério. Um modo eficiente para difundir o comunismo é transformar os comunistas em heróis. O mundo inteiro – bem, exceto Israel, as Ilhas Marshall e as Ilhas Palau – está contra o Estados Unidos nisso. É assim tão importante manter Miami feliz?
Por Fred Reed – 20 de dezembro de 2007 (originalmente em The American Conservative).
No malecón de Havana, a muralha marítima segue paralela à linha costeira, as ondas rolam e atingem o imprevisto obstáculo, mandando intensas explosões de brilhante spray branco, bem longe no ar, ocasionalmente molhando um pedestre desavisado. Através da auto-estrada que segue o malecón está um restaurante barato ao ar livre, o DiMar. Uma brisa constante do mar se despeja pelas mesas. Um tolerável coquetel de camarão, coberto de maionese, custa uns poucos mangos. Umas duas noites antes eu bebi uma cerva lá, vendo Cuba passar. Não era o que eu esperava.
Ao contrário de muitos turistas gringos, eu estava legalizado, tendo obtido uma licença do Departamento do Tesouro. Sem uma licença, viajar para Cuba é ilegal sob o Ato de Comércio Com o Inimigo de 1917. Por quê Cuba era minha inimiga não estava claro para mim. Nem para os cubanos.
Eu tinha, inadvertidamente negligenciado em contar para as autoridades que era jornalista – odeio quando isso acontece – portanto não estava em posição de fazer perguntas instigantes aos funcionários. Mas eu também não queria conversa mole de funcionário público. Eu queria andar por aí, pegar táxis e descer a costa, apenas olhar as coisas. E eu o fiz.
Eu fiquei satisfeito de encontrar a parte velha de Havana tanto charmosa quanto razoavelmente bem-conservada, especialmente em volta do convento de São Francisco. Esse último, naturalmente, agora é um museu, pois como Deus sabe, não devemos ter religiões, mas ele está em boa forma e inspira um ar de opressiva solenidade. Eu tentei imaginar a quietude nos tempos anteriores à motocicleta. As estreitas vias em volta estavam fechadas para carros, tornando agradável caminhar entre as lojas.
O país é pobre e desgastado e é, em si mesmo, um museu. Sentar no DiMar é como visitar os Anos 50. O embargo americano torna difícil conseguir carros novos, portanto muitos cubanos ainda dirigem carros de 1959, o ano da revolução, e de antes. Alguns exibem pinturas exuberantes e outros não. Foi notável observar as corridas da minha adolescência passar, planejando-as mentalmente como alguém faria em 1964 – Mercedes 54, Cadillac 57, Chevrolet 56 e por aí vai. Em volta de mim, outros compradores, cubanos de baixa-renda em todos as tonalidades não-brancas, riam e conversavam.
Eles são um povo alegre e hospitaleiro. Na minha chegada eles falavam um espanhol truncado, difícil de compreender – ”Como etáh uteh? Ma o menoh.” – mas eles fizerm um esforço nacional intenso para melhorar sua clareza e no meu quarto dia, já eram compreensíveis.
Cuba não se encaixa na sua sórdida imagem. Ela é, certamente uma ditadura, mesmo assim a presença policial é muito menor do aquela em Washington, e os tiras que eu vi não tinham interesse em mim. Ela não é arregimentada. Havana não se sente – digamos, oprimida – como Moscou se sentia durante os dias da União Soviética. A China de Mao ela não é.
A ilha, certamente não é perigosa para ninguém. Alguém falou que os únicos comunistas restando no mundo estavam em Cuba, Coréia do Norte e na faculdade de Harvard. Eu não sei se os professores de Harvard anseiam pela hegemonia mundial sem-Deus, embora a idéia não seja implausível, mas é absurdo colocar a Coréia do Norte e Cuba na mesma categoria. Pyongyang tem, ou quer, armas nucleares, e tem tanto um enorme exército visando a Coréia do Sul, e um hábito de testar mísseis balísticos de longo alcance. Cuba tem forças armadas pequenas e ninguém contra quem usá-las; de um ponto de vista americano, as forças armadas cubanas são tão apavorantes quanto o Luciano Huck com uma pistola d’agua. Cuba não tem arma nuclear alguma e nenhum sinal de querer ter. Ela não é um estado fora-da-lei. Ela é uma ilha deteriorada de pessoas agradáveis que precisam de mais dinheiro.
