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Pilotos compram 'horas de vôo' falsas na Anac

Enviado: Dom Dez 02, 2007 11:26 am
por Edu Lopes
Pilotos compram certificados de horas de vôos falsos na Anac


BRASÍLIA -Uma fraude dentro da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), responsável por fiscalizar e garantir a segurança do transporte aéreo, pode pôr em xeque a credibilidade do sistema. O esquema envolve a venda de horas de vôo, a chamada hora "bic" ou "fake", para atestar nas carteiras de pilotos uma experiência que eles não têm. As horas falsas são incluídas na base de dados da Anac sobre pilotos. As irregularidades envolvem concessão de licenças para piloto-privado, comercial e de linha aérea, de habilitação para vôos por instrumento e de certificados de mecânicos de aviões sem a realização de treinamento, prova escrita e prática, como exige a legislação.

A fraude está sendo investigada por sindicância da Corregedoria da Anac há três semanas, depois de indícios de irregularidades no setor de qualificação profissional subordinado à Superintendência Operacional, no Rio. Segundo relatório ao qual o GLOBO teve acesso, foram detectados 16 processos com irregularidades, a maioria referente a co-pilotos de helicópteros. Há também casos de pilotos de linha aérea e mecânicos.

O esquema teria ajuda de funcionários da Anac, inclusive militares da Aeronáutica, que cobrariam propina para esquentar as carteiras. Eles anotavam na CIV (Carteira Individual de Vôo) horas de vôo inexistentes e, de posse de senha de acesso ao sistema, incluíam dados irregulares na base de dados.

A assessoria de imprensa da Anac confirmou as suspeitas de irregulariades e a realização de sindicância para apurar os fatos. Segundo a assessoria, foi a própria gerência regional que descobriu o problema e acionou a Corregedoria.

A nova denúncia é mais um problema para a Anac, na berlinda desde o início da crise aérea que o país atravessa. Por causa do caos, a agência começou a sofrer baixas em seu colegiado no dia 24 de agosto, com a renúncia de Denise Abreu, diretora de Serviços Aéreos e Relações com Usuários. No final de outubro, a CPI do Apagão Aéreo no Senado aprovou o pedido de indiciamento de Denise .

Ainda em agosto, deixou o cargo Jorge Luiz Brito Veloso, da diretoria de Segurança Operacional. Em setembro, renunciaram o diretor de Relações Internacionais e Estudos, Pesquisas e Capacitação, Josef Barat, e o diretor de Infra-Estrutura Aeroportuária, Leur Lomanto.

No fim de outubro, o último remanescente da antiga diretoria, Milton Zuanazzi, entregou a carta de renúncia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após meses de divergências públicas com o ministro da Defesa, Nelson Jobim.


Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/1 ... 407427.asp

Re: Pilotos compram 'horas de vôo' falsas na Anac

Enviado: Seg Dez 03, 2007 12:07 pm
por Tigershark
Edu Lopes escreveu:
Pilotos compram certificados de horas de vôos falsos na Anac


BRASÍLIA -Uma fraude dentro da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), responsável por fiscalizar e garantir a segurança do transporte aéreo, pode pôr em xeque a credibilidade do sistema. O esquema envolve a venda de horas de vôo, a chamada hora "bic" ou "fake", para atestar nas carteiras de pilotos uma experiência que eles não têm. As horas falsas são incluídas na base de dados da Anac sobre pilotos. As irregularidades envolvem concessão de licenças para piloto-privado, comercial e de linha aérea, de habilitação para vôos por instrumento e de certificados de mecânicos de aviões sem a realização de treinamento, prova escrita e prática, como exige a legislação.

A fraude está sendo investigada por sindicância da Corregedoria da Anac há três semanas, depois de indícios de irregularidades no setor de qualificação profissional subordinado à Superintendência Operacional, no Rio. Segundo relatório ao qual o GLOBO teve acesso, foram detectados 16 processos com irregularidades, a maioria referente a co-pilotos de helicópteros. Há também casos de pilotos de linha aérea e mecânicos.

