Jobim formaliza, em encontro com o presidente Chávez, a proposta de criação do Conselho Sul-Americano de Defesa
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, formalizou ao presidente Hugo Chávez, em encontro realizado em Caracas, na noite de segunda segunda-feira (14/04), a proposta de criação do Conselho Sul-Americano de Defesa.
Enconro do Ministro da Defesa Nelson Jobim com o Preesidente da Venezuela Hugo Chávez.
Em entrevista coletiva realizada após o encontro de duas horas com Chavez, Jobim disse que o presidente venezuelano deu boa acolhida à proposta de criação do Conselho. A idéia, segundo o ministro, é iniciar a aprovação do Conselho Sul-Americano de Defesa no âmbito da reunião de cúpula da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), prevista para 23 de maio.
Antes conhecida como Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA), a Unasul tem como objetivo intensificar a integração política e econômica dos países da região, que hoje têm com principais pólos associativos o Mercosul e a Comunidade Andina de Nações. O Conselho também pretende unir, na área de Defesa, as três vertentes da região: a Andina, a Platina e a Amazônica.
Segundo Jobim, a partir da aprovação dos presidentes sul-americanos, durante a reunião da Unasul, em cerca de quatro meses deverá haver a formatação inicial do Conselho, possibilitando sua criação ainda em 2008.
O ministro descartou, durante a permanência na Venezuela, que o Brasil tenha um desenho definido do novo organismo. Acrescentou que esse desenho se dará a partir do diálogo entre os países da região.
Para incentivar esse diálogo, o ministro da Defesa brasileiro informou que um grupo de trabalho será criado para estudar a criação do novo organismo. Cada país interessado em participar do Conselho terá dois representantes nesse grupo, um da área diplomática e outro da área da defesa.
Jobim explicou também na entrevista que não há divergência de fundo entre o Brasil e a Venezuela em relação ao caráter do Conselho. Diante de uma pergunta de jornalista sobre o fato de o presidente venezuelano ter-se referido ao Conselho com uma espécie de OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para o Atlântico Sul, comparação que tem sido afastada pelo governo brasileiro, o ministro comentou: "Trata-se de uma questão meramente de linguagem, não implica concretude", disse.
Segundo Jobim, os dois países concordam que o Conselho não tem por objetivo a integração operacional das forças armadas dos países, mas sim a integração das bases industriais de defesa da região, o intercâmbio na instrução de seus oficiais e treinamentos conjuntos, entre outros.
Ele afastou eventuais temores com a movimentação do continente em torno da Defesa. Disse que não há uma corrida armamentista na região, e sim retomada de investimentos, e considerou o fortalecimento da América do Sul fundamental para sua projeção internacional. "A força da América do Sul nasce da união de seus povos", assinalou.
O ministro também negou que haja desconforto dos Estados Unidos em função da criação do Conselho. Ele observou que, por não ser da América do Sul, não haveria razão para os Estados Unidos participarem do Conselho, e informou já ter conversado sobre a proposta com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice. Segundo Jobim, o governo americano entende a necessidade de criação do Conselho. "Vamos fazer o que interessa à América do Sul", afirmou.
Com a viagem à Venezuela, o ministro Nelson Jobim deu prosseguimento a uma série de encontros com governos sul-americanos visando à criação do Conselho de Defesa. Já houve, informalmente, encontros com os governos da Argentina e do Chile.
Estão previstos para a próxima semana encontros de Jobim com autoridades da Guiana e do Suriname, e nos meses seguintes com autoridades de Colômbia, Peru, Equador, Uruguai, Paraguai, Bolívia e, novamente, Argentina e Chile.
O ministro viajou à Venezuela acompanhado do comandante do Exército, Enzo Martins Peri, do Comandante Militar da Amazônia, General-de-Divisão Augusto Heleno Ribeiro Pereira e do chefe da Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa (SPEAI), Tenente-Brigadeiro-do-Ar Gilberto Antonio Saboya Burnier. Além destes, também participou da reunião o embaixador do Brasil na Venezuela, Antônio José Ferreira Simões.
Pela manhã, Jobim e comitiva depositaram flores no Panteão Nacional, onde estão depositados os restos mortais de Simon Bolivar, e teve reunião seguida de almoço com o Vice-Presidente da Venezuela, Ramon Carrizalez, com o ministro de Defesa venezuelano, General-em-Chefe Gustavo Reyes Rangel Brinceño, e com outras autoridades de governo.