Cuba é cara. Comparar os preços das coisas é difícil – deliberadamente talvez, alguém poderia suspeitar – devido um peculiar jogo que o governo faz com as moedas. Cuba tem duas, a moeda nacional, que um visitante quase nunca vê, e o CUC que parece existir para turistas empobrecidos. Um visitante tem de converter seu dinheiro para CUCs. Se você troca dólares, o governo passa a mão em vinte porcento do topo e, então troca o restante a $1,08 por CUC. Se você troca pesos mexicanos, o que eu fiz, o índice é de 13,3 pelos por CUC quando o dólar era trocado por cerca de 11 pesos. Visitantes tem de comprar coisas por CUCs, que o vendedor, então tem de trocar pela moeda nacional a um índice de... Por aí se vê. Ninguém parece certo sobre o quanto cada coisa realmente custa.
A ilha podia usar algum investimento. Embora eu tenha encontrado vizinhanças com casas modernas de boa aparência, ditas pelo motorista de táxi pertencerem aos funcionários do governo e empregados de firmas estrangeiras, o resto da cidade precisa de pintura, reparos, e novas calçadas. Incontáveis casas, outrora elegantes com pórticos de colunas e janelas altas estão, agora descoloridas e desabando.
Por quê os comunistas imaginam a si mesmos como revolucionários é um mistério. Onde quer que eles tomem o poder num país, ele chega a um beco sem saída e senta vendo os outros países passarem. Eu não acho que o comunismo gere pobreza; antes ele a encontra e a preserva. Ele, certamente fez isso aqui. Cuba parece firmemente ancorada em 1959. Quanto disso vêm do embargo – “El Bloqueo” como o chamam os cubanos – e quanto do comunismo, eu não sei. Ninguém sabe. Isso é conveniente para Castro, já que ele pode jogar a culpa de qualquer coisa sobre os Estados Unidos. E o faz.
Curiosamente, o insubstituível apoio de Fidel está em Washington. Ao longo das auto-estradas, através do malecón de Havana, em pequenas vilas de aparência mediterrânea descendo a costa qualquer um vê cartazes do tipo, “Quarenta e três horas do bloqueio poderiam pagar por uma nova escola.” Ou por tantas locomotivas, ou completar as auto-estradas nacionais, ou isto ou aquilo. Como se chega esses números, eu não sei, mas isso não importa. De certo modo, os cartazes não são propaganda mas, simplesmente chamam a atenção para um fato: o embargo prejudica pessoas, que desejam empregos, dólares dos turistas e bens de consumo. Elas estão perfeitamente cientes do por quê não tem isso: o embargo americano. Isso pode ou não ser totalmente verdadeiro, mas tem uma verossimilhança convincente. Isso faz Fidel parecer bom. Ele está resistindo aos bastardos que nos estão tentando estrangular.
O quão resolutamente comunista é o povo cubano? Isso é apenas uma impressão, mas eu diria, “Muito pouco, se tanto (“Not at all, if that much.).” Abstrações terminando em “ismo” são hobbies para pessoas que tem tempo para elas. Todo mundo com quem falei queria mais dinheiro – um emprego melhor, comida melhor, roupas melhores, uma oportunidade para levar a esposa para jantar fora. Depois dessas coisas, mais liberdade.
Como um exemplo do uso do embargo por Castro para se manter no poder, considere a Internet. As pessoas com as quais falei já tinham ouvido falar dela, é claro, mas tinham pouca idéia do que se tratava e nenhum acesso a ela. Ela pode ser encontrada em hotéis e, aparentemente nas áreas turísticas, embora eu não tenha visto um só cybercafé do tipo que é encontrado a cada vinte metros em todos os países de terceiro-mundo que eu conheço. Por quê nenhuma Internet? Os cubanos, universalmente dizem que o embargo dos EUA impede Cuba de ter acesso. Isso me atingiu como uma improbabilidade. E era.