O esquema teria ajuda de funcionários da Anac, inclusive militares da Aeronáutica, que cobrariam propina para esquentar as carteiras. Eles anotavam na CIV (Carteira Individual de Vôo) horas de vôo inexistentes e, de posse de senha de acesso ao sistema, incluíam dados irregulares na base de dados.

A assessoria de imprensa da Anac confirmou as suspeitas de irregulariades e a realização de sindicância para apurar os fatos. Segundo a assessoria, foi a própria gerência regional que descobriu o problema e acionou a Corregedoria.

A nova denúncia é mais um problema para a Anac, na berlinda desde o início da crise aérea que o país atravessa. Por causa do caos, a agência começou a sofrer baixas em seu colegiado no dia 24 de agosto, com a renúncia de Denise Abreu, diretora de Serviços Aéreos e Relações com Usuários. No final de outubro, a CPI do Apagão Aéreo no Senado aprovou o pedido de indiciamento de Denise .

Ainda em agosto, deixou o cargo Jorge Luiz Brito Veloso, da diretoria de Segurança Operacional. Em setembro, renunciaram o diretor de Relações Internacionais e Estudos, Pesquisas e Capacitação, Josef Barat, e o diretor de Infra-Estrutura Aeroportuária, Leur Lomanto.

No fim de outubro, o último remanescente da antiga diretoria, Milton Zuanazzi, entregou a carta de renúncia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após meses de divergências públicas com o ministro da Defesa, Nelson Jobim.


Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/1 ... 407427.asp


Absurdo completo!Uma coisa assim faz a gente pensar se os certos não são os chineses,que consideram qualquer crime contra sua sociedade passível de pena de morte.Seria uma boa idéia para acabar com este tipo de gente. :evil:

Enviado: Seg Dez 03, 2007 12:56 pm
por Guilherme
Eu não esperava outra coisa de uma agência tomada por apparatchiks petistas.

Enviado: Seg Dez 03, 2007 2:13 pm
por rodrigo
Quanto será que custa uma hora de vôo falsa de uma aeronave sem um reverso?

Enviado: Seg Dez 03, 2007 2:39 pm
por Morcego
É culpa do FHC.

Enviado: Seg Dez 03, 2007 2:53 pm
por Morcego
NÃO NÃO, me enganei.

É CULPA DA IMPRENSA GOLPISTA.

Enviado: Seg Dez 03, 2007 6:46 pm
por Carlos Mathias
Isso é assim desde sempre, desde a criação da ANARC.

Enviado: Ter Dez 04, 2007 1:13 pm
por alcmartin
Isso é mais profundo do que parece...não se trata somente de uma irregularidade isolada e sim de todo um processo historico da aviação brasileira. É aquele famoso "jeitinho"...

Historicamente, voce tem somente tres maneiras de ingressar na aviação no Brasil: ser ou ter sido militar, ser parente de pessoa influente no ramo(pai cmte ou chefe) ou se virar por si proprio. Neste ultimo caso, pagará tudo do bolso, depois trabalhará quase, ou de graça p/acumular horas de voo.

No caso citado dos copilotos de helicoptero, a maior parte dos taxis aereos éxigem 500h p/admissão em seus quadros. Os cursos de formação soltam o cara c/150h, se o cara fez o curso completo em escola. Ou 200h, se tem hora de particular no meio. Como a hora paga pode ser de R$1000 a 1500,00, voces veem que o cara vai ter que desembolsar talvez até R$300.000,00... :shock:

No caso da aviação de asa fixa, a hora é mais barata, mas a exigencia é maior. As cias. grandes, como por ex. a Gol, pede 1000h( e entrar atraves de um curso particular, R$23.000,00). A TAM, 2500h. Logo o cara tem que vindo de uma cia. menor, ou taxi aereo, em que não há exigencia de minimos.
Mas em compensação, esses não pagam o pão... :?

