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TORRES PARA A VERSÃO DE RECONHECIMENTO DO BLINDADO GUARANI
Por
Túlio Ricardo Moreira
Muito se tem falado sobre as possíveis torres e peças principais que seriam aplicadas a uma possível versão de reconhecimento do Guarani. As duas mais citadas têm sido a LCTS 90 e a CT-CV 105, ambas belgas, e parece interessante analisá-las, tendo em mente que o Exército Brasileiro parece estar mais interessado em uma torre com arma de 90 mm. Mas vamos a elas:
1 - TORRE CT-CV 105
A torre biplace em si é totalmente estabilizada, permitindo fogo preciso em movimento, sendo sua peça principal o CT Gun 105, arma de alma raiada e apta a disparar qualquer munição padrão OTAN no calibre, embora seu melhor desempenho seja com munição especificamente desenvolvida, como a APFSDS-T MECAR M1060CV, cujo desempenho com a arma é inegavelmente impressionante, atingindo o penetrador de 3,31 kg a velocidade inicial de 1620 m/s, ou seja, impacto inicial de 4,34 MJ, mais poderoso que o maior possível de ser produzido pelas peças L7/M68 dos nossos M-60A3TTS e Leopard 1A5. O interessante é que, dada a baixa taxa de desaceleração desse tipo de projétil, na prática um alvo a 2000 m (distância na qual se alega capacidade de penetração de aprox. 560 mm RHAs a 60°. Apenas para demonstração, citamos que o CC mais poderoso da América do Sul é o Leopard 2A4 do Exército do Chile, cuja blindagem frontal na torre é equivalente a 690 mm de RHAs mas cuja inclinação é bem menos aguda que 60º o que, em tese, o tornaria vulnerável a esse conjunto arma/munição e isso a 2 km) seria atingido pouco mais de um segundo após o disparo, ou seja, quase sem ou mesmo sem chance de reação.
A torre pesa, em condição leve (sem munição nem blindagens adicionais, as quais está apta a receber), principalmente para transporte aéreo na VTR na qual estiver instalada, cerca de 4 ton. A munição consiste em até 16 tiros prontos (a capacidade de munição adicional dependerá do espaço disponível na VTR onde será instalada), alimentados por carregador automático à peça principal, capaz de cadência de seis a oito RPM. Tanto o giro da torre quanto o rebaixamente e elevação da peça principal (impressionantes 42º, mais que o dobro da maioria das peças deste calibre, o que proporciona funcionalidades adicionais, como tiro indireto e muito melhores capacidades para combate em regiões montanhosas e ambientes urbanos). Outra característica é a possibilidade de emprego do míssil AC Falarick 105, desenvolvido em conjunto com a estatal Kyiv Design Bureau “Luch”, da Ucrânia. É um projétil guiado a laser e com duas ogivas em tandem, alegadamente capaz de penetrar aprox. 550 mm de RHAs (após ultrapassar a ERA ou blindagem equivalente) a até 5.000 m. Aliás, o uso deste míssil, transportado no depósito normal de tiros prontos e carregado normalmente pelo mesmo alimentador automático, quando associado à grande capacidade de elevação do tubo da peça principal permite mesmo atirar contra aeronaves (como helicópteros) com alta possibilidade de êxito.
Os sistemas de pontaria tanto do comandante quando do atirador são dois displays idênticos para cada um, sendo um para visão diurna e outro para visão noturna. Um visor panorâmico proporciona ao comandante uma grande capacidade de detectar-atirar primeiro. A mira do atirador também é totalmente estabilizada e dotada de computador balístico e telêmetro laser para permitir fogo em movimento tanto diurno quanto noturno e contra alvos também em movimento. Aliás, a eletrônica é toda digital de última geração. O equipamento ainda pode ser acrescido de alerta-laser (para quando o veículo for "iluminado" por algum atirador inimigo), além de metralhadora coaxial e superior.
Foi dada uma especial atenção à segurança e conforto dos tripulantes, que ficam sentados em uma posição bem baixa na torre, obtendo a vantagem da proteção extra oferecida pelo casco blindado do carro. Ademais, a tripulação é separada da munição por uma parede blindada, havendo ainda um dispositivo que ejeta por detonação a parte superior do depósito de munições, minimizando os riscos em caso de impacto por ação inimiga.