Na ZDNet, um respeitável website lidando com assuntos eletrônicos, eu mais tarde encontrei um relato de uma conferência da ONU em Atenas, na qual o funcionário cubano foi perguntado sobre qual a porcentagem de cubanos tendo acesso à net. Ele se esquivou, freneticamente da questão. ZDNet cita Bill Woodcock, um engenheiro de redes e diretor de pesquisas da Packet Clearing House, como se segue:
“Zero porcento dos cubanos estão conectados à Internet. O governo cubano opera uma companhia telefônica oficial, que mantém um Web cache. Os cubanos que desejarem utilizar a Internet navegam pelo Web cache governamental (browse the government Web cache). Eles não tem acesso irrestrito à Internet: (http://news.zdnet.com/2100-9588_22-6131854.html)
E se o tivessem, o governo iria ter um bocado a se explicar.
Também da ZDNet: “Um relatório publicado no mês passado pelos Repórteres Sem Fronteira diz, “é proibido comprar qualquer equipamento de computador sem expressa permissão das autoridades,” e spyware “instalado em todos os cafés da Internt, automaticamente detectam conteúdo banido.” A lei dos Estados Unidos isenta equipamento e serviços de telecomunicações do embargo comercial.”
O governo cubano está mentindo, quem teria pensado numa coisa dessas, mas pode culpar o embargo pela falta de acesso. Washington, com efeito ajuda Castro em manter a censura.
Cuba tem o que são chamados “cocotáxis”. Esses são coisas esféricas de plástico amarelo como parte de uma casca de coco presa a uma motocicleta, fornecendo transporte para dois. Tendo contratado um cocotaxi por um dia, eu fiquei conhecendo o motorista razoavelmente bem, ao ponto de ser convidado para sua casa para uns comes-e-bebes. Sua esposa tinha acabado de ter uma filha e ele não cabia em si de orgulho de ambas. Seu entendimento de economia era de que as coisas eram ruins, tinham sido piores mas estavam, lentamente ficando melhores. Ainda assim, ele disse, os impostos eram altos e ele tinha de comprar gasolina em CUCs, o que a fazia mais dispendiosa. Coisas como computadores estavam fora do alcance, e ele e sua esposa não podiam se permitir restaurantes. Tinha ele muitos passageiros gringos, perguntei. Não, não muitos. Ele queria que mais viessem. Ele estava cansado de ser pobre.
Eu não estou certo do por quê seria do interesse nacional dos Estados Unidos fazer um taxista e sua família viverem na base do peixe com arroz. Eu não me sinto, notavelmente mais seguro ao ouvir sobre isso.
Um embargo faz sentido quando ele faz sentido, mas não faz sentido quando não faz sentido. Cuba não é mais a ponta-de-lança da União Soviética; na verdade, de acordo com muitos observadores, nem existe mais uma União Soviética. Nós parecemos estar procedendo por pura vingança contra Castro. Fidel, um repreensível ditador freelance, acabou com Batista, nosso repreensível ditador. Nós queremos ficar quites.
Mas Castro não é Cuba. O CIA Fact Book diz que Cuba tem 11.394.043 cidadãos. Um deles é Castro, e 11.394.042 não são. Muitos americanos dizem que Castro é mau e, portanto temos de embargá-lo. Uma pessoa, com certeza, o embargo não prejudica que é Castro. Alguém acha que ele anda comendo menos por causa dele?
Ah, mas há os emigrados cubanos em Miami. Tanto da política externa americana parece determinada pela política interna, por uma certa truculência infantil, e pela ignorância de como agem as pessoas. O embargo não conseguiu nada de qualquer utilidade durante 50 anos. Claramente a coisa a ser feita é mantê-lo por outros cinqüenta. Os “cubanos” em Miami exigem isso.
Nós estamos sujeitados a uma considerável desinformação no que concerne a ilha. Os emigrados cubanos no sul da Flórida pintam Cuba como um buraco do inferno. Ela não é. Eu tenho vistos buracos do inferno. Mesmo antes de vir para Cuba, eu tinha desenvolvido uma visão sombria dos pseudo-cubanos de Miami. Só por uma coisa, eu tinha ido a Miami e simplesmente não gostei deles. Eles são arrogantes, e rudes com os anglos se não, realmente hostis. Eu me vi querendo perguntar, “Mas que país vocês pensam que esse é, afinal de contas?” mas a resposta era óbvia.