Logo, para um mortal comum, o cara vai ter que escolher entre ser honesto e levar anos,( mas anos mesmo!!7,10,15...) para ter um curriculo aceitavel ou apelar...
Logo, se voce ver um jovem piloto bem empregado, não tenha duvida: ou ele é peixado, ou é mentiroso!! :twisted:

Soma-se isso aos ciclos da aviação no Brasil e verá que se pula gerações! Quem tá dentro fica, quem tá fora espera gente morrer ou a aviação crescer...E aí falta piloto e o governo fornece, direta ou indiretamente. As cias. sugam fabianos quando elas pagam bem. Ou então o governo subsidia cursos c/gasolina barata. Aconteceu há muitas decadas e novamente no inicio dos 90.

Eu faço parte da geração hibrida:meio milico, que rala depois quase de graça! :D Ou melhor, :cry: !!

Minha sugestão p/isso melhorar? Punir os que fraudam e pressionar as cias p/exigir menos dos iniciantes. A alegação destas é o custo do seguro. Mas se não houver necessidade de mentir, quem iria se arriscar??

abs!

Enviado: Ter Dez 04, 2007 1:37 pm
por Edu Lopes
alcmartin escreveu:Minha sugestão p/isso melhorar? Punir os que fraudam e pressionar as cias p/exigir menos dos iniciantes. A alegação destas é o custo do seguro. Mas se não houver necessidade de mentir, quem iria se arriscar??

abs!

Não seria interessante se a FAB assumisse o treinamento desses pilotos? Ou até mesmo que o governo criasse uma “Escola Nacional de Aviação Civil”, sei lá? (se isso já existe desconsiderem).

Essa é uma profissão que exige profissionais altamente treinados e capacitados e não dá pra ficar sujeita a “jeitinhos”. A vida das pessoas, e a deles mesmos, está em jogo.

Enviado: Ter Dez 04, 2007 3:09 pm
por alcmartin
Não diretamente assim, Edu. A FAB já não tem $ nem p/ela, quanto mais p/formar mão de obra civil. E o problema não é o treinamento. É a quantidade de horas que o mercado civil exige. Horas de vôo até a FAB voa pouco...

Para ter uma idéia, um primeiro tenente, caçador, na FAb, estará longe dos minimos p/ingressar na TAM, por ex. ...

De certa forma, o governo já ajuda, ou ajudava, quando incentivava mais os aeroclubes. Estes são entidades não lucrativas, mantidos pelos sócios e que recebem aeronaves emprestadas pelo governo, através do DAC(agora ANAC). Basta que os aeroclubes não façam besteira na administração.

Em termos de formação, há um paralelismo entre a formação civil e militar: ambos se formam com experiencia, em termos de quantidade, parecida: 150h a 170h um piloto civil, 160,180h um militar. O militar engloba manobras mais adequadas a sua exigencia, tais como acrobacias e formatura, fora a pressão a que são submetidos, afinal, são militares. Na aviação civil, não se exige essas qualificações, mas se puxa bem mais na navegação e vôo por instrumento. O civil, basicamente, viajará... :D

O problema com o aviador civil é o buraco existente entre a sua formação básica e o exigido pelas cias. Nesse período, ou ele dá "sorte" em uma cia. regional, ou voará taxi aéreo, puxará faixa em praia, soltará pqds civis ou instrução em aeroclube. Particular só como bico, porque voam pouco, em comparação com a necessidade de um piloto.
Uma vez com os minimos, o civil estará no céu, as cias. tem o que há de melhor no mundo quanto em equipamento. 8-]

Já com a aviação militar se dá o contrário: o cadete voa o que há de melhor na formação, mas depois... :?

Acredito que o fortalecimento da aviação comercial regional é uma boa solução, quanto a esse aspecto. Aviões menores, em geral, exigem menos qualificação e seriam um bom trampolim p/ as grandes cias. Estas é que normalmente não gostam de servir de escolinha... :twisted:

Resumidamente, esse caso da canetada relatado, mostra sujeitos, recem formados ou não, que não querem se submeter ao que todos se submetem e foram "apressados" p/atingir minimos...
Nesse caso, joga na parede: miou? É gato...não miou, pau neles... :twisted:

abs!

