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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Qui Jan 12, 2012 6:29 pm
por marcelo l.
PRick escreveu:Vou repetir, não existe volta ao passado na história, as razões pelas quais levaram os EUA a deterem mais de 50% do PIB, não vieram das qualidades exclusivas de sua sociedade, mas diante de um contexto global, que hoje desapareceu por completo.
O sistemático emprego da tecnologia na produção, é inerente ao capitalismo, por sinal, é a grande virtude do capitalismo, procurar de forma cega a maior taxa de lucro e a maior eficiência produtiva. Então temos alguns pilares fundantes da economia capitalista,
1- Mercado de trabalho abundante de mão de obra barata e se possível qualificada
2- Grande Mercado de Consumo
3- Uso intensivo da tecnologia na produção.
Isso existe desde a Revolução Industrial, por sinal, os índices de produtividade jamais evoluíram de forma tão acelerada que durante a os 50 anos iniciais da Revolução.
Tendo em vista que o uso intensivo da tecnologia da produção não é novidade, e que todos os capitalistas buscam isso, me parece lógico pensar, que esse não seja o fator decisivo para diferenciar a eficiência do sistema produtivo. Por sinal, o que o fato de os EUA apesar de serem os que mais investiram em tecnologia, estão encolhendo ao relação ao mundo já seria um indicador.
Além disso, a eficiência do sistema produtivo não tem na evolução tecnológica sua única explicação, e nem mesmo no preço da mão de obra. E nem mesmo a qualificação da mão de obra, poder ser apenas aferida pela sua educação, pergunto que educação estamos falando?
O que é mais importante num operário de uma grande industria? Ter uma alta qualificação ou ter passado por um sistema de educação que implicam num alto exercício de auto-disciplina, senso de coletividade e crenças religiosas que ajudam a lidar com a realidade finita de nossa existência ou numa pessoa com grande cultura, niilista, individualista, hipócrita e com grande dificuldade em lidar com perdas inerentes a vida humana?
Já se deram conta que os valores da sociedade dos EUA, hoje, nada tem haver com os valores do passado, que efetivamente ajudaram aquela sociedade produzir com muito eficiência. Muito mais que patentes, robôs e outras máquinas, a eficiência produtiva ou mesmo a qualidade de vida de um meio social, está muito mais ligado a sua crença de valores, a organização social, a forma organizativa da produção, o sistema de gerenciamento, e metas, etc.., que da inovação como aspecto isolado.
Por sinal, não é isso que vemos quando olhamos hoje os EUA? Que a enorme máquina de P&D, está sendo desperdiçada por processos produtivos absurdos, de administradores preocupados apenas com seus lucros pessoais, que muitas vezes desprezam a CIA que trabalham, são cínicos, hipócritas, não foram esses os principais responsáveis pela perda de quase 20 trilhões de dólares em prejuízos, e qual foi a pena deles? Ganharam cargos no Governo para continuarem a se locupletarem.
Afinal, de que adianta ter uma fábrica moderna, que custa um absurdo, de tal forma que o retorno do capital investido seja tão distante que desestimula o capitalista a investir na produção, desviando seu capital para o mercado financeiro?
Veja o que falei antes da decadência do Império Romano, em que a enorme superestrutura afundou e corrompeu todo o sistema produtivo, toda a infra-estrutura. Então não adianta gerar saber, patentes, tecnologia, se dentro das fábricas isso é jogado no lixo, vide o caso do F-35.
Repito, então as correlações históricas que levam um Império a naufragar, vão muito além de alguns aspectos isolados, muito além da economia. A História é a maior ciência humana, só perdendo em sua grandeza e complexidade para o estudo da filosofia, que não posso chamar de ciência. Então ao historiador cabe explicar o que se passa com a realidade humana, não só a atual, como a do passado também.
Esses são apenas algumas dúvidas que tenho depois de ler os malucos lá de cima, nem vou entrar no pensamento do bando de malucos da filosofia andam falando sobre o problema do cinismo na sociedade moderna ocidental. Que apenas adicionaria um grau de complexidade a esse questão da crise dos EUA, para arrepiar cabelo de careca!
[]´s
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Qui Jan 12, 2012 6:34 pm
por Túlio
Ó só, tá
FEIO mesmo:
Obama pede nova ampliação do teto da dívida americana
12 de janeiro de 2012 • 18h23
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu nesta quinta-feira ao Congresso americano uma nova ampliação do teto da dívida nacional, dessa vez de US$ 1,2 trilhão.
Esta é a terceira e última ampliação que o presidente americano pode fazer sob o acordo obtido no meio do ano passado para elevar a dívida nacional, que atualmente está em US$ 15,2 trilhões.
http://noticias.terra.com.br/noticias/0 ... icana.html
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Qui Jan 12, 2012 6:43 pm
por Cunha
LeandroGCard escreveu:Túlio escreveu:Leandro, INOVAÇÃO para mim é gerar e patentear produtos e técnicas inteiramente novos. É P&D à enésima potência, pouco importa quem vá produzir depois. Claro que o sistema, como se vê, revelou-se econômica e portanto politicamente inviável, tirando empregos dos EUA e os levando para a Ásia.
