Afinal, o Gripen foi a melhor escolha para a FAB?
Por Maurício Carrilho*
A escolha do caça sueco Saab Gripen NG (ou F-39E/F no Brasil) para compor a frota da Força Aérea Brasileira (FAB) foi um dos marcos mais discutidos no âmbito da defesa nacional. Desde o anúncio do vencedor do programa FX-2, em 2013, até os dias atuais, a decisão se mostra uma das mais estratégicas e coerentes que o Brasil poderia ter tomado, considerando as necessidades operacionais, os objetivos industriais e as limitações orçamentárias da FAB.
Histórico do Programa FX-2: Uma escolha demorada, mas cautelosa
O programa FX-2 foi a continuação de uma série de esforços do governo brasileiro para modernizar a frota da FAB, que por muitos anos operou com aeronaves que já começavam a se tornar obsoletas. No início dos anos 2000, aviões como o Mirage 2000 e o F-5M já demonstravam limitações significativas para as missões de defesa do espaço aéreo nacional. Em 2008, com a continuidade do FX-2, o Brasil abriu oficialmente uma competição para adquirir um novo caça multifuncional, levando em conta não só as capacidades técnicas das aeronaves, mas também aspectos econômicos e industriais.
A competição incluiu três finalistas: o Dassault Rafale francês, o Boeing F/A-18 Super Hornet americano e o Saab Gripen NG sueco. Durante anos, a disputa foi acirrada, e cada candidato tinha suas vantagens. O Rafale oferecia uma alta performance e tecnologia comprovada, mas o preço era elevado e os custos de manutenção assustavam. O Super Hornet, por outro lado, trazia a experiência americana e uma ampla integração com sistemas de defesa global, mas havia receios sobre a dependência dos EUA para peças e manutenção, além de restrições políticas para transferência de tecnologia.
Após anos de deliberação, o Gripen NG foi anunciado vencedor em 2013, surpreendendo a muitos. No entanto, com o passar do tempo, a escolha do Gripen tem se mostrado a melhor decisão para a FAB e para o Brasil de uma forma geral.
Os pontos fortes do Gripen NG: Tecnologia, economia e parceria industrial
O Gripen NG apresenta uma série de vantagens que atendem aos principais requisitos da FAB, além de se alinhar aos objetivos industriais do Brasil. Entre os pontos fortes do Gripen, destacam-se:
- Transferência de Tecnologia - Um dos aspectos mais valorizados pelo Brasil foi o compromisso da Saab em realizar uma ampla transferência de tecnologia. Isso envolve não apenas o conhecimento técnico, mas também a formação de profissionais brasileiros para atuar em diferentes fases da produção e manutenção da aeronave. Empresas brasileiras, como a Embraer, a Akaer e a AEL Sistemas, passaram a participar do desenvolvimento e fabricação do caça. Esse compromisso permite ao Brasil se tornar menos dependente de fornecedores estrangeiros e ajuda a impulsionar a Base Industrial de Defesa (BID) nacional.
- Custo-Benefício - O Gripen é uma das aeronaves de combate mais econômicas da sua categoria, tanto em termos de aquisição quanto de operação. Ele apresenta um custo operacional relativamente baixo em comparação aos concorrentes, e isso é fundamental para um país com orçamento militar limitado como o Brasil. Além disso, a flexibilidade do caça permite que ele execute diversas missões, desde defesa aérea até ataques táticos, o que maximiza o retorno sobre o investimento.
- Flexibilidade e Atualização - O Gripen NG foi projetado para ser facilmente atualizado ao longo de sua vida útil, o que é uma vantagem em um setor onde as tecnologias avançam rapidamente. A arquitetura aberta da aeronave facilita a integração de novos sistemas e armamentos, garantindo que ela permaneça relevante e competitiva nas próximas décadas. Isso também dá ao Brasil uma maior independência para integrar sistemas desenvolvidos internamente, uma característica importante para a soberania nacional.
- Desempenho Operacional - O Gripen NG é um caça leve e ágil, com capacidade de operar em pistas curtas e condições desafiadoras, algo essencial para um país com um território vasto e diverso como o Brasil. A combinação de sensores modernos, incluindo o radar AESA (Active Electronically Scanned Array), e a suíte de guerra eletrônica fazem dele uma plataforma competitiva frente a potenciais ameaças na América do Sul e em outras regiões.
Contribuições para a Base Industrial de Defesa (BID)
O impacto do Gripen NG na Base Industrial de Defesa brasileira é um dos maiores méritos desse projeto. A Saab firmou uma parceria com a Embraer e outras empresas nacionais para montagem e manutenção de parte da frota no Brasil, contribuindo para a geração de empregos qualificados e para o desenvolvimento de tecnologias de ponta. A Embraer Defesa e Segurança, por exemplo, teve papel central na construção do caça e na formação de engenheiros e técnicos.
Além disso, o programa Gripen abriu portas para que a indústria nacional participe de futuras atualizações e personalizações da aeronave, fortalecendo a BID e posicionando o Brasil como um importante fornecedor de componentes de alta tecnologia no mercado global de defesa. Isso significa que, no longo prazo, o país terá capacidade não apenas de manter sua própria frota de Gripens, mas também de exportar produtos e serviços relacionados à operação do caça.
Expectativas Futuras: Crescimento da BID e fortalecimento da FAB
A longo prazo, o Gripen NG deve continuar a oferecer retornos significativos ao Brasil, tanto no campo militar quanto no industrial. Espera-se que a tecnologia adquirida e o know-how desenvolvido ao longo do programa sejam aplicados em outros projetos de defesa, incluindo o desenvolvimento de novos produtos para exportação, o que deve ampliar ainda mais a capacidade da BID.
O Gripen também representa uma plataforma de adaptação tecnológica que permitirá ao Brasil ajustar a aeronave conforme as necessidades da FAB e as novas ameaças que surgirem. Esse nível de adaptabilidade é uma vantagem estratégica, pois permite ao país reagir a mudanças globais no campo de defesa e segurança com maior rapidez e flexibilidade.
Outro aspecto positivo é que o sucesso do programa Gripen pode servir como um "case" para futuras parcerias internacionais, atraindo novos investimentos e alianças para projetos tecnológicos e industriais. O Brasil demonstra, com o Gripen, que é um parceiro confiável e capaz de absorver tecnologia de ponta, o que fortalece sua posição geopolítica.
Conclusão
A escolha do Saab Gripen NG como novo caça da FAB foi acertada em vários aspectos, desde o custo-benefício e a adaptabilidade até o impacto na indústria de defesa brasileira. Embora haja desafios a serem superados, especialmente em termos de autonomia e dependência de fornecedores, o projeto do Gripen representa uma oportunidade sem precedentes para o Brasil desenvolver sua capacidade tecnológica e militar.
Com o tempo, o Gripen deve consolidar ainda mais seu papel na defesa aérea nacional, ao mesmo tempo em que fomenta a BID e contribui para a autossuficiência do Brasil no setor de defesa. Essa escolha, alinhada com um planejamento estratégico e uma visão de longo prazo, coloca o Brasil em uma posição vantajosa para enfrentar os desafios do futuro e fortalecer sua posição no cenário internacional.
Sobre o autor: Maurício Carrilho
Projetista Mecânico, entusiasta e estudioso desde a década de 1990 por tudo que é relacionado à temática Defesa e Tecnologia Militar
Criador, proprietário e editor do Defesa Brasil Brasil
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