2007-04-10 - 00:00:00
Parto: A caminho da maternidade de Setúbal
Nasceu na ambulância
Um bebé, do sexo masculino, nasceu no passado dia 3 numa ambulância em pleno IC33, junto ao cruzamento de Melides, no concelho de Grândola, quando a mãe ia a caminho da maternidade do Hospital São Bernardo, em Setúbal.
Os pais do recém-nascido, residentes em Santiago do Cacém, no Alentejo, acusam a médica que os atendeu no serviço de Urgência do Hospital do Litoral Alentejano (HLA) de negligência, por ter autorizado o transporte da paciente para Setúbal numa situação de parto “iminente”. É que o pequeno Pedro Afonso nasceu 15 minutos depois da mãe ter saído das Urgências daquela unidade de saúde.
Segundo a família do bebé, os primeiros sinais de parto começaram a meio da manhã. Os pais decidiram chamar uma ambulância que os transportou até ao centro de saúde e, posteriormente, para o hospital, onde deu entrada pelas 11h30. A parturiente foi examinada por uma enfermeira que lhes comunicou não existirem condições para realizar o parto naquelas instalações e foi iniciado o processo de transferência.
“Quando a ambulância se aproximou da Urgência para a levar para Setúbal, a minha esposa começou a chorar e a dizer que o bebé estava a nascer”, contou ontem ao CM Octávio Costa, pai do menino. Nessa altura, segundo o progenitor, um dos bombeiros “pediu à equipa médica para observar a grávida na ambulância, mas a médica recusou-se, dizendo que era uma situação normal e disse que a obstetra do hospital não se encontrava”. “Nestas situações as grávidas seguem para a maternidade de Setúbal e se o bebé nascer pelo caminho contacta-se a viatura de emergência médica”, acrescentou.
A ambulância saiu de Santiago do Cacém às 12h01 e seguiu pelo IC33. Quinze minutos depois nasceu o bebé. “No início da subida da serra de Grândola rebentaram as águas, parámos a viatura na berma e o bebé nasceu”, lembrou Octávio Costa.
PAI ASSISTIU AO PARTO
O parto foi assistido pela tripulação, composta por dois bombeiros, e pelo pai da criança, um ex-bombeiro com vinte anos de experiência. “Quando vi a cabeça do bebé, aparei logo com as mãos e com outro bombeiro ajudei o meu filho a sair. Depois de nascer aspirámo-lo e cortámos o cordão umbilical. Seguimos para o Centro de Saúde de Grândola”, recorda o progenitor da criança, que nasceu com 2,050 quilos e 41 centímetros de comprimento.
De Grândola, mãe e filho foram transferidos para a maternidade do Hospital de Setúbal, de onde tiveram alta dois dias depois.
Refeitos do “susto”, Octávio e Fernanda Costa, de 36 e 38 anos, respectivamente, e pais já de uma menina, não vão esquecer tão depressa este “grave” episódio. O casal já contactou um advogado para processar a médica do Hospital do Litoral Alentejano. “Estas situações não podem continuar a existir. Uma ambulância não tem as mesmas condições de higiene e os mesmos meios técnicos de um hospital”, frisou.
AUTARCA QUER MATERNIDADE
O presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, Vítor Proença, continua a defender a “construção urgente da maternidade no Hospital do Litoral Alentejano”. Este caso é, segundo o autarca, “mais um exemplo de que o serviço faz falta na região, porque os indicadores apontam para uma média de 800 partos por ano”. Vítor Proença diz que existem “lobis interessados em que os nascimentos ocorram em Setúbal ou Beja” e critica o Ministério da Saúde por seguir “uma política de encerramento de maternidades”. Segundo o autarca, “às vezes os maus acontecimentos provocam o alerta nacional e levam as pessoas a virem a público e alterarem as situações”, referindo-se ao concelho de Odemira, onde a falta de assistência médica conduziu à morte de duas pessoas no espaço de um mês.
DOIS MIL FORA DOS HOSPITAIS
No ano de 2005 nasceram 2188 bebés fora dos estabelecimentos de saúde em Portugal.
Este número, segundo o gabinete do ministro da Saúde, Correia de Campos, é baseado no relatório do Instituto Nacional de Estatística referente ao número de partos, por natureza, local, assistência e vitalidade, de acordo com a distribuição geográfica de residência.
No entanto, o documento não diferencia o número de partos efectuado no domicílio ou em veículos de transporte ambulatório. Revela apenas que em 2005 ocorreram no continente e ilhas 108 870 partos, 439 dos quais com fetos mortos, e que a região Norte foi onde se registaram mais nascimentos (36 926). Em comparação com 2004, houve mais 612 partos.
Em 2000 registou-se o maior número de nascimentos desde o início dos anos 90. Nesse ano fizeram-se 119 368 partos, 118 009 simples, 1321 duplos e 38 triplos. O ano com menor número de partos verificou-se em 1995 (106 829).
NA ESTRADA
FIGUEIRA
Em apenas 14 dias nasceram dois bebés, uma menina e um menino, na auto-estrada entre as cidades de Figueira da Foz e Coimbra. Os dois partos ocorreram em Março, depois do fecho da maternidade de Figueira.
PORTO
Cristina Leite estava sozinha em casa quando começou a sentir contracções. Chamou o 112, mas Vítor acabou por nascer a caminho do Hospital do Porto, em Janeiro último. A mãe, de 28 anos, foi ajudada por dois bombeiros de Moreira da Maia.
ELVAS
Também em Janeiro deste ano nasceu o primeiro bebé alentejano numa ambulância depois do fecho da maternidade de Elvas. Ivone Camões, 27 anos, deu à luz um menino numa ambulância, na EN4, a caminho da maternidade de Badajoz.
Helga Nobre, Setúbal / A.M.S.