E mais, ao apoiarem o embargo eles estão cientes de que estão infligindo graves sofrimentos sobre onze milhões de seus supostos compatriotas porque estão danados com Fidel. Isso é desprezível. Eles querem que os EUA vão atrás, para eles, de suas posses que Castro confiscou ao chegar ao poder. Dada a corrupção e criminalidade correndo soltas sob Batista, seria interessante perguntar como eles conseguiram suas propriedades. Para tentar consegui-las de volta eles estão perfeitamente prontos para condenar a população da ilha a outros cinqüenta anos vivendo de peixe e arroz. Mas que patriotas.
Eu digo “pseudo-cubanos” e “supostos compatriotas cubanos”. É bom observar que 1959 foi há 48 anos atrás. A grande maioria desses alegados cubanos nasceu aqui, nunca esteve em Cuba e não iriam viver lá se pudessem. Eles são gringos, americanos. Eles são, também um importante bloco eleitoral num estado crucial para a presidência. Como tão freqüentemente na política externa, o jogo político interno atropela o interesse nacional e o pensamento coerente.
Vivendo como eu vivo no México, talvez eu tenha um ângulo melhor de visão sobre questões latino-americanas do que os isolados ideológicos em Washington. Para o mundo abaixo de Laredo, Cuba é um heróico pequeno país sendo atormentado pelos Estados Unidos mas sem ceder. Eu não estou certo se essa não é a opinião do mundo inteiro, exceto pela América. Lembrem-se de que muito da Latinidade acredita que os problemas econômicos da América do Sul provém da exploração americana. Não provém. Considerável fé é exigida para se acreditar que a Bolívia se transformaria no Japão se apenas os Estados Unidos parassem de oprimí-la. Mas crenças, não fatos determinam o comportamento.
Os argumentos americanos contra a ilha não carregam muito peso numa região que vê as coisas através de olhos latino-americanos. Por exemplo, pelos padrões regionais Cuba não é terrivelmente pobre. Ela não sofre a carnificina da Guatemala e El Salvador. Por cinqüenta anos ela tem sido politicamente estável. Dada a experiência dos latino-americanos com ditadura, corrupção e violência, o governo de Cuba não parece ruim.
Os americanos, talvez devido a Guerra Fria, tendem a pensar que comunismo é comunismo, tudo farinha do mesmo saco. Não tanto assim. No índice superior do horrível você tem Stalin, Pol Pot e Mao, genuínos loucos de entusiasmos genocidas. A dinastia da Coréia do Norte corre em segundo.
Castro não é nem louco e nem genocida. Um ditador, sim. Um tedioso saco-de-vento, sim. Repressor da dissidência, sim – mas disposição para reprimir a dissenção não significa que haja uma grande quantidade de dissidência para reprimir. Tanto quanto diz respeito aos cubanos (eu quero dizer cubanos de verdade, a espécie que vive em Cuba, não a variedade fajuta em Miami), o problema não é Castro. É a hostilidade de Washington. Castro podia terminar o embargo se rendendo, isso é certo. Washington podia terminar com ele, terminando-o, e provavelmente terminando com Castro ao mesmo tempo.
Enquanto eu estava na ilha, a ONU votou 184 contra 4 para recomendar que os Estados Unidos findassem o embargo. Nessa votação a América teve o apoio das seguintes grandes potências: Israel, Ilhas Palau e Ilhas Marshall. Vários cubanos, espontaneamente me falaram da votação, sorrindo triunfantemente. Intrigado, eu resolvi falar sobre a votação com as pessoas com quem encontrava. Todas sabiam dela – a televisão governamental se assegurou disso – e sorriam amplamente sobre o que elas viam como uma vitória de Cuba sobre Bush.
Se esta ilha é instável, ansiando por Fider morrer para que ela possa se revoltar e virar um apêndice dos Estados Unidos, eu sou Sofia Loren.
Eu passei várias horas caminhando através das favelas de Havana. Estas são extensas e feias. Semelhante a muito da cidade, elas parecem ter sido construídas cinqüenta anos atrás e nunca terem sofrido manutenção. Ruas comerciais tem os pilares usuais, com freqüência em cores pastel agora cobertas com fuligem, o reboco caindo em placas. Nas ruas laterias, bueiros ficam abertos. Algumas vezes água, provavelmente esgoto, corre pelo pavimento. Eu não vi nada sugerindo fome, nenhuma desnutrição africana, mas essas pessoas, claramente tem pouco. Repetidas vezes, eu vislumbrei pelas portas e vi escadarias obscenamente desgastadas subindo mergulhando na escuridão. Pessoas cansadas espiavam das janelas.