Mas convenhamos: mão de obra barata há em toda parte, mas CÉREBROS que partem de conhecimentos negados ao resto do mundo - que os deveria ter desenvolvido e mesmo superado - para desenvolver ainda mais conhecimento/tecnologia não...
Assim, se realmente quisessem - e parecem não querer, para seu próprio infortúnio - os ianques poderiam simplesmente parar com guerras tolas e trazer de volta as linhas de montagem. E os Asiáticos, como ficariam, já que apenas montam e xeroqueiam mas não DESENVOLVEM? Porque, queira-se ou não, a melhor e mais sofisticada tecnologia do mundo está nos EUA.
Tens razão, os EUA poderiam ter feito isso, mas por questões de maximização do lucro (capitalismo liberal é isso) não o fizeram. Ao invés disso, concentraram a riqueza em sua própria sociedade que já faz décadas tem a distribuição de renda piorando a cada ano (informação que os simples números do crescimento não fornecem, como tu bem sabes) e mascararam a perda de renda da maioria de seus cidadãos com a redução do custo dos produtos importados e a expansão do crédito. Até que chegaram à situação atual que, convenhamos, não é nem de longe confortável (embora também não seja ainda a catástrofe que o Prick descreve).
É claro que eles ainda podem tentar voltar atrás, e trazer de volta a produção para dentro de suas fronteiras e os empregos para os seus cidadãos, mas certamente não com os salários que são praticados na China e alhures. Os empresários americanos aceitariam isso, ter que voltar a dividir o bolo que concentraram nos últimos anos e perder assim os enormes lucros que auferem hoje, pelo bem da nação? Será que são tão patriotas quanto o cidadão americano médio, ou estão já se preparando para emigrar para algum condomínio de luxo em Hong-Kong ou Xangai quando a situação se deteriorar demais?
Este me parece o risco atual que correm os EUA. Eles sem dúvida ainda tem a vantagem na capacidade de inovação (embora hoje Coréia do Sul, China e alguns outros estejam diminuindo rapidamente esta vantagem) e uma base industrial que pode sim ser reativada, mas ambas estão cada dia mais frágeis. Sua superioridade tecnológica e industrial já foi incontestável, e hoje já não é mais tanto assim, veja os problemas que estão enfrentando em projetos nos quais antes eram mestres (vide F-35, programa espacial, novos projetos de navios da UNS, etc...). E se os EUA não puderem mais atrair mão de obra altamente especializada (pesquisadores e engenheiros) de fora porque sua crise econômica se acentuou e o país não é mais atrativo, sua capacidade de inovação vai cair para próximo de zero em muito pouco tempo!
Então o que eles vão fazer daqui para a fernte? Usar as vantagem que ainda possuem para reverter sua decadência (e sim, já se pode falar em decadência, o que era impensável menos de uma década atrás) relativa ao restante do mundo, ou suas elites vão simplesmente expremer a fruta até onde for possível e depois abandorar o bagaço que restar? Se for este último caso a queda pode ser bem maior e mais rápida do que uma análise dos números básicos da economia pode mostrar, mesmo usando-se os modelos que consideram a importância da capacidade de inovação.
Leandro G. Card
Acho que o PRick fala o mesmo que o Leandro, só que de forma um pouco mais, digamos... impaciente.
E, antes que eu me esqueça, concordo com ambos.
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Qui Jan 12, 2012 9:00 pm
por Penguin
LeandroGCard escreveu:Túlio escreveu:O fato é que a pergunta é pertinente e essa gente aí não a responde:
"Qual foi o país cujo governo e empresas mais investiram em inovação nos últimos 40 anos, Prick?"
Este ponto está certo, a inovação é o principal fator de alavancagem de uma economia moderna, mas...
O que acontece quando esta economia é aberta e não nacional? Quanto se ganha e quanto se perde quando se investem bilhões nos EUA para desenvolver uma dada tecnologia, e depois os produtos que a utilizam são produzidos em massa na China, por empresas não totalmente controladas por americanos? Os dois cientistas ou engenheiros americanos que desenvolveram a tecnologia podem ganhar US$250 mil por ano cada, o chefe do departamento de pesquisa mais 300 mil, e o executivo chefe da empresa mais 500, totalizando uns 2 milhões se somarmos secretárias, assistentes, projetistas, etc... . Porém, se a massa de peões e supervisores na linha de montagem chinesa ganhar em média apenas 10 mil dólares por ano cada um, mas totalizar uns 2 mil trabalhadores, 10 vezes mais riqueza estará indo para a China do que para os EUA como resultado da inovação. Quem está na vantagem? E o que acontecerá depois que os chineses absorverem (ou copiarem) esta tecnologia e passarem a investir em seu contínuo aperfeiçoamento, enquanto os americanos não puderem fazê-lo no mesmo nível porque já não tem a mesma renda das vendas?