Enviado: Sáb Dez 08, 2007 10:13 am
por Edu Lopes
Militares suspeitos de fraude na Anac

Oficiais de alta patente estariam envolvidos em venda de horas de vôo

BRASILIA – Pelo menos dois militares da ativa da Aeronáutica que trabalham na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estariam envolvidos no esquema de fraudulento registro de horas de vôo na habilitação de pilotos. Entre os servidores sob suspeita estão o segundo sargento Wilson Menezes Custódio, lotado na unidade do órgão no Aeroporto de Jacarepaguá, e o suboficial José Silva Júnior, da Gerência Regional de São Paulo.

Os dois estão sob investigação em procedimento aberto pela própria Anac. Técnicos que participam das investigações acreditam que oficiais de alta patente também estão envolvidos no esquema, diretamente ou dando cobertura aos subordinados.

O Ministério da Defesa informou que a futura presidente da Anac, Solange Vieira, foi informada da investigação. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, segundo sua assessoria, já determinou que todo aparato de fiscalização da Anac seja revisto. O Centro de Comunicação da Aeronáutica (Cecomsaer) disse saber da sindicância, mas informou que só vai se pronunciar depois da conclusão dos trabalhos. A sindicância termina em 30 dias, segundo a Anac.

Propina de R$ 8 mil por licença de vôo

O envolvimento de militares no esquema de registro de horas falsas foi identificado pelo Ministério Público Militar em abril.

Em ofício à direção da Anac, promotores pediram informações sobre o assunto e mencionaram a suspeita de cobrança de propina de R$ 5 mil a R$ 8 mil pela obtenção de licença.

Reportagem publicada no último domingo pelo Globo revelou que funcionários da Anac usavam senhas para inserir horas de vôo inexistentes no banco de dados do órgão. Eles registravam as horas irregulares no CIV (Carteira Individual de Vôo) e emitiam declarações falsas, atestando ao piloto uma experiência que ele não tem.

Citado na investigação da Anac, o piloto Marcelo de Biase disse que suas horas de vôo foram acumuladas no exterior:

- Fui habilitado pelos Estados Unidos. Minha primeira licença é de piloto recreativo. Somente em ultraleves possuo mais de três mil horas. A licença americana de piloto privado e as hora que tenho não foram “canetadas”, porque lá não existe este tipo de fraude! No Brasil tudo se compra.

Segundo ele, seu registro seguiu processo regular nos órgãos competentes no Brasil e foi vistoriado por coronel da Aeronáutica.

Também procurado, o sargento Menezes não retornou a ligação. Ele estaria de férias.


Fonte: Edição impressa do jornal O Globo de 08/12/07

Enviado: Sáb Dez 08, 2007 9:30 pm
por alcmartin
É, Edu, p/voce ver como essa historia é enrolada...Antigamente voce anotava suas horas de voo na caderneta, que era assinada e carimbada pelo dono/responsavel do aviao. Na aviação comercial, isso é feito pelas empresas.
E todo ano era obrigado a registrar suas horas no Dac ou perdia. Assim, o Dac controlava e fiscalizava os pilotos. E fornecia documento oficial comprovando as horas, depois que fiscalizava.
Mas tinha os pepinos: se voce voasse fora, o DAC reconhecia as licenças, porém não as horas, porque queria documento oficial, similar ao seu! E lá fora os orgãos aeronauticos não fazem isso, não controlam. Mas, se pegarem canetando...é CADEIA!!
Aí, quem voava fora tinha um problemão...

Então, de uns anos p/cá, parou-se c/o registro de horas, tentando se implantar aqui o sistema de lá. Mas, pelo jeito, tá enrolado...

abs!

