Marechal-do-ar escreveu:
Olha Túlio, também não sei em detalhes a programação do Igla, mas essas duas janelas não funcionam exatamente como você descreveu.
O sensor vai identificar a intensidade das ondas em cada uma dessas frequencias, a relação entre elas, a "cor" (usei aspas mas é exatamente isso, a cor, mas no espectro infravermelho, não no espectro visível) vai identificart a temperatura do alvo, e essa cor que é usada para indentificar o alvo, dependendo da sofisticação, ele também pode considerar as formas.
Mas com essa informação ele não vai simplesmente rejeitar os flares, o Igla (e o Stinger) podem ser usados contra uma gama de alvos diferentes (aviões, helicópteros, drones, etc), alguns deles são relativamente frios, ele precisa identificar o alvo que o operador está apontando e ignorar outros alvos, e exatamente por isso que eu acho que o alvo de testes não seria um problema para o Igla.
O modo como descrevi foi o mais simplificado que pude encontrar, dado o fato de que o post será lido
também por pessoas que não têm a expertise tua e do Leandro véio (no tema Física eu apanho de relho de qualquer um de vocês e ambos sabemos disso). Temos muito mais "Túlios" do que "Leandros" no DB, o que é natural, não?
Bueno, para ficar mais claro: o nó górdio dos MANPADS do
tipo fire-and-forget (e tomo como exemplo os mais conhecidos, IGLA 18 e Stinger) reside na CAPACIDADE DE PROCESSAMENTO. Sobre isso, temos de levar em conta alguns fatores:
Espaço físico: todo o sistema "inteligente" deverá ser transportado em um envelope com diâmetro
externo (notar bem, pois isso é importante) em torno de uns 7 cm (Stinger e IGLA), com peso suficiente para ser lançado a partir do ombro e ainda por cima com ogiva suficientemente poderosa para mandar para o chão o alvo, como vimos no vídeo mostrado pelo Bolovo. Isso significa algo em torno de 2 kg só para a cabeça de guerra (warhead), aí incluídos detonador por impacto e sensores de proximidade, para um peso total abaixo dos 12 kg (Msl). O Msl também não pode ser muito longo, ficando em torno dos 1,5/1,7 m de comprimento máximo (booster incluído). Este espaço/peso será disputado pelo citado booster, motor, bateria, ogiva (warhead),
seeker e...sistema de processamento. Uma espiadela em como se distribui isso tudo no interior do Msl:
Mais de perto, só o que interessa:
Reparar no espaço mínimo que sobra para a parte eletrônica/computacional.
Perfil de missão: ontem eu estava em uma interessante charla (em outra mídia) com um cupincha que sabe MUITO e ele referiu, a título de comparação/contribuição, características da PGM OPHER, um kit que transforma "bomba burra" em IR (IIR?)
launch-and-forget. Referiu ainda que a dita munição tem uma grande biblioteca de dados que lhe permite vasta capacidade de discriminação entre alvos e não-alvos. Por fim, sugeriu que um MANPADS poderia ter características assim. Isso, como sempre, me levou a pensar e pesquisar.
Bueno, a Opher é IIR mesmo, foi a primeira coisa que me ficou clara. As dimensões do kit, no entanto, são muito maiores que as partes correspondentes de um MANPADS (só considero como tale os lançados do ombro por um só Operador, tipo os citados IGLA e Stinger, os outros para mim são V-SHORAD - Mistral, RBS, etc. E não falo levianamente, basta vermos a diferença entre estar no TO com um Msl pronto para ser disparado e ainda assim podermos mudar de posição constantemente, e termos que transportar e montar
coletivamente o equipamento para uma posição fixa; se quisermos reposicionar, toca trabalho de equipe outra vez, ou seja, durante este tempo, por curto que seja, a Unidade está incapacitada de combater) e, deste modo, podem acomodar capacidade de processamento de grandes
databases.
Mas o que interessa aqui é o PERFIL DA MISSÃO, e o da OPHER não poderia ser mais diferente do de um MANPADS: enquanto este voa supersônico durante uns poucos segundos (rever o filme do Bolovo, é um IGLA do PKK abatendo um SuperCobra AH-1W Turco, vou mencioná-lo de novo mais adiante) até o alvo, aquela é lançada fora do alcance da AAAe em velocidade subsônica e boa altitude, tendo bastante tempo para observar o terreno e discriminar o que é alvo, o que pode ser alvo e o que não é, com permanente consulta à
database. A OPHER tem tempo para fazer isso, o MANPADS não! O melhor que ele pode fazer é discriminar entre alvo e decoy, usando o que eu e tu citamos, comprimentos de onda (cor) e volume (quantidade e formato) de radiação emitida pelo alvo (ou não-alvo).
Perfil do alvo: o Igla (e neste ponto trataremos apenas dele, já que suscitou este debate) tem, como bem disse o Caiafa véio, gatilho de dois estágios. Esqueceu, no entanto, de explicar que o citado Msl possui, correspondendo aos parâmetros de alvo e diretamente ligado ao gatilho, dois MODOS de lançamento: LOBL e LOAL!
Explico:
LOBL - contra um alvo lento e baixo, o Operador faz o que o Caiafa véio disse: pressiona a alavanca que carrega nitrogênio para resfriar o
seeker de InSb e logo a seguir aperta o primeiro estágio do gatilho, permitindo que o Msl "trave" no alvo, configurando o "lock". O segundo estágio apenas libera o Msl, que deve ser disparado para mais alto que o alvo (eu disse que ia referir de novo ao filme do Bolovo
), otimizando a energia cinética para se manter acompanhando o alvo até o impacto; o detalhe é que ele possui um segundo
seeker de PbS, este não-refrigerado, cuja finalidade é precisamente detectar as ondas curtas de IR comuns aos
decoys e enviar os dados para processamento como não-alvo.
LOAL - Aqui prestes atenção, pois tem TUDO a ver com o mistério de o IGLA passar direto pelo aeromodelo aquele e pode mesmo indicar erro do Operador (agora, CINCO CONSECUTIVOS é sodas de engolir!): contra um alvo rápido, após refrigerar o
seeker, o Operador pressiona o gatilho direto até o fim, produzindo um disparo imediato, sem dar tempo ao Msl para "travar" antes; é o LOAL, ou Trancamento Após o Lançamento (Lock On After Launching), significando que apenas após ser lançado é que o Msl vai buscar um alvo para atacar. E, graças ao segundo
seeker, o não-refrigerado de Sulfeto de Chumbo, vai evitar flares como o diabo evita a cruz.
Bueno, este post já está mais longo que esperança de pobre. Agora vou é comprar UMAZZZ CERVAZZZ, acho que mereci.
EDIT - Tenho a mesmíssima dúvida do Lucas Lasota: se com um Msl de operação simples como o IGLA os nossos Militares já são tão BISONHOS, como será com algo bem mais complicado como o RBS? Quanto mais leio sobre os sucessivos "erros" de Formosa mais desconfiado fico...