Veja, não estou querendo afirmar nada, realmente não tenho a resposta para as questões acima. Acho até possível que os conceitos econômicos existentes (inclusive o neo-schumpeteriano, que foca nesta questão da inovação) não sejam adequados para o nível de globalização da economia e das finanças que temos hoje. Mas parece que só a inovação sem a produção não está mesmo sendo de muita valia para os EUA, se olharmos os desenvolvimentos mais recentes.
Leandro G. Card
Algumas observações.
A questão da deslocalização industrial aliada à globalização me parece ser um tema ainda sem respostas conclusivas e está ligada a muitos e variados fatores que vão desde a busca por redução de custos até a estratégias para acessar determinados mercados*.
*: 13 January 2012 -
Apple ends China iPhone store sales after launch issues:
http://www.bbc.co.uk/news/business-16540681
China is the world's largest mobile phone market, and Apple's second-biggest market.
Por exemplo, para que a Foxconn instalará uma fabrica para montar iPads no Brasil? Faz sentido? Ou é para fugir dos elevados impostos brasileiros incidentes na importação e paralelamente obter incentivos fiscais e ser mais competitivo aqui (além de acessar crédito governamental mais barato)?
Esse esquema dos custos do Iphone abaixo não deve ser muito diferente do que ocorre com o Ipad. A Foxconn apenas monta o aparelho. Tem um verdadeiro exército em suas fabricas em Shenzen que monta nas pequenas carcaças com a logomarca da Apple os diversos componentes fabricados ao redor do mundo.
Chama atenção a parcela da Foxconn no processo: US$7 (custos) + US$7 (remuneração) =
US$14 para cada aperelho montado.
A Foxconn tem uma puta margem para o que ela agrega. Mas ela agrega muito pouco em relação ao valor do produto.
A Apple que pesquisa inova e desenvolve o produto, monta e gerencia a cadeia de suprimentos e a logística, gerencia o marketing, os canais de distribuição e as vendas, abocanha
US$ 368 por cada aparelho. Essas etapas ocorrem majoritariamente nos EUA e geram muitos empregos qualificados. E em todas essas etapas podem e ocorrem inovações.
Se os salários chineses crescerem fortemente (como têm ocorrido), ou a Foxconn muda o perfil dela, ou no futuro nada impedirá que a Apple contrate uma montadora para o Ipad 5 em um país cujos custos sejam mais baixos do que a China. Ou de repente a Foxconn pode montar uma unidade em Bangladesh.
Aqui mesmo no Brasil tem ocorrido um processo interessante com a indústria calçadista - intensiva em mão de obra e fortemente sensível a variações nos custos de produção, especialmente aquelas fabricantes que produzem sapatos mais populares. Durante a década de 90 parte dessa produção se deslocou do Sul e Sudeste para o Nordeste como forma de reduzir os custos de produção e enfrentar a concorrência externa no mercado interno e ganhar competitividade para exportar. Há alguns anos essa indústria tem perdido competitividade com relação aos competidores externos, que possuem mão de obra mais barata inclusive do que a China: Índia, Vietnã e outros países do Sudeste Asiático. Recentemente essa indústria começa um novo processo de deslocalização, fechando fabricas no Brasil e abrindo novas no Sudeste Asiático.
Qual a melhor solução para esse problema?
1) Deslocalizar a produção para países mais baratos.
2) Aumentar os incentivos fiscais para manter a competitividade das empresas no segmento de baixo custo frente a Bangladesh e outros países do Sudeste asiático, preservando os empregos pouco qualificados.
3) Incentivar os investimentos em outro tipo de produto, calçados que incorporem design, novas tecnologias, desenvolver marcas fortes e internacionais, canais de distribuição globais, campanhas de marketing e assim gerar mais empregos qualificados.
4) Fechar o mercado para importados. Como membro da OMC, há limites quanto a isso.
Essa é uma questão complexa, onde cada setor possui especificidades e para a qual os países ainda não têm uma resposta. O certo é que muitos ganham e muitos perdem.
Cada vez mais claro é que o eixo econômico mundial está se movendo para a Asia-Pacifico.
E é essa região cuja participação no PIB mundial mais cresce (e não é de agora), graças a China e Índia.
[]s
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Qui Jan 12, 2012 9:29 pm
por Penguin
PRick escreveu:Túlio escreveu:O fato é que a pergunta é pertinente e essa gente aí não a responde:
"Qual foi o país cujo governo e empresas mais investiram em inovação nos últimos 40 anos, Prick?"
Me responde o que você entende por inovação? Certamente, não será o mesmo que eu. Se você disser inovação tecnológica, dada que a economia dos EUA representava uma média de um terço do mundo nesses 40 anos, verá que isso não significa nada, sem colocarmos isso dentro de um contexto.
Porém, todos os dados econômicos aponta para a perda de eficiência sistêmica na produção dos EUA já durante a década de 1960, quando comparados a produção japonesa e alemã, que por sua vez estão perdendo feio hoje, para chineses, indianos, sul coreanos e brasileiros.