Enviado: Seg Dez 10, 2007 4:24 pm
por alcmartin
Enquanto a nossa transição DAC/ANAC vai enrolada, um problema que vinha ocorrendo aqui e no mundo, a falta de formação de pilotos, vem aumentando...

Postei aqui porque os custos e problemas de exigencias que mencionei tem ligação direta.
Agora, lá fora já falam em enfiar um monte de gente na cabine p/treinar mais rápido,hehe... :twisted:

Aviation Industry Needs to Tackle Looming Pilot Shortage


(Source: IATA; issued Nov. 29, 2007)



WASHINGTON --- The International Air Transport Association (IATA) warned the world’s airlines of a severe pilot shortage unless industry and government work together to change training and qualification practices.

IATA issued a new estimate that the industry may need 17,000 new pilots annually due to expected industry growth and retirements. "Increasing the retirement age to 65 will help but it can’t be the only solution. It’s time to ring the warning bell. We must re-think pilot training and qualification to further improve safety and increase training capacity,” said Giovanni Bisignani, IATA Director-General and CEO.

He told the Federal Aviation Administration (FAA) International Safety Forum, "the industry is concerned that there are no global standards for training concepts or regulation. Pilot training has not changed in 60 years - we are still ticking boxes with an emphasis on flight hours.”

IATA supports the competency-based approach of multi-crew pilot licensing (MPL) training programmes. Unlike traditional pilot training, MPL focuses from the beginning on training for multi-pilot cockpit working conditions. It also makes better use of simulator technology. Europe was among the first regions to adopt MPL and Australia and China are moving ahead with implementation.

IATA launched the IATA Training and Qualification Initiative (ITQI) to support a global approach to MPL implementation. “Our goal is to increase the pool of candidates and training capacity while improving standards,” said Bisignani. As part of ITQI, IATA will host a database to track the progress of MPL cadets and allow the industry to make training adjustments, if necessary. IATA also called for greater cooperation with governments. In China, IATA is working with the government to develop the syllabus and incorporate MPL into national regulation.

Bisignani also called on government leaders at the Safety Forum to incorporate the IATA Operational Safety Audit (IOSA) into their own regulations. Most recently, Mexico, Costa Rica and Turkey have committed to make use of IOSA. “The list is growing too slowly,” Bisignani said. “There is no cost to government and the results are clear.”


(EDITOR’S NOTE: While this speech focuses on airlines, similar pilot shortages are likely for the helicopter industry and, consequently, for air forces, as military pilots leave for safer, better-paying civilian jobs.)


http://www.defense-aerospace.com/cgi-bi ... ele=jdc_34

Enviado: Qua Dez 19, 2007 4:56 pm
por alcmartin
Mais uma noticia sobre a falta de pilotos no mundo... :twisted:

