Henrique Brito escreveu: ↑Sex Mai 22, 2020 11:21 pm
Sobre a formação do soldado no Exército, é extremamente heterogênea, pois é responsabilidade de cada OM formar o seu próprio soldado, eu considero uma deficiência grande o exército não ter centros de formação de soldados, como a Marinha tem os seus centros de formação de fuzileiros e escolas de marinheiros.
E dentro desta heterogeneidade, existem soldados formados quase sem praticar tiro, o que é uma vergonha, e também até aqueles extremamente operacionais podendo operar até nas retaguardas inimigas e não devendo em nada a soldados de lugar nenhum do mundo em operacionalidade.
O que eu vou escrever não é regra, é minha percepção, e evidente que há exceções à regra, mas em geral, o Exercito tem 6 tipos de soldados, tamanha a diversidade do treinamento.
1° Atiradores dos tiros de guerra, é a formação mais básica, tão básica que ao final da formação, o guerreiro sequer pode ser chamado de soldado, é apenas atirador, é habilitado a atirar com armas longas e tem noções de ordem unida, ele não integra uma unidade militar, seu objetivo é habilitar o "camponês" da cidadezinha a resistir a uma invasão estrangeira até que tropas de combate cheguem para socorrer.
2° Soldados de unidades não combatentes, que são aqueles soldados dos batalhões de intendência, de manutenção de material bélico e dos serviços de saúde, a formação desse soldado é a mais básica das formações de uma organização militar do EB, eu particularmente considero muito ruim, a formação geralmente dura 1 mês, deste mês passam uma semana em internato e outra em acampamento aprendendo o básico que deve saber um soldado, praticam uma quantidade muito pequena de tiros, e depois nunca mais vao atirar ou ver mato, não se especializam como soldado de arma, quadro ou serviço, são soldados básicos que estão habilitados a usar o fuzil, fazer a guarda do quartel e defender em trincheiras o perímetro da sua unidade militar em caso de guerra.
3° Soldados de unidades combatentes, aqui começam a ter uma formação decente, são soldados dos grupos de artilharia, batalhões de infantaria, regimentos de cavalaria, a formação dura entre dois e três meses, deste tempo, passam pelo menos quinze dias em internato e outros quinze dias em acampamentos, geralmente fazem duas marchas de combate, de 8 e 16 km, alguns fazem também a marcha de 32km, e a quantidade de tiros é maior (ainda pra mim não o ideal mas dentro de uma normalidade de formação de soldado), após formados soldados, eles são especializados como soldados da arma de artilharia, cavalaria, etc, o que exige pelo menos mais quinze dias de instrução na mata (as vezes fazem no quartel), uma ou duas vezes por ano (geralmente uma), sua unidade participa de uma grande manobra militar que geralmente dura quinze dias, onde o militar pratica novamente tiros das armas individuais e coletivas, que também fazem parte dos adestramentos da unidade. Geralmente, a cada dois ou três anos passam por um grande exercício militar de avaliação do CAADEX, onde usam equipamentos de engajamento tático DSET que pra mim são excelentes, dão a noção exata da operacionalidade da tropa e toda tropa do EB deveria passar por essa avaliação pelo menos uma vez ao ano, e ter este equipamento para fazer treinamentos durante o ano. Nestas unidades, há os chamados pelopes, onde os soldados tem um treinamento um pouco melhor.
4° Soldados de unidades de infantaria especializadas em biomas, selva, montanha, caatinga e pantanal, aqui a formação do soldado é muito parecida a dos soldados de unidades combatentes descrito acima, porém melhor, devido a manobras militares mais frequentes, e com o acréscimo de um estágio operacional de 15 dias que especializa o soldado a operar no ambiente operacional onde está inserida a sua unidade, e as marchas de combate de formação são mais longas e duras, 64 km geralmente. Aqui há o acrescimo de que alguns soldados, minoria em geral, mas maioria em algumas unidades de fronteira, são indigenas, portanto a selva já é o dia a dia do cara, precisando apenas instrução militar para se tornar um grande combatente.