Essa é a grande chave da questão, nenhum país do mundo hoje pode competir na produção de alimentos com o Brasil, por isso os EUA e a Europa subsidiam e controlam suas importações, porque em caso de mercado livre, ficariam todos sem produzir nada. O mesmo ocorre na área industrial com chineses e indianos. Para mim inovação é produzir mais barato, o resto, eu chamo de enrolação.
[]´s
A Inovação Tecnológica de Produto ou Processo (TPP), segundo o Manual de Oslo (1997)
Inovações Tecnológicas em Produtos e Processos (TPP): implantações de produtos
e processos tecnologicamente novos e substanciais melhorias tecnológicas em
produtos e processos.
-
O termo “produto” é usado para cobrir tanto bens como serviços.
Inovação tecnológica de produto pode assumir duas formas abrangentes:
-Produtos tecnologicamente novos;
-Produtos tecnologicamente aprimorados;
Inovação tecnológica de processo é a adoção de métodos de produção novos ou
significativamente melhorados, incluindo métodos de entrega dos produtos.
A inovação TPP precisa ser distinguida de:
-Inovação organizacional
-Outras mudanças em produtos e processo
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 11:06 am
por mmatuso
Meu primeiro post aqui.
Eu trabalho com um produto de ensino de sala de aula(Clickers) e minha empresa importa diretamente da China.
O mesmo produto fabricado por:
americanos: US$100,00
chineses: US$10,00
Para trazer ao Brasil o produto Chines chega no máximo ao preço de R$30,00 com todos impostos pagos na receita federal.
Existe uma realidade hoje que é a mão de obra absurdamente barata dos chineses e outro detalhe crucial é que parte de todos os produtos serão com bons prazos, os caras trabalham 20 horas por dia.
Não existe CLT ou qualquer mecanismo por lá para fazer com que um Brasileiro, Americano, Europeu ou qualquer outro consiga competir. Alias indianos seguem pelo mesmo caminho, já trabalhei com indianos.
E o detalhe é que por se tratar de um produto eletronico, se a empresa não atender a demanda por qualquer motivo existem outras empresas por lá que podem receber o projeto e executar inteiramente por custos baixos. Logo não ficarei na mão.
É um produto com um certo nível tecnologico, que exige tanto conhecimento de eletronica, desenvolvimento de software e engenharia.
Eles possuem mão de obra muito barata e qualificada.
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 12:09 pm
por Penguin
mmatuso escreveu:Meu primeiro post aqui.
Eu trabalho com um produto de ensino de sala de aula(Clickers) e minha empresa importa diretamente da China.
O mesmo produto fabricado por:
americanos: US$100,00
chineses: US$10,00
Para trazer ao Brasil o produto Chines chega no máximo ao preço de R$30,00 com todos impostos pagos na receita federal.
Existe uma realidade hoje que é a mão de obra absurdamente barata dos chineses e outro detalhe crucial é que parte de todos os produtos serão com bons prazos, os caras trabalham 20 horas por dia.
Não existe CLT ou qualquer mecanismo por lá para fazer com que um Brasileiro, Americano, Europeu ou qualquer outro consiga competir. Alias indianos seguem pelo mesmo caminho, já trabalhei com indianos.
E o detalhe é que por se tratar de um produto eletronico, se a empresa não atender a demanda por qualquer motivo existem outras empresas por lá que podem receber o projeto e executar inteiramente por custos baixos. Logo não ficarei na mão.
É um produto com um certo nível tecnologico, que exige tanto conhecimento de eletronica, desenvolvimento de software e engenharia.
Eles possuem mão de obra muito barata e qualificada.
Ai fica a pergunta: o que o país pode fazer?
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 12:40 pm
por PRick
Penguin escreveu:PRick escreveu:
Me responde o que você entende por inovação? Certamente, não será o mesmo que eu. Se você disser inovação tecnológica, dada que a economia dos EUA representava uma média de um terço do mundo nesses 40 anos, verá que isso não significa nada, sem colocarmos isso dentro de um contexto.
Porém, todos os dados econômicos aponta para a perda de eficiência sistêmica na produção dos EUA já durante a década de 1960, quando comparados a produção japonesa e alemã, que por sua vez estão perdendo feio hoje, para chineses, indianos, sul coreanos e brasileiros.
Essa é a grande chave da questão, nenhum país do mundo hoje pode competir na produção de alimentos com o Brasil, por isso os EUA e a Europa subsidiam e controlam suas importações, porque em caso de mercado livre, ficariam todos sem produzir nada. O mesmo ocorre na área industrial com chineses e indianos. Para mim inovação é produzir mais barato, o resto, eu chamo de enrolação.
[]´s
A Inovação Tecnológica de Produto ou Processo (TPP), segundo o Manual de Oslo (1997)
Inovações Tecnológicas em Produtos e Processos (TPP): implantações de produtos
e processos tecnologicamente novos e substanciais melhorias tecnológicas em
produtos e processos.
-
O termo “produto” é usado para cobrir tanto bens como serviços.
Inovação tecnológica de produto pode assumir duas formas abrangentes:
-Produtos tecnologicamente novos;
-Produtos tecnologicamente aprimorados;
Inovação tecnológica de processo é a adoção de métodos de produção novos ou
significativamente melhorados, incluindo métodos de entrega dos produtos.
