allyssonvieira escreveu:LeandroGCard escreveu:desenvolvimento e a produção de motores de espaçonave tipo ORION e de seu combustível (bombas atômicas!)
Poderia comentar mais sobre esses motores ORION?
Abraços,
A proposta dos propulsores tipo ORION foi apresentada inicialmente pelo especialista em desenvolvimento de armamento nuclear Stanislaw Ulam, do laboratório de Los Alamos. A ídeia é utilizar explosões sucessivas de bombas de fissão nuclear para empurrar diretamente uma nave espacial.
As bombas, que não precisariam ser muito grandes (por exemplo 0,1 Kiloton cada), seriam detonadas em rápida sequência (até mais de uma por segundo) atrás de uma grossa placa capaz de resistir às detonações e deter a radiação resultante (principalmente radiação Gama). Esta placa, que na verdade não é tão difícil de construir, estaria ligada a um sistema de amortecedores que absorveriam o impacto das detonações, transmitindo o impulso das explosões de forma relativamente suave para o resto da nave, que conteria os depósitos das bombas, os compartimentos habitáveis, os sistemas, etc... . Veja um esquema básico na figura abaixo:
Uma nave com propulsão tipo ORION levaria várias centenas (até alguns milhares) de pequenas bombas, que seriam detonadas durante as etapas de aceleração do vôo (e eventualmente nas de frenagem). Segundo os cálculos divulgados, o impulso específico de um propulsor deste tipo mesmo nas versões mais simples seria da ordem de 6.000s, vinte vezes maior que o dos motores do Space Shutlle. Isto permitiria por exemplo uma viagem de ida e volta a Marte em quatro semanas, comparada com os 12 meses que a NASA estima possíveis com propulsão química. Saturno poderia ser alcançado em sete meses, ao invés de nove anos. E com refinamentos no projeto poderia-se obter muito mais do que isto, pois o impulso específico máximo teórico é de 100.000s!
Outra característica interessante do ORION é que não só o impulso específico é elevado, mas o empuxo também é enorme. Simplesmente para evitar que a aceleração da nave esmagasse tudo que estivesse à bordo (inclusive os tripulantes), ela teria que pesar centenas ou milhares de toneladas, tanto quanto um navio. Seriam então naves construídas em estaleiros (ao invés de laboratórios), como se fossem encouraçados, e não haveria absolutamente nenhuma preocupação com o peso. Poderia-se levar qualquer coisa que se quisesse, mesmo fábricas inteiras e milhares de colonizadores a qualquer lugar do sistema solar. Mesmo viagens interestelares de alguns anos luz se tornariam imagináveis!
Por outro lado, eu particularmente não me sentiria nem um pouco cofortável de morar em um planeta onde se realizassem os testes e a operação prática deste tipo de motor. Imagine centenas de bombas atômicas sendo detonadas dentro da atmosfera! Além disso, milhares de bombas atômicas teriam que ser produzidas e transportadas de um lado para o outro, com evidentes implicações de segurança. Pense em um acidente de lançamento que derrubasse os depósitos de bombas em algum lugar, mesmo no oceano. Seria o paraíso para os terroristas.
Já se a infraestrutura de fabricação das bombas fosse instalada na lua não haveria mais problemas de segurança (pelo menos até que terroristas conseguissem uma nave capaz de chegar até lá). Os teste do motor também poderiam ser realizados lá, pois não há biosfera para ser afetada. E a nave poderia ser montada em órbita e disparada do espaço, sem problemas de precipitação radioativa (contanto é claro que o motor não fosse apontado para a Terra). Opcionalmente, uma nave de trezentas ou quatrocentas toneladas poderia ser colocada em órbita em partes, por meio de foguetes da classe do Energia, despachada para a órbita lunar e carregada com bombas lá produzidas, ficando pronta para a viagem. Fora a base na lua em si, todo o resto é tecnologia já disponível.
Existem outras formas de propulsão não-química que prometem desempenhos muito superiores aos foguetes atuais (motores nucleares térmicos, iônicos, de fusão nuclear, etc...), mas todas são bastante mais complexas que o ORION e ainda demandarão muitos anos de desenvolvimento. Já um motor ORION poderia ser construído a qualquer momento, com tecnologia que já existia na década de sessenta. Por um objetivo como este eu acho que a montagem de uma base na lua valeria sim à pena.
Um grande abraço,
Leandro G. Card