#980
Mensagem
por PQD » Sex Nov 23, 2007 12:08 pm
Golpe nas contas do tráfico
PF desmonta estrutura montada por Beira-Mar para negociar drogas nas fronteiras com Bolívia, Colômbia, Venezuela e Paraguai. Mulher do traficante era a ‘primeira-dama’ da quadrilha
Rio - Nem a prisão federal de segurança máxima no Mato Grosso do Sul conseguiu impedir que o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, continuasse comandando o crime organizado internacional. Para manter o esquema sob seu domínio, Beira-Mar transformou a mulher, Jaqueline Alcântara de Moraes, na segunda pessoa mais importante na hierarquia da quadrilha, uma espécie de ‘primeira-dama’ dos seus negócios. O traficante não poupava esforços: desembolsou R$ 1,8 milhão com os gastos do bando. Foi o que mapeou um ano e meio a Operação Fênix, da Polícia Federal (PF), deflagrada ontem.
Agentes da PF foram espalhados pelos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio. Onze pessoas foram presas — quatro no Rio, entre elas Jaqueline — e foram cumpridos 34 mandados de busca e apreensão. Foram apreendidos 350 mil dólares (R$ 630 mil), mas até o início da noite a PF só havia contabilizado R$ 50 mil. Além de 10 carros, uma Kombi e uma moto — todos em nomes de parentes e empresas do bandido —, computadores, jóias, cofres, documentos e pen drives (memórias de computador). Foram fechadas ainda duas LAN houses e um depósito de gás na Favela Beira-Mar, em Duque de Caxias, principal alvo da operação.
Trezentos agentes do Comando de Operações Táticas saíram da Superintendência da PF, na Praça Mauá, por volta das 6h. Divididos em 30 equipes, eles foram para a Ilha do Governador, Jacarepaguá, Centro e Favela Beira-Mar, onde ficaram oito horas. Lá, foram presos Marcela de Brito Barcadas e Jorge Ribeiro Júnior, dono do Lavajato J&J Rios, usado para lavagem de dinheiro. Na casa de Marcela, cunhada de Jaqueline e uma das pessoas de confiança do do bando, foram apreendidos 130 mil dólares (R$ 250 mil) e R$ 25 mil, escondidos em móveis. A maior quantia, 200 mil dólares (R$ 360 mil), foi encontrada na casa de Jaqueline, em Jacarepaguá, que contava com cerca elétrica e circuito de TV. Os agentes apreenderam também jóias, um cofre e documentos.
Outra casa importante na Favela Beira-Mar era a da mãe de Marcelo da Silva Leandro, o Marcelinho Niterói — um dos homens fortes do traficante na Bolívia —, onde foram apreendidos computador, agendas e fotos.
ENCOMENDAS
As investigações começaram quando Beira-Mar estava preso em Brasília. Interceptações telefônicas revelaram encomendas de drogas e armas na Bolívia, Venezuela, Colômbia e Paraguai. Para isso, segundo a PF, ele mantinha a liderança da organização com a ajuda de seus advogados e de Jaqueline, que o visitava constantemente. Ela assumiu papel importante após o desaparecimento do advogado João José de Vasconcelos Kolling. A PF suspeita de que ele tenha sido assassinado pela quadrilha. “Beira-Mar está detido, mas não está incomunicável. Não detectamos conversa por celular, mas via parentes, advogados e pessoas que o visitam”, explicou Valdinho Jacinto Caetano, superintendente da PF do Rio.
Um dos parentes do criminoso que atuavam na lavagem de dinheiro era o irmão de Jaqueline, Ronaldo Alcântara de Moraes, dono da Chama Gás. Ele foi preso no Mato Grosso do Sul e a empresa que controlava, em Caxias, foi fechada. Beira-Mar tinha um plano ambicioso: infiltrar na PF o filho de sua advogada Gersy Mary Menezes Evangelista, também presa.
Os detidos foram acusados de tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro. Nos 18 meses da Operação Fênix, 30 pessoas foram presas. Foram apreendidos 750 quilos de cocaína, quatro mil toneladas de maconha, dois mil cartuchos de fuzil e um avião.
REFÚGIO DE DUPLA DO BANDO
O principal objetivo da quadrilha de Beira-Mar era abastecer com drogas favelas do Rio e São Paulo. Dois dos maiores fornecedores do Paraguai estão soltos. A PF entrou em contato com o país vizinho para prender os bandidos e confiscar fazendas. Ontem, agentes federais não localizaram dois integrantes do bando na Favela Beira-Mar.
A comunidade é entreposto para distribuição de drogas para favelas dominadas pelo Comando Vermelho: Santa Lúcia, Ana Clara, Jardim Gramacho, Mangueirinha, Parque das Missões, Lixão e Vila Ideal, em Duque de Caxias; e Complexo do Alemão, Mangueira, Manguinhos, Morro Santo Amaro e parte da Maré, no Rio.
Nascido na favela às margens da Rodovia Washington Luís, Beira-Mar sempre manteve seus laços com moradores e parentes na região.
NOVOS ELOS DA CONEXÃO CV-PCC
A Operação Fênix reforçou a existência de uma conexão nacional do crime entre Fernandinho Beira-Mar e a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. Na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), por exemplo, onde Beira-Mar esteve preso até agosto, agentes da Polícia Federal apreenderam contabilidades do traficante da Baixada Fluminense em celas de dois integrantes do PCC: José Cláudio Arantes, o Tio Arantes, e Sidney Romualdo.
Tio Arantes é apontado como um dos ‘generais’ do PCC e foi indicado pelo chefão do grupo paulista, Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola, para ser o líder da quadrilha no Mato Grosso do Sul. Ele é considerado o braço-direito de Beira-Mar no presídio, de acordo com a PF.
Uma das presas na operação, Jacqueline Kelly dos Santos Arantes é filha de Tio Arantes. Ela visitou o pai em Catanduvas na quarta-feira e foi detida em um ônibus que chegava a Campo Grande (MS). De acordo com a PF, Jacqueline iria se encontrar com Beira-Mar na Penitenciária Federal de Campo Grande. Ela era um dos pombos-correios do bando.
Já o paraibano Sidney Romualdo era o principal cabeça do PCC no Nordeste. A mando de Marcola, recrutava jovens sem antecedentes criminais em Pernambuco para participar de ações da facção em São Paulo e no próprio Nordeste.
Ubiratan Brescovit, o Cheiroso, preso com Beira-Mar em Campo Grande e indiciado no mesmo processo, era outro elo com o PCC. Em janeiro, com ajuda de Beira-Mar, escapou da penitenciária de Concepción, no Paraguai. Foi recapturado em maio, em Goiânia.