A inovação TPP precisa ser distinguida de:
-Inovação organizacional
-Outras mudanças em produtos e processo
Essa é muito boa, o Manual de Oslo pode valer para a legislação, para a OMC, mas não tem qualquer validade científica, afinal, cabe a ciência social que realiza o estudo a conceituação dos termos usados. E mesmo assim, não existirá consenso sobre isso, mesmo porque é irrelevante para o debate em questão, não estamos debatendo o conceito de inovação, mas o seu peso no contexto geral do sucesso ou o fracasso da economia nacional de determinado país.
[]´s
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 12:43 pm
por PRick
mmatuso escreveu:Meu primeiro post aqui.
Eu trabalho com um produto de ensino de sala de aula(Clickers) e minha empresa importa diretamente da China.
O mesmo produto fabricado por:
americanos: US$100,00
chineses: US$10,00
Para trazer ao Brasil o produto Chines chega no máximo ao preço de R$30,00 com todos impostos pagos na receita federal.
Existe uma realidade hoje que é a mão de obra absurdamente barata dos chineses e outro detalhe crucial é que parte de todos os produtos serão com bons prazos, os caras trabalham 20 horas por dia.
Não existe CLT ou qualquer mecanismo por lá para fazer com que um Brasileiro, Americano, Europeu ou qualquer outro consiga competir. Alias indianos seguem pelo mesmo caminho, já trabalhei com indianos.
E o detalhe é que por se tratar de um produto eletronico, se a empresa não atender a demanda por qualquer motivo existem outras empresas por lá que podem receber o projeto e executar inteiramente por custos baixos. Logo não ficarei na mão.
É um produto com um certo nível tecnologico, que exige tanto conhecimento de eletronica, desenvolvimento de software e engenharia.
Eles possuem mão de obra muito barata e qualificada.
Você deu um singelo exemplo de como a inovação é irrelevante, diante das diferenças dos preços para produzir um determinado produto industrial.
O Brasil pode competir, desde que, faça uma proteção a sua industria, já os EUA, é de tal monta a diferença de preços, que não existe como competir.
[]´s
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 4:35 pm
por Penguin
PRick escreveu:Penguin escreveu:
A Inovação Tecnológica de Produto ou Processo (TPP), segundo o Manual de Oslo (1997)
Inovações Tecnológicas em Produtos e Processos (TPP): implantações de produtos
e processos tecnologicamente novos e substanciais melhorias tecnológicas em
produtos e processos.
-O termo “produto” é usado para cobrir tanto bens como serviços.
Inovação tecnológica de produto pode assumir duas formas abrangentes:
-Produtos tecnologicamente novos;
-Produtos tecnologicamente aprimorados;
Inovação tecnológica de processo é a adoção de métodos de produção novos ou
significativamente melhorados, incluindo métodos de entrega dos produtos.
A inovação TPP precisa ser distinguida de:
-Inovação organizacional
-Outras mudanças em produtos e processo
Essa é muito boa, o Manual de Oslo pode valer para a legislação, para a OMC, mas não tem qualquer validade científica, afinal, cabe a ciência social que realiza o estudo a conceituação dos termos usados. E mesmo assim, não existirá consenso sobre isso, mesmo porque é irrelevante para o debate em questão, não estamos debatendo o conceito de inovação, mas o seu peso no contexto geral do sucesso ou o fracasso da economia nacional de determinado país.
[]´s
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Sim, essa é uma boa, abrangente e amplamente aceita definição. Há outras de autores conceituados e tb aceitas amplamente. Todas se parecem muito e não se contradizem. O fato de vc gostar ou não é irrelevante para o debate, pois não é isso que está em discussão e tampouco há dúvidas na academia sobre o que seja inovação e progresso tecnológico.
Se há uma ciência social que tem estudado os efeitos da inovação e do progresso tecnológico sobre o crescimento econômico é a Economia. Atualmente não há duvidas (de nenhuma corrente econômica) sobre a importância da inovação e do progresso tecnológico sobre o crescimento econômico no longo prazo. Há duvidas e debates sobre como fomentar o progresso tecnológico e a inovação e como distribuir os ganhos oriundos desse processo. Neste ponto as correntes econômicas divergem.
[]s
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 5:44 pm
por Penguin
PRick escreveu:mmatuso escreveu:Meu primeiro post aqui.
Eu trabalho com um produto de ensino de sala de aula(Clickers) e minha empresa importa diretamente da China.
O mesmo produto fabricado por:
americanos: US$100,00
chineses: US$10,00
Para trazer ao Brasil o produto Chines chega no máximo ao preço de R$30,00 com todos impostos pagos na receita federal.
Existe uma realidade hoje que é a mão de obra absurdamente barata dos chineses e outro detalhe crucial é que parte de todos os produtos serão com bons prazos, os caras trabalham 20 horas por dia.