Locais similares existem nos subúrbios de Detroit e em Washington DC, onde edifícios abandonados são comuns, onde projetos habitacionais inteiros tiveram suas janelas tijoladas para impedir que se tornassem galerias de picadas para gente com agulhas. As favelas da América são demarcadas por raça, mas em Cuba não são. Eu não encontrei hostilidade alguma. Em quatro horas eu não ganhei nem um olhar mal-encarado. Em Detroit eu teria durado cinco minutos. Mas essas pessoas não vão conseguir nada, vivendo, procriando e morrendo com nada para mostrar. É uma coisa podre fazer isso com eles sem uma razão muito boa. E não há razão alguma. Isso não nos livra de Fidel.
As armadilhas do socialismo panfletário estão por toda parte em Cuba. Cartazes nos muros dizem “Venceremos” e “Patria o Muere” e outras coisas excitantes. A adolescência é dura de morrer em toda parte. Um pôster mostra imagens de Bush, Hitler e alguém que talvez queira indicar Cheney (parecia, mas não podia ser John Lennon) com anotações aritméticas: Bush mais qualquer coisa igual a Hitler. O rosto de Che Guevara aparece interminavelmente, o Cristo comunista, olha de cima para baixo, contemplando bravamente um paraíso socialista que não se encaixa na camiseta. Eu vi prateleiras oferecendo treze diferentes fotos de Che. Se ele tivesse cicatrizes graves de acne e orelhas gozadas, não teria importância alguma para o socialismo, mas ele dá uma boa camiseta.
A imprensa é, sem dúvida controlada. A seção política de uma livraria que eu vi, consistia de talvez uma dúzia de livros sobre (ai-ai) Che, o resto sendo não muito melhor. Confusamente, havia um par de livros sobre administração de negócios. A televisão é carregada de afirmações de patriotismo socialista. Em particular há canais sobre a China, que Cuba parece considerar como comunista (quando foi a última vez que você ouviu falar de uma economia comunista crescendo a dez porcento, ou tanto?) e da Venezuela. Hugo Chavez, claramente e considerado como um grande homem.
Próximo ao fim da aventura eu voltei para o DiMar para comunizar com o vento e as ondas explodindo e ponderar sobre o que eu tinha visto. Os cubanos fazem uma boa cerveja (Bucanero). Eu tenho de reconhecer, e enquanto maionese com camarão possa não ser aconselhável, ela funcionou.
Eu queria separar o que eu sabia sobre Cuba daquilo que eu suspeitava, para, desta forma, evitar a armadilha da especialização instantânea. Algumas coisas eu não sabia. Um buraco do inferno? Não. Ameaça para qualquer um? Não. Perigo para a estabilidade internacional? Não. Precisando ser embargada? Não. Ditadura? Sim. Aderente da Carta de Direitos? Não.
O quão mau era Fidel? Realmente, não sei. Admiradores e detratores são amplamente ideológicos. Comparado com Thomas Jefferson ele não parece bom (embora eu não ache que Castro tenha escravos). Comparado com outros ditadores que os Estados Unidos tem instalado ou apoiado – Somoza, Trujillo, o Xá, Pinochet, Saddam Hussein e por aí vai – fica parelho.
Mas, não obstante o quão repugnante Castro possa ser, a questão prática é se o embargo é do interesse da América. Se os Estados Unidos ainda são fortes o bastante que não importe o que o mundo pensa, então o embargo, embora desnecessário, não importa (exceto em termos morais, o que não conta). Mas enquanto o país trava guerras contra o mundo muçulmano, tenta conter a China (isso vai funcionar), empurra a Rússia para os braços da China, e tenta intimidar a América do Sul, tudo isso de uma vez só, talvez fosse melhor aperfeiçoar as relações da América com este hemisfério. Um modo eficiente para difundir o comunismo é transformar os comunistas em heróis. O mundo inteiro – bem, exceto Israel, as Ilhas Marshall e as Ilhas Palau – está contra o Estados Unidos nisso. É assim tão importante manter Miami feliz?