3. Faltam pilotos no mundo. Aéreas regionais dos EUA já reduzem exigênciasFonte: Valor Econômico

Uma escassez mundial de pilotos está deixando aviadores menos experientes no comando de jatos de passageiros e até obrigando companhias aéreas a cancelar vôos por falta de tripulação.
Nos EUA, a escassez de pilotos é sentida principalmente por empresas aéreas regionais - que usam aviões de menos de cem assentos para transportar passageiros até grandes aeroportos, de onde se podem voar distâncias maiores. A maioria das empresas aéreas regionais reduziu suas exigências de nível de experiência para os novos contratados, e algumas têm dificuldades para encontrar pilotos com o número suficiente de horas para trabalharem como comandantes. Os pilotos ainda têm de passar por testes em cada companhia aérea e alcançar padrões de desempenho, mas alguns especialistas em aviação temem que pilotos menos experientes possam não ter desempenho tão bom em emergências ou possam ser mais propensos a erros.
"Não há substituto para a experiência, particularmente numa cabine de avião", diz Jim Hall, ex-diretor do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes, do governo americano.
Vários anos atrás, as empresas aéreas regionais dos Estados Unidos exigiam que os candidatos tivessem 1.500 horas de tempo total de vôo, sendo 500 em aviões multimotores - um nível a que geralmente se chega depois de vários anos de trabalho como instrutor de vôo, piloto de avião de carga ou piloto de jatinho executivo. Mas agora algumas reduziram isso para em torno de 500 horas, com no mínimo 50 em aviões multimotores, de acordo com Kit Darby, presidente da Aviation Information Resources, Inc., uma empresa de colocação de pilotos de Atlanta.
As grandes companhias aéreas ainda podem exigir vários milhares de horas de experiência para os candidatos a assumir o controle de um jato da Boeing ou da Airbus, e não enfrentam escassez de candidatos. Mas Darby acha que as companhias regionais serão obrigadas a reduzir para o mínimo exigido pela Administração Federal de Aviação (FAA, a agência americana da aviação civil) - 250 horas para conseguir uma brevê comercial. E as empresas aéreas maiores ao final sentirão o aperto.
Preocupado com a escassez de pilotos, o Congresso americano aprovou uma lei na semana passada que eleva a idade máxima para aposentadoria compulsória para os pilotos de empresas aéreas de carreira de 60 para 65 anos, e o presidente George W. Bush sancionou a lei na sexta-feira. Isso deve pelo menos temporariamente reduzir o número de pilotos que as grandes companhias aéreas tiram das empresas menores, mas Darby diz que a mudança não vai eliminar a escassez. Ele estima um ganho líquido de aproximadamente 1.500 pilotos no primeiro ano a partir da elevação da idade da aposentadoria, enquanto cerca de 13.000 pilotos foram contratados este ano.
Os EUA podem ao final ter de adotar novos modelos de treinamento para pilotos, mais rápidos, diz Darby, e as empresas aéreas podem ter que começar a pagar o treinamento dos pilotos e elevar os salários iniciais, atualmente a partir de US$ 24.000 por ano.
Ter co-pilotos menos experientes em jatos de passageiros, às vezes com comandantes recém-formados (as regras da FAA exigem que um comandante tenha pelo menos 1.500 horas de vôo - o que em geral equivale a menos de dois anos de experiência de aviação), suscita questões de segurança entre alguns especialistas em aviação. Sindicatos e outras instituições questionam se os programas de treinamento das companhias aéreas são adequados para os contratados com menos experiência, por exemplo, e se os programas de treinamento acelerado que estão sendo lançados pelo mundo afora vão gerar pilotos seguros e habilidosos.
"Temos uma nova geração de riscos que estão emergindo, entre eles a escassez de pilotos", disse Hall, atualmente um consultor em Washington. "Precisamos estar muito preocupados quanto à experiência de indivíduos que estamos colocando nas cabines."
Um velho ditado entre os pilotos diz que o emprego oferece horas de monotonia pontuadas por momentos de puro terror. A vasta maioria dos vôos acontece de maneira normal e rotineira - sem falhas mecânicas, sem decisões difíceis a serem tomadas por causa de tempo ruim ou outras anomalias. Mas é nas situações de emergência que a experiência pode contar.
As companhias aéreas dizem que o treinamento de novos pilotos melhorou graças ao avanço da tecnologia, desde simuladores de cabine mais avançados até escolas em terra baseadas em computadores, e que os pilotos das empresas regionais da atualidade são tão seguros, se não mais, que as gerações anteriores. Os jatos modernos também estão cheios de melhoramentos de segurança, o que torna as emergências mais fáceis de lidar. As companhias aéreas também apontam para programas de treinamento militar que fazem os pilotos aterrissar jatos de alto desempenho em porta-aviões no período de um ano e 200 a 300 horas de vôo.
"A idéia de que você precisa de X horas de vôo num Cessna 172 para ascender no ambiente atual, com a tecnologia e as ferramentas atuais, é errada", diz Roger Cohen, presidente da Associação das Empresas Aéreas Regionais, que representa as empresas aéreas menores. "Alguém com menos horas, mas horas de melhor qualidade, num treinamento moderno, pode ser mais capaz."
Fonte: Valor Econômico (18/12/07)