Não existe CLT ou qualquer mecanismo por lá para fazer com que um Brasileiro, Americano, Europeu ou qualquer outro consiga competir. Alias indianos seguem pelo mesmo caminho, já trabalhei com indianos.
E o detalhe é que por se tratar de um produto eletronico, se a empresa não atender a demanda por qualquer motivo existem outras empresas por lá que podem receber o projeto e executar inteiramente por custos baixos. Logo não ficarei na mão.
É um produto com um certo nível tecnologico, que exige tanto conhecimento de eletronica, desenvolvimento de software e engenharia.
Eles possuem mão de obra muito barata e qualificada.
Você deu um singelo exemplo de como a inovação é irrelevante, diante das diferenças dos preços para produzir um determinado produto industrial.
O Brasil pode competir, desde que, faça uma proteção a sua industria, já os EUA, é de tal monta a diferença de preços, que não existe como competir.
[]´s
Os Chineses não são bobos. Eles conhecem muito bem a história econômica e as teorias de crescimento econômico.
A China é um dos países em que em os investimentos em P&D+i tem crescido de forma consistente nos últimos anos.
Eles sabem que se quiserem manter a competitividade de seu setor produtivo (bens e serviços) no longo prazo esse é o caminho.
Gross expenditure in research and development (GERD)
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 6:17 pm
por PRick
Penguin escreveu:
Sim, essa é uma boa, abrangente e amplamente aceita definição. Há outras de autores conceituados e tb aceitas amplamente. Todas se parecem muito e não se contradizem. O fato de vc gostar ou não é irrelevante para o debate, pois não é isso que está em discussão e tampouco há dúvidas na academia sobre o que seja inovação e progresso tecnológico.
Se há uma ciência social que tem estudado os efeitos da inovação e do progresso tecnológico sobre o crescimento econômico é a Economia. Atualmente não há duvidas (de nenhuma corrente econômica) sobre a importância da inovação e do progresso tecnológico sobre o crescimento econômico no longo prazo. Há duvidas e debates sobre como fomentar o progresso tecnológico e a inovação e como distribuir os ganhos oriundos desse processo. Neste ponto as correntes econômicas divergem.
[]s
Caramba porque você insiste em desvirtuar o debate, nenhum dos pensadores que citei, e são os melhores no estudo da história, crise dos EUA hoje no mundo, por sinal, foram os primeiros a preverem o que ocorre hoje, perderam tempo com o que você chama de inovação, porque como citei antes, o conceito real é tecnologia aplicada na produção, sempre existiu no capitalismo, e sempre vai existir, no entanto, querer fazer um atalho disso, para tentar explicar o sucesso ou o fracasso de uma nação, aí é viagem sua, é lógico tem muita gente que acredita nessas viagens, não é o meu caso, nem nos maiores historiadores e economistas sérios.
E a propósito, isso nada tem haver com corrente econômica, ninguém aqui está discutindo que a tecnologia não seja importante, mas sim o peso de cada aspecto para determinar essa intricada realidade. Algo de grandeza muito maior que uma corrente de pensamento econômico, e até uma corrente de pensamento histórico, não estamos debatendo correntes de pensamento, mas a realidade colocada diante dos nossos olhos.
[]´s
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 9:48 pm
por Penguin
PRick escreveu:Penguin escreveu:
Sim, essa é uma boa, abrangente e amplamente aceita definição. Há outras de autores conceituados e tb aceitas amplamente. Todas se parecem muito e não se contradizem. O fato de vc gostar ou não é irrelevante para o debate, pois não é isso que está em discussão e tampouco há dúvidas na academia sobre o que seja inovação e progresso tecnológico.
Se há uma ciência social que tem estudado os efeitos da inovação e do progresso tecnológico sobre o crescimento econômico é a Economia. Atualmente não há duvidas (de nenhuma corrente econômica) sobre a importância da inovação e do progresso tecnológico sobre o crescimento econômico no longo prazo. Há duvidas e debates sobre como fomentar o progresso tecnológico e a inovação e como distribuir os ganhos oriundos desse processo. Neste ponto as correntes econômicas divergem.
[]s
Caramba porque você insiste em desvirtuar o debate, nenhum dos pensadores que citei, e são os melhores no estudo da história, crise dos EUA hoje no mundo, por sinal, foram os primeiros a preverem o que ocorre hoje, perderam tempo com o que você chama de inovação, porque como citei antes, o conceito real é tecnologia aplicada na produção, sempre existiu no capitalismo, e sempre vai existir, no entanto, querer fazer um atalho disso, para tentar explicar o sucesso ou o fracasso de uma nação, aí é viagem sua, é lógico tem muita gente que acredita nessas viagens, não é o meu caso, nem nos maiores historiadores e economistas sérios.
E a propósito, isso nada tem haver com corrente econômica, ninguém aqui está discutindo que a tecnologia não seja importante, mas sim o peso de cada aspecto para determinar essa intricada realidade. Algo de grandeza muito maior que uma corrente de pensamento econômico, e até uma corrente de pensamento histórico, não estamos debatendo correntes de pensamento, mas a realidade colocada diante dos nossos olhos.
