Luiz Bastos escreveu:Desculpe.
Estava me referindo ao estilo do casco. Hoje ha muita diferença nas formas e ângulos dos cascos mais modernos que encarecem os projetos e o custo do barco, ao passo que na Barroso estes custos de projeto já foram pagos e diluídos no resto da frota, alem de uma simplicidade maior do design. Acho que um projeto moderno de uma fragata stealt deve custar bem mais caro que uma Barroso. Não sei se me fiz entender.
Não tenho certeza de como as empresas no Brasil efetuam seus projetos de cascos de navios, mas lá fora isto é feito através de sistemas de modelamento tridimensional com o apoio de programas específicos de simulação (de conjunto, hidrodinâmica, resistência estrutural, montagem, etc...). A mão de obra necessária para rodar tudo isso tem que ter uma formação muito boa e os sistemas são caros, mas depois de montada a equipe o projeto pode sair muito rápido, com custos surpreendentemente baixos e alta qualidade. Não acredito que o custo total do desenvolvimento de um casco de fragata (por exemplo) chegue a 10 milhões de dólares.
O que complica mais o projeto são os sistemas que precisam ser detalhados depois, como propulsão, armamento, energia, etc..., e cujos detalhes de instalação dentro do casco projetado devem ser estudados com muito cuidado. No projeto inicial do casco a escolha destes sistemas já é levada em consideração, mas apenas como "caixas-pretas" com basicamente o volume e a massa dos componentes reais, para estudos de espaço e de estabilidade. Mas no detalhamento do projeto cada pequeno suporte, tubulação, válvula, etc... tem que ser estudado em detalhe, para garantir acesso tanto de montagem quanto de manutenção, bem como o perfeito funcionamento de cada sistema. Esta etapa pode levar até alguns anos, e aí o custo pode subir para até algumas dezenas de milhões de dólares, no máximo poucas centenas de milhões se o projeto for realmente complexo.
Como trabalho com este tipo de sistemas tenho uma interessante apresentação Powerpoint que preparei sobre suas aplicações a embarcações de pequeno porte, se te interessar me mande uma MP e te envio por e-mail.
Mas ao contrário do que ocorre com aviões, os navios não passam pelas etapas de protótipos estruturais e de sistemas, protótipos de vôo, campanhas de testes e qualificação, etc..., que no desenvolvimento de um avião tomam vários anos e consomem até vários bilhões de dólares. Uma vez o projeto do navio pronto ele é simplesmente construído, e os testes já serão nas condições de operação. Os custos posteriores de desenvolvimento são bem limitados, pois o protótipo já é basicamente o primeiro navio da série e daí para a frente os custos são de operação, não de desenvolvimento.
É comum inclusive que várias unidades entrem em construção antes mesmo da primeira estar pronta e ter sido devidamente avaliada. Isto ocorreu por exemplo com as corvetas Inhaúma, cuja quilha da segunda unidade foi batida bem antes que a primeira tivesse sido imporporada à MB, e a da segunda logo após isso. Se depois dos navios em construção descobre-se que o projeto tem algum problema (intrínseco ou derivado da própria evolução da tecnologia) dificilmente é possível corrigir o problema, e deve-se alterar o projeto e criar uma nova classe para isso. Não é nada difícil disso acontecer, até na Royal Navy existem casos, desenvolver um projeto novo de navios é sempre um risco.
Por isso me arrepio quando se fala da MB encomendando séries enormes de fragatas antes mesmo de ver se a primeira está realmente de acordo com o que se precisa e deseja.
Leandro G. Card