A peça principal de 105 mm conta com cano de 53 calibres de comprimento (5.586 mm) com uma distância máxima de recuo de 580 mm, sendo a força máxima do mesmo inferior a 15 ton, graças à ajuda do compensador/freio de boca. A pressão interna suportada pela arma excede em cerca de 20% a dos tradicionais L7/M68.
Sobre a torre CT-CV 105 é singelamente informado pelo fabricante que é "indicada para veículos blindados leves e médios sobre rodas ou lagartas" sem menção a peso. É sintomático, no entanto, que todos os veículos sobre rodas que a empregam são 8 x 8, como o Piranha III e IV e Pandur II.
2 - TORRE LCTS 90
Muitas das apresentações desta torre são similares ou mesmo iguais às da CT-CV, como ser biplace, estabilizada, modular, ter peça principal com carregamento automático, eletrônica digital com sensores de última geração, atuação eletromecânica tanto no giro quanto na elevação e rebaixamento do armamento, além da capacidade de proteção (integral contra munição perfurante calibre 7,62 mm; com blindagens modulares adicionais, ambas podem atingir o nível 5 das especificações da OTAN STANAG 4569 (como resistir a um impacto direto de munição 25mm APDS-T (M791) ou TLB 073 com velocidade de 1258 m/s a 500 metros ou a uma explosão de granada de artilharia de 155 mm a 25 m). Tendo sido desenvolvidas pela mesma empresa, sendo praticamente da mesma geração e para propósitos semelhantes, isso é bastante natural. Assim, nos concentremos nas diferenças, que residem principalmente na peça principal e munição disponível, além de a torre, principalmente por seu armamento, ser mais leve.
O comprimento da peça é de 4,365 mm, ou seja, 48,5 calibres. Atinge seu melhor desempenho AC com munição APFSDS M603 MECAR Kenerga 90/46, que dispara um penetrador de 1,73 kg com velocidade inicial de 1430 m/s, entregando assim uma energia cinética (KE) de aproximadamente 1,77 MJ sendo, de acordo com a empresa fabricante, capaz de penetrar cerca de 150 mm de RHAs a 2.000 m em ângulo de 60º. Os valores de elevação e rebaixamento da peça são outra grande diferença em relação à torre CT-CV, sendo de -9º a + 20º o que, mesmo assim, são muito bons para peças embarcadas em veículos blindados de combate.
Ainda segundo o fabricante, esta torre e sua arma são particularmente adequados ao emprego por VTRs com peso entre 10 e 20 toneladas, sendo vista tanto sobre VTRs 6 x 6 como o Pandur quanto 8 x 8 como o Piranha IIIC. Outra característica que a diferencia é que não há míssil AC disponível para emprego na peça principal. Por outro lado, a LCTS 90 conduz um total de 37 cartuchos em seu interior, sendo 20 no compartimento blindado para emprego imediato e outras 17 estocadas em um compartimento inferior, dentro da própria torre, com a finalidade de agilizar a recarga.
CONCLUSÃO
Ao nosso ver, a escolha da torre depende principalmente da decisão final do Exército Brasileiro em relação ao Programa Guarani: se for manter a configuração 6 x 6 mesmo em uma versão mais "brava", orientada ao reconhecimento e portanto mais exposta à possibilidade de engajar alvos "duros", é bastante provável que leve à adoção da LCST 90 ou alguma similar; se partir para uma versão 8 x 8, a CT-CV 105 seria uma escolha excelente (embora mesmo na 8 x 8 possa ser usada a LCST) pelo seu poderio, sofisticação e mais amplo leque de opções, em que se destacam a muito maior capacidade de elevação da peça principal e a capacidade adicional (flexibilidade) proporcionada pelo míssil Falarick 105.
Acrescentamos, não obstante, que ambas ao opções são moderníssimas e certamente cumprirão perfeitamente seu papel. A modularidade permite a escolha de outros sensores, comunicações e eletrônicos em geral, o que poderia aumentar a padronização da frota. Ainda sobre as torres, sua capacidade de giro fica em torno de 60º/s (para comparação, a do M-60A3TTS fica em cerca de 22,5ºs). Isso, combinado aos excelentes sistemas a bordo, proporciona uma rapidíssima capacidade de adquirir-priorizar-mirar-atirar-acertar, capacidade fundamental num TO moderno e atual.[/justificar]