[]´s
Me permita ressaltar o que vc acabou de escrever:
Caramba porque você insiste em desvirtuar o debate, nenhum dos pensadores que citei, e são os melhores no estudo da história, crise dos EUA hoje no mundo, por sinal, foram os primeiros a preverem o que ocorre hoje, perderam tempo com o que você chama de inovação, porque como citei antes, o conceito real é tecnologia aplicada na produção, sempre existiu no capitalismo, e sempre vai existir
O que vc entende por inovação eu realmente não faço ideia. Deve ser algo exotérico e sem aplicação no mundo real.
Vc parece ignorar a existência de tecnologias que não estão disponíveis para todos (e o esforço para a sua criação), ignora as vantagens que essas tecnologias proporcionam aos seus detentores, ignora os distintos padrões de difusão das tecnologias, ignora a criação de NOVOS MERCADOS graças ao processo de inovação e a introdução de novas tecnologias. Parece desconhecer os efeitos da inovação e das mudanças tecnológicas sobre os fatores de produção.
Já que vc se interessa pelo tema, segue sugestão de uma louvável iniciativa da UNICAMP:
A Editora da Unicamp iniciou em 2005 uma coleção de
Clássicos da Inovação. Ao todo já foram traduzidos 10 livros indispensáveis ao tema, entre eles "
A economia da inovação industrial" (
Freeman e Soete), "
Uma teoria evolucionária da mudança econômica" (
Nelson e Winter) e "
Por dentro da caixa-preta" (
Rosenberg).
http://www.editora.unicamp.br/outras/ec ... tml?cat=50
[]s
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 10:06 pm
por Penguin
Prick
TIC, setor altamente dinâmico da economia e intensivo em inovação...
Se esse setor seguisse os seus conceitos, ele provavelmente não existiria como é atualmente.
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Por Gustavo Brigatto | De Las Vegas
Jen-Hsun Huang, executivo-chefe da Nvidia: poder da Intel não será suficiente para garantir espaço em novo mercado
Com poucas novidades expressivas, além dos computadores leves e finos batizados de ultrabooks, a atual edição da Consumer Electronics Show (CES), que termina hoje em Las Vegas, pode não ter sido suficiente para impressionar o mundo da tecnologia.
Se por um lado desapontou os mais ávidos pela última palavra em produtos eletrônicos por um lado, por outro, o evento serviu para marcar um novo capítulo de uma disputa recente, que já ficou conhecida como a "nova guerra dos chips".
Uma referência à batalha entre Intel e AMD pela liderança no fornecimento de processadores para PCs durante a década de 90 e o início dos anos 2000, a disputa atual vai além dos computadores. A batalha é para definir quem será o principal fornecedor de componentes que farão funcionar carros, geladeiras, TVs e quaisquer outros dispositivos.
Depois de dois anos de expectativas, a Intel finalmente mostrou o primeiro smartphone equipado com um de seus componentes, o K800, da Lenovo, que chega ao mercado chinês no segundo semestre. A Qualcomm anunciou novidades nos trabalhos com a Microsoft para adaptar o sistema operacional Windows para o mundo dos dispositivos móveis. A Nvidia mostrou a terceira geração de seu chip Tegra.
Está em jogo a liderança de um mercado que poderá crescer mais de cinco vezes nos próximos oito anos. A estimativa da Ericsson é de que até 2020 o número de dispositivos conectados no mundo passará dos atuais 7 bilhões para 50 bilhões. O número inclui desde telefones e computadores até eletrodomésticos, carros, lâmpadas, sapatos e afins. Ao seu modo, cada um desses itens precisará de componentes que permitam a eles se conectarem a redes, exibir informações e até processar alguns dados.
Nos estandes de muitos dos 3,3 mil expositores da CES, vários desses produtos foram apresentados. A maioria equipada com componentes da Qualcomm, Nvidia, ou da Marvell Technologies, que usam tecnologia da inglesa ARM para fabricar seus chips - a Intel usa outro padrão, conhecido como x86. "[Os componentes baseados na tecnologia ARM] permitiram que os fabricantes desenvolvessem uma nova linha de produtos que não era possível criar no passado", disse Yang Yuanqing, executivo-chefe da Lenovo, durante coletiva de imprensa na CES, segunda-feira.
Entre os tablets, os processadores ARM respondem por 90% do total, segundo estimativas de mercado. Nos smartphones, a disputa concentra-se mais efetivamente entre Nvidia e Qualcomm. Nesse campo, a entrada Intel não parece assustar os concorrentes.
Mas a chegada do gigante Intel - detentora de 80% do mercado de chips para PCs e dona de uma receita líquida de US$ 43 bilhões em 2010, dez vezes superior à da Nvidia e quase três vezes maior que a da Qualcomm - na disputa por mercados como o dos smartphones não parece assustar Jen-Hsun Huang, fundador e executivo-chefe da Nvidia. "Os processadores ARM e os aplicativos que funcionam neles já estão disponíveis. Se você pensar em termos de escala, quem vai querer apostar em um ambiente totalmente novo?", disse ao Valor após encontro realizado com a imprensa ontem.