5° Soldados de pronto-emprego, que são os soldados integrantes da Força de Ação Rápida e Estratégica do EB, mais especificamente os soldados paraquedistas, os soldados da infantaria aeromóvel (helis), incluindo aí os soldados do 1° Batalhão de Infantaria de Selva Aeromóvel, a estes soldados se dá uma formação militar profissional, que geralmente dura quatro meses, onde pelo menos dois meses o soldado estará em acampamentos, aprendendo técnicas profissionais de combate, de infiltração, exfiltração, orientação diurna e noturna na mata usando GPS, bussola, cartas topográficas e os astros, silenciamento de sentinela, combate corpo a corpo, combate com facas, combate a baioneta, prisioneiro de guerra, câmara de gás, transposição de cursos dágua, montanhismo militar, pratica de tiros e manobras com óculos de visão noturna, confecção de armadilhas, abrigos e trincheiras, muita pratica de tiro de armas individuais e coletivas como granadas, morteiros, metralhadoras e lança-rojão, igualando as praticas de tiro dos na formação de fuzileiros navais, entre outras dezenas de instruções, e as marchas de combate são muito duras, havendo casos em que o comando ordenou marchas de mais de 100 km com todo equipamento e armamento,mas geralmente fica em torno de 64 km, no caso da brigada paraquedista, é exigida uma preparação física de atletas e o estágio básico paraquedista, um dos estágios mais difíceis para um soldado do EB devido a exigência física, ainda que seja mais leve que o de oficiais e sargentos, para os soldados da infantaria aeromóvel, acrescentasse o estágio de operações aeromóveis, que é muito operacional com técnicas de fasthope e halocast, e para ambos tanto paraquedistas como infantaria aeromovel, assim como o 1° BIS Amv, acrescentasse o estágio de força de ação rápida, com 15 dias onde os soldados tem instrução até para operar em ambiente que sofreu ou está prestes a sofre um ataque com armas químicas, biológicas, radiológicas e nucleares, estes soldados também recebem a especialização da arma de infantaria, e uma boa parte deles, é levada para fazer os quatro estágios operacionais de selva, montanha, caatinga e pantanal. Além disso, após a formação, estão em operações praticamente o ano todo, vão pra uma manobra militar com duração de 15 a 30 dias, passam 15 a 30 dias de volta dando grande enfase a preparação física e a prática de tiros e já partem novamente pra manobras, estando em constante apronto operacional. E todos os anos são avaliados pelo menos uma vez pelo CAADEX, e sempre que o EB pratica manobras com nações amigas, estas tropas sempre vao participar, estando ou não acompanhadas de outras unidade combatentes do EB da regiao onde for desenrolado o exercício.
6° Soldados comandos, estes tem a formação idêntica dos soldados de pronto emprego, acrescida dos cursos operacionais de paraquedista e do curso mais difícil a que um cabo ou soldado do exército pode passar, o CFCC, o curso de formação de cabo comandos, que habilita o soldado a mobiliar um DAC, destacamento de ações de comandos e operar nas retaguardas profundas do inimigo em ações diretas de comandos, que dispensa minhas apresentações, vocês conhecem
Reparem que eu estou falando apenas na formação do soldado, e não dos oficiais e sargentos.
Isso é o que geralmente acontece, mas se voce serviu e a sua formação foi diferente do que eu descrevi, parabéns, como cada OM do EB forma seus próprios soldados, há casos de exceção, onde haverão soldados de unidades não combatentes com um bom treinamento militar,e soldados de unidades combatentes com um treinamento meia boca, tudo depende da vontade do comando e dos recursos. Por isso que pra mim, urgente a criação de centros de formação de soldados no EB, para evitar tanta heterogeneidade na formação do soldado.