Na avaliação do executivo, o poderio econômico da Intel sozinho não será suficiente para garantir um espaço para a companhia nesse disputado mercado. "É muito difícil criar incentivos financeiros suficientes para convencer desenvolvedores e consumidores a mudar de algo que já se provou eficiente", disse. As respostas para dúvidas como essa servem de chamariz para a próxima edição da CES, que acontecerá em janeiro de 2013.
Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enviado: Sex Jan 13, 2012 10:08 pm
por Penguin
Prick,
Quem diria...a situação pode mudar de uma forma imprevisível...
Se seguisse seu receituário, era melhor Detroit fechar para balanço e esperar um fim irremediável.
VALOR, 13/01/12
Carros puxam revitalização em Detroit
Por Alex Ribeiro | De Detroit
Uma das maiores vítimas da Grande Recessão americana, a cidade de Detroit, berço da indústria automobilística, começa a mostrar os primeiros sinais de renascimento, puxada pela retomada das vendas de carros pelas três grandes montadoras dos Estados Unidos. Ainda há pela frente um longo e incerto caminho para revitalizar os bairros operários da periferia, mas as áreas centrais já estão tomadas por uma nova geração de artistas e empreendedores que vive em lofts e frequenta cafés da moda.
Detroit é a única entre as 20 maiores cidades americanas, ao lado da capital Washington, em que os preços de imóveis subiram no último ano, segundo o índice Case-Shiller. Investidores, como o empresário local Dan Gilbert, estão comprando prédios inteiros de escritórios. A rede de supermercados Whole Foods, que vende orgânicos e produtos locais, irá abrir uma loja em Detroit, até então considerada território proibido para os grandes varejistas americanos.
"Dobramos a esquina", afirma Robert Riney, presidente da Henry Ford Health System, uma gigante na área hospitalar que, para ajudar na diversificação da economia de Detroit, passou a apoiar novas empresas que juntam médicos e engenheiros desempregados pela industria automobilística para desenvolver equipamentos hospitalares de última geração.
Há um ano, o cenário em Detroit ainda era desolador. Números do Censo mostraram que, na década anterior, a cidade havia perdido 25% de sua população, que caiu a 714 mil habitantes, uma sombra da metrópole de dois milhões de habitantes do pós-Guerra. O número de casas vazias e abandonadas, mostrou outro conjunto de estatísticas, chegara ao pico de 80 mil. A crise chegou a Detroit em 2006, quase dois anos antes da Grande Recessão que atingiu os Estados Unidos como um todo, por causa do mau desempenho das montadoras.
Tecnicamente, os EUA saíram da recessão em meados de 2008, mas as coisas só começaram realmente a melhorar para Detroit de um ano para cá. As vendas de automóveis nos Estados Unidos subiram 10% em 2011, para 12,8 milhões de unidades. As três grandes montadoras de Detroit, GM, Ford e Chrysler, estão contratando de novo e, nos próximos anos, podem adicionar 30 mil empregos diretos e cerca de 200 mil indiretos. As projeções são de aumento entre um milhão e dois milhões nas vendas em 2012.
Não se sabe ao certo, porém, se a recuperação veio para ficar. "As montadoras americanas aumentaram as vendas porque o terremoto no Japão retraiu os concorrentes japoneses, como a Toyota ", observa Bruce Pietrykowski, professor de economia da Universidade de Michigan. "Agora, eles devem voltar ao mercado com força."
Outra questão é quem vai se beneficiar da eventual retomada das vendas. Nos últimos anos, montadoras de outros países construíram fábricas no sul dos Estados Unidos, para fugir dos sindicatos de Detroit e contratar mão de obra mais barata. É o caso da japonesa Toyota, no Mississippi, da coreana Hyundai, no Alabama, e da alemã Volkswagen, no Tennessee.
Para manter empregos em Detroit, o poderoso United Auto Workers (UAW), o sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística, fez concessões. "O que vai recuperar Detroit são os empregos", afirma o presidente do UAW, Bob King, que nasceu num dos bairros operários da cidade.
Hoje, há três grupos de trabalhadores nas montadoras de Detroit. Os operários mais bem protegidos pelos contratos ganham US$ 29 por hora. Um segundo grupo, porém, ganha cerca de US$ 16 por hora. Há ainda um grande grupo de terceirizados, que não são representados pelo UAW, que ganha US$ 9 por hora, o que está pouco acima do salário mínimo americano, de US$ 7,25 por hora. No sul, as montadoras costumam pagar US$ 16 por hora.
É bastante incerto se, com essa nova realidade salarial, Detroit será capaz de se reerguer. "O setor automobilístico sempre garantiu um bom padrão de vida aos operários", afirma Pietrykowski. Em cerca de US$ 36 mil anuais, nota ele, o salário está abaixo da renda média de Detroit para famílias com quatro pessoas, de US$ 50 mil dólares, e mais próximo da linha de pobreza americana, de US$ 22 mil. Para recuperar o nível de emprego de dez anos atrás, seriam necessárias 100 mil novas contratações.